segunda-feira, 13 de novembro de 2017

(Capítulo 62 – Abrindo mão)

Acordei sentindo uma dor incômoda na cabeça, assim como meu corpo que estava um pouco dolorido. Abri meus olhos sem nenhuma vontade, olhei para o lado e não consegui reconhecer aquele lugar, apenas Laura que estava ao meu lado.

– Alice? – Segurou minha mão – Como está se sentindo? – Perguntou preocupada.

– Onde nós estamos?

– No hospital.

– Hospital? – Perguntei confusa.

– Você desmaiou enquanto conversávamos. – Apertou um pouco mais minha mão – Aí eu te trouxe pra cá.

– Minha cabeça está doendo. – Reclamei – Eu quero sair daqui.

– Eu vou chamar o médico. – Laura saiu, mas logo voltou com um senhor ao seu lado.  

– Olá, Alice! – Ele me olhou simpático – Como está se sentindo?

– Estou sentindo um pouco de dor de cabeça. – Tentei sorrir – Quando posso ir embora?

– Você poderá ir assim que terminar esse soro. – Anotou algo em sua agenda – Os dois estão ótimos. – Sorriu me olhando.

– Os dois? – Perguntei confusa.

– Você e o seu bebê. – Respondeu como se fosse óbvio.

– Bebê? – Eu e Laura perguntamos juntas.

– Alice, você está grávida! – Senti um arrepio percorrer todo meu corpo.

– O senhor tá me falando que... – Respirei fundo – Que eu estou grávida?

– Você não sabia? – Apenas neguei com a cabeça – Assim que terminar sua medicação, me procure. – E saiu me deixando completamente sem chão.

– Ai, meu Deus! – Laura sentou na beirada da cama – Alice! – Eu estava em um completo estado de choque.  

– Isso não pode tá acontecendo, Laura! – A olhei com meus olhos cheios de lágrimas – Eu não sei... O que vai ser da minha vida a partir de agora?

– Seu soro acabou. – Consultou o aparelho – Vá se trocar, precisamos falar com seu médico.

Enquanto eu me trocava, eu pensava em absolutamente tudo, mas ainda com aquela mesma sensação de medo. Isso não estava acontecendo, não comigo, não no momento mais importante e decisivo da minha vida. O tempo inteiro eu pensava em como as coisas funcionariam a partir de agora, em como seria a minha vida com um bebê, em como mudaria minha relação com o mundo. Eu estava ficando louca, queria chorar, gritar, ligar para a minha mãe e pedir colo, mas de nada adiantaria. Agora é hora de pagar por minha irresponsabilidade e tentar colocar tudo em ordem, mesmo eu estando tão perdida. Depois de pronta, segui com Laura até a sala do medico que estava me atendendo, com certeza eu tomaria um banho de realidade nesse momento. Ele me fez muitas perguntas, me encaminhou para um obstetra, me recomendou vários cuidados, enquanto eu apenas ouvia calada. Ele foi extremamente cuidadoso comigo, com certeza percebeu que eu não esperava por uma notícia como aquela. Depois de pegar o encaminhamento, receber alguns conselhos, ele me entregou minha alta e voltamos para casa. Durante todo o percurso, eu permaneci calada, enquanto tentava digerir as palavras do médico sobre minha gravidez. Depois de quase uma hora, conseguimos finalmente chegar ao nosso condomínio, eu estava me sentindo exausta.

– Amanhã você vai conversar com o Bruno? – Laura perguntou quando entramos. 

– Acho que sim. – Respondi sem muita certeza das minhas palavras – Eu não sei como vou falar com ele sobre esse assunto.

– E Luan? – Sentou ao meu lado no sofá – Quando vai contar pra ele?

– Eu não quero nem olhar pra cara dele, quem dirá falar sobre um filho. – Respondi sentindo meus olhos marejados.

– Mas ele tem o direito de saber. – Tentou me convencer.

– Laura, eu preciso de um tempo só pra mim. – A olhei – Preciso organizar minha vida, mas eu não quero Luan ao meu lado nesse momento.

– Tem certeza?

– Absoluta! – Respondi rápido – Você pode me ajudar com isso?

– E quando que eu não te ajudaria com algo? – Segurou minha mão – Eu não prometi que estaria ao seu lado em todos os momentos?

– Eu estou com muito medo. – A abracei chorando.

– Eu estou aqui com você. – Desfez o abraço – Vamos enfrentar essa situação como sempre fizemos.

– Juntas?

– Juntas! – Me abraçou novamente.

Laura preparou um jantar pra gente, mas claro que eu não consegui comer, os enjoos aumentaram ainda mais. Depois de longos minutos de conversa, preferi ir dormir, eu precisava descansar desse dia conturbado. Enquanto eu tomava um banho demorado, pela primeira vez eu pensei na alegria de ser mãe, tive contato com meu bebê.

– Desculpa por tudo isso? – Alisei minha barriga – A mamãe tá muito assustada, mas não quero te passar nada de ruim. – Chorei sentindo um forte arrepio percorrer meu corpo – Você me ajuda a não desistir?

Depois de conversar um pouco com ele, coloquei um pijama bastante confortável e pedi a Deus sabedoria para lidar com toda aquela situação. Pensei em meus pais, em como eles reagiriam a essa surpresa, como meu pai se comportaria ao se deparar com minha gravidez. Pensei também em Luan, na conversa que tivemos sobre filhos, em como ele se sentiria feliz em saber que realizaria seu maior sonho. Tudo o que eu mais desejava, era poder receber essa notícia em outra circunstância, em um momento em que tudo estivesse bem entre nós dois. Perdida em meus pensamentos, acabei caindo num sono profundo, acordando apenas com meu celular despertando insistentemente. Levantei me sentindo um pouco mais disposta, senti o cheiro bom do café de Maria, fazendo minha barriga roncar de fome. Calcei minhas pantufas, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e segui ara a cozinha, onde encontrei Laura já de pé.

– Bom dia! – Cheguei com uma cara inchada.

– Bom dia, bela adormecida! – Laura brincou me olhando.

– Bom dia, flor do dia! – Maria me abraçou carinhosa – Que carinha de choro é essa?

– Saudades da minha mãe. – Respondi tentando não tocar no real motivo do meu choro – Estou com muita fome. – Peguei minha caneca.

– Vou te servir agora mesmo. – Sorriu me olhando – Olha o que tem aqui. – Me mostrou uma badeja quentinha de pães de queijo.

– Ai, que sonho! – Coloquei as mãos na boca – Você é um anjo, Maria!

– Vai à agência hoje? – Laura perguntou sentando ao meu lado.

– Uhum... – Respondi enquanto comia – Você pode me dar uma carona? – Ela apenas concordou com a cabeça.

– Tem certeza que está disposta a ir hoje? – Perguntou preocupada.

– Preciso conversar logo com Bruno.

Depois de devorar vários pãezinhos, fui me trocar rapidamente, pedi proteção a Deus e segui com Laura até a agência. Eu estava nervosa, tinha medo de perder as melhores oportunidades da minha vida, mas era preciso fazer isso o quanto antes. Assim que entrei na agência, fui direto para a sala de Bruno, enquanto eu tentava tirar coragem para contar a ele sobre minha gravidez.

– Posso entrar? – Perguntei batendo na porta entreaberta.

– Claro, entre. – Respondeu sorrindo.

– Bruno, eu preciso conversar com você. – Falei sentando. 

– O que aconteceu, Alice? – Perguntou calmo.

– Aconteceu algo que eu não esperava nesse momento... – Tentei falar – Algo que me deixou bastante confusa, com medo. – Ele me incentivou a continuar. – Eu estou grávida.

– Grávida? – Me olhou surpreso – Parabéns, Alice! – Sorriu me passando sinceridade, mas eu estava me sentindo perdida.

– Eu estou te contando, pois sei que essa gravidez não planejada vai atrapalhar meu futuro aqui na agência. – Enxuguei uma lágrima que acabou escorrendo sobre meu rosto – Eu sei que tudo vai mudar, sei que você pode até rescindir meu contrato. – Eu estava com muito medo.

– Eu jamais faria isso com uma funcionaria tão boa como você. – Falou me pegando de surpresa – É claro que as coisas vão mudar, infelizmente eu terei que colocar alguém no seu lugar para a ação no Canadá.

– A viagem onde seria minha consagração como fotografa. – Falei triste.

– Mas você ainda terá muitas oportunidades de realizar esse sonho. – Tentou me tranquilizar – Você é uma excelente funcionaria, uma profissional completa, tem tudo o que uma agência de fotografia sempre sonhou.

– E como ficará minha situação daqui pra frente? – O olhei apreensiva.

– Você vai continuará fazendo o seu trabalho como sempre fez. – Concordei com a cabeça – Até que seja preciso você tirar licença maternidade.

– E quando acabar meu contrato?

– Alice, você tem todas as chances de continuar com a gente após o término do seu contrato. – Afirmou – Nós não queremos perder você.

– Você não sabe o quanto me deixa aliviada saber disso. – Respondi ainda meio perdida.

– Bom, agora tirando a máscara de chefe e colocando a máscara de amigo. – Segurou minha mão – Ás vezes, precisamos renunciar algumas coisas, para que possamos conquistar outras. – O olhei com atenção – Eu sei que você está confusa, com medo, mas Deus não te daria essa benção sem um bom motivo pra isso. – Segurou mais forte minha mão – Se você está abrindo mão de algo tão importante hoje, pode ter certeza que tudo fará bastante sentido lá na frente.

– É uma grande responsabilidade. – O olhei sem aguentar segurar minhas lágrimas.

– Mas Deus te dará sabedoria para lidar com toda essa situação.

– É tudo o que eu mais espero... – Respirei fundo – Bruno, obrigada por sua confiança no meu trabalho, mas principalmente, por sua amizade e companheirismo.

– Não me agradeça, só continue seguindo em frente, pois você é capaz de conquistar tudo o que quiser.

Bruno se mostrou solidário com minha situação, me fez entender que meu sonho não acaba ali, mas ele continua correndo sobre minhas veias. Confesso que me senti bem mais confiante depois daquela conversa com meu chefe e amigo, eu sabia que daqui pra frente eu teria que abrir mão de muitas coisas, mas era e sempre será por uma boa causa. O agradeci mais uma vez por esse tempo que ele tirou pra mim, ele me pediu que eu voltasse pra casa e descansasse até a segunda-feira. Sai de sua sala me sentindo mais leve, pelo menos esse problema já estava resolvido e agora eu só precisaria me acostumar com as mudanças.

– Meninas, eu não estou me sentindo muito bem. – Conversei com Marina e Sthé que me olhavam atentas – Vou precisar fazer uns exames, então só volto na segunda-feira.

– O que aconteceu? – Mari perguntou preocupada.

– É só para tratar minha enxaqueca, estou sentindo muitas dores ultimamente. – Não queria contar agora sobre minha gravidez – Não precisam se preocupar.

– Espero que você fique boa logo. – Sthé falou carinhosa.

– Obrigada, minhas meninas! – Abracei as duas.

Tentei organizar tudo, peguei minhas coisas, me despedi das meninas e segui para a minha casa. Vi um recado de Maria avisando que precisou sair mais cedo, mas que deixou tudo bem organizado e o almoço pronto. Tomei um banho demorado, coloquei uma roupa confortável, comi alguma coisa e aproveitei para descansar um pouco. Eu quase não consegui dormir essa noite, meus pensamentos estavam confusos demais, assim como meu corpo que sentia os efeitos de toda essa loucura. Liguei para o consultório do obstetra recomendado pelo médico que me atendeu no dia anterior, falei com sua secretária e marquei uma consulta para a terça-feira da semana seguinte. Agora eu precisava cuidar do meu bebê, cuidar de mim, colocar minha vida em ordem e tentar me adaptar a todas essas mudanças. Acabei dormindo a tarde inteira, eu estava me sentindo tão cansada, que nem me dei conta das horas e só acordei quando Laura chegou.

– Voltou mais cedo pra casa? – Ela perguntou beijando o topo da minha cabeça.

– Bruno pediu que eu voltasse pra casa. – A olhei ainda tentando acordar – Nossa, eu estou muito cansada.

– E como foi?

– Ele disse que eu não perderia meu cargo, mas que infelizmente eu teria que abrir mão de algumas coisas. – Deitei no sofá – Ele foi muito compreensivo.

– Você ainda terá muitas chances de concretizar seus sonhos como fotografa.

– Ele me disse a mesma coisa. – Sorri a olhando – Terei que abrir mão por algo melhor.

– É isso mesmo. – Sentou ao meu lado – Esse bebê só vai nos trazer alegrias. – Fez carinho em minha barriga.

– Eu quero ir na casa dos meus pais. – Respirei fundo – Eles precisam saber.

– Você tem certeza que quer fazer isso agora? – Perguntou preocupada.

– Eu não vou conseguir esconder isso por muito tempo, eu preciso da minha mãe ao meu lado.

– Quando você quer ir lá?

 – Eu quero ir amanhã. 

– Eu vou com você. 

– Não precisa Lau, eu posso ir sozinha...

– Você está louca? – Me interrompeu – Não lembra o que seu pai fez na ultima vez que você apareceu por lá?

– Eu não acredito que ele faria isso novamente.

– Eu vou com você, ok?

Não tinha como discutir, ela não me deixaria ir sozinha, principalmente sabendo que eu teria que enfrentar meu pai. Enquanto Laura preparava algo pra gente jantar, eu aproveitei para comprar as passagens, no dia seguinte nós sairíamos cedo. Eu precisava de muita coragem para dar mais esse passo, porque eu sabia que as coisas seriam ainda mais difíceis daqui pra frente. 

7 comentários:

  1. Socorro que ela tá grávida mesmooooo! Um baby 😍

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  2. Ela ta gravidaaaaaaa (ja desconfiava u.u) faça ela contar logo pro Luan viu! Ta de querer esconder as coisas dele..não seja como ele (Luan)
    Continuuaaaaa mulher ;)

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    1. Concordo que ela deveria contar logo pro papai, mas sabe como eles são, né? Um casal mais complicado que esse!!!!

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  3. minha alice gravida gntttt,confeço que minhas suspeitas foram confirmadas agr com este capitulo.pra dizer a verdade nao esperava uma gravidez de alice,nao agora sabe quero ver a reacao de luan ao saber desse bb.
    preciso dizer que estou anciosa pelo proximo?hahaha

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    1. Como te falei, muita coisa linda está por virrrrrr! Vamos aguardar os próximos capítulos juntas!!! <3

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