terça-feira, 30 de maio de 2017

(Capítulo 34 – Daniela)

(Luan Narrando)

O sábado chegou me trazendo um dia lindo de sol, um vento bom que batia em meu rosto, mas sempre uma sensação de que algo poderia acontecer a qualquer momento. Conversei com Alice e ela me disse que não poderia ir ao show, claro que eu precisava entender o lado dela, mas fiquei um pouco decepcionado. Tivemos uma conversa bastante sincera ontem, as coisas pareciam se tornar mais claras entre nós a cada dia e isso me deixava feliz. Ela tinha um poder muito grande sobre mim, é como se eu estivesse em um processo de amadurecimento, como se esse amor estivesse me moldado e me transformando em alguém melhor. Eu não conseguia compreender tudo o que estava acontecendo, mas eu estava disposto a descobrir junto com ela. Quando acordei as horas já se passavam do meio dia, desci as escadas ainda com um pouco de sono e encontrei minha mãe colocando a mesa do almoço. Tomei meu tereré, brinquei um pouco com Puf e logo meu pai chegou, fazendo com que todos se reunissem na mesa.

– Sabe quem tá aqui em São Paulo, pi? – Bruna perguntou enquanto comia.

– Quem?

– A Daniela lá de Campo Grande.

– Sério?

– Sim, ela me ligou avisando.

– E por que não a convidou para ficar aqui?

– Porque ela está na casa de uma tia. – Me olhou desconfiada – Eu a convidei para ir ao show comigo hoje.

– Tudo bem, piroca!

– Tudo bem mesmo? Alice vai está lá?

– Não, ela vai trabalhar.

– Ah, sim!

Continuamos conversando sobre coisas normais do nosso dia, logo Rober chegou e entramos no escritório para conversar com meu pai. A tarde passou voando, logo estávamos a caminho do local do show e minha ansiedade só aumentava. Eu perdi as contas de quantos shows eu já fiz em minha vida, mas em todos eles eu sentia aquela mesma sensação boa da primeira vez no palco. Quando cheguei era quase sete horas da noite, atendi um pessoal da imprensa, que me perguntaram mais uma vez se eu estava em um relacionamento sério. Pela primeira vez eu não tive vontade de dizer um não, mas acabei desconversando até que chegássemos a outro assunto. Atendi algumas fãs no camarim, ganhei carinho, abraços aconchegantes e vários presentes lindos que me deixavam ainda mais apaixonado por elas. Depois de atender a todos, troquei algumas mensagens com Alice, que me desejou um bom show e pediu que eu ligasse quando já estivesse em casa.

– E aí boi, vai fazer o show não? – Me assustei com os gritos de Douglas no camarim – Ih, tá namorando essa hora? – Pegou meu celular – “Beijo, meu amor.” Esse é um casalzinho que eu dou valor. – Começou a rir mostrando pra Laura que chegou ao seu lado.

– E aí, Laura... Tudo bem? – A cumprimentei carinhosamente.

– Tudo ótimo, Luan! – Sorriu simpática.

– Fala aí, boi! – Tomei meu celular – Cuida da tua mulher.

– Tá sentindo a falta dela, né? – Perguntou rindo – Enquanto ela tá lá trabalho a essa hora.

– Que horas ela vai sair de lá, Laura? – Perguntei preocupado.

– Acho que quase meia noite. – Respondeu sentando no sofá.

– E ela vai pra casa sozinha?

– Não, o pessoal da agência vai deixar ela. – Sorriu me tranquilizando.

– Isso que é mulher pra casar. – Douglas bateu em meu ombro – Se liga, hem?

– Oi, oi, chegamos! – Bruna apareceu sorrindo com Dani ao seu lado – Olha quem veio te ver, pi!

– Oi, Dani! – A cumprimentei – Tudo bem?

– Tudo ótimo! – Sorriu simpática – E com você?

