terça-feira, 16 de maio de 2017

(Capítulo 28 – Sorvete)

(Luan Narrando)

Ter Alice em meus braços, me deparar com sua fragilidade, ouvir toda aquela história que ela carrega por anos, me tocou muito. Isso só me mostra que mesmo com o pouco tempo que nos conhecemos, ela confia em mim e permite que eu faça parte de sua vida. O que eu sentia por Alice era algo extremamente forte, que me prendia a ela de uma maneira inexplicável, mas que me fazia um bem enorme. Eu queria continuar ali, queria cuidar dela, queria que ela compreendesse que eu não a deixaria por nada, que ela poderia contar comigo. Por mais que ela se fizesse de difícil, mas eu sabia que ela também queria a mesma coisa que eu, que ela queria que eu continuasse ao seu lado. Conversamos por longos minutos, ela me contou toda a sua história com Vicente, sobre a morte dele e sobre a sua recuperação. Contou sobre o amor dos dois, como ela se sentia ao lembrar o namoro, como as coisas mudaram desde que eu cheguei. Minha vontade era de protegê-la pra sempre, sem deixar que nenhum mal se aproximasse da minha menina. Continuei com ela encolhida em meus braços, enquanto eu fazia um carinho bom em seu cabelo. Ela estava com os olhinhos inchados de chorar, o rostinho vermelho, parecia sem forças e tudo o que eu queria era pensar em algo que a deixasse feliz.

– Já sei! – Pensei alto assustando Alice que estava distraída brincando com meus dedos.

– Sabe o que? – Perguntou confusa.

– Meu bem, fique aqui. – Levantei colocando o travesseiro embaixo de sua cabeça – Eu volto rapidinho. – Selei nossos lábios.

– Aonde você vai?

– Eu não demoro. – Ela apenas concordou e eu fechei a porta.

Segui até a sala e encontrei Laura conversando com alguém no telefone, ela rapidamente encerrou a ligação e me olhou sorridente.

– O que foi? – Perguntou seguindo comigo até a cozinha.

– Você tem o número de alguma sorveteria?

– Tenho, na geladeira. – Peguei o número e disquei no meu celular.

– O que você vai fazer? – Ela perguntou confusa.

– A felicidade da sua prima. – Sorri a olhando – Alô? Oi, eu gostaria de pedir três litros de sorvete... O que? Ah, sim! – Laura me olhava sorrindo – Floresta negra... Exatamente... Dinheiro, você pode mandar agora? É tipo urgente. – Laura pediu o celular para que ela passasse o endereço.

– Sim, você poderia mandar alguns confeitos? – Laura completou na ligação – Sim, de todos os tipos... Ok! Obrigada, tá? Boa tarde! – Ela desligou o celular me olhando boba – Você é louco, Luan!

– Eu sou louco por ela. – Coloquei meu celular no balcão – Só quero que ela se sinta feliz.

– Ela vai te amar pra sempre depois disso. – Sorriu lindamente – Obrigada por continuar ao lado dela.

– Como eu poderia não continuar? Estar com ela me faz um bem enorme.

Continuei com Laura até nosso sorvete chegar, ela pegou uma taça enorme que elas guardavam ali, que acabou facilitando bastante o meu trabalho. Não demorou muito para que o entregador batesse na porta, Laura atendeu simpática e voltou com nossos três litros de sorvete e vários pacotinhos de confeitos. Começamos a colocar o sorvete que só na taça pegou quase um litro, me fazendo rir do nosso exagero. Laura com todo capricho começou a colocar os confeitos, deixando aquilo bastante colorido. Ela jogou um pouco de calda de chocolate e alguns morangos e uvas, frutas que Alice mais gostava.

– Pronto. – Olhou nossa obra de arte – Só falta o essencial. – Colocou duas colheres ao lado – Agora é só ir lá e fazer a felicidade do seu amor.

– Obrigada, Laura! – Dei um beijo em seu rosto – Não quer ir lá comigo?

– Não, eu fico aqui tomando um sorvetinho. – Sorriu satisfeita.

Peguei a taça com todo o cuidado, respirei fundo, sorri para Laura e segui para o quarto de Alice. Quando abri a porta, vi minha menina toda encolhida na cama, enquanto estava distraída olhando seu celular.

– Voltei... – Entrei fechando a porta atrás de mim.

– Luan! O que é isso? – Perguntou assustada.

– Fiz pra você. – Sorri sentando ao seu lado – Todo seu.

– Meu Deus! – Olhava pra mim e ao mesmo tempo voltava seu olhar para a taça – Que tanto de sorvete é esse?

– Para que eu possa ver aquele sorriso novamente. – Beijei seu queixo.

– Você é louco, Luan! – Pegou a colher, pegou uma uva e começou a tomar o sorvete – Que delícia, meu Deus! – Falou de boca cheia me fazendo rir.

– Tá bom?

– Está ótimo... – Tomou mais um pouco – Prova um pouquinho. – Pegou um morango, melou no sorvete e colocou na minha boca.

– Huuuum.

– Obrigada, meu bem! – Selou nossos lábios – Você é maravilhoso!

– Isso é pra você ver, que eu não sou o Vicente, mas eu posso te fazer feliz tanto quanto ele um dia te fez. – A olhei sério – Você é a mulher mais incrível que eu já conheci em toda a minha vida. – Ela não falou absolutamente nada, apenas segurou meu rosto e me beijou com todo o seu amor.

– Não sei o que fazer com você. – Sorriu me olhando.

– Ainda quer casar comigo? – Perguntei enquanto ela voltava a tomar seu sorvete.

– Quero. – Respondeu comendo um morango.

– Então a gente casa. – A beijei com carinho.

