segunda-feira, 15 de maio de 2017

(Capítulo 27 – Perdão)

Acordei no dia seguinte sentindo um cheirinho ótimo de café fresco, levantei ainda sentindo meus olhos pesados de sono, tomei um banho quente e coloquei uma roupa confortável para aquele dia frio. Segui para a cozinha e Maria cantava uma música bem conhecida pra mim, era uma das minhas preferidas do repertório de Luan.

– Bom dia, Maria! – A olhei sorrindo – Essa música de novo?

– Acordando o prédio, agora eu sei bem o nome dela. – Sorriu colocando os pães na mesa – Alice, eu vi você na internet ao lado do Luan Santana. – Me olhou assustada.

– Você viu quando?

– Ontem quando cheguei aqui, mas você já estava na agência.

– Nós somos bons amigos. – Tomei um pouco do meu café.

– Tinha lá que você foi ao show dele. – Me olhou sem jeito – E que você era o novo amor dele.

– Eles inventam isso, mas não é verdade. – A olhei – A propósito, vou te levar no próximo show que tiver aqui, tá?

– Mas posso falar uma coisa?

– Claro, fale.

– Vocês são lindos juntos. – Gargalhou pegando o bolo no forno.

– Quem que é lindo? – Laura chegou sentando ao meu lado.

– Alice e Luan. – Maria não parava de rir.

– Ah, eu também acho. – A olhei – O que foi? Vai dizer que você não acha vocês dois lindos?

– Vocês querem parar com essa conversa? Vamos tomar nosso café, porque eu preciso ir trabalhar.

– E quando você vai levar Maria ao show dele?

– Acabei de falar com ela. – Comi um pedaço de bolo – Eu levo assim que tiver o próximo show aqui.

– Maria, você vai amar demais.

– Eu imagino. – Falou toda sorridente.

Terminamos de tomar nosso café, peguei minhas coisas no quarto e segui com Laura até a agência. Eu trabalharia apenas no horário da manhã, mas a tarde eu ainda teria bastante trabalho para terminar em casa mesmo. Passei o endereço da agência para Luan e ele disse que antes do meio dia estaria chegando para me buscar. Avisei a Júlia que ele chegaria e ela se encarregou de deixar tudo pronto para ele ficar no estacionamento da agência me esperando. Organizei tudo durante a manhã, deixei alguns trabalhos para Marina e Sthé, fiz algumas ligações para uns clientes e logo meu celular tocou com a foto de Luan estampada no visor. Depois de tudo pronto, me despedi das meninas e segui para a recepção, onde Júlia me esperava ao lado de uma pessoa importante na minha vida.

– Alice, essa senhora quer falar com você.

– Obrigada, Júlia! – A olhei sorrindo – Dona Viviane?

– Oi, Alice! – Se aproximou cumprimentando-me formalmente – Podemos conversar?

– Claro... – Falei rapidamente, mas lembrei de Luan – A senhora poderia me esperar um minutinho? – Ela apenas concordou e eu me afastei ligando para ele.

Pedi que Luan me esperasse um pouco mais, pois tinha acontecido um imprevisto e eu precisaria resolvê-lo. Viviane era a mãe de Vicente, uma das pessoas mais importantes pra mim durante o tempo que passei junto com seu filho. Durante dois anos ela me culpou pela morte de Vicente, isso fez com que nos distanciássemos bastante e nunca imaginei que um dia eu pudesse estar assim, conversando com ela novamente. Caminhamos até a cantina da agência, ela parecia confusa, meio perdida, então pedi uma água para que ela pudesse se acalmar um pouco.

– Eu peguei o endereço com sua mãe... – Procurou as palavras – Muito obrigada por me receber.

– Eu jamais poderia não receber a senhora. – A olhei – O que aconteceu para a senhora me procurar depois de tanto tempo?

– Eu quero te pedir desculpas, Alice! – Pareceu sincera com as palavras – Durante esses dois anos que passamos longe, acredite, foram os piores da minha vida.

– A senhora não tem do que me pedir desculpas.

– Claro que eu tenho. – Segurou firme minha mão – Eu te culpei esse tempo todo pela a morte de Vicente, eu não deveria ter feito isso com você.

– Isso é passado. – Respirei fundo – Eu entendo a dor que a senhora sentiu com a morte do seu filho.

– Mas você sofreu ainda mais com tudo isso. – A olhei com os olhos cheios de lágrimas – Querida, eu sei do amor que você sentia pelo meu filho. 

– Acho que ninguém consegue compreender a ligação forte que eu tinha com Vicente. – Enxuguei uma lágrima – Toda a dor que eu senti foi profunda demais.

