quarta-feira, 23 de agosto de 2017

(Capítulo 53 – Crise de estresse)

Assim que coloquei meus pés em São Paulo, respirei fundo, sentindo uma vontade enorme de ser feliz. Queria apagar aquele momento horrível da minha memória, tentar guardar apenas os momentos bons que passei com minha família. Tudo aquilo me machucava bastante, fazia meu coração ficar apertado, porque eu nunca desejei ficar longe das pessoas mais importantes da minha vida. Não conversei muito com Laura, mesmo ela querendo o tempo inteiro me distrair com algo engraçado. Chamamos um táxi, seguimos para nosso apartamento, enquanto eu trocava algumas mensagens com Luan. Preferi não comentar com ele sobre o que aconteceu, pois eu não queria ter que preocupá-lo, poderíamos conversar melhor sobre isso depois. Desejei a ele um maravilhoso show, avisei que eu estava voltando pra casa e que eu gostaria de vê-lo o quanto antes. Chegamos ao nosso condomínio depois de quase uma hora e meia, subimos depois de cumprimentar seu Pedro, que estava encantado com o nascimento do neto.

– Como está se sentindo? – Laura perguntou quando sentei no sofá.

– Estou triste... – Tentei falar.

– Aos poucos tudo vai se resolver, ele vai entender.

– Entender? Será mesmo que um dia ele vai entender que minha felicidade está aqui? – Ela apenas me abraçou forte.

– Vamos tentar esquecer isso um pouco? – Tentou me animar – Já estamos em casa, vamos pedir um jantar bem especial.

– Não tenho ânimo pra nada, quero dormir.

– Vou pedir uma pizza. – Ignorou o que eu disse – E um pote de dois litros de sorvete de floresta negra.

– Tá brincando né, Laura? – A olhei incrédula – Como é que você faz uma coisa dessas?

– Ué, eu não estou fazendo nada. – Prendeu o riso.

– Tá, pede nossa pizza. – Segui até a cozinha – Mas não esquece o sorvete.

Laura era a melhor pessoa do mundo, todos os dias ela me mostrava que seu amor por mim era grande demais, que estaria sempre comigo. Eu a amava profundamente, sabia que eu poderia contar com sua amizade em todos os momentos de minha vida. Enquanto esperávamos nosso jantar chegar, aproveitamos para guardar nossas coisas e tomar um banho. Vesti um pijama confortável, coloquei minhas pantufas, fiz um rabo de cavalo no cabelo e voltei para a sala. Jantamos tentando conversar sobre coisas boas, Laura parecia uma criança comendo pizza, toda feliz. Depois de o nosso maravilhoso jantar, assistimos a um filme, Laura conversou rapidamente com Douglas e acabou se recolhendo. Fiquei mais um pouco ali na varanda, me balançando naquela maravilhosa cadeira, sentindo o vento fazer carinho em meu rosto. Senti uma tristeza profunda ao lembrar aquele momento horrível de discussão com meu pai e meu tio. Queria que tudo tivesse terminado da melhor maneira possível, queria que meu pai finalmente entendesse que eu estou bem, fazendo o que eu amo, sendo feliz. Senti uma saudade terrível de Luan, queria que ele estivesse ali comigo, mas eu sabia que não era possível. Respirei fundo, tentei focar toda a minha atenção no trabalho que eu teria essa semana inteira. Voltei para o meu quarto, arrumei minhas coisas para o dia seguinte e tentei dormir, pois essa era a melhor coisa que eu poderia fazer nesse momento. Acordei no dia seguinte sentindo uma leve pontada na cabeça, meus olhos não queriam abrir, senti como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. Tentei levantar com cuidado, vesti uma roupa confortável, organizei minhas coisas e segui para a cozinha.

– Bom dia! – Laura me olhou sorrindo – Misericórdia, que cara é essa?

– Estou péssima? – Perguntei sentando – Estou me sentindo como se um caminhão tivesse passado por cima de mim.

– Não quer ir ao médico? – Perguntou preocupada.

– Não, vou tomar um café bem forte, um remédio e vou trabalhar. – Comecei a me servir – Volto pra casa caso eu não melhore.

– Eu espero que volte mesmo. – Ainda me olhava preocupada.

– Maria não veio hoje?

– Não, ela precisou levar o filho no médico.

Terminamos nosso café da manhã, Laura pegou sua bolsa, descemos juntas e ela me deixou na agência. Assim que cheguei lá cumprimentei meus colegas, segui para a minha sala e Gisele me passou todo o meu trabalho da semana. Bastante trabalho, me fazendo agradecer, porque só assim eu poderia ocupar minha cabeça e esquecer um pouco tudo o que aconteceu. Hoje eu trabalharia interno, mas na terça, quarta e quinta eu faria trabalhos externos, sexta eu voltaria pra agência e no final de semana eu teria folga pra poder viajar com Luan.

– Você tá bem, Alice? – Marina perguntou preocupada.

– Só um pouco de dor de cabeça. – Respondi baixo.

– Parece que você tá gripada.

– Não posso nem pensar em ficar gripada. – Choraminguei – Essa vai ser uma semana corrida.

– Mas caso você precise ir ao médico, nós seguramos as pontas aqui pra você. – Sthé respondeu.

– Seu eu não melhorar até mais tarde, aviso a vocês. – As agradeci carinhosamente.

Quando deu a hora do almoço, preferi ficar ali mesmo, pois eu não tinha nenhum pouco de vontade de comer. Minha cabeça ainda estava doendo muito, o barulho do pessoal falando me incomodava, a luz do notebook me incomodava, eu estava sentindo um grande mal estar. Enquanto eu tentava relaxar um pouco, acabei me assustando com meu celular tocando, era Luan.

