Acordei
no dia seguinte com meu celular tocando desesperadamente, eu acabei perdendo
meu horário. Levantei com certa pressa, tomei um banho rápido, peguei minhas
coisas e segui para a cozinha.
–
Bom dia! – Cumprimentei Laura e Maria que tomavam café da manhã.
–
Bom dia! – Maria me olhou carinho – Como você tá?
–
Atrasada! – Respondi com um sorriso sofrido.
–
Perdeu a hora? – Laura perguntou enquanto tomava seu café.
–
Eu estou sentindo um sono fora do comum. – Reclamei comendo uma torrada.
–
Chegou tarde ontem?
–
Cheguei quase 23h00, acredita?
–
Sério?
–
Você nem me esperou chegar.
–
Aí provavelmente você nem estaria de pé agora. – Começou a rir.
–
Com certeza eu não estaria. – Concordei rindo.
–
Como foi lá? – Ela perguntou curiosa.
–
Tudo muito maravilhoso... – Respondi enquanto comia – Os pais de Luan nos deram
todo apoio, foram de uma empatia sem igual.
–
Quer uma carona?
–
Quero! – Respondi tomando mais um gole de café.
Enquanto
Laura buscava suas coisas, Maria preparou uma marmitinha com coisas saldáveis
pra mim, me fazendo enchê-la de beijos e agradecimentos. Era linda sua
preocupação comigo e com meu bebê, seu cuidado, me sentia extremamente grata
por tudo. Durante o percurso até a agência, contei a Laura todos os detalhes da
noite passada, fazendo com que ela ficasse encantada com tudo. Era muito bom
ter todas essas pessoas ao meu lado nesse momento. Ter minha prima que é meu
maior suporte, assim como a família de Luan, que se tornou minha mais nova
família.
–
Meus pais ligaram pra saber se vamos mesmo passar as festas de final de ano com
eles. – Laura falou enquanto dirigia.
–
Vamos sim. – Respondi animada – Vai ser ótimo passar esses dias longe daqui.
–
Douglas vai passar o réveillon com a gente. – Sorriu.
–
Sério?
–
Sim, ele quer passar mais um tempinho com nossa família.
–
Isso é maravilhoso! – A olhei sorrindo.
–
E Luan?
–
O que tem?
–
Ainda continua na mesma situação?
–
E por enquanto vai continuar assim.
–
Tem certeza que será melhor pra vocês?
–
Tenho sim.
–
Você sabe que só quero a felicidade dos dois.
Não
respondi mais, ela sabia que eu tinha consciência disso, do quanto seu apoio
era importante pra mim. Seguimos o restante do percurso conversando sobre nosso
natal na casa dos pais de Laura, seria meu primeiro ano longe dos meus pais,
mas eu estava animada. Passei um dia corrido na agência, alguns contratos com
clientes importantes foram fechados, inclusive uma sessão de fotos com a
coca-cola. Eu estava muito feliz em saber que mesmo com todas as “surpresas”
que a vida estava me jogando, meu trabalho continuaria ali, me encorajando a
cada dia mais. Depois de terminar meu horário, peguei uma carona com uma colega
da agência que morava próximo ao meu condomínio. Fomos conversando
animadamente, até que ela me confessa que está grávida de três meses. Fiquei
surpresa ao saber que mais uma funcionária de Bruno estava esperando bebê,
sendo que ele ainda nem sabe sobre a gravidez dela. Seguimos conversando, ela
me contou que estava com medo em relação a agência, mas muito feliz de poder
realizar seu grande sonho de ser mãe. A conversa com Thayná até me fez um bem
enorme, ela falava com tanto amor, com uma certeza além do normal. Depois que
ela me deixou em casa, subi animada para contar a Laura sobre minha colega grávida,
mas acabei tendo uma surpresa linda ao abrir a porta do meu apartamento.
–
Mãe? – A olhei surpresa – Não acredito que a senhora está aqui! – Corri para os
braços de minha mãe.
–
Já estava morrendo de saudade, minha filha! – Confessou me abraçando ainda mais
forte.
–
Laura, você sabia? – Perguntei a olhando.
–
Eu que fui buscá-la. – Sorriu satisfeita.
–
Vocês me enganaram direitinho, hem? – Sorri olhando minha mãe.
Depois
de jantar com minha minhas meninas, continuamos conversando sobre vários assuntos.
Minha mãe passaria aquele final de semana conosco, era tudo o que eu estava
precisando naquele momento, tê-la ao meu lado. Era quase meia noite quando
Laura recebeu uma ligação de Douglas, acabou se recolhendo, enquanto eu e minha
mãe seguíamos para o meu quarto.
–
Alice, me fala da sua consulta. – Mamãe pediu enquanto arrumava minha cama.
–
Foi maravilhosa, mãe! – A olhei amarrando meu cabelo – Meu médico é muito
atencioso, cuidadoso, me sinto em ótimas mãos, sabe?
–
Ai, que coisa boa! – Ela me olhou sorridente – E como o bebê está?
–
Ele é está muito bem, saudável, crescendo. – A olhei – O médico me passou
algumas vitaminas, uns remédios pra enjoo.
–
Você está enjoando muito?
–
Eu passo muito mal de tanto enjoo que eu sinto.
–
Você é igual a mim. – Sorriu.
–
A senhora enjoou muito?
–
Muito, muito mesmo.
– Meu médico disse que depois dos cinco meses, eu começo a
melhorar.
–
E como está Luan? – Perguntou quando sentei ao seu lado na cama.
–
Nós conversamos... – A olhei sorrindo, procurando palavras.
–
Conversaram?
– Ele ficou imensamente feliz ao saber que vai ser pai.
–
É sério? – Apenas concordei com a cabeça – E agora?
–
Os pais dele me convidaram para um jantar que aconteceu ontem. – Arrumei meu
cabelo – Eles foram muito compreensivos, conversaram com a gente, nos apoiaram.
–
Coisa que seu pai não fez. – Ela falou triste.
–
Mãe, eu não quero que se sinta culpada por isso. – A olhei – Meu pai tem todo o
direito de pensar o que quiser.
–
Mas não fazer o que ele fez.
–
Eu sei que uma hora ele vai perceber que está errado.
–
E vocês se entenderam? – Tentou mudar de assunto.
–
Eu e Luan? – Ela concordou – Sim, mas eu pedi um tempo pra organizar minha
vida.
–
E como está na agência?
–
O meu chefe é muito maravilhoso, ele me entendeu, disse que eu continuarei
trabalhando com eles. – Sorri – E que eu não tenho que me preocupar, pois tenho
tudo para ser efetivada após o término do meu contrato.
–
Você tá falando sério? – Ela perguntou animada.
–
Uhum. – Concordei – Porém perdi a chance da minha vida.
–
Aquela ação no Canadá?
–
Era uma chance única.
–
Filha, você ainda é muito nova. – Segurou – Não pode pensar assim.
–
Eu sei... – Respirei fundo. – Tento alimentar a esperança de que algo ainda
melhor está por vir.
–
Isso mesmo. – Concordou beijando minha mão.
Enquanto
minha mãe atendia uma ligação, aproveitei para tomar um banho, colocar meu
pijama e tentar descansar um pouco. Recebi uma mensagem linda de Luan, me
fazendo abrir um sorriso ainda mais lindo: “Boa noite, meu amor! Como está se
sentindo? Tudo bem com o nosso bebê? Segunda-feira vou aí levar umas coisas que
eu tenho certeza que você vai amar... Bom, era isso. Cuida de vocês por mim,
tá? Amo muito os dois, beijos!” Era impossível não se apaixonar por ele, por
seu jeito cuidadoso, sua maneira bonita de me deixar ainda mais encantada.
–
Era seu irmão no telefone. – Mamãe entrou no quarto me assustando – Que sorriso
lindo é esse?
–
Só uma mensagem de Luan. – Guardei meu celular – Deita aqui mãe.
–
Você é muito apaixonada por ele, né?
–
E adianta dizer que não? – Ela negou com a cabeça – Eu sou louca por ele.
–
E por que vocês não se entendem logo de uma vez?
Acabei
mudando completamente de assunto, eu não queria ter que explicar toda a
história infeliz pra minha mãe. Perguntei sobre Benjamim, ela disse que ele
estava querendo passar as festas de final de ano com a gente na casa dos meus
tios. Eu queria tanto poder conversar com meu irmão, poder ter seu colo, seu amor
que tanto me faz bem. Queria poder explicar a ele tudo o que está acontecendo,
mesmo ele discutindo comigo, me dizendo que avisou, que não daria certo toda
essa história. Acabei dormindo nos braços da minha mãe, enquanto ela me fazia
um carinho bom, assim como fazia quando eu era criança. Acordei no dia seguinte
sentindo um cheiro bom de café, mas esse eu conhecia bem, era da melhor mãe do
mundo. Coloquei minhas pantufas, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e
segui para a cozinha, onde mamãe e Laura tomavam café.
