sexta-feira, 7 de abril de 2017

(Capítulo 07 – A felicidade)

A tarde passou rápido, tentei falar com Laura, mas sem sucesso. Eu queria contar a ela sobre minha manhã, mas infelizmente eu teria que esperar até a hora dela me buscar. Editei as fotos do ensaio ao lado de Bruno, que em cada nova foto soltava um sorriso diferente, me deixando ainda mais feliz. Eram quase 18h00minh quando Laura chegou à agência, me despedi dos meus colegas e segui para o carro.

– Onde você estava? Eu te liguei o dia inteiro. – Perguntei colocando o cinto – Você desapareceu.

– Mil desculpas, mas eu tive um problemão com uma funcionária hoje. – Parecia nervosa.

– O que aconteceu?

– Você acredita que uma das meninas assaltou a loja?

– O que? Eu não acredito! – Olhei apavorada – Como isso aconteceu, Laura?

– Marjory já tinha conversado comigo sobre ela, disse que estava desconfiada.

– E aí?

– Aí eu pedi que ela não fizesse nada precipitado, que uma hora ou outra iríamos descobrir. – Respirou fundo – Aí hoje quando eu cheguei, Marjory me mostrou nas câmeras que realmente ela estava pegando dinheiro do caixa.

– Meu Deus! E o que você fez?

– Eu conversei com ela, perguntei a razão dela ter feito aquilo, porque eu sempre dei muita confiança para as minhas funcionárias. Ela chorou, disse que estava desesperada por conta do filho doente, que não queria ter roubado.

– É, mas ela roubou. – A olhei – Ela deveria ter conversado com você antes, ter pedido ajuda, mas ela preferiu roubar.

– Eu perguntei exatamente isso a ela, mas ela disse que teve medo. – Falou tristonha – Resumindo, eu só não denunciei por causa da família dela.

– Você está se sentindo péssima, não é mesmo?

– Sim.

– Eu não quero que sinta assim, você é a melhor pessoa que existe nesse mundo, Laura! – A abracei forte enquanto o sinal estava fechado. – Agora você descansa durante o final de semana, tenta tirar isso da sua cabeça e na segunda-feira eu te ajudo lá na loja.

– Obrigada, Lili! – Choramingou – Mas você queria me contar alguma coisa?

– Sim. – Sorri amarrando meu cabelo – Você não vai acreditar com quem eu trabalhei hoje.

– Com quem?

– Luan.

– O que? Como assim? – Perguntou curiosa.

– As fotos eram com ele e com a Sabrina Sato, você acredita nisso? – Gargalhei – Que loucura.

– Tá, mas e aí? Vocês se falaram de boa?

– Não só nos falamos, mas também almoçamos juntos.

– O que? Alice, conta essa história direito.

Contei a ela todos os detalhes, desde o momento que chegamos ao local das fotos, até o ultimo momento que passei ao lado de Luan. Laura soltava leves gritinhos, enquanto eu gargalhava com seu jeito curioso de perguntar como tudo aconteceu. Quase não vimos o tempo passar e logo chegamos ao nosso condomínio, onde Laura quase atropela um gatinho.

– Laura, pelo amor de Deus! – Gritei desesperada – Você quase mata o gato.

– Vem cá gatinhoooooo. – Saiu do carro correndo atrás do gato – Volta aqui.

– Laura, sua louca! – Gargalhei – Ele já foi.

– Estou me sentindo extremamente pior agora. – Voltou afobada para o carro – Você viu? Quase eu tiro a vida de um bichinho.

– Tudo bem, ele está bem.

Entramos no condomínio, cumprimentamos o porteiro simpático que sempre nos fazia rir e subimos para o nosso apartamento. Laura ainda parecia abalada com a “quase morte do gatinho”, mas assim que entrou, tomou um água e respirou aliviada.

– Mas me fala... – Colocou seu celular para carregar – Então quer dizer que amanhã você vai ao show de Luan?  

– Eu não, nós vamos.

– Não sei se tenho ânimo. – Falou se jogando no sofá – Não quero nada.

– Você acha mesmo que eu vou te deixar sozinha aqui? Você tá louca? Fora que você precisa se distrair, tentar tirar um pouco desse peso que está nas suas costas. – Antes mesmo que ela respondesse, seu celular tocou.

– Alô! – Atendeu sorridente – Douglas? Oi! O que? Não, imagina... – Ela pegou o carregador e saiu em direção ao quarto. É, parece que esse “rolo” com Douglas está mais sério do que eu imaginava.

Enquanto Laura conversava apaixonadamente com Douglas, aproveitei para fazer algo para o jantar. Recebi a ligação de Benjamim e ele me contou que hoje ouviu uma conversa entre nossos pais, onde papai dizia que estava com saudade de mim, mas que continuaria sendo forte. Se ele soubesse o quanto a minha saudade é mil vezes maior, não faria isso com a gente. Senti uma tristeza se instalar em meu coração, mas não iria permitir que isso atrapalhasse minha felicidade, eu sabia que uma hora ou outra tudo ficaria bem entre nós dois. Enquanto a lasanha que eu fiz para o jantar assava, aproveitei para tomar um banho rápido.

– Alice? Ô Alice! – Me chamou quase aos gritos.

– O que foi menina? – Logo ela entrou no quarto – Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu que amanhã eu vou ao show de Luan com você. – Pulou na minha cama.

– Sério? E o que te fez mudar de ideia assim tão rapidamente?

– Douglas. – Respondeu sorridente – Ele me chamou pra ir ao show.

– Ah, que lindo! – Bati palmas fingindo indignação – Quando eu te chamo você não que ir, mas é só o Douglas te chamar que você vai correndo.

– Deixa de ser ridícula. – Riu se jogando em cima de mim – Ele apenas me animou um pouco mais.

– Meu Deus! – Coloquei a mão sobre a boca – Eu não acredito.

– O que foi? – Perguntou confusa.

– Você tá apaixonada, Laura!

– O que? Você tá louca? Óbvio que eu não estou apaixonada. – Olhou-me desesperada – Para com isso, Alice! Não vem colocar praga em cima de mim não.

– Olha pra você, meu Jesus. – Segurei o riso – Amanhã mesmo nós vamos a uma rezadeira, pra ela tirar isso de você.

– Alice! – Começou a rir desesperadamente – Você só pode ser louca.

– Tá bom, chega dessa conversa. – Terminei de pentear meus cabelos – Vamos jantar? Eu estou fazendo uma lasanha.

– O forno acabou de apitar. – Correu até a cozinha – Está pronta.

– Ótimo! Pega o refrigerante e a batata palha, por favor? – Pedi já colocando nossos pratos na mesa – Vou ligar pra tia Lúcia.

– Pra dizer que você fez uma lasanha linda? – Perguntou rindo.

– Não, pra dizer que você está apaixonada. – Falei naturalmente.

– Aliceeeee! – Riu jogando o pano de prato em mim – Você não presta.

Jantamos em meio a risadas e conversas, depois assistimos a um filme, acompanhadas de um enorme pote de sorvete. Eram quase 00h00minh quando fui dormir, eu estava cansada, mas muito feliz. Acordei no dia seguinte com um pouco de dor de cabeça, mas logo tomei um remédio e um café quentinho que Laura fez.

– Está melhor? – Perguntou colocando a mão em minha testa – Você ainda está quente.

– Mas tá passando. – Respondi baixo – Estou sentindo como se tudo estivesse rodando.

– É normal, mas se não passar logo nós vamos ao médico.

– Não é pra tanto, Lau. – Tomei mais um pouco de café – Vou ficar bem.

Passei o restante do dia deitada, descansando o máximo que eu podia, eu queria estar nova para essa noite. Recebi a ligação de Marina, conversamos um pouco sobre trabalho e ela me contou que estava triste por conta do fim de seu namoro. Esse assunto era sempre complicado pra mim, mas tentei ajudar como pude. Avisei que ela poderia tirar a segunda-feira de folga, mas ela disse que não, que o trabalho ajudaria na sua recuperação. Acabei dormindo muito e quando dei por mim, Laura estava me chamando, já se passavam das 17h00minh e precisávamos nos arrumar. Essa noite seria especial, queria algo também especial, então decidi por esse look:


Depois de pronta, corri para ajudar Laura com sua indecisão que deixava qualquer pessoa louca. Por fim, estávamos as duas maravilhosamente lindas e prontas. Enquanto descíamos, Laura trocava mensagens com Douglas, ele mandou o endereço direitinho do clube e seguimos pra lá. Durante o percurso até o local do show, coloquei o CD de Luan para tocar no carro e tive que ouvir a viagem inteira que tudo isso era muito “fofo”. Foram poucos minutos de viagem, logo estacionamos o carro e Laura cuidou de ligar para Douglas, ele avisou que estava saindo para nos buscar.

– Olha só quem chegou. – Falou simpático – Tudo bom, Alice? – Me cumprimentou com dois beijos no rosto.

– Tudo ótimo. – Sorri.

– Oi, linda! – Abraçou Laura carinhosamente – Você está bem?

– Ótima. – Respondeu toda meiga.

– Vamos entrar? Estou aqui com as pulseirinhas de vocês. – Colocou então as pulseirinhas em nossos braços.

– Que fofo, hem? – Falei no ouvido de Laura.

– Você para. – Apenas riu. 

Entramos rapidamente ao lado de Douglas, enquanto andávamos ele cumprimentava uma pessoa ou outra. Achei lindo quando ele segurou a mão de Laura, eles eram muito lindos juntos. Ela apenas sorriu pra mim, era nítido que ela estava completamente apaixonada por ele e era recíproco.