– Esses dias eu sonhei com ele. – Sorriu sincera – Ele me pediu que eu te procurasse.

– O que? – Senti outra lágrima escorrendo sobre meu rosto.

– Ele disse que só assim nós dois poderíamos ter paz.

– Ele não está em paz?

– Talvez agora com nosso reencontro ele esteja, mas ele falou também da sua felicidade.

– Minha felicidade? – A olhei.

– Antes de morrer, Vicente te pediu que você encontrasse sua felicidade.

– A minha felicidade era ele.

– Não, querida. – Segurou minha mão mais uma vez – Vicente só foi um anjo que cuidou de você, até que você estivesse preparada para viver verdadeiramente a sua felicidade. – Não me aguentei e comecei a chorar – Vicente nunca foi nosso, ele sempre foi enviado a terra para nos cuidar e nos preparar para o melhor.

– Ele era o meu amor.

– E sempre será, porque ele estará com você. – Enxugou meu rosto – Eu quero te pedir desculpas por toda a dor que eu te causei. – Me olhou sorrindo – Por todo o sofrimento.

– Passou... – Respirei fundo – Estamos aqui agora.

– Eu sofri muito durante esses dois anos, mas nunca me senti tão aliviada em estar aqui com você. – Sorriu – Estou sentindo como se estivesse tirado um peso das minhas costas.

– Eu quero que a senhora se sinta bem. – Segurei sua mão – A senhora é muito importante pra mim.

– Alice, você me perdoa?

– Como eu não poderia perdoar? – A abracei sentindo o calor do seu coração – Eu sei o que a senhora passou.

– Eu tenho uma coisa para te entregar. – Abriu sua bolsa – Você se lembra dessa agenda? – Perguntou me mostrando uma agenda velha de Vicente.

– Claro que eu lembro. – Sorri a olhando.

– Ela é sua. – Me entregou sorrindo – Nela existem vários textos de Vicente, fotos de vocês dois, algumas recordações.

– Não, eu não posso aceitar. – A entreguei de volta – Isso é muito precioso pra senhora.

– Querida, ele escreveu tudo pra você. – Colocou em minhas mãos – Agora sim ela está nas mãos certas.

– A senhora tem certeza? – Senti que meu coração iria parar a qualquer hora – Tem certeza que é melhor ficar comigo?

– Certeza absoluta. – Respirou aliviada – Leia tudo e verás o amor imenso que Vicente sentia por você. – Abracei aquela agenda e automaticamente senti a presença dele ali conosco.

– Obrigada! – A abracei novamente.

– Acho que nunca me senti tão em paz como estou me sentindo agora.

– Eu também.

– Eu estou muito feliz que você esteja realizando um sonho que também era de Vicente. – Olhou ao redor – Ele sempre sonhou que um dia você seria uma grande profissional.

– Ele me ajuda todos os dias. – Sorri com lágrimas nos olhos.

– Eu preciso ir, daqui a pouco estou voltando pra casa. – Levantou sorridente.

– Muito obrigada, tá?

– Eu que tenho que lhe agradecer, querida! – Me olhou carinhosa – Seja muito feliz, Alice! – Apenas concordei a abraçando novamente.

Seguimos juntas até a recepção, nos despedimos novamente e depois de vê-la partir, segui até o banheiro para tentar me recompor. Senti meu coração doer ao olhar aquela agenda grossa, com tantas recordações, tantas lembranças maravilhosas do tempo mais feliz da minha vida. Eu não queria chorar ali, então apenas lavei meu rosto já vermelho, peguei a agenda novamente e segui para o estacionamento. De longe vi o carro de Luan, respirei fundo e segui a diante, esperando que ele não percebesse minha cara de choro. Entrei no carro sem olhar pra ele, porque eu tinha certeza que minhas lágrimas voltariam se isso acontecesse.

– Alice? – Segurou meu rosto – O que aconteceu? – Perguntou preocupado ao ver meu rosto vermelho.

– Me leva pra casa, Luan? – Ele não respondeu, apenas seguiu silenciosamente até meu condomínio.

Reencontrar a mãe de Vicente, receber de suas mãos algo tão precioso, era demais pra mim. Ali estavam guardadas as lembranças mais lindas do tempo que passei ao lado de Vicente, de todas as nossas alegrias e amor. Luan continuou em silêncio, ele sabia o momento de se calar e eu o agradecia imensamente por ser tão compreensivo. Algumas lágrimas ainda insistiam em cair quando eu lembrava minha conversa com Viviane. Algumas vezes Luan me olhava ainda preocupado, segurava minha mão e eu tentava passar um pouco de tranquilidade a ele. Chegamos ao meu condomínio depois de quase quarenta minutos, ele estacionou o carro, abriu a porta e segurou minha mão enquanto caminhávamos juntos até o elevador. Eu estava me sentindo extremamente frágil naquele momento, como nunca havia me sentindo antes. Quando entramos, Luan me puxou para mais perto dele e encostei minha cabeça em seu peito, enquanto ele fazia um carinho bom em meu cabelo. O elevador se abriu e tirei a chave do apartamento na minha bolsa, pedi que Luan segurasse minhas coisas e dei de cara com Laura ao abrir a porta.