–
Bom dia! – As cumprimentei sorridente – Acordaram cedo, hem?
–
Bom dia! – Laura me olhou sorrindo.
–
Você que dormiu demais. – Mamãe começou a rir me abraçando.
–
Por que não me acordaram?
–
Porque agora você dorme por dois. – Laura respondeu enquanto comia.
–
Quanto mais eu durmo, mais sono eu tenho. – Bocejei me servindo – Eu não
acredito que estou tomando o café maravilhoso da minha mãezinha. – Ela me olhou
carinhosa.
–
Tem uns pãezinhos de queijo também. – Falando indo até o forno – Olha, estão
lindos.
–
Isso só pode ser um sonho. – Me senti emocionada quando vi aqueles pães
maravilhosos.
– Isso lembra uma música do seu amor... – Laura nem terminou de
falar e ouvimos o toque barulhento do meu celular.
– Pega lá pra mim, Lau? –
Laura voltou com o celular na mãe e um sorriso no rosto.
– Não se pode nem
falar o nome dele. – Me entregou rindo.
–
Alô? – Atendi enquanto comia.
–
Bom dia! – Falou carinhoso – Tudo bem?
–
Você acordado há essa hora? – Perguntei surpresa.
–
Tenho uma entrevista em uma rádio daqui a meia hora.
–
Entendi.
–
Vocês estão bem? – Insistiu na pergunta.
–
Uhum, acabamos de acordar.
–
Já se alimentou?
–
Estou fazendo isso nesse momento. – Tomei um pouco de café – Tem pão de queijo
aqui.
–
Amor, você recebeu minha mensagem ontem? – Paralisei quando ele me chamou de
“amor”.
–
Sim, estou te esperando na segunda. – Comi um pãozinho – Minha mãe está aqui
comigo.
–
É mesmo? – Perguntou surpreso – Manda um beijo pra ela.
–
Ela mandou outro. – Sorri olhando minha mãe que pedia o celular.
–
Luan? – Ela o chamou colocando para que pudéssemos ouvir.
–
Oi, Dona Ana! – Falou sem jeito – Tudo bem com a senhora?
–
Tudo ótimo, querido! – Respondeu simpática – Acho que precisamos ter uma
conversa.
–
Claro, quero muito poder conversar com a senhora.
–
Teremos muitas oportunidades. – Ele silenciou por alguns segundos.
–
Eu amo sua filha, dona Ana! – Confessou pegando as três de surpresa – E tudo o
que eu mais quero é poder dar o melhor para ela e para o nosso filho.
–
Muito bonito isso da sua parte, Luan! – Sorriu me olhando.
–
Eles são tudo pra mim.
–
Eu tenho certeza disso. – E depois de se despedir dele, ela me devolveu o
celular.
–
Querendo conquistar minha mãe com suas palavras lindas? – Falei fazendo Laura
reclamar.
–
Ainda bem que pelo menos ela acredita em mim. – Respondeu parecendo
decepcionado.
–
Acho que você está atrasado pra sua entrevista. – Falei tentando acabar logo
com aquela conversa.
–
Não adianta querer fugir do que nós dois sentindo.
–
Eu não estou fugindo.
–
E eu estou atrasado.
–
Então tchau. – E sem nem ao menos responder, ele desligou o telefone.
Eu
sabia que eu estava pegando pesado com ele, mas eu não poderia simplesmente
esquecer tudo o que aconteceu, não tinha como agir como se nada tivesse
acontecido. Eu queria que ele compreendesse que as coisas não funcionam como
ele quer, da maneira como ele achar melhor, mas elas devem acontecer da maneira
mais justa possível. Eu estava magoada, estava me sentindo enganada, eu não
merecia passar por isso e tinha convicção de que só o tempo poderia curar
minhas feridas. Eu esperaria o tempo suficiente pra me sentir pronta novamente,
ninguém poderia tirá-lo de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário