terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

(Capítulo 71 – O tempo cura tudo)


Meu final de semana foi lindo, cheio de amor, porque é sempre muito maravilhoso ter minha mãe ao meu lado. Conversamos sobre vários assuntos, cozinhamos, falamos sobre o meu bebê e ela sempre muito cuidadosa. Fico aqui imaginando o quanto ela será uma vovó babona, fazendo todas as vontades do meu filho, querendo passar os finais de semana com ele. Isso me alegra tanto, saber que minha mãe estará sempre ao meu lado, me ajudando nos momentos que eu mais precisarei de seu colo. Ser mãe não é fácil, ela me ensinaria como agir, como lidar com cada situação e eu não poderia ser mais feliz por isso. Infelizmente ela precisou voltar pra casa, no domingo fui deixá-la no aeroporto com Laura, era hora de mais uma vez me despedir da minha melhor amiga.

A segunda-feira chegou linda, organizei minhas coisas, trabalhei o dia todo e aproveitei para marcar minha próxima consulta com meu médico. A cada dia eu sentia meu bebê crescer, se desenvolver dentro de mim, saudável e rodeado de muito amor. Laura me buscou na agência no final da tarde, eu estava me sentindo extremamente enjoada, mas muito feliz. Chegamos ao nosso condomínio depois de alguns minutos de um transito infernal, começo de semana era quase insuportável sair de casa.

– Você ainda tá muito enjoada? – Laura perguntou quando entramos no nosso apartamento.  

– Como nunca estive antes. – Choraminguei – Isso é muito ruim.

– Não acha melhor ligar pro seu médico?

– Eu vou tomar meu remédio, descansar um pouco. – Respirei fundo – Luan ainda vem por aqui hoje.

– Ele vai ficar preocupado.

– Se eu não melhorar até amanhã, volto na clínica. – A tranquilizei.

Enquanto Laura preparava nosso jantar, aproveitei para tomar meu banho demorando, mas meus enjoos só pioraram. Coloquei pra fora tudo o que eu comi durante o dia inteiro, me causando um mal estar inexplicável. Coloquei um pijama extremamente confortável, tomei meu remédio e me sentei na cama, na esperança de fazer minha respiração voltar ao normal. Acabei me assustando com o barulho na campainha alta, mas continuei respirando pausadamente, eu precisava melhorar logo. De longe ouvi a voz de Luan e foi impossível não pensar em como seria maravilhoso tê-lo ao meu lado em momentos como aquele.

– Posso entrar? – Luan bateu na porta.

– Claro, entra... – Respondi com dificuldade.

– Você tá bem? – Ele perguntou preocupado.

– Só estou um pouco enjoada. – O olhei tentando passar tranquilidade a ele.

– Um pouco enjoada? – Sentou ao meu lado – Tem certeza que é só isso?

– Eu vou melhorar. – Segurei sua mão com força.

– Não quer ir ao médico? – Perguntou ainda mais preocupado.

– Luan, isso é completamente normal.

– Eu não aguento te ver assim. – Olhou nossas mãos – Fico agoniado em te ver sofrendo e não poder fazer nada.

– É melhor você ir se acostumando, porque a tendência é piorar. – Tentei brincar, mas ele continuou sério.

– Você já tomou alguma coisa?

– Sim... – Respondi espremendo meus olhos – Agora eu só preciso ficar quietinha até o enjoo melhorar.

– Então eu fico aqui com você. – Me olhou carinhoso.

O olhei sorrindo por seu jeito bobo de agir quando está agoniado com algo, ele se tornava ainda mais cuidadoso, amoroso e gentil. Coloquei minha cabeça em seu ombro, fazendo ele me acolher em seus braços carinhosamente. Com uma mão começou a brincar com meus cabelos, enquanto com a outra e ele fazia carinho em minha barriga repetindo o tempo todo: “Não judia da mamãe, amor.” Ele era alguém especial demais, alguém que me fazia conhecer o amor nos mínimos detalhes. Depois de quase meia hora, eu consegui finalmente respirar normalmente, enquanto meus enjoos foram passando como um milagre de Deus.

– Está melhor? – Perguntou quando eu o olhei.

– Uhum! – Respondi sentindo seu cheiro bom.

– É melhor você comer alguma coisa, alimentar o nosso bebê. – Falou ainda com um semblante preocupado.

– Eu não sei se vou conseguir comer. – Arrumei meu cabelo.

– Eu trouxe uma surpresa pra você. – Sorriu me olhando.

– Que surpresa?

– É de comer.

– O que é? – Perguntei animada.

– Está na cozinha. 

– Então vamos...

– Alice, espera! – Me interrompeu segurando meu braço – Será que depois nós poderíamos conversar? – Perguntou sem jeito.

– Pode ser! – Respondi o olhando.

Seguimos até a cozinha, onde Laura terminava de preparar algo no fogão, enquanto conversava com Douglas por telefone. Luan me mostrou as surpresas que ele me trouxe, eu quase não acreditei que eu estava diante de duas maravilhas desse mundo.

– Sorvete e churros? – O olhei emocionada.

– Gostou? – Segurou minha cintura – Do jeitinho que você gosta. – Beijou meu rosto demoradamente.

– Mas antes você vai tomar um pouquinho da minha sopa. – Laura falou ao desligar o celular.

– Sopa? – A olhei desanimada.

– Vai te fazer muito bem. – Falou insistente.

– Não sei se vou conseguir comer.

– Você está com o estômago vazio, tem que comer alguma coisa forte.

– Mas...

– Luan, me ajuda?

– Sua prima tem razão. – Ele me olhou autoritário – Você precisa se alimentar bem. – E assim tirou o sorvete da minha mão – Depois você prova do sorvete e dos churros.

– Você vai tomar a sopa comigo? – Perguntei choramingando.

– Claro, eu amo sopa! – Respondeu satisfeito.

– Eu também vou! – Laura falou sorrindo – Venham, vou servir vocês!

É claro que eles só tomaram a sopa por minha causa, fazendo com que ela se tornasse ainda mais saborosa. Acabei repetindo, eles me distraiam, faziam de tudo para que eu estivesse bem. Acho que até o meu bebê amou aquele jantar saudável, coisa que eu precisava praticar daqui pra frente. Depois de nosso maravilhoso jantar, ajudamos Laura a lavar as louças sujas, secamos, guardamos e ela preferiu se recolher logo em seguida. Aproveitei para encher duas taças de sorvete pra nós dois, seguimos para a sala e nos sentamos no chão, enquanto eu procurava algo bom pra gente assistir na TV.

– Como foi receber a visita de sua mãe? – Luan perguntou quebrando o silenciou que se instalou entre nós dois.

– Foi maravilhoso! – Respondi sorrindo – É muito bom tê-la ao meu lado nesse momento, porque me sinto ainda mais segura.

– E o que ela acha de tudo isso?

– Ela acha que somos dois irresponsáveis. – O olhei – Mas ela acredita que as coisas aconteceram como estava escrito.

– Então nós temos a mesma opinião.

– Você não acha que tudo poderia ter acontecido mais pra frente? – Perguntei enquanto saboreava meu sorvete – Quando estivéssemos mais maduros na nossa relação?

– Talvez as coisas não tivessem essa mesma magia de agora. – Respondeu pensativo – Talvez tudo estivesse mais pesado, mais fora de ordem. – Me olhou sério – Eu acredito fielmente que tudo está acontecendo no momento certo.

– Está sendo muito doloroso ter que renunciar de coisas que eu lutei a vida inteira para concretizar. – O olhei – Eu ainda sinto muito, mas sei que lá na frente eu vou agradecer a Deus por tudo.

– Eu sei que está sendo mais difícil pra você do que pra mim.

– Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo. – Falei séria – Não queria ter que enfrentar tudo assim.

– Eu sei que não. – Ele me olhou triste.

– Mas aí Deus me mostrou que as coisas não funcionam como eu quero, elas funcionam na maneira como deve ser, conforme a vontade dele. – Sorri de canto – E eu agradeço, aceito, estou disposta a seguir em frente com todas as promessas dele para a minha vida.

– Você é muito corajosa.

– Eu não tenho tanta certeza. – Sorri de canto.