– Oi! – Atendi fraca.

– Oi, meu amor! – Parecia ter acordado agora – Tudo bem?

– Sim... 

– Sério? E que vozinha é essa?

– Não estou me sentindo muito bem. – Respirei fundo.

– E onde você está?

– Na agência.

– Amor, o que você tem? – Perguntou preocupado.

– Estou sentindo um pouco de dor de cabeça, um mal estar.

– E não foi ao médico?

– Não, daqui a pouco eu melhoro.

– Já comeu?

– Não, estou sem vontade. – Respondi receosa.

– Sem vontade, Alice? Tá me deixando ainda mais preocupado.

– Não precisa se preocupar.

– Eu vou te buscar. – Pareceu decidido.  

– Me buscar? Eu não vou embora agora, amor.

– Alice, eu não vou te deixar aí desse jeito. – Falou autoritário – Fala com seu chefe, diz que você não está bem.

– Luan...

– Com saúde não se brinca, Alice! – Então me convenci.

– Tudo bem, mas preciso aguardar as meninas voltarem para que elas possam fazer tudo por mim.

– Aí você me liga e eu vou te buscar.

– Você é sempre assim? – Perguntei sentindo minha voz falhar.

– Cuidadoso? – Perguntou me roubando um sorriso.

– Exagerado.

– Não sou exagerado, só gosto de cuidar de quem eu amo.

– E você me ama?

– Amo muito... – Respondeu sincero – Você sabe bem disso.

– Estou me sentindo tonta. – Reclamei.

– Sua voz me diz o quanto você não está bem.

Continuamos conversando por mais alguns minutos, até que as meninas chegaram, elas deram toda razão a Luan e disseram que poderiam cuidar de tudo sozinhas. Falei com Bruno, ele mesmo percebeu que eu não estava bem, mas pediu que eu ficasse mais um pouco apenas para que eu recebesse o contrato da empresa que eu trabalharia no dia seguinte. Lua não gostou muito, mas entendeu dizendo que estava saindo de casa e que me esperaria no estacionamento. Era quase 16h00 quando eu consegui sair da agência, estava me sentindo extremamente fraca, ainda com muita dor de cabeça. Peguei minhas coisas na sala, caminhei até o estacionamento e encontrei o carro de Luan. Quando entrei, ele me olhou carinhoso, mas ao mesmo tempo preocupado, com todo cuidado me deu um beijo na testa.

– Como está se sentindo?

– Fraca, mas melhor com você aqui comigo.

– Vou te levar pra casa. – Começou a dirigir – E você vai ter que comer alguma coisa.

– Nem estou com fome. – Reclamei.

– Onde já se viu a pessoa passar o dia inteiro com o café da manhã, Alice? – Perguntou autoritário.

– Você pode falar um pouquinho mais baixo? – Pedi o olhando.

– Eu nem estou gritando.

– Mas tudo está me incomodando. – Encostei minha cabeça no banco – Eu quero dormir.

– Mas antes você vai comer nem que seja a força.

Seguimos para o meu apartamento, enquanto Luan não parava de falar, mas eu estava tentando não ligar muito pra sua preocupação exagerada. Quando chegamos ao meu condomínio, Luan estacionou o carro, cumprimentamos o porteiro e subimos de mãos dadas. Então quando fui abrir a porta, dei de cara com Laura em pé na sala olhando o celular toda atenciosa.

– Já? – Ela perguntou preocupada – Você não melhorou?

– Quero dormir. – Reclamei me jogando no sofá.

– Oi, Luan! – O cumprimentou com um abraço – Você foi buscá-la?

– Sim, ela me ligou dizendo que não estava se sentindo bem. – Sentou colocando minha cabeça em suas pernas.

– Não quer ir ao médico? – Laura perguntou.

– Não, chama o Gustavo?

– Vou ligar pra ele.

– Quem é Gustavo? – Luan perguntou me olhando.

– Um amigo nosso que é médico.

Laura falou rapidamente com Gustavo, enquanto eu fui para meu quarto, coloquei minhas coisas na cama e tomei um banho quente. Vesti uma rouba bastante confortável, coloquei minhas pantufas para esquentar meus pés e voltei pra sala, onde Luan me esperava com Laura.

– Sorte sua que ele estava aqui perto. – Lau me olhou sorrindo – Tá chegando.

– E o que você tá fazendo? – Perguntou quando ela seguiu para a cozinha.

– Uma sopa bem deliciosa pra você.

– Sopa, Laura? – Fiz careta.

– Não adianta fazer careta, porque essa está deliciosa mesmo.

– E essas pantufas? – Luan perguntou quando sentei ao seu lado no sofá.

– São para esquentar meus pés. – Me encolhi em seus braços.

– E eu não estou aqui? – Perguntou indignado.

– Sim, amor. – Sorri – Mas por enquanto uso minhas pantufas. – Nos assustamos com a campainha tocando.

Gustavo chegou logo colocando sua bolsa no sofá e me consultando, perguntou o que eu estava sentindo, se eu estava me alimentando normalmente. O apresentei para Luan, que no primeiro momento ficou meio com ciúmes da maneira como Gustavo nos tratava, mas logo sossegou quando Laura perguntou de Amanda, sua esposa.

– Você anda trabalhando muito, Alice?

– Um pouco. – Respondi apreensiva.

– Você teve alguma raiva esses dias? – Perguntou me fazendo olhar de imediato para Laura.

– Sim... – Respondi baixo.

– Você teve uma crise de estresse emocional. – Ele foi direto – Geralmente elas causam essa dor de cabeça e muscular, falta de apetite, entre outras coisas.

– E agora?

