(Capítulo 75 – Réveillon)

31 de dezembro, finalmente o último dia do ano chegou, me trazendo aquela maravilhosa sensação de recomeço. Acordei naquele dia me sentindo bem, sem enjoos, nem tontura, mas com uma fome fora do comum. Nossa manhã foi repleta de coisas boas, principalmente com a chegada de Douglas, deixando Laura radiante. Ele foi apresentado a todos da família, encantador como sempre, fazia minha prima se apaixonar a cada segundo. Sorte que Benjamim o conhecia do nosso jantar em São Paulo, eles conversaram bastante, logo ele se enturmou. Juntamos todas as meninas para fazer a decoração “réveillon” no jardim, com direito a cortinas lindas, brancas, com detalhes prata. Colocamos as toalhas nas mesas, enchemos alguns balões, enquanto os meninos colocavam as bebidas no freezer para gelar. Jantar quase todo pronto, decoração impecável, bebidas absurdamente geladas, luzes todas acesas. Terminávamos de escolher nossos looks para essa noite, quando Gabi chegou de mansinho sentando ao meu lado.

– O que foi? – Perguntei a olhando.

– Tenho umas amigas que gostam muito de você. – Ela respondeu sorrindo – Gostam muito mesmo.

– É mesmo?

– Sim... – Parecia procurar as palavras.

– Ela quer alguma coisa. – Laura falou rindo.

– O que você quer?

– Se elas viessem aqui, você poderia atendê-las? 

– São muitas? – Perguntei assustada.

– Não, cinco meninas. – Respondeu sorrindo – É que sem querer eu contei a elas que você está passando o réveillon aqui.

– Entendi.

– Duas delas até tem um fã clube pra você.

– Um fã clube pra mim? – Me surpreendi.

– Famosíssima. – Rafaela brincou – Vai lá atender as meninas, prima.

– Por favorzinho! – Gabi pediu com as mãozinhas juntas.

– Tudo bem... – A olhei – Mas é bem rápido, hein? – Ela nem sequer respondeu, apenas saiu correndo.

– É o resultado de namorar famoso. – Laura começou a rir.

– Vê se eu posso com isso?

Acabei escolhendo o vestido que Laura me presenteou dias antes da gente viajar para Florianópolis, branco, longo, absurdamente lindo. Coloquei na cama para não amassar, aproveitei para separar a rasteirinha que eu usaria com ele, assim como os acessórios. Enquanto alguns conversavam animadamente na sala, aproveitei para matar a saudade do meu irmão.

– E como está a mamãe?

– Ela está bem, sendo forte todos os dias.

– E meu pai?

– A cada dia mais se afundando.

– Definitivamente ele não é feliz. – Olhei para o nada – Eu sinto tanto por isso.

– E enquanto ele não aceitar nossas decisões, ele continuará sendo infeliz. – Parecia indignado – Ás vezes eu tenho vontade de sair de casa. – Falou me olhando.

– Você tem mesmo? – Perguntei surpresa.

– Tenho sim, mas penso na mamãe. – Respondeu me olhando – Penso que poderá ficar doente sozinha com ele.

– Será que ele pode melhorar com o tempo?

– Talvez quando seu filho nascer.

– Você acredita nisso, Ben?

– Eu acredito, porque uma criança pode mudar a vida de uma pessoal.

– É verdade. – Concordei – Eu estava conversando com Luan sobre isso.

– Sobre nosso pai? – Perguntou confuso.

– Sobre minha vontade de um dia ele aceitar minha felicidade, de tê-lo ao meu lado.

– Tudo é questão de tempo.

– Sim.

– Mamãe disse que Luan reagiu super bem com a notícia da sua gravidez. – Finalmente ele tocou no assunto – Que ele está sendo um pai maravilhoso.

– E ela tem toda razão. – O olhei sorrindo – Ele está sendo um pai espetacular.

– E como vocês estão?

– Estamos tentando encontrar maneiras mais fáceis de lidar com esses desencontros. – Fui sincera – Tudo é muito complicado.

– E a família dele?

– Eles me acolheram de uma maneira linda, nos apoiaram, nos deram forças. – Respondi pensativa.