– Eu queria poder te dar uma vida normal. – Confessou me olhando.

– Uma vida normal?

– Uma vida sem correria, sem pressa, sem pessoas querendo interferir no nosso relacionamento. – Falou me olhando – Queria poder te cuidar mais, te proteger, te proporcionar momentos inesquecíveis.

– Você faz tudo isso muito bem.

– Eu só sei te magoar com tudo o que acontece ao meu redor. – Foi sincero – Eu não sei lidar com certas situações que envolvem nosso relacionado e meu trabalho ao mesmo tempo.

– Eu não quero que se sinta culpado por nada.

– E como não? – Perguntou me olhando – Eu nunca imaginei sentir por alguém o que eu sinto por você.

– Luan...

– Tudo o que aconteceu que te fizeram se magoar comigo, me fizeram enxergar que a cada dia eu estou te perdendo um pouco mais. – Parecia agoniado – Tudo o que eu fiz, foi tentando encontrar uma maneira de concertar as coisas.

– Eu não sou forte o bastante pra conseguir superar tudo isso. – Falei com dor no meu coração – Eu também não sei lidar com esses desencontros.

– E o que a gente pode fazer? – Se aproximou sentando mais próximo de mim.

– Eu acho que tudo é uma questão de amadurecimento.

– E o que eu posso fazer se eu te amo tanto? – Acariciou meu rosto carinhosamente.

– Você pode pensar se é isso mesmo que você quer.

– Ficar pra sempre com você? – Perguntou me fazendo rir – Eu acho que Deus já respondeu essa pergunta por mim. – Falou tocando minha barriga – Ele construiu um elo eterno entre nós dois.

– Então que o tempo concerte tudo. – O olhei sincera.

– Você acha que um dia poderá me perdoar? 

– Eu não tenho do que te perdoar.

– Não?

– Não, eu só preciso que deixe o tempo cuidar de tudo.

– É a melhor coisa a se fazer. – Ele concordou comigo pela primeira vez.

– É sim. – Sorri o olhando – Vai ser mais saudável para nós dois e para nosso filho.

– Nós temos que pensar nele agora.

– Sim, nós precisamos pensar primeiramente nele. – Segurei sua mão – Luan, nós não podemos tomar nenhuma atitude precipitada. – Respirei fundo – Nós precisamos antes pensar no que é bom pra ele.

– Eu serei o homem mais feliz do mundo quando tiver vocês dois comigo.

– Nós já estamos aqui. – Segurei ainda mais forte sua mão.

– Você entendeu o que eu quis dizer.

– Vou pegar mais sorvete. – Levantei indo até a cozinha – Você quer? – Antes de terminar de perguntar, ele estava me imprensando no balcão.

– Você sabe que eu não estou mais aguentando. – Falou com sua respiração na minha – Tá sendo uma tortura ficar longe de você.

– Eu...

– Não fala nada. – Colocou seu dedo indicador sobre meus lábios – Eu só preciso sentir mais uma vez o gosto maravilhoso do seu beijo.

E sem dizer mais nada, ele selou nossos lábios em um beijo extremamente bom, com gosto de saudade. Eu poderia parar, poderia pedir que ele fosse embora da minha vida, mas eu não tinha coragem. Aquele momento estava sendo bom demais pra acabar assim, nem que fosse por alguns minutos. Luan me segurou com firmeza, me fez novamente ir à lua, me transmitindo uma sensação incrível de proteção. Eu não tinha como negar que ele era o amor da minha vida, não tinha como negar que eu também queria aquele beijo. Era nítido que nós dois não estávamos mais aguentando essa situação, então me deixei levar por tanta emoção. Depois de longos minutos nos beijando, paramos por falta de ar, enquanto Luan encostava sua testa na minha para tentar recuperar sua respiração.

– Eu vou embora... – Ele falou me olhando.

Eu não sabia o que falar naquele momento, como agir, se eu o deixava realmente ir mais uma vez. Eu queria que as coisas voltassem a acontecer naturalmente, com o tempo como nosso mais fiel companheiro. Eu sabia que se eu atropelasse as coisas naquele momento, tudo poderia dar errado novamente. Então o deixei ir, sem dizer absolutamente nada.

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