Uma
semana depois...
Uma
semana se passou com dias corridos no trabalho, consegui falar com Luan duas
vezes até que ele viajasse e ficasse praticamente incomunicável. Agora eu
estava na casa dos meus pais com Laura, passaríamos esse final de semana com
eles, para terminar de comemorar meu aniversário. Era tão bom poder matar um
pouquinho da saudade, aos poucos meu pai estava se permitindo aceitar minha
realidade, conseguíamos ter um momento bom de conversa, fazendo com que eu me
sentisse extremamente feliz. Mamãe preparou um bolo de morando que eu amava,
compramos balões para enfeitar a casa, detalhes lindos que faziam meu coração
quase explodir de amor. Estava um sábado lindo, eu queria aproveitar cada
minuto com minha família, todo o tempo que me restava no lugar mais
aconchegante desse mundo. Dora preparou um almoço maravilhoso, almoçamos os
cinco juntos, relembrando algumas das manias que eu tinha quando era criança.
Assistir a um filme com Benjamim e Laurinha, algumas amigas do colégio vieram
me visitar, conversamos como antigamente. Já era noite quando eu finalmente
consegui sossegar, subi para tomar um banho antes do jantar, mas acabei recebendo
uma ligação de Luan.
–
Oi, meu bem! – Atendi animada.
–
Oi, amor! – Ele parecia estranho.
–
Tá tudo bem? – Perguntei preocupada.
–
Sim, só estou cansado.
–
Só isso?
–
Sim... – Silenciou – Queria muito que você estivesse aqui comigo.
–
Estou aí em pensamento. – Tentei animá-lo – Não gosto de te ver assim.
–
Acho que eu nunca senti tanto a sua falta.
–
Eu também queria estar aí com você, também estou com muita saudade. – Senti um
aperto no peito – Mas daqui a pouco estamos juntos.
–
Tá aproveitando com seus pais?
–
Muito, eu estava morrendo de saudade deles. – Confessei sorrindo – Tá frio ai,
meu amor?
–
Sim, mas estou bem agasalhado.
–
E que horas começa seu show?
–
Daqui a pouco estamos indo para o local. – Respirou fundo – Comprei uma coisa
pra você.
–
Pra mim? – Perguntei surpresa – O que, amor?
–
Uma coisa que você gosta muito.
–
Sorvete?
–
E por um acaso é só de sorvete que você gosta?
–
E de você. – Fale natural o fazendo rir.
–
Uma coisa que te faz dormir maravilhosamente bem.
–
Meias? – Quase gritei – Tá brincando que você comprou meias pra mim?
–
Essas são especiais.
–
Só gosto de meias quando não tenho você por perto para esquentar meus pés.
–
Gosto de esquentar outras coisas além dos pés, elas vão fazer esse trabalho por
mim.
–
Você é um ridículo.
–
Quando vamos nos ver?
–
Amor, essa semana será extremamente corrida pra mim. – Choraminguei – Mas
tentarei abrir uma brechinha pra gente.
–
Nem que seja um diazinho.
–
Eu vou fazer o possível. – O tranquilizei – Próximo final de semana você tem
show, né?
–
Sim, você bem que poderia ir comigo.
–
É só no final de semana?
–
Quarta tenho um programa pra gravar. – Pensou – Sexta tenho dois shows, sábado
tem um e domingo também.
–
Isso tudo amor? – Perguntei preocupada.
–
Por isso mesmo que preciso de você comigo.
–
Podemos ver isso, tá?
Continuamos
conversando por mais quarenta minutos, fazendo um pouco da saudade ir embora.
Eu me sentia extremamente preocupada quando Luan fazia muitos shows assim,
mesmo sabendo que ele está acostumado com toda essa correria, pra mim existia
uma necessidade dele parar um pouco e respirar. Jantei com minha família,
recebemos a visita de uma amiga de minha mãe, mas logo eu decidi me recolher.
