quarta-feira, 26 de abril de 2017

(Capítulo 17 – Minha missão)

Quando coloquei meus pés novamente naquela casa, senti um misto de sentimentos inexplicáveis. Senti saudade, senti agonia, senti que meu sonho se tornou distante novamente, senti meu coração vazio e ao mesmo tempo ele parecia transbordar de felicidade. Queria que as coisas voltassem no tempo, queria que o tempo não tivesse passado, queria que o passado se tornasse presente novamente.

– A mamãe vai adorar te ver. – Benjamim falou colocando minha mala no canto da sala.

– Ela sabe que eu estou aqui?

– Não, vai ser surpresa.

– E o papai? – Perguntei olhando toda a minha casa – Que saudade desse cheiro.

– Ele está por aí. – Deu de ombros – Dora está fazendo bolo. – Sorri ao ouvir o nome dela.

– Vou vê-la. – Corri para a cozinha e bati na porta – Oi, Dorinha.

– Alice? – Levou um susto quando me olhou – Você voltou? – Abriu os braços e eu corri para abraçá-la.

– Estou aqui por conta da minha mãe. – A olhei – Ela não está bem, né?

– Está um pouco adoentada. – Falou tristonha – Mas com você aqui, com certeza ela ficará boa. – Sorriu arrumando meu cabelo – Que saudade da minha menina. – Me abraçou novamente – Você está bem? Está com fome?

– Não, eu quero logo ir ver minha mãe, depois volto aqui pra comer alguma coisa. – Ela apenas concordou e me abraçou novamente.

Dora está com a gente desde que meus pais se casaram, ela cuidou de nós dois, ajudou minha mãe com absolutamente tudo e até hoje continua aqui. Nós a tratamos como um membro da nossa família, ela tem os mesmos direitos e por tantas vezes é quem manda e desmanda dentro dessa casa. Depois de receber carinho de Dora, segui novamente para a sala, onde dei de cara com meu pai descendo as escadas.

– Oi, Pai! – Falei enquanto Ben nos olhava – Sua benção.

– Deus te abençoe! – Respondeu seco.

– Eu senti sua falta... – Falei já receosa com sua resposta.

– Suba, sua mãe sente ainda mais a sua falta. – Falou nos dando as costas e seguindo para o seu escritório.

– Ele nunca vai me perdoar, né? – Perguntei olhando Ben – Ele nem sequer disse que estava com saudade de mim.

– Vamos subir? – Segurou minha mão – A mamãe precisa de você. – Apenas concordei subindo com ele.

Subi silenciosamente, passei por meu quarto que ainda estava do mesmo jeitinho que eu deixei, senti aquela sensação boa de estar em casa e segui para o quarto dos meus pais. Benjamim abriu a porta com cuidado, olhou para ela e sorriu, avisou a ela que tinha uma visita que queria muito vê-la e assim me permitiu passar. 

– Oi, mãe! – Sorri entrando cuidadosamente.

– Alice? – Ela me olhou com lágrimas nos olhos – Não acredito! – Ela estava deitadinha na cama, enroladinha, com um sorriso gigantesco me esperando.

– Eu senti tanto a sua falta, mãezinha! – A abracei com todo o meu amor. – A senhora está bem?

– Filha, eu estava morrendo de saudade. – Passou a mão em meu cabelo – Eu estou ótima agora. – A abracei novamente.

– O que a senhora tem? – Perguntei preocupada – Benjamim disse que a senhora estava doente.

– Não acredito que te tiraram de São Paulo... – Olhou Benjamim o repreendendo – Por que você fez isso, filho?

– Mãe, não briga com ele. – Pedi segurando sua mão – Eu que decidi vir.

– Eu não queria te incomodar, filha. – Falou olhando minhas mãos – Você tem seu trabalho.

– Pelo amor de Deus, mãezinha. – Deitei ao seu lado – Eu deixaria tudo por vocês.

– Você tá linda. – Fez carinho em meu cabelo – Parece que tem anos que eu não te vejo.

– Só um mês. – Sorri brincando com seus dedos – Parece que tem mais, né? – Ela apenas concordou com os olhos cheios de lágrimas. – Mas que tal a senhora sair dessa cama? – Sentei a olhando – A Dorinha está fazendo um bolo maravilhoso. – Sorriu – Eu soube que a senhora não está se alimentando direito.

– Mas disseram tudo pra você.

– Mas é claro, porque a senhora não me fala.

– Eu vou tomar um banho, você me espera?

– Claro, vou procurar um vestido bem colorido. – Falei animada seguindo para o closet.