– Eu vou passar esse remédio aqui. – Fez uma receita – Você compra e toma de oito em oito horas durante seis dias. 

– Tá bom.

Enquanto Gustavo conversou comigo mais sobre o meu caso, Laura desceu na farmácia para comprar meu remédio, enquanto Luan só prestava atenção em tudo o que o médico dizia. Ele me aconselhou a tomar direitinho o remédio, porque eu tive apenas os primeiros sintomas, mas que poderiam aparecer outros caso eu não me cuidasse. Depois que Laura voltou e Gustavo foi embora, Luan me olhou como se quisesse saber o motivo pelo qual eu tive essa crise de estresse. É, dessa vez eu não tinha como fugir de uma boa conversa com ele, nem queria, pois eu precisava desse momento. 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

(Capítulo 52 – Visita aos pais)

Uma semana depois...

Uma semana se passou com dias corridos no trabalho, consegui falar com Luan duas vezes até que ele viajasse e ficasse praticamente incomunicável. Agora eu estava na casa dos meus pais com Laura, passaríamos esse final de semana com eles, para terminar de comemorar meu aniversário. Era tão bom poder matar um pouquinho da saudade, aos poucos meu pai estava se permitindo aceitar minha realidade, conseguíamos ter um momento bom de conversa, fazendo com que eu me sentisse extremamente feliz. Mamãe preparou um bolo de morando que eu amava, compramos balões para enfeitar a casa, detalhes lindos que faziam meu coração quase explodir de amor. Estava um sábado lindo, eu queria aproveitar cada minuto com minha família, todo o tempo que me restava no lugar mais aconchegante desse mundo. Dora preparou um almoço maravilhoso, almoçamos os cinco juntos, relembrando algumas das manias que eu tinha quando era criança. Assistir a um filme com Benjamim e Laurinha, algumas amigas do colégio vieram me visitar, conversamos como antigamente. Já era noite quando eu finalmente consegui sossegar, subi para tomar um banho antes do jantar, mas acabei recebendo uma ligação de Luan.

– Oi, meu bem! – Atendi animada.

– Oi, amor! – Ele parecia estranho.

– Tá tudo bem? – Perguntei preocupada.

– Sim, só estou cansado.

– Só isso?

– Sim... – Silenciou – Queria muito que você estivesse aqui comigo.

– Estou aí em pensamento. – Tentei animá-lo – Não gosto de te ver assim.

– Acho que eu nunca senti tanto a sua falta.

– Eu também queria estar aí com você, também estou com muita saudade. – Senti um aperto no peito – Mas daqui a pouco estamos juntos.

– Tá aproveitando com seus pais?

– Muito, eu estava morrendo de saudade deles. – Confessei sorrindo – Tá frio ai, meu amor?

– Sim, mas estou bem agasalhado.

– E que horas começa seu show?

– Daqui a pouco estamos indo para o local. – Respirou fundo – Comprei uma coisa pra você.

– Pra mim? – Perguntei surpresa – O que, amor?

– Uma coisa que você gosta muito.

– Sorvete?

– E por um acaso é só de sorvete que você gosta?

– E de você. – Fale natural o fazendo rir.

– Uma coisa que te faz dormir maravilhosamente bem.

– Meias? – Quase gritei – Tá brincando que você comprou meias pra mim?

– Essas são especiais.

– Só gosto de meias quando não tenho você por perto para esquentar meus pés.

– Gosto de esquentar outras coisas além dos pés, elas vão fazer esse trabalho por mim.

– Você é um ridículo.

– Quando vamos nos ver?

– Amor, essa semana será extremamente corrida pra mim. – Choraminguei – Mas tentarei abrir uma brechinha pra gente.

– Nem que seja um diazinho.

– Eu vou fazer o possível. – O tranquilizei – Próximo final de semana você tem show, né?

– Sim, você bem que poderia ir comigo.

– É só no final de semana?

– Quarta tenho um programa pra gravar. – Pensou – Sexta tenho dois shows, sábado tem um e domingo também.

– Isso tudo amor? – Perguntei preocupada.

– Por isso mesmo que preciso de você comigo.

– Podemos ver isso, tá?

Continuamos conversando por mais quarenta minutos, fazendo um pouco da saudade ir embora. Eu me sentia extremamente preocupada quando Luan fazia muitos shows assim, mesmo sabendo que ele está acostumado com toda essa correria, pra mim existia uma necessidade dele parar um pouco e respirar. Jantei com minha família, recebemos a visita de uma amiga de minha mãe, mas logo eu decidi me recolher. Tomei um banho quentinho, vesti meu pijama, mandei uma mensagem para Luan e acabei pegando no sono rapidamente. No dia seguinte acordei cedo, Laura já não estava mais no quarto, então desci e encontrei mamãe e Dora conversando na cozinha. As cumprimentei com um abraço, Laura e Benjamim estavam na piscina, enquanto nós tirávamos os pães de queijos do forno.

– E como está o namoro, Alice? – Dora perguntou me surpreendendo.

– Namoro? – Perguntei fazendo mamãe me lançar aquele olhar de reprovação, pois ela sabia que Dora não entenderia se eu falasse da minha relação com Luan.

– O seu namoro com o cantor.

– Está ótimo, Dora! – Respondi sorrindo – Estamos muito felizes.

– Ah, que bom! – Sorriu me olhando.

– É bom chamar os meninos pra tomar café, né? – Tentei mudar de assunto.

Depois de chamar Laura e Benjamim, tomamos nosso café, Laura subiu para tomar um banho e depois desceu para nos ajudar. Naquele dia decidimos fazer um almoço especial, aproveitei para colocar a mão na massa, enquanto Benjamim apenas observava tudo tagarelando o tempo todo.