Tomei um banho quentinho, vesti meu pijama, mandei uma mensagem para Luan e
acabei pegando no sono rapidamente. No dia seguinte acordei cedo, Laura já não
estava mais no quarto, então desci e encontrei mamãe e Dora conversando na
cozinha. As cumprimentei com um abraço, Laura e Benjamim estavam na piscina,
enquanto nós tirávamos os pães de queijos do forno.
–
E como está o namoro, Alice? – Dora perguntou me surpreendendo.
–
Namoro? – Perguntei fazendo mamãe me lançar aquele olhar de reprovação, pois
ela sabia que Dora não entenderia se eu falasse da minha relação com Luan.
–
O seu namoro com o cantor.
–
Está ótimo, Dora! – Respondi sorrindo – Estamos muito felizes.
–
Ah, que bom! – Sorriu me olhando.
–
É bom chamar os meninos pra tomar café, né? – Tentei mudar de assunto.
Depois
de chamar Laura e Benjamim, tomamos nosso café, Laura subiu para tomar um banho
e depois desceu para nos ajudar. Naquele dia decidimos fazer um almoço
especial, aproveitei para colocar a mão na massa, enquanto Benjamim apenas
observava tudo tagarelando o tempo todo.
–
Falou com Luan? – Laura perguntou enquanto fazíamos o molho do macarrão.
–
Falei sim, ele está com saudade.
–
E quando ele não está com saudade de você? – Perguntou rindo.
–
Quando ele tá comigo. – Respondi natural.
–
Vai viajar com ele próximo final de semana?
–
Estou pensando, ele tem bastantes shows.
–
Então aproveita, ele precisa de você.
–
E você, conseguiu falar com Douglas?
–
Falei muito rápido, ele estava no estúdio e nem me deu muita atenção. –
Choramingou – Ele me troca por aquele estúdio.
–
Completamente normal. – A olhei rindo.
Terminamos
nosso almoço depois de uma bagunça que deixou Dora irritadíssima, mas a
ajudamos com a organização e logo tudo ficou brilhando. Papai chegou na hora
certa acompanhado de meu tio José, seu irmão mais velho e ainda mais rígido que
ele. Sentamos todos ao redor da mesa, nos servimos, Benjamim me olhava cúmplice,
sabia que viria bronca por aí.
–
E como está o trabalho, Alice?
–
Maravilhosamente bem, tio! – Respondi com firmeza – Na verdade foi a melhor
coisa que me aconteceu, sabe?
–
E você trabalha com o que mesmo?
–
Fotografia.
–
Fotografia? E você me fala que isso é um trabalho bom? – Riu ironicamente –
Querida, isso é só um hobby.
–
Pra mim é o meu trabalho. – Respondi séria.
–
Trabalho é ser médico, advogado, empresário. – Me olhou – Fotografia jamais
será um trabalho de futuro.
–
O senhor sabia que a maioria desses profissionais que o senhor citou, são
infelizes? – O olhei ainda mais séria – Assim como o senhor que acha que só é
bom aquilo que está ao seu alcance.
–
Alice, respeite o seu tio! – Meu pai quase gritou me fazendo ter ainda mais
vontade de falar.
–
Tudo o que eu faço é com muito profissionalismo e amor, coisa que o senhor
não conhece.
–
CALE SUA BOCA, ALICE! – Meu pai gritou.
–
Que educação foi essa que você deu a essa menina, Paulo?
–
A educação suficiente para que eu aprendesse a lutar por aquilo que eu acredito
ser bom pra mim.
–
Você é muito desaforada, menina. – Ele estava muito irritado – Merece mesmo tacar
a cara na parede para aprender algo bom na vida.
–
Como o que? Ser infeliz por fazer algo que eu não quero, mas que minha família
acha ser um bom futuro? – Levantei com raiva – Me poupe de ter que ouvir essa
mesma ladainha.