Depois que ela tomou seu banho, colocou o vestido que eu escolhi e enquanto ela arrumava seus cabelos, começamos a conversar sobre esses últimos dias. Ela me contou da febre que estava sentindo, dos quilos que perdeu por não conseguir se alimentar direito, disse que fez uns exames e que receberia o resultado no dia seguinte. Ela estava pálida, parecia fraca e me senti extremamente mal em vê-la naquele estado. Descemos as escadas cuidadosamente, Benjamim que estava no telefone nos ajudou e sorriu ao ver que mamãe estava progredindo. Conversamos um pouco na sala, até que Dorinha colocasse a mesa para que pudéssemos tomar nosso café da tarde.

– Dora, que bolo delicioso. – Falei de boca cheia – Prova um pedacinho, mãe.

– Está mesmo uma delícia. – Comeu um pedacinho do bolo.

– Que bom te ver se alimentando, mãe. – Benjamim sorriu a olhando.

– E ela vai melhorar cada dia mais. – Segurei sua mão – Não é mesmo?

– Com você aqui eu vou me sentir sempre bem.

– E quando eu não estiver? – A olhei.

– Eu vou tentar me adaptar a sua ausência.

– Eu quero muito que a senhora vá me visitar em São Paulo, não precisamos ficar distantes.

– Exatamente, não precisamos. – Ben falou de boca cheia.

– Eu vou amar receber vocês no meu apartamento. – Beijei a mão dela – E lá nós temos a Laurinha, que a senhora é apaixonada.

– Que saudade de Laura. – Sorriu – Como ela está?

– Está maravilhosamente bem. 

– Que coisa boa. 

– Nesse momento ela deve está chegando ao seu destino.

– Ela está viajando? – Ben perguntou.

– Sim, com um rapaz.

– Ela está namorando? – Mamãe perguntou tomando um pouco de café.

– Ela conheceu um rapaz muito encantador e está apaixonada. – A acompanhei no café – Acredito que ela volte comprometida dessa viagem.

– E ele é um bom rapaz?

– Sim, ele é uma ótima pessoa.

– Fico feliz que ela tenha encontrado uma pessoa boa. – Sorriu me olhando.

Conversamos bastante, enquanto tentávamos fazer com que minha mãe comesse mais alguma coisa. Vi que a todo o momento ela fazia um esforço para se mostrar melhor, mesmo que com um simples sorriso, mas isso deixava meu coração muito feliz. Era noitinha quando subimos para organizar minhas coisas no quarto, eu tinha trazido somente o necessário e rapidamente consegui organizar tudo no closet. Eu estava no banheiro quando ouvi meu celular tocar, voltei para o quarto e vi minha mãe com ele em mãos.

– É o Luan. – Seu nome estampava o visor do meu celular.

– Obrigada, mãe! – A agradeci pegando o celular – Eu já volto, tá? A senhora pode terminar de arrumar?

– Claro que sim. 

– Alô! – Atendi seguindo para o quarto de hóspedes.

– Oi, minha princesa! – Falou carinhoso – Tá melhorzinha?

– Estou na casa dos meus pais.

– Você foi ver sua mãe?

– Sim, ela está doente. – Sentei no chão da varanda – Eu precisava muito vê-la.

– O que ela tem?

– Ela não estava se alimentando direito, perdeu alguns quilos por conta disso e também vem sentindo uma febre muito alta.

– Mas já levaram ela ao médico?

– Sim, ela fez alguns exames e amanhã vamos buscar o resultado.

– E como você está?

– Estando aqui com ela eu me sinto melhor. – Apoiei minha cabeça na parede – Ela até comeu um pouquinho já.

– E quando você volta? – Perguntou me causando um arrepio.

– Eu não sei... – Respirei fundo – Preciso saber que ela está bem.

– Eu vou sentir sua falta.

– Eu também vou sentir sua falta. – Choraminguei – Promete se cuidar?

– Prometo. – Silenciou.

– Você pode me ligar quando quiser.

– Eu vou ligar sempre.

Conversamos por alguns minutos, ele me contou sobre seu dia enquanto ouvia meus desabafos em relação a minha mãe. Era incrível como nossa relação melhorava a cada dia, criamos um mundo inteiramente nosso, com todo o amor que existia entre nós dois. Ele me entendia, me conhecia, mesmo com tão pouco tempo ao meu lado, mas fazia um esforço para ser compreensivo e amável com coisas que antes pertenciam unicamente a mim. Eu sentiria sua falta, sentiria falta dos seus carinhos, mas principalmente sentiria falta do seu olhar carinhoso e protetor. Desliguei o celular sentindo meu coração doer de saudade, mas me mantive firme e voltei para o meu quarto, onde minha mãe me esperava sentada na cama.