– Melhor agora. – Sorri.

Ela estava ainda mais linda desde a ultima vez que nos vimos, mas parecia um pouco mais tímida. Bruna apresentou Dani para Laura e elas se cumprimentaram simpáticas, enquanto Douglas já a conhecia desde a infância. Continuamos conversando animadamente, era bom tê-los ali comigo naquele dia, mesmo que eu sentisse profundamente a falta de Alice. Percebi que Laura parecia um pouco incomodada com a presença de Dani, não entendi no primeiro momento, mas depois lembrei que ela pode ter visto os vídeos que Bruna fez quando estávamos em Campo Grande. Testa chegou me avisando que estava na hora de subir, então tomei mais uma água, me despedi de todos e segui para o palco. O show mais uma vez foi incrível, nada poderia me trazer mais felicidade do que ver os olhos dos meus fãs brilharem de admiração e amor por mim. Era um amor recíproco, puro, que me faz ser quem eu verdadeiramente sou. Era ali o meu lugar, sempre seria, porque era exatamente naquele palco que eu encontrava a paz que minha alma tanto precisava. Em um momento do show onde eu cantava as músicas de alguns cantores, hoje decidi cantar uma música do meu irmão Cristiano Araújo. Sentei em um banco, peguei o violão e comecei a falar no microfone palavras que eu torcia para que chegassem ao coração da minha menina.

– Hoje eu quero cantar essa música especial, para uma pessoa especial. – Ouvi os gritos da galera – Se você está apaixonado, canta assim para aquela pessoa.

“Será que alguém explica a nossa relação
Um caso indefinido, mas rola paixão
Adoro esse perigo, mexe demais comigo
Mas não te tenho em minhas mãos
Se você quiser, podemos ser um caso indefinido
Ou nada mais
Apenas bons amigos, namorar, casar, ter filhos
Passar a vida inteira juntos

E vai saber se um dia seremos nós
Nenhum beijo pra calar nossa voz
Um minuto, uma hora, não importa o tempo
Se estamos sós

Se você quiser, a gente casa ou namora
A gente fica ou enrola
O que eu mais quero é que você me queira

Se você quiser, a gente casa ou namora
A gente fica ou enrola
O que eu mais quero é que você me queira
Por um momento ou pra vida inteira!”

Repete assim comigo se você está na mesma situação... – Fechei meus olhos – O que eu mais quero é que você me queira, por um momento ou pra vida inteira.

E todos bateram palmas, gritaram, me emocionaram e encerrei aquela noite da maneira mais linda que eu encontrei. Sai daquele palco realizado, feliz, grato por tudo e por todos ali presente. Voltei para o camarim, atendi mais alguns contratantes, amigos e o Testa me avisou que o pessoal estava organizando da gente ir para uma casa de shows ali próximo e aproveitar a noite. Por um lado eu queria dizer não e ir pra casa, mas por outro eu queria aproveitar com meus amigos. Convidei Douglas e Laura para irem com a gente, no começo ela não queria ir, mas ele a convenceu e fomos todos. Bruna convidou Dani para ir com a gente e prontamente ela aceitou, deixando Laura ainda mais desconfortável. Depois de alguns minutos tentando sair do local do show, enfim conseguimos seguir para a casa de shows onde uma dupla se apresentaria para os convidados. Ao chegarmos lá, percebi que tinha um pessoal da imprensa, mas não poderiam entrar, apenas tentamos desviar deles na entrada e estaríamos em paz, pelo menos era isso que eu achava. Todos nos instalamos em um camarote próximo ao palco, pedi uma água pra mim, pois minha intenção não era beber muito naquela noite. Cumprimentei mais alguns amigos, tirei foto com três ou quatro pessoa e comecei a aproveitar com Douglas e Laura que estavam ao meu lado. Depois de alguns minutos ali conversando com eles, fui ao bar buscar uma bebida, reencontrei mais alguns amigos e me animei mais um pouco. As horas estavam passando, quando voltei para o camarote, vi que Bruna e Dani estavam bem alegres. Bebi mais algumas batidas, até que experimentei a bebida que elas tinham nas mãos e que porra forte era aquela.

