(Capítulo 37 – Orlando)

Duas semanas depois...

Duas semanas se passaram desde todo o acontecido, agosto chegou me trazendo muitas alegrias e realizações. Depois de aquela noite, eu não sonhei mais com Vicente, acredito do fundo do meu coração, que um ciclo da minha vida se fechou e um novo vem se encontrando comigo. Eu não sinto mais tanto medo, insegurança, não me sinto mais sozinha e nem muito menos incapaz. Coisas boas estão prestes a acontecer e eu tenho absoluta certeza de que elas foram feitas unicamente para mim. Conversei com minha mãe sobre o que tinha acontecido, ela foi extremamente paciente e compreensiva comigo e com toda a minha insegurança em relação ao meu relacionamento com Luan. Como eu esperava, ela me apoiou em minhas decisões, mas pediu que eu conversasse melhor com Luan, pois não acreditava que ele havia feito aquilo porque quis. Ben também me ligou, mas ao invés de brigar comigo ou soltar aquela famosa frase “eu te avisei” ele apenas conversou e disse que queria o melhor pra mim. Eu não falei mais com Luan depois daquele dia, ele até me ligou, mandou flores na agência, ligou no meu apartamento, mas eu realmente precisava desse tempo unicamente pra mim. Eu estava muito dedicada ao meu trabalho, inclusive hoje pela manhã Bruno me presenteou com um trabalho maravilhoso. Eu passaria uma semana em Orlando, para fazer cinco dias incríveis de fotos para uma empresa parceira da nossa agência. Eu estava radiante com essa oportunidade maravilhosa, me sentia extremamente importante e sabia que tudo isso era apenas o começo de uma carreira brilhante que me esperava lá na frente. Laura tirou um final de semana para levar Douglas na casa de seus pais e conhecer uma boa parte da nossa família enorme. Eles estavam cada dia mais fortes e isso me deixava imensamente feliz, pois eu sabia que Douglas era a pessoa certa para Laura. Agora era quase uma hora da tarde e eu estava com Bruna no shopping, tirei meu intervalo na agência para fazer umas compras e almoçar ao lado da minha amiga.

– Orlando? – Bruna perguntou animada – Não acredito, Orlando é maravilhosa!

– Eu estou tão animada, sabe? Nem posso acreditar que estou tendo essa chance de ir para tão longe fazer aquilo que eu mais amo na vida!

– E você só vai crescer ainda mais. – Sorriu ainda animada – Você é uma fotógrafa maravilhosa.

– Obrigada, amiga! – Sorri agradecida – Nem consigo explicar o tamanho da minha felicidade.

– E quando você vai?

– Minha passagem está comprada para depois de amanhã. – Respondi tomando um pouco do meu suco.

– Quinta-feira?

– Sim, isso mesmo.

– Aí volta quando?

– Na próxima semana.

– No sábado da próxima semana, teremos a comemoração de aniversário da casa de shows do Rafa. – Falou olhando seu celular – É isso mesmo, na próxima semana.

– Claro, ele me mandou o convite. – Sorri – Ainda bem que eu já estarei aqui.

– Vai ser top, né? – Seu celular tocou – Só um minutinho, Cunhada. – Sorri negando esse seu jeito de me chamar de cunhada o tempo todo.

Ela conversou rapidamente com uma pessoa, que eu tinha quase certeza que era a tal da Daniela. Vez ou outra ela me olhava, sorria, tentava disfarçar, mas eu sabia que era ela que estava ligando. Tentei me manter firme, eu não queria ter que estragar minha tarde com Bruna por conta dela. Depois de Bruna dizer que estava no shopping com uma amiga e de que precisava desligar, elas se despediram rapidamente e ela me olhou guardando o celular.

– Desculpa, era uma amiga! – Sorriu sem jeito.

– Era a Daniela? – Me olhou surpresa.

– Era, mas depois eu converso melhor com ela.

– Vocês são muito amigas, né? – Eu não conseguia me segurar.

– Desde que me entendo por gente. – Sorriu – Nós crescemos juntas.

– Por quanto tempo ela namorou seu irmão? – Perguntei tentando passar naturalidade.

– Por um ano e um pouquinho. – Respondeu pensativa – Mas foi bem na época que Luan estava seguindo a carreira, aí ela mesma quis terminar.

– Por quê?

– Porque ela dizia que não queria seguir aquele caminho com ele, dizia que não estava preparada pra isso.

– E agora ela se sente pronta?

– Talvez... – Me olhou séria – Mas agora é tarde demais pra isso.

– Tarde demais?

– A única coisa que Luan sente por ela hoje é apenas um carinho muito grande. – Tomou um pouco de suco – Luan sofreu muito quando eles terminaram, mas com o tempo ele foi amadurecendo e conseguiu compreender que ela não era a pessoa certa para estar ao lado dele. – Sorriu me olhando – Eu posso ser sincera com você?

– Claro que pode.

– Depois que eles terminaram o namoro, eles ficaram pouquíssimas vezes quando estavam solteiros. – A olhei com paciência – Acho que três ou quatro vezes, quando Luan voltou lá em Campo Grande.

– Estou entendendo...

– Acredito que tenha sido aí, que Luan percebeu que Daniela não era a pessoa certa para ele. – Respirou fundo – Depois que ele te conheceu, absolutamente tudo na vida do Luan mudou.

– E aquela vez em Campo Grande, Bruna? Eles chegaram a ficar?

– Não, pelo menos não que eu saiba ou tenha visto algo. – Falou sincera – Na verdade, eu lembro que naquela noite ela saiu da casa do meu tio meio triste.

– Triste?

– Parecia magoada com algo, eu até tentei conversar com ela, mas ela disse que precisava esquecer meu irmão.

– E você não perguntou a Luan?

– Ele disse que não queria magoá-la, mas que estava muito confuso com os sentimentos dele. – Engoli o seco ao ouvir aquilo. – O que aconteceu naquele sábado, foi algo que magoou não só a você, mas a todos que estavam ao redor de vocês.

– Aquilo foi um pesadelo.

– Eu nunca vi meu irmão tão mal como naquele dia, ele parecia perdido, arrependido de ter feito algo que ele tinha certeza absoluta que chegaria até você. – Segurou minha mão – Eu não estou falando isso porque sou irmã dele e quero defendê-lo, mas eu estou falando isso porque eu acredito profundamente em vocês dois.

– Bruna, não existe mais nós dois... 

– Pode não existir pra você. – Me interrompeu – Mas existe ainda dentro dele, uma esperança de que ele vai te reconquistar.

– Eu não sei o que pensar sobre tudo isso.

– Eu só queria que você confiasse em mim, como sua amiga.

– Mas eu confio em você. – A olhei tristonha.

– Então eu quero que você acredite que tudo aquilo não passou de uma loucura da parte de Daniela, que Luan não queria aquilo, ele não queria te magoar.

– Ah, Bruna... 

– Ele é louco por você, só eu sei o quanto ele é louco por você.

– Ele me magoou.

– Mas ele também se magoou, ele também está sofrendo, porque naquele dia eu sei o que ele passou. – Enquanto eu tentava digerir todas aquelas palavras, me assustei com meu celular me avisando que estava na hora de voltar para minha realidade.

– Preciso voltar. – A olhei – Podemos marcar mais outro encontro assim que eu voltar da minha viagem.

– Podemos sim. – Me abraçou carinhosa – Pensa com carinho em tudo o que eu te disse?

– Não, se preocupe. – A abracei – Eu vou pensar sim.

Caminhamos juntas até o estacionamento, ela seguiu para casa e eu voltei para a agência, onde mais trabalho me esperava. Durante o percurso, fiquei pensando em absolutamente tudo o que Bruna me confessou sobre Luan e Daniela. Tentei tirar um pouco aquele assunto da minha cabeça, pois eu teria que me concentrar no meu trabalho e na viagem maravilhosa que eu faria daqui dois dias. A tarde passou rápida, Sthé e Marina viajariam comigo, como minhas assistentes e amigas fieis. Quando meu expediente acabou, segui pra casa de carona com uma colega que morava em um condomínio ao lado do meu. Seguimos conversando até que chegamos ao nosso destino, cumprimentei rapidamente seu Pedro e subi encontrando Laura assistindo na sala.

– Oi, oi, linda! – Coloquei minha bolsa no sofá – Que cara é essa? – Perguntei a olhando que tinha uma cara de choro.

– Eu estou sentindo muita dor de cabeça. – Choramingou. 

– Já tomou remédio?

– Sim, mas ainda não passou.

– Não quer ir ao médico? – Perguntei preocupada.

– Quero que você faça aquele chá que tia Ana fazia quando estávamos doentes.

– Tá, eu vou fazer.

Enquanto eu fazia o chá pra Laura, ficamos conversando, mas Laura começou a falar de assuntos meio sem sentindo. Eu imaginei que poderia ser por conta de sua dor de cabeça, mas depois que ela tomou o remédio e o chá que eu tinha feito, ela pediu que eu sentasse ao seu lado para que pudéssemos conversar.

– O que está acontecendo, Laurinha?

– Sabe quando você não tem mais certeza de nada na sua vida? Quando nada parece fazer sentindo?

– O que você tá falando? – Perguntei confusa – Tá falando do seu namoro com Douglas?

– O meu namoro com Douglas é a única coisa mais certa que eu tenho na minha vida.

– Então, do que você se refere?

– De todo o resto. – Fungou – Eu passei anos da minha vida estudando, sonhando, lutando por aquilo que eu acreditava ser bom pra mim. – Enxugou uma lágrima que caiu sobre seu rosto – E agora eu não tenho mais certeza se é isso que eu quero.

– Você tá falando da sua profissão? Da loja?

– Sim, eu não sei o que tá acontecendo comigo. – Me abraçou – Eu estou me sentindo exausta.

– Olha pra mim, Laura! – Segurei seu rosto – Você está se sentindo sufocada em relação ao seu trabalho?

– Eu não tenho tempo para absolutamente nada na minha vida. – Falou sincera – Eu sempre sonhei com isso, mas não me sinto bem agora.

– Que tal você procurar um psicólogo? Talvez ele te ajude a entender o que você quer.

– Você tem razão, eu vou procurar um psicólogo amanhã mesmo.

– Só quero que você saiba de uma coisa. – Segurei sua mão – Independente de qual seja a sua decisão, eu estarei ao seu lado, te apoiando como eu sempre fiz.

– Obrigada, Lili! – Me abraçou com toda força da sua alma – Eu te amo, muito!

– Irmãs são para essas coisas... – Beijei seu rosto – Eu te amo ainda mais!

Depois de fazer Laura parar de chorar um pouco, seguimos para seu quarto, pedi sorvete e fiz pipoca para nós duas. Esquecemos o mundo lá fora e passamos quase a noite toda comendo porcaria e assistindo nossas séries preferidas. Que Laura estava enfrentando uma crise existencial, disso ninguém poderia duvidar, mas eu sabia que logo ela se encontraria novamente.