– Tudo bem? – Perguntou quando sentei ao seu lado.

– Está sim. – A olhei sorrindo.

– Era do seu trabalho?

– Não... – Respirei fundo – Mãe, eu conheci uma pessoa.

– O Luan que estava te ligando? – Perguntou atenciosa.

– Sim. – Respondi tentando achar as palavras certas – Ele é incrível.

– Ele é de São Paulo.

– Sim.

– E vocês estão namorando?

– Não, nós não temos nada sério. – Abaixei minha cabeça – Mas eu gosto muito dele.

– Seus olhos brilham quando você fala dele. – Levantou meu rosto para que eu a olhasse. – Faz muito tempo que eu não te vejo assim.

– Ele é muito especial pra mim, sabe? – Ela apenas concordou com a cabeça – Ele é romântico, companheiro, me entende.

– Faz tempo que vocês se conhecem?

– Desde que cheguei lá.

– Ele trabalha com você?

– Não. – Procurei as palavras – Nós nos conhecemos na casa de shows de um amigo da Laura.

– Ele gosta de você?

– Eu acredito que sim.

– Então se vocês se gostam, por que não estão namorando?

– Porque a vida dele é bem complicada.

– Complicada como, Alice?

– Ele é cantor, mãe.

– Cantor? – Perguntou confusa.

– Um cantor muito famoso.

– Você tá se relacionando com um cantor famoso, Alice? Como isso foi acontecer?

– Eu não sei, simplesmente aconteceu.

– E agora? Como vocês estão?

– A gente se fala sempre, nos encontramos sempre que dá também.

– Eu consigo ver o quanto ele é importante pra você.

– Ele é muito importante. – Sorri – Ele é daqueles homens lindos, preciosos, que a gente não encontra facilmente por aí.

– Luan... – Falou pensativa – Qual cantor famoso tem esse nome?

– Luan Santana. – Respondi tímida – Esse daqui. – Mostrei a ela uma foto nossa.

– Meu Deus! – Colocou a mão na boca – Eu estava ouvindo uma música dele esses dias, Alice!

– Sério? Ele é maravilhoso! – Olhei nossa foto. – Quero muito que vocês se conheçam.

– Eu quero mesmo conhecê-lo. – Segurou minha mão – E como tudo aconteceu?

– As coisas aconteceram muito rápido, mas sempre tivemos a impressão de que já nos conhecíamos. – Pensei olhando meu celular.

– Talvez por esse motivo vocês atropelaram as coisas.

– Sim, eu não sei explicar.

– Isso é lindo, mas muito preocupante.

– Eu sabia que a senhora diria isso.

– Alice, você passou por uma experiência muito complicada na sua vida.

– Eu sei, mas não quero me lembrar de tudo aquilo.

– Eu só não quero que você mergulhe de cabeça em algo tão incerto, em algo que você não tem certeza de absolutamente nada.

– Eu me sinto extremamente feliz quando estou com ele, me sinto completa.

– Isso é ótimo, meu amor. – Fez carinho em meus cabelos – Mas você mesmo disse que a vida dele é complicada.

– Eu não procuro pensar muito nisso, eu só quero estar com ele. – Fui sincera.

– Eu só não quero ver você sofrendo.

– Eu estou feliz, mãe. – Segurei sua mão – Como eu nunca estive em toda a minha vida.

– Isso basta. – Me abraçou carinhosamente – Vamos deixar que o tempo cuide de tudo.

Continuamos conversando sobre absolutamente tudo, a maneira como nos conhecemos, sobre nossa primeira noite, o poder que ele tinha sobre meu coração. Ela sorria a cada palavra, conversávamos como duas melhores amigas, compartilhando de cada detalhe. Contei a ela também sobre o meu trabalho, sobre minha viagem para o Rio e o quanto minha alma estava em paz com tudo o que estava acontecendo. Senti como se tivesse tirado um peso enorme das minhas costas, porque eu não conseguia esconder nada dela. Senti meu coração flutuando, minha alma sorria, meu pensamento estava com Luan e tudo o que eu mais precisava agora era sentir sua presença. Conformei-me de estar tão longe dele, eu não esperava muita coisa de nós dois, eu só apenas gostaria de viver cada momento que me fosse permitido por Deus. 

4 comentários:

  1. E esses resultados da mae de alice,tomara q n seja nada serio.e esse amorzinho dos dois no telefone,ja quero esses dois juntinhos de nv.
    Gaby

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  2. Será q o pai dela vai gostar do luan? Ele é tão rígido!

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  3. Aaaaaa ansiedade a cada capituloooo!

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  4. Tenho medo da Alice ter uma desilusão com o luan,de ele sem querer magoar ela.

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