– Luan pediu que levasse vocês ao camarim. – Falou naturalmente.

E sem falar nada, apenas seguimos seus passos. Passamos por alguns seguranças, algumas pessoas que pareciam ser da equipe de Luan, duas meninas chorando e finalmente chegamos à porta do camarim. Vi o mesmo rapaz moreno que estava com a gente no almoço, ele sorriu discretamente pra mim e eu retribui. Outro rapaz abriu a porta do camarim e então dei de cara com Luan novamente, com um cabelo agora um pouco desarrumado, mas com o mesmo jeito encantador.

– Finalmente! – Sorriu nos olhando. – Esse boi cuidou bem de vocês?

– Boi? – Laura perguntou rindo.

– Ele não é um boi, Laurinha? – Se aproximou a cumprimentando.

– Não, ele não é. – Abraçou Luan.

– Ih, já tá defendendo assim? – Brincou deixando Laura com as bochechas vermelhas – E você? – Aproximou-se – Sempre muito linda. – Beijou delicadamente minha mão.

– Agradecida. – Brinquei com ele – Você também está muito elegante, só esse cabelo que tá um pouco bagunçado. – Tentei arrumar, mas não teve jeito.

– Ele sempre vai voltar a ficar bagunçado. – Sorriu me olhando.

– Toma uma água Luan, está na hora. – Um rapaz abriu a porta nos olhando – Dois minutos, ok?

– Ok! – Respondeu ainda me olhando – Douglas vai levar vocês para o camarote, tá? Logo após o meu show, teremos o show de um parceiro, aí eu encontro vocês lá.

– Tudo bem. – Respondi o abraçando – Um bom show.

– Obrigado!

Luan seguiu para realizar seu show, enquanto nós três seguimos para o camarote. Era um lugar ótimo, tinha uma vista privilegiada e de lá poderíamos acompanhar bem todo o show. Instalamos-nos bem na grade e cantamos junto com ele todos os seus sucessos, mesmo não sendo fã, qualquer pessoa se emocionaria assistindo um espetáculo daqueles. Luan era extremamente profissional e carismático, os fãs choravam desesperados, tentando inutilmente chegar o mais perto possível do ídolo. Era doloroso ver aquilo, mas era nítido o amor que eles sentiam por ele, a gratidão, a beleza de serem um milhão em um único sentimento. Ele cantava, brincava com os fãs, conversava, realizava sonhos, se emocionada, era uma mistura de sentimentos que não tinha explicação. Vez ou outra ele nos olhava, sorria, mandava tchauzinho. Suas músicas me traziam uma paz sem tamanho, era inexplicável essa ligação que existia entre nós dois, mas era linda e pura. Quando o show acabou, o público começou a se preparar para receber a próxima atração. Alguns fãs de Luan continuaram ali, talvez na esperança de conseguir vê-lo. Passaram-se mais ou menos uns 40minutos quando Luan chegou ao camarote, ele falou rapidamente com alguns amigos e logo se aproximou de mim.

– Sozinha? – Perguntou bebendo um pouco de água – Cadê Laura?

– Acho que foi ao bar com Douglas. – Respondi tomando sua garrafinha de água – Muito obrigada, eu estava mesmo com sede. – Segurei o riso – O show foi lindo.

– Você tem essa mania desde quando? – Perguntou cruzando os braços.

– Que mania? – Me fiz de desentendida.

– De tomar a água dos outros.

– Pelo amor de Deus, você está negando uma garrafinha de água? – Perguntei indignada. – Toma Luan, não quero mais.

– Por que você é assim? – Tombou a cabeça para o lado – Eu não resisto a isso, Alice. – Tomou a garrafinha da minha mãe, segurou forte minha cintura e se aproximou o máximo que pode – Você é linda demais, com esse jeito dramático, quem consegue resistir a você?

– Por que você mexe tanto comigo? – Perguntei encostando nossos rostos – Isso não é brincadeira, Luan. 

– E quem disse que eu estou brincando? Eu quero você. – Ele não disse mais nada, nem era preciso, nossas bocas se uniram em um beijo extremamente bom.

Eu não conseguia controlar meus instintos, não conseguia parar ou simplesmente pensar em algo que me afastasse dele, não naquele momento em que ele me tinha em seus braços. Tinha que ter uma explicação para tudo isso, a pessoa não se envolve assim tão rapidamente, isso nunca aconteceu comigo. Sinceramente não me agradava muito pensar nas consequências de tudo isso, eu tinha consciência que as coisas estavam indo por um caminho que eu não gostaria de seguir, mas ele tirava todo o medo que existia dentro de mim. Eu só queria viver, independente do que possa acontecer daqui pra frente, eu só queria ser feliz hoje, porque o amanhã não me pertence. 

7 comentários: