Chegamos ao escritório de Maria
Clara quase no final da tarde, ela preferiu nesse horário, pois era quando o
escritório estaria mais calmo. Ela nos recebeu maravilhosamente bem, nos fez
centenas de perguntas sobre o casamento, festa, decorações e todo o resto.
Maria Clara tinha tudo nas mãos, em um dia ela fez muitas ligações para os
fornecedores e nos entregou uma lista de coisas para que pudéssemos escolher.
Eu a admirava por sua agilidade e profissionalismo, ela precisava de muito
pouco para organizar um casamento inteiro, talvez por isso ela embarcou na
nossa loucura. Ela nos encaminhou para um ateliê onde encontraríamos um
profissional pronto para nos auxiliar no meu vestido de noiva, assim como no
terno de Luan. Tudo parecia um grande sonho, Luan estava tão animado quanto eu,
escolhia tudo como sempre quis. Eu acho que não teria mais como fugir da nossa
realidade, nascemos mesmo um para o outro. Durante nossas ideias trocadas,
acabei contando a Maria Clara que estávamos grávidos e é claro que ela quase
enlouqueceu com a notícia. Ela nos parabenizou, comemorou quando eu disse que
era uma menina, pensou em várias coisas em relação a minha gravidez e a festa.
– Então agora o vestido precisa ser
de grávida. – Ela sorriu.
– Sim, eu estarei com sete meses.
– Eu acho noiva grávida um luxo. – Confessou
nos fazendo rir.
– Você acredita que sempre foi meu
sonho casar grávida?
– Eu posso imaginar. – Me olhou
encantada – Será o casamento mais lindo.
– Nós confiamos em você.
Luan amou o profissionalismo de
Maria Clara, passou o caminho inteiro de volta pra casa falando no quanto ela
era ágil. Fora que ela era alguém de extrema confiança, alguém que poderíamos
contar em todos os momentos desses quatro meses de espera pelo nosso dia. Do
escritório de nossa amiga, nós seguimos para o meu apartamento, eu precisava
descansar o restinho daquela quarta-feira maravilhosa.
– Amor? – O chamei quando ainda
estávamos dentro do carro.
– Oi, meu bem!
– Estou com vontade de tomar
sorvete.
– De floresta negra?
– Não, de menta com chocolate. –
Falei com água na boca.
– Pelo menos não é de algo
impossível de se achar. – Soltou uma risada.
– Podemos parar numa sorveteria? –
Pedi suplicante.
– Podemos, acho que tem uma logo lá
na frente.
Depois de comprar meu tão desejado
sorvete, nós seguimos para o meu apartamento, enquanto eu me afogava naquela
maravilha sabor de menta com chocolate. Eu estava me sentindo um pouco cansada,
aquele tinha sido um longo dia, mas ao mesmo tempo eu me sentia a pessoa mais
feliz desse mundo.
– Eu ainda não acredito que é uma
menina. – Falei assim que entramos no meu apartamento.
– Você estava sentindo, sempre
souber que seria uma menina.
– Sim, eu sempre senti. – O olhei
por alguns segundos – Mesmo sabendo que eu ficaria feliz com qualquer que fosse
o resultado.
– Podemos tentar o menino assim que
a Luisa nascer. – Ele me puxou para que eu sentasse em seu colo.
– Você tá louco? – Perguntei
incrédula.
– Não seria bom? – Perguntou
cheirando meu pescoço – Imagina só, um casalzinho com quase a mesma idade.
– Me senti exausta só de pensar. –
Relaxei com meu corpo no dele.
– Então vai começando a se
acostumar com a ideia, porque eu quero ter muitos filhos. – E só aí me lembrei
de que Vicente sempre dizia a mesma coisa – O que foi? – Perguntou enquanto eu
o olhava pensativa.
– O que? – Perguntei quando ele me
chamou atenção.
– Tá tudo bem?
– Tá, amor... – Respirei fundo
seguindo para a cozinha.
– Tem certeza? – Ele seguiu atrás
de mim.
– Você quer comer alguma coisa? –
Perguntei mudando completamente de assunto.
Fomos interrompidos por seu celular
tocando, era sua mãe, ele atendeu sem tirar os olhos de mim, mas logo seguiu
para a sala novamente. Respirei fundo, eu não queria ter que comentar dos meus
pensamentos com ele, não nesse momento. Eu estava faminta, então aproveitei
para fazer um lanche bem delicioso pra gente, enquanto ele continuava
conversando com sua mão. Depois de longos minutos ao telefone, ele voltou para
a cozinha e comeu tudo comigo, mesmo eu sendo a mais “esfomeada”.
– Você vai dormir aqui? – Perguntei
sentindo um sono incomum me consumir.
– Não, amor. – Respondeu terminando
de comer – Amanhã tenho uns compromissos lá no estúdio.
– Mas você não está de férias?
– Estou, mas não custa nada ir lá
resolver uns assuntos.