Alice tomou praticamente o sorvete inteiro, ela sorria e aquilo me deixou extremamente satisfeito. Ela era linda de todas as maneiras, me trazia paz e me fazia feliz com apenas uma palavra ou um sorriso. Aquela minha surpresa tinha mudado completamente o seu humor, ela parecia mais animada e não comentou mais sobre o que havia acontecido horas antes. Alice decidiu sair do quarto e seguimos para a cozinha, onde Laura terminava de fazer uma macarronada. Almoçamos os três juntos, elas me faziam rir enquanto contavam histórias de quando eram crianças, da época de escola e de seus primeiros namorados.

– Alice sempre foi a mais namoradeira. – Laura ria nos olhando.

– Que conversa é essa? Eu só tive três namorados! – Falou indignada.

– Mas no colégio os meninos viviam atrás de você.

– É mesmo? Interessante saber disso. – A olhei desconfiado.

– Eu não posso fazer nada se eles me achavam linda. – Deu de ombro – E na escola eu só fiquei com dois e namorei o Felipe.

– Que Felipe? Aquele cara da foto? – Ela me olhou segurando o riso.

– Ele mesmo. – Respondeu ainda comendo – Foi meu único namorado da escola, aí depois namorei Leandro e por ultimo Vicente.

– Eu não gostei daquele Felipe. – Senti um pouco de ciúmes se instalar em meu coração.

– Ele parece ainda bem interessado. – Laura falou rindo.

– Laura! – Alice quase gritou fazendo Laura se tocar do que disse.

– Desculpa! – Ficou sem jeito.

– Vou pegar mais um pouco de suco. – Alice se levantou tentando mudar o assunto. – Alguém vai querer sobremesa?

– Eu preciso ir. – Alice me olhou tristonha – Já são mais de 3hs e eu ainda tenho um compromisso.

– Fica mais um pouco. – Laura pediu quase suplicante.

– Laura, vai buscar pra mim aquele remédio pra dor de cabeça. – Pediu olhando a prima com cumplicidade.

– Tá. – Ela saiu desconfiada.

– Você tem mesmo que ir? – Perguntou sentando na cadeira ao meu lado – Eu não queria que você fosse agora. – Beijou meu rosto.

– Eu realmente preciso... – Falei com um pouco de dificuldade – Alice, para. – Pedi enquanto ela acariciava minha nuca.

– Você ficou com ciúmes porque Laura falou de Felipe?

– Você sabe que eu não gosto desse cara. – A olhei sério.

– Você nem o conhece, Luan. – Falava calmamente.

– E eu nem quero conhecer. – Tirei sua mão do meu cabelo. 

– Não seja grosso comigo. – Ela me olhou séria – Eu só não quero que você fique chateado.

– Esquece isso. – Respirei fundo.

– Eu sei que você se sente incomodado quando tocamos nesse assunto, mas é você que está aqui comigo – Se aproximou me fazendo sentir seu cheiro bom – E é quem eu quero que continue.

– Como não se apaixonar por você? – Perguntei com nossos rostos colados – Fala pra mim?

– Eu não sei, mas sei que está acontecendo comigo também. – E então nos beijamos cheios de um amor que estava se fortalecendo a cada dia.

Depois de passar mais algum tempo ali com ela, realmente eu precisei ir, mas meu coração continuou lá. Segui para a minha casa com uma sensação boa, um sentimento maior por Alice crescia dentro de mim e eu não queria fugir, apenas queria viver todos os momentos bons ao lado dela. Por mais que eu soubesse que aquilo era arriscado, que eu não estava certo, que as coisas não eram tão simples assim, eu queria continuar.

(Alice Narrando)

Luan a cada dia me surpreendia mais, pensou em me fazer uma surpresa, cuidou de tudo com tanto amor. Eu sei que desde que ele chegou, minha vida se transformou e meu coração se sente cada dia mais confuso. E mesmo tendo a certeza de que nada é certo entre nós, eu quero muito que ele continue aqui. Depois de Laura fazer um comentário sobre Felipe durante o almoço, vi que Luan ficou bastante incomodado e logo deu a desculpa de que precisava ir embora. Eu apenas pedi que ele ficasse mais um pouco, mas realmente ele estava decidido e acabou partindo novamente.

– Me desculpa? – Laura pediu suplicante – Eu não imaginei que um comentário poderia deixar ele tão incomodado.

– Tudo bem. – Sentei no sofá – Ele não gosta do Felipe.

– Ele deve ter se sentindo ameaçado depois daquela foto. – Sorriu sentando ao meu lado – Você gostou da surpresa que ele te fez? Chegou aqui na sala todo animado me pedindo o número de uma sorveteria.

– Como ele consegue ser tão lindo?

– Vocês estão muito apaixonados.

– Ah, Laura... – Deitei minha cabeça em seu colo – Eu acho algo tão distante.

– Vocês nunca falaram em namoro? Um relacionamento sério?

– Não, nunca falamos.

– E por que você não fala?

– Porque simplesmente eu acredito que isso não vá acontecer. – A olhei – Eu acho que a gente foi feito só pra um momento.

– Ou você pode estar redondamente enganada, não é mesmo?

– Eu quero que as coisas aconteçam naturalmente. – Sorri – Quero que o destino cuide de tudo.

O restante do dia passou rápido, arrumei a cozinha com Laura, tomei um remédio para dor de cabeça e descansei um pouco. Acordei era quase seis da tarde, tomei um banho e cuidei de terminar o trabalho que eu deveria entregar ao Bruno no dia seguinte. Eu acabei esquecendo um pouco toda a loucura do meu dia, também não liguei de ler a agenda de Vicente. Eu só queria um pouco de paz, queria me desligar um pouco desse passado que tanto me aflige e me entristece de uma maneira tão dolorosa. 

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