Assim
que coloquei meus pés em São Paulo, respirei fundo, sentindo uma vontade enorme
de ser feliz. Queria apagar aquele momento horrível da minha memória, tentar
guardar apenas os momentos bons que passei com minha família. Tudo aquilo me
machucava bastante, fazia meu coração ficar apertado, porque eu nunca desejei
ficar longe das pessoas mais importantes da minha vida. Não conversei muito com
Laura, mesmo ela querendo o tempo inteiro me distrair com algo engraçado.
Chamamos um táxi, seguimos para nosso apartamento, enquanto eu trocava algumas
mensagens com Luan. Preferi não comentar com ele sobre o que aconteceu, pois eu
não queria ter que preocupá-lo, poderíamos conversar melhor sobre isso depois.
Desejei a ele um maravilhoso show, avisei que eu estava voltando pra casa e que eu
gostaria de vê-lo o quanto antes. Chegamos ao nosso condomínio depois de quase
uma hora e meia, subimos depois de cumprimentar seu Pedro, que estava encantado
com o nascimento do neto.
–
Como está se sentindo? – Laura perguntou quando sentei no sofá.
–
Estou triste... – Tentei falar.
–
Aos poucos tudo vai se resolver, ele vai entender.
–
Entender? Será mesmo que um dia ele vai entender que minha felicidade está
aqui? – Ela apenas me abraçou forte.
–
Vamos tentar esquecer isso um pouco? – Tentou me animar – Já estamos em casa,
vamos pedir um jantar bem especial.
–
Não tenho ânimo pra nada, quero dormir.
–
Vou pedir uma pizza. – Ignorou o que eu disse – E um pote de dois litros de
sorvete de floresta negra.
–
Tá brincando né, Laura? – A olhei incrédula – Como é que você faz uma coisa
dessas?
–
Ué, eu não estou fazendo nada. – Prendeu o riso.
–
Tá, pede nossa pizza. – Segui até a cozinha – Mas não esquece o sorvete.
Laura
era a melhor pessoa do mundo, todos os dias ela me mostrava que seu amor por
mim era grande demais, que estaria sempre comigo. Eu a amava profundamente,
sabia que eu poderia contar com sua amizade em todos os momentos de minha vida.
Enquanto esperávamos nosso jantar chegar, aproveitamos para guardar nossas
coisas e tomar um banho. Vesti um pijama confortável, coloquei minhas pantufas,
fiz um rabo de cavalo no cabelo e voltei para a sala. Jantamos tentando
conversar sobre coisas boas, Laura parecia uma criança comendo pizza, toda
feliz. Depois de o nosso maravilhoso jantar, assistimos a um filme, Laura
conversou rapidamente com Douglas e acabou se recolhendo. Fiquei mais um pouco
ali na varanda, me balançando naquela maravilhosa cadeira, sentindo o vento
fazer carinho em meu rosto. Senti uma tristeza profunda ao lembrar aquele
momento horrível de discussão com meu pai e meu tio. Queria que tudo tivesse
terminado da melhor maneira possível, queria que meu pai finalmente entendesse
que eu estou bem, fazendo o que eu amo, sendo feliz. Senti uma saudade terrível
de Luan, queria que ele estivesse ali comigo, mas eu sabia que não era
possível. Respirei fundo, tentei focar toda a minha atenção no trabalho que eu
teria essa semana inteira. Voltei para o meu quarto, arrumei minhas coisas para
o dia seguinte e tentei dormir, pois essa era a melhor coisa que eu poderia
fazer nesse momento. Acordei no dia seguinte sentindo uma leve pontada na
cabeça, meus olhos não queriam abrir, senti como se eu tivesse sido atropelada por um
caminhão. Tentei levantar com cuidado, vesti uma roupa confortável, organizei
minhas coisas e segui para a cozinha.
–
Bom dia! – Laura me olhou sorrindo – Misericórdia, que cara é essa?
–
Estou péssima? – Perguntei sentando – Estou me sentindo como se um caminhão
tivesse passado por cima de mim.
–
Não quer ir ao médico? – Perguntou preocupada.
–
Não, vou tomar um café bem forte, um remédio e vou trabalhar. – Comecei a me
servir – Volto pra casa caso eu não melhore.