–
ALICE, AGORA CHEGA! – Falou autoritário.
–
Vocês são iguais. – Olhei para meu pai e seu irmão – Com a mesma cabeça vazia. –
E antes que eles dissessem qualquer coisa, eu me retirei subindo diretamente
para o meu quarto.
Entrei
no meu quarto deixando que todas as lágrimas se sentissem libertas, soluçando, querendo
urgentemente sair daquele lugar que antes era tão precioso pra mim. O mesmo pai
que antes eu acreditei que estivesse finalmente me apoiando, é o mesmo que
agora me crucifica por não fazer a vontade dele. Sem pensar em mais nada, cuidei
logo de arrumar minhas coisas, enquanto Laura entrava esbaforida no meu quarto.
–
O que você está fazendo? – Perguntou desesperada.
–
Vou embora! – Falei colocando minhas coisas na mala.
–
Tem certeza? – Apenas respondi com um “sim” e logo Laura começou a arrumar suas
coisas também.
–
Laura...
–
Você tá louca? – Me interrompeu – Eu jamais te deixaria sozinha nesse momento! –
A abracei com toda minha alma, até ouvir minha mãe e Benjamim entrarem no
quarto.
–
Filha, o que você está fazendo?
–
Mãe, me desculpa? – A abracei – Me desculpa por não ter feito o que ele queria...
–
Seu pai está com a cabeça quente, Alice!
–
O que adianta defendê-lo agora, mãe? – Voltei a arrumar minhas coisas.
–
Vocês vão embora?
–
Eu vou pra minha casa.
–
Sua casa é aqui, Alice! – Benjamim falou baixo.
–
Não, Benjamim! – O olhei – Desde o momento em que eu escolhi seguir o meu
caminho, minha casa se tornou qualquer lugar, menos aqui.
Terminamos
de arrumar nossas coisas, nos arrumamos, enquanto minha mãe tentava nos convencer
de ficar até o dia seguinte, mas eu não conseguiria. Nós duas nos despedimos de
minha mãe, que continuou no meu quarto chorando, Benjamim pegou nossas coisas e
desceu seguindo para o carro. Quando desci, não tive coragem de ir me despedir
de Dora, então apenas pedi que Benjamim deixasse um beijo pra ela. Não vi mais
meu pai, nem meu tio, então apenas dei as costas e segui para onde Benjamim nos
esperava.
–
Tem certeza que quer ir embora?
–
Tenho sim!
Entramos
no carro, enquanto eu tentava comprar duas passagens de urgência para São
Paulo. Durante o percurso, meu irmão estava pensativo, parecia querer falar
algo, mas não tinha coragem suficiente. Vez ou outra ele me olhava, fazendo com
que meus olhos marejassem por ter que deixá-los dessa maneira. Não falamos
absolutamente nada, consegui comprar nossas passagens para as 16h00, então esperaríamos
pouco no aeroporto. Compramos um lanche, sentamos os três juntos e começamos a
comer, pois nem o almoço nós conseguimos aproveitar.
–
Cuida da mamãe? – Pedi quando estávamos a caminho da sala de embarque – E
promete que vai levá-la lá em casa?
– Eu vou cuidar dela, tá? Não se preocupa! –
O abracei forte.
Laura
também se despediu de Benjamim, depois de muitos abraços, beijos e pedido de “se
cuide”, nós entramos na sala de embarque. Tentava tirar aquela cena da minha
cabeça, mas eu não conseguia, era decepção demais para o meu coração. Naquele
momento senti uma necessidade enorme de ter Luan ao meu lado, de sentir todo o
seu amor, sua proteção e cuidado comigo.
Aiii q do da Alice, espero q algum dia o pai dela entenda q ela so foi fazer oq verdadeiramente ama.
ResponderExcluirQue pai/tio hein?? Ainda bem que ela é forte e passou por cima das ofensas! Cont
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