– Falou com Luan? – Laura perguntou enquanto fazíamos o molho do macarrão.

– Falei sim, ele está com saudade.

– E quando ele não está com saudade de você? – Perguntou rindo.

– Quando ele tá comigo. – Respondi natural.

– Vai viajar com ele próximo final de semana?

– Estou pensando, ele tem bastantes shows.

– Então aproveita, ele precisa de você.

– E você, conseguiu falar com Douglas?

– Falei muito rápido, ele estava no estúdio e nem me deu muita atenção. – Choramingou – Ele me troca por aquele estúdio.

– Completamente normal. – A olhei rindo.

Terminamos nosso almoço depois de uma bagunça que deixou Dora irritadíssima, mas a ajudamos com a organização e logo tudo ficou brilhando. Papai chegou na hora certa acompanhado de meu tio José, seu irmão mais velho e ainda mais rígido que ele. Sentamos todos ao redor da mesa, nos servimos, Benjamim me olhava cúmplice, sabia que viria bronca por aí.

– E como está o trabalho, Alice?

– Maravilhosamente bem, tio! – Respondi com firmeza – Na verdade foi a melhor coisa que me aconteceu, sabe?

– E você trabalha com o que mesmo?

– Fotografia.

– Fotografia? E você me fala que isso é um trabalho bom? – Riu ironicamente – Querida, isso é só um hobby.

– Pra mim é o meu trabalho. – Respondi séria.

– Trabalho é ser médico, advogado, empresário. – Me olhou – Fotografia jamais será um trabalho de futuro.

– O senhor sabia que a maioria desses profissionais que o senhor citou, são infelizes? – O olhei ainda mais séria – Assim como o senhor que acha que só é bom aquilo que está ao seu alcance.

– Alice, respeite o seu tio! – Meu pai quase gritou me fazendo ter ainda mais vontade de falar.

– Tudo o que eu faço é com muito profissionalismo e amor, coisa que o senhor não conhece.

– CALE SUA BOCA, ALICE! – Meu pai gritou.

– Que educação foi essa que você deu a essa menina, Paulo?

– A educação suficiente para que eu aprendesse a lutar por aquilo que eu acredito ser bom pra mim.

– Você é muito desaforada, menina. – Ele estava muito irritado – Merece mesmo tacar a cara na parede para aprender algo bom na vida.

– Como o que? Ser infeliz por fazer algo que eu não quero, mas que minha família acha ser um bom futuro? – Levantei com raiva – Me poupe de ter que ouvir essa mesma ladainha.

– ALICE, AGORA CHEGA! – Falou autoritário.

– Vocês são iguais. – Olhei para meu pai e seu irmão – Com a mesma cabeça vazia. – E antes que eles dissessem qualquer coisa, eu me retirei subindo diretamente para o meu quarto.

Entrei no meu quarto deixando que todas as lágrimas se sentissem libertas, soluçando, querendo urgentemente sair daquele lugar que antes era tão precioso pra mim. O mesmo pai que antes eu acreditei que estivesse finalmente me apoiando, é o mesmo que agora me crucifica por não fazer a vontade dele. Sem pensar em mais nada, cuidei logo de arrumar minhas coisas, enquanto Laura entrava esbaforida no meu quarto.

– O que você está fazendo? – Perguntou desesperada.

– Vou embora! – Falei colocando minhas coisas na mala.

– Tem certeza? – Apenas respondi com um “sim” e logo Laura começou a arrumar suas coisas também.

– Laura...

– Você tá louca? – Me interrompeu – Eu jamais te deixaria sozinha nesse momento! – A abracei com toda minha alma, até ouvir minha mãe e Benjamim entrarem no quarto.

– Filha, o que você está fazendo?

– Mãe, me desculpa? – A abracei – Me desculpa por não ter feito o que ele queria...

– Seu pai está com a cabeça quente, Alice!

– O que adianta defendê-lo agora, mãe? – Voltei a arrumar minhas coisas.

– Vocês vão embora?

– Eu vou pra minha casa.

– Sua casa é aqui, Alice! – Benjamim falou baixo.

– Não, Benjamim! – O olhei – Desde o momento em que eu escolhi seguir o meu caminho, minha casa se tornou qualquer lugar, menos aqui.

Terminamos de arrumar nossas coisas, nos arrumamos, enquanto minha mãe tentava nos convencer de ficar até o dia seguinte, mas eu não conseguiria. Nós duas nos despedimos de minha mãe, que continuou no meu quarto chorando, Benjamim pegou nossas coisas e desceu seguindo para o carro. Quando desci, não tive coragem de ir me despedir de Dora, então apenas pedi que Benjamim deixasse um beijo pra ela. Não vi mais meu pai, nem meu tio, então apenas dei as costas e segui para onde Benjamim nos esperava.

– Tem certeza que quer ir embora?

– Tenho sim!

Entramos no carro, enquanto eu tentava comprar duas passagens de urgência para São Paulo. Durante o percurso, meu irmão estava pensativo, parecia querer falar algo, mas não tinha coragem suficiente. Vez ou outra ele me olhava, fazendo com que meus olhos marejassem por ter que deixá-los dessa maneira. Não falamos absolutamente nada, consegui comprar nossas passagens para as 16h00, então esperaríamos pouco no aeroporto. Compramos um lanche, sentamos os três juntos e começamos a comer, pois nem o almoço nós conseguimos aproveitar.

– Cuida da mamãe? – Pedi quando estávamos a caminho da sala de embarque – E promete que vai levá-la lá em casa? 

– Eu vou cuidar dela, tá? Não se preocupa! – O abracei forte.

Laura também se despediu de Benjamim, depois de muitos abraços, beijos e pedido de “se cuide”, nós entramos na sala de embarque. Tentava tirar aquela cena da minha cabeça, mas eu não conseguia, era decepção demais para o meu coração. Naquele momento senti uma necessidade enorme de ter Luan ao meu lado, de sentir todo o seu amor, sua proteção e cuidado comigo. 

terça-feira, 8 de agosto de 2017

(Capítulo 51 – Estamos juntos)

Acordei no dia seguinte sentindo meu corpo dolorido, meus pés estavam destruídos e meus olhos ainda pesados por conta do sono. Uma luz me incomodava profundamente, abri meus olhos vagarosamente, me deparando com uma surpresa linda. Um buquê de rosas ao lado da minha cama com um cartão que denunciava Luan por conta de sua letra inconfundível. Sorri com sua delicadeza, sentei na cama ainda sentindo um pouco de tontura, peguei as rosas e o cartão que dizia: “Você merece parabéns todos os dias, simplesmente por ser essa mulher incrível... Eu te amo.” Cheirei as rosas que tinham o cheiro do amor, beijei o cartãozinho, o apertei sobre meu peito e agradeci a Deus. Eu queria compartilhar com o mundo, porque era bom demais para ficar só para nós dois, então tirei uma foto e postei em minhas redes sociais.

O melhor presente é a presença de quem se ama.

Olhei alguns comentários, mas logo quando levantei para ir ao banheiro, algo caiu da cama e não acreditei quando vi. Era uma caixinha toda delicada, quando abri tinha um colar lindo com um pingente de uma câmera fotográfica, ainda mais lindo. Eu não estava acreditando nisso, ele era louco, como pode alguém ser tão especial desse jeito? Não esperei nem mais um segundo, deixei tudo na cama e corri descendo as escadas, mas estranhei em não encontrá-lo na cozinha, nem na sala. Então voltei para o quarto, peguei meu celular e disquei seu número que eu já sabia decorado.

– Bom dia, meu amor! – Ele atendeu animado.

– Onde você está? – Perguntei choramingando.

– Estou comprando algumas coisas pra gente almoçar. – Falou natural – Tem sorvete aqui.

– Quero você aqui comigo. – Falei baixo.

– Gostou do presente? – Perguntou carinhoso.

– Você é maluco, Luan! 

– Completamente maluco por você, minha princesa!

– Não estou brincando... – Tentei falar.

– E quem disse que eu estou?

– Eu amei as flores, o cartãozinho, o colar. – Silenciei – Mas eu trocaria tudo por você aqui comigo.

– Eu prometo que não vou demorar. 

– Eu estou te esperando, meu amor.

– Eu te amo, Alice!

– Eu te amo muito mais, Luan!

– Agora vá tomar um banho delicioso de banheira, tem um vestido lindo no closet pra você. – Sorri negando com a cabeça – E me espere, daqui a pouco eu chego aí com o nosso almoço.

Quando encerramos a ligação, procurei algo para comer enquanto Luan não chegava, tomei um banho demorado, coloquei o vestido que ele me pediu e o esperei ansiosa no sofá da sala. Aproveitei para ligar pra Laura e contar sobre as flores e o presente, claro que ela quase surtou e pediu que eu mandasse as fotos. Quase uma hora depois ouvi o barulho da porta se abrindo, Luan entrou com um sorriso lindo no rosto, carregando algumas sacolas nas mãos. Corri para seus braços, fazendo ele quase cair, mas não parava de rir ainda agarrado comigo e com as coisas.

– Por que demorou tanto? – O ajudei com as sacolas até a cozinha.

– Tentei voltar o mais rápido possível.

– O que tem aqui? – Perguntei abrindo cada sacola – Macarronada?

– Com frango desfiado e creme branco. – Respondeu me puxando para ele – E tem sorvete... – Mordeu meus lábios – De floresta negra.

– Tem como não te amar? – Colei ainda mais nossos corpos.

– Tem amor, muita gente não me ama.

– Eles não sabem o que estão perdendo. – Sorri selando nossos lábios em um beijo maravilhosamente bom.

– Você gostou mesmo do presente?

– Se eu gostei? Eu amei! – O beijei mais uma vez.

– Vamos fazer nosso almoço? – Perguntou me apertando, enquanto eu apenas concordei com a cabeça.

Preparamos nosso almoço rapidamente, com muita brincadeira, conversas e beijos que Luan me roubava de vez em quando. Eu me sentia completa em estar ali com ele, sentia algo profundamente bom, consegui esquecer todos os meus problemas e só lembrar o quanto é bom ser amada por ele. Eu preparei a mesa, coloquei nossos pratos, taças, talheres, enquanto ele desastrosamente tirava a macarronada do forno. Ele era lindo de todas as maneiras, até reclamando de tudo, tinha um jeito todo especial que me encantava.

– Próximo final de semana você vai pra casa dos seus pais, né? – Ele perguntou enquanto almoçávamos.

– Uhum... – Respondi de boca cheia – E você? 

– Tenho show quinta, sexta, sábado e domingo.

– Tudo isso? Onde, meu amor?

– Paraná, Santa Catarina, Rio grande sul. – Respondeu pensativo.

– Vamos ficar longe. – Choraminguei.

– Quando você volta?

– No domingo, pois na segunda eu tenho um trabalho importante na agência.

– Você vai ver aquele cara?

– Tá falando do Felipe? – O olhei – Nem começa, hem?

– Com certeza você vai encontrá-lo. – Falou baixo.

– Claro que eu vou encontrá-lo, ele sempre está com Benjamim. – Respondi como se fosse óbvio – Já falei que você tem que parar com essa implicância.

– Tudo bem. – Continuou comendo.

– Quer olhar pra mim? – Pedi segurando seu rosto – Vamos aproveitar esse dia? Estou aqui, não estou?

– Até quando?

– Até quando você quer que eu fique?

– Seria egoísmo dizer pra sempre?

– Não, porque eu também quero a mesma coisa.

Continuamos almoçando, depois tomamos todo nosso pote de sorvete, me fazendo enjoar um pouco com tanta comida ao mesmo tempo. Assistimos TV deitados no sofá da sala, Luan conversou rapidamente com sua mãe, fizemos um lanche para a tarde e ficamos o restante do dia deitados em uma rede confortável na varanda. 

– Queria poder dormir com você hoje de novo. – Ele falou me aconchegando ainda mais em seus braços. 

– Eu também, mas temos vidas para cuidar.

Ele silenciou, eu sabia que algo estava acontecendo, sabia que algo estava se passando naquela cabecinha, mas que era coisa que só ele poderia resolver. Não queria ter que deixá-lo, mas infelizmente era preciso, mesmo que nossas almas estivessem ligadas pra sempre. Era quase 20h00 quando Luan me deixou no meu condomínio, nos despedimos com dor no coração, mas prometemos nos falar durante toda essa semana. Toda vez que eu tinha que me despedir de Luan, eu sentia uma angustia, um sentimento ruim dentro de mim. Quando entrei em meu apartamento, me deparei com Laura assistindo TV e comendo pipoca com refrigerante.

– Uau! – A olhei – Que comida saudável é essa?

– Uma vez na vida pode?

 – Depende se não for muito, né? – Coloquei minha bolsa no sofá – Cadê todo mundo?

– Já foram todos. – Falou naturalmente.

– Como assim já foram? Benjamim também?

– Sim, ele te deixou um beijo e disse que estava te esperando em casa no final de semana.

– Sério?

– Uhum, meus pais disseram que voltam qualquer dia desses para nos ver.

– Queria ter me despedido deles. – Sentei tristonha.

– Mas você estava fazendo algo bem melhor, não é mesmo? – A olhei ainda triste – O que foi?

– Não sei... – Respirei fundo – Talvez eu não goste de me despedir de Luan.

– Ele veio te deixar?

– Sim, não sei quando vamos nos ver agora.

– O que você tá pensando?

– Eu sei que eu não deveria, mas tenho medo do que pode acontecer daqui pra frente. – A olhei – Tudo está indo tão bem, mas confesso que algo ainda me deixa insegura.

– O que te deixa insegura?

– Talvez o fato de ele achar que tudo está bom assim.

– E não tá bom?

– Sim, mas são cinco meses que estamos nessa mesma situação. – Eu estava me sentindo incomodada – E nada mudou.

– Você quer algo mais sério? – Perguntou me olhando – Mesmo sabendo que a vida dele é uma loucura?

– Eu só queria ter a certeza de que eu não vou perdê-lo. – Falei sincera – Porque eu não vou aguentar se isso acontecer.

– Porque você já está envolvida demais.

– Sim, não posso negar que eu falhei e me apaixonei completamente por alguém que não pode ter uma vida normal com ninguém.

– Tenta aproveitar o que você tem hoje com ele.

– Eu não consigo, porque eu já perdi coisa demais na minha vida. – Dei um beijo em seu rosto e segui para o meu quarto.

Eu não queria ter que me preocupar tanto com coisas que podem acontecer futuramente, me lembrei da conversar que tive com minha mãe, do quando ela me ajudou em relação a isso. Pedi em sussurro para que Deus me ajudasse, para que eu tirasse qualquer pensamento negativo da minha vida. 

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

(Capítulo 50 – Nossa casa)

(Luan Narrando)

Estava tudo bem na festa de Alice, até que eu me deparo com uma surpresa não muito agradável. Ela tinha convidado Felipe, aquele seu ex-namorado que me causou bastante ciúmes quando ela precisou ir visitar sua mãe. Eu sinceramente não queria ou não sabia o que estava acontecendo, mas eu queria aquele cara longe de todos nós. Quando eu esperei uma resposta de Alice, Benjamim e Felipe se aproximaram fazendo com que ela se sentisse ainda mais perdida com aquela situação.

– Demoramos? – Benjamim perguntou abraçando Alice – Parabéns de novo, coisa linda! – Falou algumas palavras bonitas em seu ouvido, enquanto eu apenas os observei atento.

Alice o agradeceu carinhosa, mas logo Felipe nos surpreendeu segurando sua cintura e a abraçando forte, fazendo toda a minha raiva aumentar ainda mais. Ela o agradeceu com um “muito obrigada” acompanhado de um sorriso tímido e uma vontade imensa de acabar com aquele clima ruim. Eu olhei Douglas que me entendia bem, sabia que eu não estava aguentando tudo aqui, mas continuou em seu lugar.

– Beleza, Luan? – Benjamim me cumprimentou.

– E aí, Benjamim!

– Felipe, esse aqui é o Luan... – Chamou Felipe sorrindo – Luan, esse é um amigo nosso.

– Tudo bom, Luan? – Ele me estendeu a mão, eu não poderia deixar minha educação passar em branco.

– Tudo bom, cara? – Apertei sua mão – Vocês me deem licença. – Sai sem nem ao menos olhar para Alice.

Tudo aquilo era estranho demais pra mim, eu não entendi porque eu sentia tanta raiva daquele cara, mas eu sabia que eu me sentia ameaçado com a presença dele. Eu tinha um medo terrível de perder Alice, tinha medo de que tudo isso acabasse de uma hora pra outra. Eu sabia que nada era certo, que eu nem tinha o direito de prender Alice comigo, porque eu sabia o quanto tudo era complicado. Caminhei até o bar, pedi uma bebida e tentei digerir tudo o que estava acontecendo, tentando manter toda a calma do mundo. Olhei para a mesa onde meus pais estavam, Benjamim e Felipe os cumprimentavam esbanjando simpatia. Percebi que Alice falou com mais alguns convidados, sorriu lindamente, mas ainda tinha um olhar triste. Continuei ali por quase vinte minutos, até que sinto o perfume dela se aproximar e sua mão macia tocar meu ombro.

– O que foi aquilo, Luan? – Perguntou sentando em minha frente.

– Por que você o convidou?

– Porque simplesmente ele é meu amigo. – Respondeu séria – E ele está acompanhando meu irmão que veio sozinho.

– Você sabe que eu não gosto dele. – Falei ainda mais sério – Mas mesmo assim você o convidou.

– O que você queria que eu fizesse Luan?

– Me avisasse para que eu não tivesse que aguentar a presença desagradável desse cara.

– Luan, você tá exagerando...

– Exagerando, Alice? – A interrompi – Tá na cara que ele ainda gosta de você, aí tá me dizendo que estou exagerando? – Gritei fazendo com que ela se assustasse um pouco.

– Eu não vou ficar aqui aguentando seus ciúmes, não hoje que é uma noite tão especial pra mim. – Levantou sem me olhar – Quando você quiser conversar como uma pessoa civilizada, eu estarei bem ali com a nossa família. – E saiu me deixando com ainda mais raiva.

Eu não queria ter que agir por impulso para não me arrepender depois, então preferi continuar no bar por mais algum tempo. Todos continuaram aproveitando a noite, queria poder dizer o mesmo de mim, que continuo com meu coração apertado por ter discutido com a minha menina.

– Vai ficar aí até quando, boi? – Douglas chegou sentando ao meu lado.

– Até que eu me convença que esse Felipe não é uma ameaça pra mim. – Tomei mais um gole da minha bebida.

– Cara, como é que você vai discutir com sua mulher logo hoje? – Perguntou tedioso – E logo por causa de um ex-namorado?

– Justamente por ele ser um ex-namorado que a gente discutiu. – O olhei sério – Ela sabe que eu não gosto desse cara.

– Não sei por que tanta insegurança, todos estamos vendo que é com você que ela está. – Negou com a cabeça – Ela tá toda feliz comemorando uma noite especial. – Olhamos para Alice que estava conversando com umas amigas – Não estraga essa oportunidade que vocês se deram de aproveitar esse momento juntos, cara. – Bateu no meu ombro – Vou voltar pra mesa.

Depois que Douglas saiu, eu finalmente me dei conta da besteira que eu estava fazendo, de como eu estava agindo como um idiota ao culpar Alice por algo que não existe mais. Respirei fundo, tomei o restante da minha bebida, procurei minha menina com o olhar e ela parecia triste, mas tentava passar toda felicidade aos seus convidados. Levantei indo em sua direção, ela estava com o pessoal da agência, conversava sorridente com cada um deles. Segurei sua cintura delicadamente, fazendo com que ela se assustasse um pouco, mas não tirou minha mão. Cumprimentei todos com um “Oi” simpático, enquanto ela me olhou desconfiada, então eu a olhei deixando um beijo demorado em seu rosto.

– Podemos conversar? – Perguntei em seu ouvido.

– Agora eu não posso. – Respondeu me olhando.

– E quando? – Ela apenas me ignorou, me fazendo respirar fundo.

Alice me apresentou a cada um de seus colegas, inclusive ao seu chefe, que me pareceu uma ótima pessoa. Conheci suas assistentes, elas eram lindas, as duas tinham um jeito todo especial de tratar Alice e isso me encantava profundamente. Enquanto Alice se divertia com seus amigos, eu voltei para a mesa onde o pessoal estava, sentei ao lado de Laura e Douglas.

– Se entenderam? – Laura perguntou me olhando.

– Não sei... – Respondi pensativo.

– Não sabe? – Douglas perguntou confuso?

– Ela não quis conversar comigo, disse que não podia agora.

– Você gosta da Alice, Luan? – Laura perguntou séria.

– Que pergunta é essa, Laura?

– Você gosta?

– Eu amo a sua prima! – Respondi sincero.

– Então tenha mais segurança no relacionamento de vocês.

– Pesado, hem? – Douglas falou me olhando. 

Eu não respondi, apenas olhei Laura por um alguns segundos, percebendo que eu era ainda mais idiota agora. Eu estava confuso, estava agoniado com toda essa situação, no fundo eu guardava um medo imenso de perder Alice. Eu tinha medo de acordar amanhã e perceber que tudo isso não passou de um sonho, onde eu estava vivendo os melhores dias da minha vida. Eu tinha medo que Alice se cansasse de caminhar ao meu lado, assim como tantas outras, mesmo tendo a certeza de que ela é única. Eu tinha medo de abrir meus olhos e apagar da minha memória, todos os momentos maravilhosos que passei ao lado dela. O que é que tá acontecendo comigo, meu Deus? O que tá acontecendo com meus sentimentos? O que Alice tem que não me permite ir embora? Eu não sei, mas sei que ela é tudo o que eu quero pra sempre. Acabei me assustando com o barulho alto do microfone, Alice estava no palco, ao lado do DJ, acompanhada de seu sorriso mais lindo.

– Oi, gente! – Falou olhando cada um ali presente – Estão gostando da festa? – Todos gritaram um “sim” – Eu quero desde já agradecer a presença de todos vocês, pessoas muito importantes pra mim. – Sorriu lindamente – Essa noite não estaria sendo tão especial sem vocês ao meu lado. – Olhou para nossa mesa – Toda a minha gratidão... – Todos se levantaram e a aplaudiram – Aproveitem bastante, porque a noite está apenas começando.