Ele não conseguia passar nem um mês
direito sem trabalho, sua vida era isso, ele queria e queria logo. E assim nós
terminamos aquele dia agitado, ele se foi deixando um beijo em mim, outro na
filha, tão amoroso como nenhum outro homem. Eu sabia que Luan seria um pai
extremamente maravilhoso, daqueles protetores, que cuidam, se tornando o grande
herói de suas filhas.
A quinta e a sexta-feira passaram
correndo, eu estava ansiosa para nosso jantar de noivado, tudo estava sendo
preparado com muito amor. Comprei um vestido novo na loja de Laura, aproveitamos
para ir ao salão ainda na sexta-feira, onde passamos quase a tarde inteira. O sábado
finalmente chegou me trazendo um dia ensolarado, recheado de um amor que
preenche completamente meu coração. A maior felicidade daquele dia, com certeza
foi quando recebi minha mãe e Benjamim, eles me trouxeram proteção. Preparei um
café da manhã maravilhoso, era tão bom tê-los ao meu lado naquele dia
importante da minha vida.
– Então quer dizer que é uma
menina? – Minha mãe perguntou eufórica quando eu contei a eles sobre a
novidade.
– Sim! – Respondi a abraçando –
Isso não é maravilhoso?
– Mais uma menina pra família? –
Benjamim nos olhou indignado.
– Ah! Vai dizer que você não está
feliz por saber que terá uma sobrinha? – O olhei com as mãos na cintura.
– Você sabe que estou feliz. –
Confessou me abraçando – Mas cuida logo de ter um menino, porque eu quero
ensiná-lo a jogar futebol.
– Você e Luan são dois insuportáveis
com esse assunto de ter logo outro bebê, sendo que Luisa nem sequer nasceu
ainda.
– Luisa é um nome lindo demais. –
Mamãe se derreteu toda – Ah, estou muito emocionada!
– Minha sobrinha vai ser
uma princesinha.
– Oi, família! – Laura chegou ao
lado de Douglas.
Enquanto Douglas e Benjamim
conversavam amigavelmente na sala, mamãe, Laura e eu cuidamos do nosso almoço. Luan
me ligou quase o dia inteiro, falou rapidamente com minha mãe e disse que seus
pais estavam ansiosos pelo tão esperado “encontro de famílias”. Eu senti poucos
enjoos, mas em compensação, minha fome aumentava a cada segundo que se passava.
O dia passou rápido, era quase 18h00 quando seguimos todos para a casa de Luan,
enquanto minha ansiedade estava quase me matando. Assim que chegamos lá, fomos
maravilhosamente bem recepcionados pela família de Luan.
– É um prazer conhecê-la, Ana! –
Dona Marizete cumprimentou minha mãe.
– O prazer é todo meu, Marizete! –
Respondeu simpática.
– Sejam muito bem-vindos! – Seu Amarildo
cumprimentou minha mãe e logo depois Benjamim.
– Obrigada! – Ela respondeu.
– Obrigada, seu Amarildo! –
Benjamim respondeu esbanjando simpatia.
– Oi, oi! – Bruna apareceu na sala –
Prazer, dona Ana! – Ela a cumprimentou com um abraço carinhoso – Já lhe
disseram que Alice é muito parecida com a senhora? – Perguntou brincando.
– Desde que minha menininha nasceu.
– Respondeu sorrindo.
– Oi, prazer! – Ela cumprimentou Benjamim
que o olhou encantado.
– Prazer... – Tentou lembrar seu
nome.
– Bruna! – Sorriu.
– É um prazer conhecê-la, Bruna! –
E beijou carinhosamente sua mão.
– Parece que ele gostou dela. –
Cochichei no ouvido de Luan.
– Ele que não se atreva a mexer com
a minha irmã. – Foi impossível não rir de seu ciúme por Bruna.
Os pais de Luan se deram super bem
com minha mãe, não paravam de comentar sobre Luisa, estava mesmo constatado que
nossas famílias seriam uma só a partir daquela noite. Todos tomaram um vinho
maravilhoso, enquanto eu tomava suco, acompanhada de meu noivo, que sempre se
mostrou solidário com minha situação. Eu sentia falta de meu pai naquele
momento, sentia meu coração doer ao saber que ele estava sozinho em casa,
simplesmente por ser orgulhoso demais. Como eu queria ele estivesse conosco,
que ele conversasse com Luan, com seus pais, se sentisse feliz em estar me entregando
ao homem da minha vida. Conversa vai, conversa vem, Luan finalmente se levanta
com um sorriso lindo no rosto.
– Bom, eu gostaria de falar um
pouco com vocês. – Ele se pronunciou chamando a atenção de todos – Decidimos
organizar esse momento tão nosso, para que pudéssemos concluir o que começamos
há algumas semanas atrás. – Sorriu me olhando – Já falei tudo o que eu
necessitava falar naquela noite. – Não tirava seus olhos de mim – Tudo o que eu
venho sentindo desde que você apareceu na minha vida.
– Eu te amo... – Sussurrei levantando.
– Eu tinha pensado em tudo antes,
mas acho que saiu um pouco diferente. – Gargalhou – Acho que agora sim eu posso
fazer oficialmente o pedido a você. – Pegou a caixinha com as alianças – Aqui,
diante de sua família... – Ele respirou fundo se ajoelhando em minha frente –
Eu quero saber se você aceita se casar comigo. – Coloquei as mãos sobre a boca
ao me deparar com tamanha delicadeza em forma de alianças.
– Já respondi uma vez, mas eu seria
capaz de responder em todos os outros dias que me restam de vida... – Tentei
conter minha emoção – Eu aceito me casar com você! – E assim todos aplaudiram
felizes.
– A senhora nos dá sua benção, dona
Ana? – Ele perguntou assim que colocamos a aliança um no outro.
– É claro que dou minha benção. –
Ela respondeu nos abraçando – Você faz muito bem a ela.
– E vocês? – Olhei os pais de Luan.
– Nós já demos a nossa benção,
estamos imensamente felizes! – Eles nos abraçaram emocionados.
– E nós temos nossos dois primeiros
pares de padrinhos. – Sorri de mãos dadas com Luan.
– Exatamente! – Luan continuou –
Vocês aceitam serem nossos padrinhos? – Perguntou olhando para Laura e Douglas,
assim como Benjamim e Bruna.
– Nós? – Laura nos olhou emocionada
– Claro que aceitamos!
Comemoramos, todos estavam
imensamente felizes com aquele momento tão lindo de nossas vidas. Nossos pais,
nossos padrinhos, nossa Luisa que sentia todo aquele amor que transbordava por
todos os lados. Jantamos em meio a conversas, risadas, beijos entre os noivos,
tudo estava tão lindo como nunca nada aconteceu antes. Contamos a eles sobre o
casamento que aconteceria em Maio, deixando todos surpresos, mas eles aceitaram
de bom grado entrar na nossa loucura. Por um momento, olhei para a aliança no
meu dedo e me arrepiei com o a lembrança que me veio naquele momento.
“–
Casa comigo?
– Meu Deus! – Coloquei as mãos na
boca – É claro que eu caso.
– Eu te amo, meu bem! – Rodopiou
comigo em seus braços – Eu te amo mais que tudo nessa vida!
– Você é maravilhoso, Vicente! –
Segurei seu rosto – Eu te amo imensamente mais!”
Eu tive a
sensação de desmaio, mas eu não queria que ninguém percebesse o que estava
acontecendo. Tomei um pouco de água, segurei a mão de Luan sobre a mesa e
beijei delicadamente o seu rosto. Tentei controlar aquele sentimento ruim que
insistia em se fazer presente dentro de mim, não queria mais ter que me lembrar
de momentos tão dolorosos. Depois do nosso jantar maravilhoso, voltamos para a
sala, onde encontramos outros assuntos que prolongaram bastante a nossa noite. Enquanto
Luan, Benjamim e Douglas conversavam sobre música, os pais de Luan, minha mãe e
Bruna conversavam sobre Luisa.
– Você está
bem? – Laura perguntou me acompanhando até a cozinha.
– Eu senti
uma sensação estranha, nada demais.
– Como nada
demais?
– Eu me
lembrei de quando Vicente me pediu em casamento. – O olhei tristonha – O que
aconteceu depois do pedido. – Senti minha cabeça doer.
– Isso não
vai acontecer de novo. – Ela interrompeu meus pensamentos – Para de ficar
pensando nisso.
– Eu tenho
tanto medo...
– Não,
Alice! – Ela me abraçou – Não faça isso com você, está me ouvindo?
Laura
sabia absolutamente tudo o que estava se passando dentro de mim, ela sentia a
minha dor e sabia como fazê-la ir embora. Ela era minha grande amiga, minha
irmã, alguém que eu teria ao meu lado pelo resto da vida. Voltamos para a sala,
mas apenas para encerrar aquela noite tão agradável, noite que se repetiria
muitas vezes.
–
Eu quero ficar com você. – O abracei o mais forte que eu conseguia.
–
Então dorme aqui comigo. – Respondeu fazendo carinho em meu cabelo.
–
Tudo bem se eu ficar? – Eu não queria mesmo ter que deixá-lo.
–
Que pergunta, hein? – Beijou a pontinha do meu nariz.
Avisei
a minha mãe que eu ficaria com Luan, claro que ela entendeu, principalmente por
saber que eu não queria repetir o mesmo erro de anos atrás. Todos se despediram
com muito carinho, dona Marizete e minha mãe se deram maravilhosamente bem, assim
como seu Amarildo que foi extremamente gentil. Tudo saiu como esperávamos,
nossas famílias se amaram, estávamos felizes e isso que importava. Ao sentir os
braços de Luan me acolhendo, compreendi que eu estava no lugar certo, eu estava
protegida para sempre.