quinta-feira, 6 de abril de 2017

(Capítulo 06 – O reencontro)

A semana foi muito produtiva, com muito trabalho, muita diversão com meus novos colegas de trabalho e muita saudade de casa. Todos os dias minha mãe e Benjamim me ligavam, contavam sobre as novidades, sobre meu pai, sobre nossos familiares que perguntavam o tempo todo sobre minha mudança para São Paulo. Eu estava morrendo de saudade de todos, mas meu sonho era maior que qualquer coisa, era a minha mais pura felicidade. Durante toda essa semana, fiz alguns ensaios fotográficos dentro da agência, me sentia extremamente bem e realizada trabalhando com tudo aquilo que eu amo. Ainda era madrugada quando levantei, coloquei uma coberta sobre meus ombros e caminhei até a sacada do meu quarto. Fechei meus olhos e com toda a minha permissão, senti o vento desarrumar de leve meus cabelos, as minhas estrelas brilhavam de uma maneira impressionante, elas sorriam pra mim, como se dissessem que algo maravilhoso estava para acontecer. Já dizia Clarissa Corrêa:

“Um dia você entende que o tempo não é o inimigo. E que ele é o nosso maior mestre. Que tudo vêm na hora que deve vim. Que não adianta espernear nem se esconder da vida. Que a fuga não é a melhor saída. E que no fim das contas a gente sempre acaba agradecendo tudo que passou. Porque o tempo (Ah, o tempo!) está sempre ao nosso lado para nos mostrar o que realmente vale a pena.”

Depois de quase uma hora conversando com as estrelas, peguei no sono novamente, esse seria um dia de muito amor. Acordei no dia seguinte sentindo um cheiro maravilhoso de café, tomei coragem para me levantar e após meu banho, segui para a cozinha.

– Bom dia, Maria! – A cumprimentei com um abraço – Tudo bem?

– Bom dia, Alice! Sim, dormiu bem?

– Maravilhosamente bem. – Sorri colocando um pouco de café em minha xícara.

Maria era uma senhorinha simpática que cuidava do nosso apartamento durante a semana. Ela era humilde, mas ao mesmo tempo muito delicada e caprichosa. Era especialista em comida caseira, daquelas que você tinha que comer rezando pra não pecar.

– Laura ainda não saiu do quarto? – Perguntei enquanto comia.

– Ainda não, acho até que ela vai se atrasar.

– Bom dia! – Chegou já pronta – Acabei dormindo demais.

– Laura, queria falar com você. – Maria estava tímida – Tudo bem se eu sair mais cedo hoje?

– Tudo bem, Maria. – Respondeu enquanto comia – Só deixa tudo organizado?

– Não se preocupe. – Sorriu agradecida.

– E as novidades pra hoje, Lili?

– Vou fazer meu primeiro ensaio fotográfico externo. – Respondi com um sorriso enorme – Pra Sawary.

– Sawary? Que maravilha, hem?

– Sim, estou tão animada.

– Você vai arrasar. – Sorriu lindamente – Como sempre, não é mesmo?

Logo após nosso maravilhoso café, nos despedimos de Maria e seguimos para os nossos destinos. Eu estava ansiosa, era algo que eu esperei a semana inteira e finalmente chegou o dia, meu primeiro trabalho externo pra agência. Durante o percurso, liguei para minha mãe e contei a ela sobre meu dia. Só de ouvir sua voz, eu conseguia sentir sua felicidade ao se deparar com a minha, algo profundamente ligado a esse amor de mãe. Ao chegar à agência, Bruno me passou todos os detalhes dessa manhã, o material necessário e avisou que Marina me acompanharia.

– Tudo certo, Alice? – Bruno perguntou sorridente.

– Tudo certíssimo. – Verifiquei o material novamente.

– Marcelo Sampaio o nome do representante da empresa. – Explicou – Ele está esperando por vocês.

– Estamos prontas. – Levantei – Vamos Marina?

Durante o percurso até o local do ensaio, Marina me contava de suas primeiras experiências como fotografa. Que já tinha aprendido muito na agência de Bruno e que sonhava em se tornar uma grande profissional. Era linda a maneira como ela falava dessa profissão, seus olhos brilhavam, seu sorriso expressava todo o sentimento de amor e gratidão por ter seguido seu sonho. Ela me perguntava o tempo todo sobre minha decisão de entrar na área da fotografia, quem me incentivou, o que minha família achava do meu trabalho. Claro, acabei resumindo boa parte da minha história, mas contei que essa era minha grande paixão e que eu jamais me encontraria em outra profissão. Depois de alguns minutos de uma maravilhosa conversa, chegamos ao nosso destino e lá fomos recepcionadas por uma moça muito gentil.

– Bom dia! – Falou sorridente – No que posso ajudar?

– Oi, bom dia! – A cumprimentei – Sou Alice Alcântara, fotografa da agência FotoinFoco. – Eu e Marina mostramos nossos crachás – E Marina Gimenez, minha assistente.

– Claro, Marcelo aguarda vocês.

Seguimos ao lado dela até um galpão enorme, onde lá conhecemos Marcelo. Estavam presentes também figurinistas, maquiadores, cabeleireiros e algumas outras pessoas que faziam parte da empresa.

– Pronto, agora a equipe está completa. – Marcelo nos recebeu maravilhosamente bem – É um prazer conhecê-la, Alice!

– Prazer, Marcelo! – O cumprimentei simpática.

– Luiza, chama o pessoal. – Bateu palmas – Estamos prontos.

Comecei a organizar todo o equipamento para começar as fotos, tripé, câmeras, iluminação, tudo estava impecavelmente em seus devidos lugares. Ouvi algumas risadas, mas continuei concentrada, até ouvir aquela voz familiar e sentir meu coração pular... Era ele.

– Alice, eu quero que conheça algumas pessoas. – Quando Marcelo me chamou, dei de cara com Luan. – Essa é a Sabrina.

– Prazer, Sabrina! – A cumprimentei.

– O prazer é todo meu, Alice!

– E esse é nosso garoto, Luan. – Ele me olhou com um sorriso sapeca, com aquele jeito que pertencia unicamente a ele, logo fui interrompida quando eu estava indo em sua direção para cumprimentá-lo.

– Nós já nos conhecemos. – Falou naturalmente – Como vai, Alice? – Me cumprimentou com dois beijos no rosto.  

– Bem! E como você está?

– Bem melhor agora. – Sorriu.

– Vamos lá, então? Maquiagem aqui na Sabrina, por favor! – Marcelo falou alto tirando minha atenção de Luan.

Realmente o destino estava de brincadeira comigo, não era possível. Tentei me concentrar, me mantive calma e começamos as fotos. Era uma mais linda que a outra, eles já tinham bastante experiência com aquilo, então não foi preciso que eu dissesse ou não o que fazer. Vez ou outra Luan me olhava sorrindo, outras vezes ele me observava, tentava chamar minha atenção, mas eu tentava ser o mais profissional possível. Foram algumas horas fotografando, parávamos por alguns minutos, mas logo voltávamos a fotografar. Quando finalizamos, mostrei as fotos a eles e todos amaram, o que claro me deixou extremamente feliz. Era quase hora do almoço quando começamos a desmontar os equipamentos, meu coração estava mais feliz que nunca, tudo estava seguindo como eu esperava.

– Almoça comigo? – Tomei um pequeno susto ao sentir a presença de Luan atrás de mim.

– O que? – Perguntei o olhando, ele sorria de um jeito encantadoramente lindo.

– Perguntei se você quer almoçar comigo.

– Eu não sei...

– Eu não aceito um não como resposta.

– Então espera um pouco?

– Todo o tempo do mundo. – Sorriu satisfeito.

– Mari, você pode voltar pra agência sozinha? Eu tenho um almoço agora.

– Eu vou pedir que o Samuel leve os equipamentos, tá? Porque daqui também vou almoçar com meu namorado. – Falou sorridente. – Tem algum problema? Você ainda vai precisar de mim?

– Claro que não. – Sorri aliviada – Só peça a ele que leve tudo pra agência, mais tarde a gente se encontra. – A abracei.

– Até mais tarde.

– Pronto. – O encontrei olhando tedioso seu celular.

– Podemos ir?

– Sim. – Respondi sorridente.

Ele se despediu de algumas pessoas, enquanto discretamente eu seguia para a recepção. Conversei rapidamente com Marcelo, ele disse que as fotos realmente ficaram ótimas e que Bruno sempre acertava na escolha de sua equipe. Agradeci imensamente a ele, com toda certeza aquelas palavras estavam sendo resultado de todo o meu esforço.

– Vamos? – Se aproximou enquanto eu tentava inutilmente ligar para Laura.

– Vamos. – O olhei rapidamente.

Seguimos juntos até seu carro, onde um rapaz moreno já nos esperava. Gentilmente ele abriu a porta pra mim, entregou a chave do carro a Luan e seguiu para o outro carro que estava atrás de nós. Foram pouquíssimos minutos, logo estávamos em frente a um restaurante lindo, com um estilo havaiano e uma aparência extremamente aconchegante. O dono do restaurante parecia conhecer bem Luan, ele conversou rapidamente conosco e nos levou até a mesa.

– Esse restaurante é lindo. – Olhei ao redor.

– Lindo mesmo é esse coincidência que nos colocou frente a frente novamente. – Foi direto – Você não acha?

– Acho. – Sorri olhando o cardápio – Mas acho que talvez não seja coincidência.

– Como assim? – Olhou também seu cardápio – Você quer dizer que o destino nos uniu? – Riu de maneira engraçada.

– Você não acredita nessas coisas? – Perguntei fingindo indignação – Pensei que você fosse mais romântico. – Ele sabia que eu estava brincando, mas levou a sério.

– Você sumiu naquela noite. – Falou mais sério dessa vez.

– Desculpa, Luan. – O olhei – Douglas não te contou o que aconteceu? Laura não estava bem.

– Ele me contou por cima, disse que o namorado dela apareceu enfurecido.

– Ex-namorado. – O corrigi – Ele é louco, não deveria ter feito isso.

– Como Laura está?

– Agora está bem. – Sorri de lado – Desculpa mesmo, tá?

– Tudo bem, mas me diga... – Olhou-me prendendo o riso – Você não tem nenhum namorado louco como esse não, né?

– Claro que não. – Ri tapando meu rosto com o cardápio.

– Tudo bem, então eu te desculpo com uma condição.

– Que condição? – Perguntei curiosa.

– Quero que vá ao meu show amanhã. – Falou me olhando nos olhos – Vai acontecer em um clube aqui mesmo em São Paulo.

– Se eu não for, você não vai me desculpar?

– Exatamente, eu não desculpo. – Se manteve sério e eu tive vontade de rir.

– Tá bom. – Sorri sincera – Eu aceito seu convite. 

– Ótimo, assim a gente evita que o “destino” faça todo o trabalho sozinho. – Sorriu olhando novamente o cardápio.

Eu apenas sorri, porque era inevitável não sorrir estando ao seu lado. Almoçamos como dois amigos de infância, ele contava umas piadas tão bobas, mas que me faziam rir desesperadamente. Tinha algo que me prendia a ele, algo ainda desconhecido pra mim, mas me fazia sentir uma vontade enorme de continuar ali, ao seu lado. Eu estava feliz, eu me sentia feliz e completa, porque era como se tudo aquilo fosse meu desde muito tempo. Por várias vezes me deparei com a saudade de algo antigo, senti aquela mesma sensação de conhecer Luan, não de hoje, mas de outras vidas. Não aconteceu absolutamente nada entre nós dois, mas nem era preciso, a necessidade de curtir a presença do outro, já nos bastava. Logo após nosso almoço, ele me deixou na porta da agência e seguiu para mais alguns compromissos que ainda teria que cumprir naquele dia. Senti como se minha alma estivesse flutuando, como algo precioso que só acontece uma vez na vida de cada ser humano. Eu não sabia o que me esperava nesse terceiro encontro, mas eu estava disposta a viver tudo aquilo que me trouxesse felicidade.

“Que sejamos o mistério de amar, mas também a vontade de viver. Que sejamos medo, mas não descartemos a possibilidade de nos surpreender. Por fim, que sejamos sempre amor. E se o medo quiser nos convencer que histórias e traumas se repetem, digamos a ele que precisa amar um pouco mais.” 

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