Tudo estava indo maravilhosamente bem, os convidados se divertiam com o DJ, a pista de dança, bebidas, comidas, brincadeiras que faziam com que todos esquecessem uma festa tradicional. Alice passeava por seus convidados, conversava com cada um deles, transbordando gratidão e muito amor. Observei quando ela conversou com Felipe, ele parecia contar algo engraçado em seu ouvido, fazendo com que ela sorrisse animadamente. Confesso que o ciúme estava me consumindo, mas eu precisava acreditar mais no que Alice sente por mim, acreditar mais em nós dois. Enquanto eles ainda conversavam, nossos olhares se cruzaram, sua expressão mudou, mas eu sabia que ela precisava de mim, tanto quanto eu precisava dela. Pedi licença ao pessoal que estava na mesa, tomei uma dose de coragem e segui em direção onde eles estavam. Percebi que Alice respirou fundo, talvez imaginando que eu diria algo ou começaria uma discussão desnecessária. Ela estava com Felipe, Benjamim, suas amigas da agência e Bruna, que sorriu assim que percebeu minha presença. Colei meu corpo no dela por trás, segurei sua cintura, beijei delicadamente seu rosto e ela fechou os olhos, fazendo seu corpo relaxar.

– E aí, galera? – Sorri animado – Qual o assunto?

– Uma viagem que Benjamim fez para Orlando. – Bruna respondeu rindo de um jeito todo engraçado.

– Eu, Alice e Felipe quando éramos mais novos. – Benjamim a corrigiu também rindo – Quando eles ainda namoravam. – Falou com certeza tentando me testar.

– Vocês namoraram? – Marina perguntou surpresa, fazendo Alice ficar um pouco incomodada com aquela situação.

– Sim, na época de escola. – Felipe respondeu rápido olhando para ela.

– Consegui aproveitar Orlando ainda mais agora quando fui a trabalho. – Alice respondeu apertando minha mão que estava sobre sua cintura – As coisas mudam.

– Quer dizer que não gostou de viajar com a gente? – Felipe perguntou com ar de ironia.

– Quero dizer que dessa vez eu tinha muito mais consciência do que eu estava fazendo. – Falou sincera – Vocês nos deem licença. – Sorriu me puxando pela mão.

Seguimos para um lugar mais reservado próximo ao bar, tinha umas poltronas confortáveis, sentamos um de frente para o outro. Alice me olhava de uma maneira indescritível, olhava pensativa para a parede, mas logo voltava a me olhar.

– Me desculpa? – Perguntei segurando sua mão – Eu sou um idiota mesmo, né?

– Ainda bem que você sabe. – Me olhou séria – Mas eu te desculpo, com a condição de você nunca mais agir pela raiva.

– Eu nunca mais vou fazer isso, amor. – Me aproximei beijando o canto de sua boca – Eu sou um imbecil em descontar meu ciúme em você.

– Tanto porque nem tem motivos pra isso, né? O que aconteceu ficou no passado, eu não quero que você fique desenterrando algo que já morreu faz tempo.

– Eu sei...

– Felipe hoje é apenas um bom amigo do Benjamim.

– E eu aqui morrendo de medo de te perder. – A puxei para mais perto de mim – Achando que ele poderia te tirar de mim.

– Isso nunca vai acontecer. – Segurou meu rosto – Porque é com você que eu quero ficar.

E sem esperar nem mais um segundo, eu a beijei com toda vontade que pode existir em meu ser. A beijei na certeza de que eu a amo, de que o nosso amor é forte o bastante para suportar qualquer pensamento que possa nos afastar. Eu não queria mais ter que discutir com ela por bobagem, não queria dar motivos para que nossa relação se desgaste, porque já basta a distancia para nos atrapalhar tanto.

– Então está tudo bem agora? – Perguntei ainda sentindo o maravilhoso gosto de seu beijo.

– Sim... – Tentou falar – Sou completamente apaixonada por você, Luan! – Confessou me fazendo rir.

– E eu ainda mais por você, minha princesa!

Continuamos por mais algum tempo ali, mas logo Alice precisou voltar para o salão, pois era hora dos parabéns. Todos a receberam com aplausos e assobios, ela estava feliz, seu sorriso era o mais bonito de todos. Depois de um breve e emocionante discurso de agradecimento, todos se dirigiram ao Buffet. A festa continuou até quase 02h00 da madrugada, quando todos já estavam no limite do cansaço, principalmente Alice, que reclamava de dor nos pés a cada dois segundos. Ela se despediu de cada convidado, transbordando amor e gratidão pela presença de todos. Avisei aos meus pais que eu levaria Alice pra casa, então eles se despediram e se foram logo em seguida.

– Quero ir pra casa com você. – Ela falou se aconchegando em meus braços – Estou muito cansada.

– Quer ir pra sua casa ou pra minha? – Perguntei a abraçando.

– Pra nossa casa no condomínio.

– Nossa casa? – Perguntei a olhando com um sorriso enorme no rosto.

– Não é nosso cantinho? – Perguntou dengosa – Quero ficar só com você.

– Então eu vou te levar pra nossa casa. – Selei nossos lábios.

Benjamim foi para o hotel com Felipe, Laura voltou pra casa com seus pais, sua irmã e Douglas, enquanto nós dois seguíamos para a “nossa casa” como ela disse. Fizemos um lanche quando chegamos, tomamos um banho de banheira, nos amamos a noite inteira e eu fiz de Alice, mais uma vez a minha mulher.