– Oi, vocês por aqui? – Perguntou cumprimentando Luan – O que foi? – Perguntou me olhando.

– Laura... – Era impossível olhar pra ela e não chorar.

– Vem cá. – Me abraçou tentando passar toda a calma que existia em seu coração.

Eu não conseguia parar de chorar, Laura que me conhecia melhor que ninguém entendeu que eu precisaria de um tempo. Ela pediu que Luan esperasse, ele apenas concordou com um olhar preocupado e Laura me puxou para o meu quarto. Foi só ouvir a porta se fechando, que meu corpo já sem forças desabou no chão. Senti meu rosto queimar, minhas lágrimas não me davam sossego e meu coração parecia tão pequeno que me faltava à respiração. Senti aquela dor de perder Vicente, aquele desespero sem tamanho me consumindo pouco a pouco. Eu não tinha mais controle sobre meu corpo, então ainda sentava no chão, encostei minha cabeça na cama e chorei como uma criança. Laura não disse absolutamente nada, ela sabia o que eu estava sentindo e sabia ainda mais que eu precisava colocar pra fora toda aquela dor. Ela sabia que eu não conseguia me abrir com as pessoas por cota de tudo o que eu sentia em relação à partida de Vicente. Eu odiava quando as pessoas me olhavam como coitada, com pena da menina que ficou viúva antes mesmo de casar. Eu fugia o tempo inteiro desse sentimento de pena das pessoas, desse olhar triste, desse pensamento negativo. Poucas vezes Laura se deparou com minha fragilidade dessa maneira, mas naquele momento eu não me importava mais, eu só queria por pra fora o que estava profundamente me sufocando. Quando senti meus olhos já pesados por conta das lágrimas derramadas, olhei para a agenda que estava em minhas mãos o tentei abrir.

– Você sabe o que vai encontrar aí. – Segurou minha mão – Não tem que fazer isso agora.

– Mas eu preciso. – A olhei chorando.

– Não precisa, não. – Ela pegou a agenda cuidadosamente da minha mão – Nós vamos guardá-la aqui. – Abriu a gaveta do meu criado mudo – Aí depois você olha com mais calma.

– Eu queria ler. – Apoiei minha cabeça na cama.

– Você terá bastante tempo pra isso, mas não agora. – Se aproximou sentando ao meu lado no chão – Não esqueça que tem uma pessoa lá fora te esperando. – A olhei lembrando que Luan ainda me esperava na sala.

– Peça pra ele vir aqui, Lau?

– Tem certeza?

– Tenho sim.

Laura apenas me deu beijo no rosto, se levantou e saiu em direção à sala. Levantei com todo cuidado do mundo, pois eu estava me sentindo fraca com aquela situação, sentei na cama e esperei que Luan chegasse. Olhei meu criado mudo e senti vontade de pegar a agenda, mas eu realmente precisava entender que aquele não era um momento propício e que eu ainda teria um tempo pra ler tudo. Tentei enxugar minhas lágrimas, mas sem muito sucesso já que elas não paravam de cair. Senti minha cabeça latejar, logo me assustei ao ouvir Luan batendo na porta com um meio sorriso no rosto.

– Vem cá. – O chamei com a mão – Senta aqui. – Ele sentou ao meu lado na cama – Desculpa estragar nosso almoço.

– Isso não importa agora. – Me olhou agora preocupado – Você quer conversar?

– Quero. – Respondi sincera – Mas antes eu preciso te mostrar algumas coisas para que você entenda o que está acontecendo. – Ele apenas concordou e sentou mais confortavelmente na cama.

Fui até o meu guarda-roupa, abri a porta e tirei uma caixa do lugar mais alto, onde eu guardava algumas recordações. Voltei pra cama e sentei ao lado dele novamente, respirei fundo até ter coragem de abrir aquela caixa e olhei Luan que me observava atencioso. Quando abri aquela caixa, senti meus olhos se inundarem novamente, mas dessa vez me permiti derramar cada lágrima. Peguei uma caixinha pequena e abri cuidadosamente aos olhares de Luan, lá estava o meu mais precioso tesouro.

– Alianças? – Ele perguntou confuso.

– Eu posso te contar uma história? – Ele concordou com a cabeça – Eu tinha dezessete anos quando conheci um rapaz muito lindo, ele tinha um cabelo escuro, os olhos cor de mel, uma voz aveludada e um sorriso que encantava profundamente as pessoas. – Sorri ao lembrar o meu menino – Durante três anos, esse rapaz me fez muito feliz. – O olhei – Ele me fez a mulher mais feliz desse mundo.

– Quem era ele? – Perguntou calmo.

– Vicente. – Peguei uma foto dele dentro da caixa – Nós éramos apaixonados, eu não conseguia mais imaginar a minha sem Vicente ao meu lado. – Olhei sua foto – Não existia no mundo um homem como ele. – Segurei nossas alianças – Então um dia, Vicente surpreendeu a mim e a toda nossa família com um pedido de casamento. – Sorri – Tudo parecia tão mágico, eu tinha certeza que ali morava a minha felicidade. – Luan olhou a foto de Vicente.

– E o que aconteceu? – Perguntou secando uma lágrima do meu rosto.

– Na mesma noite em que Vicente me pediu em casamento, nós saímos para dar uma volta, olhar as estrelas. – Tentei segurar o choro – Ele amava olhar as estrelas comigo, era algo sagrado para nós dois. – Luan me olhava com toda atenção – Então quando voltamos pra casa, me despedi dele, entrei e logo depois ouvi os tiros do outro lado do portão. – Fechei meus olhos deixando que as lágrimas banhassem meu rosto – Vicente estava no chão, ensanguentado, entre a vida e a morte. – Luan sem esperar nem mais um segundo, me abraçou fazendo com que todo o meu medo fosse embora. – Ele se foi... – Tentei falar em meio aos soluços – Ele se foi pra sempre.

– Eu sinto muito, meu bem! – Continuou me fazendo carinho, enquanto eu me encolhia ainda mais em seus braços.

– Eu nunca mais consegui ser feliz, mesmo prometendo a ele que eu lutaria para encontrar minha felicidade sem ele ao meu lado. – Sussurrei – Eu o amava tanto. 

– E o que aconteceu lá na agência? – Perguntou preocupado – Você estava bem no telefone e do nada chegou nesse estado. 

– Já faz dois anos que isso aconteceu. – Continuei com minha cabeça em seu peito – Durante esses dois anos, a mãe de Vicente sempre me culpou pela morte dele. – Respirei fundo – E hoje ela apareceu para me pedir perdão e me entregar uma agenda que era dele. 

– E você perdoou?

– Como eu poderia não perdoar? Ela foi muito importante na minha vida. – Sorri – Ela foi sincera, disse que estava se sentindo em paz.

– Isso é ótimo. – Enxugou meu rosto – E como você se sente agora?

– Sinto meu coração bem pequenininho. – Me encolhi em seus braços novamente – Eu nunca tinha sentindo tanta dor depois que ele se foi, nunca tinha me permitido chorar dessa maneira.

– Você se sentirá melhor agora. – Beijou minha testa – Eu estou aqui com você.

– Por que você não foi embora? – O olhei – Você não precisava ficar.

– Eu quis ficar, porque você é importante pra mim.

– Você está vendo como a minha vida é complicada? Eu nunca encontrei minha felicidade em ninguém, nunca gostei de ninguém depois que Vicente se foi. – O olhei séria – Mas com você as coisas foram diferentes, nós nos conhecíamos de muito antes. 

– Eu tenho essa impressão. – Arrumou meu cabelo atrás dos ombros.

– Você ultrapassou todos os limites da minha vida, coisa que ninguém nunca fez.

– Isso é bom? – Se aproximou cheirando meu rosto.

– É maravilhoso. – Segurei seu rosto com minhas duas mãos – Obrigada por estar aqui.

– Seja onde for, eu estou aí. – Cantarolou sua música – Mesmo sem estar... – Selou nossos lábios em um beijo cheio de amor. 

Ter Luan comigo naquele momento era essencial para que eu me sentisse completa novamente. Desde que ele chegou, as coisas começaram a acontecer de uma maneira mais clara e linda, fazendo meu coração se tornar mais confiante. Eu não queria que ele se prendesse a mim e se sentisse na obrigação de cuidar dos meus ferimentos internos, eu só gostaria que ele continuasse ao meu lado. 

Um comentário:

  1. Que capitulo mais amorzinho e esse meu deussss sz. Que bom que alice e dona vivian se intenderam que vivian deixou essa magoa e raiva de lili e foi pedir o q a de mais bonito o perdao.continue ja quero outro
    Gaby

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