– Isso me deixa mais despreocupado. – Ele confessou – Eu quero tanto a sua felicidade. 

– E eu quero a sua. – Beijei seu rosto.

– E como está tudo? – Ele me olhou atencioso – Seu trabalho? Você vai continuar?

– Eu confesso que engravidar não estava nos meus planos. – Sorri de canto – Minha vida mudou completamente, meus sonhos, meu trabalho. – Respirei fundo – Eu vou continuar trabalhando na agência, mas perdi oportunidades maravilhosas.

– Eu entendo.

– Sabe quando tudo muda da noite para o dia?

– Eu sei...

– Assim aconteceu comigo. – O olhei – Ontem eu estava com tudo sob controle em minhas mãos, enquanto hoje eu estou tentando concertar minha vida.

– E o que vai acontecer agora?

– Agora eu vou continuar trabalhando, tenho que pensar no meu futuro com um bebê.

– E Luan? – Perguntou sério – Como vai ficar em relação de vocês dois?

– Eu não sei. – Respondi sincera.

– Eu tenho certeza que está sendo complicado pra ele também. – O olhei surpresa – Você precisa compreender uma coisa.

– O que eu preciso compreender?

– Que apesar de tudo o que aconteceu durante esse tempo em que se conhecem, ele escolheu continuar ao seu lado. – Ele tinha toda razão – Ele te ama, ele não fugiu do compromisso de uma responsabilidade como essa que você vem carregando na barriga.

– Estou impressionada.

– E quer saber mais? Eu o admiro profundamente por isso.

– Você é incrível! – O abracei com todas as forças do meu amor.

Continuamos conversando sobre vários assuntos, sobre sua vida, sobre nossos pais, sobre meu bebê. Passamos longos minutos naquele quarto, compartilhando confidencias, momento único de dois irmãos que se amam profundamente. Fomos interrompidos por Gabi, me avisando que suas amigas estavam lá fora me esperando. Bom, acho que era hora de distribuir e receber um pouco de carinho daquelas pessoas tão especiais. Eram cinco lindas meninas, uma delas parecia emocionada, quando me viu colocou as mãos sobre a boca.

– Oi, meninas! – As cumprimentei com um abraço carinhoso – Tudo bem com vocês?

– Oi! – Elas responderam em coral.

– Você é muito linda. – Uma delas falou.

– Parece mais uma boneca. – A outra completou.

– O que é isso... – Falei corada de vergonha – Vocês que são lindas.

– Alice? – A que estava mais emocionada me chamou – Você poderia seguir o fã clube que eu tenho pra você?

– Você tem um fã clube pra mim, amor? – A olhei surpresa.

– E eu tenho um para o meu casal. – A outra sorriu lindamente.

– Vocês são lindas, meu Deus! – As olhei emocionada – Obrigada, meninas!

Conversei com elas rapidamente, tiramos algumas fotos, ganhei um ursinho de presente. Fiquei imaginando o que Luan sente em receber tanto carinho daquelas meninas, um amor fora do comum. O mais lindo de tudo foi ouvir aquele “cuide dele por nós”, logo delas, que cuidam tão bem dele. A noite foi chegando, linda, estrelada, seria uma daquelas noites em que eu mergulharia naquele céu brilhando. Começamos a nos arrumar, todos em seus devidos quartos, comigo estavam Laura e Rafaela. Estávamos lindas, aproveitamos para tirar algumas fotos, uma terminar a maquiagem da outra e descemos para a sala. Aquelas pessoas eram tão importantes pra mim, cada um deles, com seus defeitos e qualidades, mas que faziam parte dos melhores momentos da minha vida. Depois da minha conversa com Benjamim, pensei em tomar uma decisão que mudaria tudo, mas que me faria extremamente feliz. Jantamos, comemoramos, a meia noite se aproximava cada vez mais. Liguei para minha mãe, conversamos por alguns minutos, ela me incentivou a fazer o que o meu coração pedia. Pedia não, suplicava.

– Eu desejo ser imensamente feliz! – Falei comigo mesma quando o relógio bateu as 00h00.

Todos comemoraram, se abraçam, desejaram coisas maravilhosas para o próximo. Estávamos eufóricos, aquele era um momento extremamente especial, um momento único, onde temos a oportunidade de mudar a rota de nossas vidas. Brindamos, era hora de receber mais um ano. Fogos no céu, lágrimas de felicidade, outras de saudade, algumas outras de gratidão por esse ano que passou. Eu só precisava me afastar, queria me colocar no mais intimo de Deus, eu só gostaria de agradecer. Ainda com meus olhos fechados, agradecendo imensamente a Deus por tudo o que aconteceu durante esse ano, consegui ouvir os passos de Laura se aproximando.

– Eu sei o que você quer. – Ela me falou.

– O que? – A olhei suplicante para que ela me dissesse aquelas palavras.

– Vá atrás da sua felicidade. – Sorriu segurando minha mãe – Você sabe que ele está te esperando.

– Você acha que eu devo ir?

– Esqueça tudo o que aconteceu, recomece. – Beijou meu rosto – Vai, não espere mais nem um minuto.

– Eu te amo, Laura! – A abracei com todas as minhas forças.

E sem falar mais nada, apenas corri para o meu quarto, coloquei minhas coisas dentro da mala e me permiti sorrir. Ao ser questionada por meu irmão, apenas lhe disse: “estou indo atrás da minha felicidade”. Ele me entendeu, se ofereceu para me levar até o aeroporto, sem que ninguém percebesse. Eu tinha certeza do que eu estava fazendo, eu queria fazer, porque nada poderia me fazer mais feliz, do que ter o meu amor ao meu lado. Ignorei todas as ligações dele, liguei para Bruna, minha mais nova cúmplice. Ela avisou que eles estavam em Fortaleza, mandaria alguém ir me buscar no aeroporto, me levando direto para o hotel.

– Passagem comprada, seu voo sai daqui a uma hora. – Benjamim me olhou.

– Eu não sei como te agradecer.

– Nem precisa. – Beijou minha testa – Eu tenho certeza que você será muito feliz.

O abracei mais uma vez, ele me acolheu em seus braços, como um verdadeiro irmão faz em todos os momentos. Peguei minha mala de suas mãos, entrei na sala de embarque, respirei fundo aquele ar de aeroporto. Mais uma ligação ignorada, ele não sabia, mas estava prestes a me ter para sempre em seus braços. Chamada, meu voo vai sair, meu coração acelera feito um tambor, todo o meu medo ficou em Florianópolis. Passava das 4h00 da madrugada quando coloquei meus pés em Fortaleza, minha mais nova cidade favorita. Avisei a Bruna sobre minha chegada, ela me disse que eles estavam todos em um clube, onde Luan se apresentou depois da virada de ano. Encontrei Carlos me esperando, com um sorriso gigante, me cumprimentou com um “é bom vê-la novamente, chefinha.”, pegou minha mala e seguimos para o hotel. Ele me contou que Luan teria uma surpresa e tanto, que o meu menino não estava muito bem naquele dia, parecia sentir falta de algo.

– Com certeza é de você. – Ele sorriu.

Aquela cidade era linda, seria agora verdadeira testemunha do meu amor, da minha felicidade. O hotel tinha uma entrada direta para o estacionamento, me deixando aliviada por saber que eu não esbarraria em ninguém conhecido por ali. Carlos me ajudou com a mala, chamou o elevador, falou: “Bruna me pediu para te deixar no quarto.”, eu só sabia sorrir e agradecer.

– Chegou? – Bruna perguntou quando liguei novamente.

– Estou aqui no quarto dele. – Respondi explodindo de felicidade.

– Vou avisar a ele que tem uma surpresa no hotel. – Falou sapeca – Ele vai ficar muito feliz.

Aquela varanda, com aquela vista para o mar, me permitia admirar as estrelas, descalça, com meus cabelos soltos. O vento me fazia um carinho bom no rosto, me fazia sentir o inconfundível perfume da felicidade. Eu estava no lugar certo, no momento certo, esperando a pessoa que mudou completamente a minha vida.