–
Eu espero que volte mesmo. – Ainda me olhava preocupada.
–
Maria não veio hoje?
–
Não, ela precisou levar o filho no médico.
Terminamos
nosso café da manhã, Laura pegou sua bolsa, descemos juntas e ela me deixou na
agência. Assim que cheguei lá cumprimentei meus colegas, segui para a minha
sala e Gisele me passou todo o meu trabalho da semana. Bastante trabalho, me
fazendo agradecer, porque só assim eu poderia ocupar minha cabeça e esquecer um
pouco tudo o que aconteceu. Hoje eu trabalharia interno, mas na terça, quarta e
quinta eu faria trabalhos externos, sexta eu voltaria pra agência e no final de
semana eu teria folga pra poder viajar com Luan.
–
Você tá bem, Alice? – Marina perguntou preocupada.
–
Só um pouco de dor de cabeça. – Respondi baixo.
–
Parece que você tá gripada.
–
Não posso nem pensar em ficar gripada. – Choraminguei – Essa vai ser uma semana
corrida.
–
Mas caso você precise ir ao médico, nós seguramos as pontas aqui pra você. –
Sthé respondeu.
–
Seu eu não melhorar até mais tarde, aviso a vocês. – As agradeci carinhosamente.
Quando
deu a hora do almoço, preferi ficar ali mesmo, pois eu não tinha nenhum pouco
de vontade de comer. Minha cabeça ainda estava doendo muito, o barulho do
pessoal falando me incomodava, a luz do notebook me incomodava, eu estava
sentindo um grande mal estar. Enquanto eu tentava relaxar um pouco, acabei me
assustando com meu celular tocando, era Luan.
–
Oi! – Atendi fraca.
–
Oi, meu amor! – Parecia ter acordado agora – Tudo bem?
–
Sim...
– Sério? E que vozinha é essa?
–
Não estou me sentindo muito bem. – Respirei fundo.
–
E onde você está?
–
Na agência.
–
Amor, o que você tem? – Perguntou preocupado.
–
Estou sentindo um pouco de dor de cabeça, um mal estar.
–
E não foi ao médico?
–
Não, daqui a pouco eu melhoro.
–
Já comeu?
–
Não, estou sem vontade. – Respondi receosa.
–
Sem vontade, Alice? Tá me deixando ainda mais preocupado.
–
Não precisa se preocupar.
–
Eu vou te buscar. – Pareceu decidido.
–
Me buscar? Eu não vou embora agora, amor.
–
Alice, eu não vou te deixar aí desse jeito. – Falou autoritário – Fala com seu
chefe, diz que você não está bem.
–
Luan...
–
Com saúde não se brinca, Alice! – Então me convenci.
–
Tudo bem, mas preciso aguardar as meninas voltarem para que elas possam fazer
tudo por mim.
–
Aí você me liga e eu vou te buscar.
–
Você é sempre assim? – Perguntei sentindo minha voz falhar.
–
Cuidadoso? – Perguntou me roubando um sorriso.
–
Exagerado.
–
Não sou exagerado, só gosto de cuidar de quem eu amo.
–
E você me ama?
–
Amo muito... – Respondeu sincero – Você sabe bem disso.
–
Estou me sentindo tonta. – Reclamei.
–
Sua voz me diz o quanto você não está bem.
Continuamos
conversando por mais alguns minutos, até que as meninas chegaram, elas deram
toda razão a Luan e disseram que poderiam cuidar de tudo sozinhas. Falei com
Bruno, ele mesmo percebeu que eu não estava bem, mas pediu que eu ficasse mais
um pouco apenas para que eu recebesse o contrato da empresa que eu trabalharia
no dia seguinte. Lua não gostou muito, mas entendeu dizendo que estava saindo
de casa e que me esperaria no estacionamento. Era quase 16h00 quando eu
consegui sair da agência, estava me sentindo extremamente fraca, ainda com muita
dor de cabeça. Peguei minhas coisas na sala, caminhei até o estacionamento e
encontrei o carro de Luan. Quando entrei, ele me olhou carinhoso, mas ao mesmo
tempo preocupado, com todo cuidado me deu um beijo na testa.
–
Como está se sentindo?
–
Fraca, mas melhor com você aqui comigo.
–
Vou te levar pra casa. – Começou a dirigir – E você vai ter que comer alguma
coisa.
–
Nem estou com fome. – Reclamei.
–
Onde já se viu a pessoa passar o dia inteiro com o café da manhã, Alice? –
Perguntou autoritário.
–
Você pode falar um pouquinho mais baixo? – Pedi o olhando.
–
Eu nem estou gritando.
–
Mas tudo está me incomodando. – Encostei minha cabeça no banco – Eu quero
dormir.
–
Mas antes você vai comer nem que seja a força.
Seguimos
para o meu apartamento, enquanto Luan não parava de falar, mas eu estava
tentando não ligar muito pra sua preocupação exagerada. Quando chegamos ao meu
condomínio, Luan estacionou o carro, cumprimentamos o porteiro e subimos de
mãos dadas. Então quando fui abrir a porta, dei de cara com Laura em pé na sala
olhando o celular toda atenciosa.
–
Já? – Ela perguntou preocupada – Você não melhorou?
–
Quero dormir. – Reclamei me jogando no sofá.
–
Oi, Luan! – O cumprimentou com um abraço – Você foi buscá-la?
–
Sim, ela me ligou dizendo que não estava se sentindo bem. – Sentou colocando
minha cabeça em suas pernas.
–
Não quer ir ao médico? – Laura perguntou.
–
Não, chama o Gustavo?
–
Vou ligar pra ele.
–
Quem é Gustavo? – Luan perguntou me olhando.
–
Um amigo nosso que é médico.
Laura
falou rapidamente com Gustavo, enquanto eu fui para meu quarto, coloquei minhas
coisas na cama e tomei um banho quente. Vesti uma rouba bastante confortável,
coloquei minhas pantufas para esquentar meus pés e voltei pra sala, onde Luan
me esperava com Laura.
–
Sorte sua que ele estava aqui perto. – Lau me olhou sorrindo – Tá chegando.
–
E o que você tá fazendo? – Perguntou quando ela seguiu para a cozinha.
–
Uma sopa bem deliciosa pra você.
–
Sopa, Laura? – Fiz careta.
–
Não adianta fazer careta, porque essa está deliciosa mesmo.
–
E essas pantufas? – Luan perguntou quando sentei ao seu lado no sofá.
–
São para esquentar meus pés. – Me encolhi em seus braços.
–
E eu não estou aqui? – Perguntou indignado.
–
Sim, amor. – Sorri – Mas por enquanto uso minhas pantufas. – Nos assustamos com
a campainha tocando.
Gustavo
chegou logo colocando sua bolsa no sofá e me consultando, perguntou o que eu
estava sentindo, se eu estava me alimentando normalmente. O apresentei para
Luan, que no primeiro momento ficou meio com ciúmes da maneira como Gustavo nos
tratava, mas logo sossegou quando Laura perguntou de Amanda, sua esposa.
–
Você anda trabalhando muito, Alice?
–
Um pouco. – Respondi apreensiva.
–
Você teve alguma raiva esses dias? – Perguntou me fazendo olhar de imediato
para Laura.
–
Sim... – Respondi baixo.
–
Você teve uma crise de estresse emocional. – Ele foi direto – Geralmente elas
causam essa dor de cabeça e muscular, falta de apetite, entre outras coisas.
–
E agora?
–
Eu vou passar esse remédio aqui. – Fez uma receita – Você compra e toma de oito
em oito horas durante seis dias.
–
Tá bom.
Enquanto
Gustavo conversou comigo mais sobre o meu caso, Laura desceu na farmácia para
comprar meu remédio, enquanto Luan só prestava atenção em tudo o que o médico
dizia. Ele me aconselhou a tomar direitinho o remédio, porque eu tive apenas os
primeiros sintomas, mas que poderiam aparecer outros caso eu não me cuidasse. Depois
que Laura voltou e Gustavo foi embora, Luan me olhou como se quisesse saber o
motivo pelo qual eu tive essa crise de estresse. É, dessa vez eu não tinha como
fugir de uma boa conversa com ele, nem queria, pois eu precisava desse momento.