– Bruna, você tá bebendo isso? – Perguntei a olhando.

– O que é que tem?

– Você sabe que isso é forte... – Tentei falar, mas ela se virou tomando o copo da minha mão e saindo.

Depois de alguns minutos eu já estava pra lá do céu, minha tentativa de não beber naquela noite, falhou bonito. Eu já estava vendo tudo meio embaraçado, tomei mais alguns copos da mesma bebida forte que para a minha sorte, Bruna bebeu apenas um copo. Eu estava lúcido, minha cabeça rodava, mas pelo menos eu aguentava ficar de pé caso fosse preciso. Voltei para perto de Douglas e Laura, eles pareciam se divertir bastante, mas ao mesmo tempo Laura tinha uma semblante preocupado.

– Não acha que tá na hora de parar não, boi? – Douglas tentou tirar o copo da minha mão.

– Mas eu acabei de começar. – Comecei a rir – Vamos relaxar, que eu ainda estou lúcido. – Falei sentindo a presença de alguém ao meu lado.

 – Dança essa comigo? – Dani pediu em meu ouvido – Por favorzinho!

– Claro, quero ver você aguentar. – Brinquei fazendo Laura nos olhar desconfiada.

Dani colou completamente nossos corpos, fazendo com que ficássemos bem próximos. Começamos a dançar uma música do Henrique e Juliano, que eu conhecia bem por já ter cantado ela em meus shows. Ela bebeu mais um pouco da sua bebida e me abraçou com seus braços ao redor do meu pescoço.

– Sabia que eu estava com muita saudade de você. – Falou carinhosa – Saudade da época em que estávamos juntos.

– Você sabe que a gente não pode fazer isso. – Tentei permanecer forte.

– Tem certeza que não? – Se afastou me olhando – Tem certeza que você não quer voltar aos velhos tempos? – Acariciou seu rosto no meu – Hem, Luan? – Mordeu meu lábio inferior – Eu sei bem o que você quer. – E sem esperar mais ela me beijou, um beijo extremamente quente, que me deixou sem reação naquele momento.

Eu não conseguia nem sequer raciocinar, quem dirá impedir que aquilo acontecesse daquela maneira. Depois que estávamos já sem fôlego, encerramos o beijo com alguns selinhos, mas aí aos poucos eu fui percebendo a besteira que eu tinha acabado de fazer. Olhei para o lado e Laura me olhava decepcionada, Douglas pegou sua mão e os dois saíram dali no mesmo momento.

– Como eu sou burro, idiota, mil vezes burro! – Olhei Dani que parecia assustada – Desculpa, Dani! – Sai dali sem nem esperar sua resposta.

Tentei encontrar Wellington no meio do pessoal, quando encontrei, apenas pedi a chave do carro a ele e avisei que eu estava indo pra casa. Passei por Bruna e ela percebeu que eu não estava bem, então correu atrás de mim e quando eu estava no estacionamento, ela apareceu entrando no carro.

– O que aconteceu, pi?

– Eu sou um idiota, Bruna!

– Por quê? – E antes que eu pensasse em falar, ela mesma percebeu a burrice que eu tinha feito – Você ficou com a Dani, não foi?

– E todo mundo viu... – Encostei minha cabeça no volante – Principalmente a Laura.

– A culpa é toda minha, eu não deveria ter chamado ela. – Tentou me acalmar – E agora?

– Agora a Alice vai saber de tudo. – A olhei apreensivo – O que eu planejava para dar tudo certo, agora vai dar tudo errado.

– Amanhã você vai lá conversar com ela, tenho certeza que ela vai entender.

– Entender? Como que ela vai entender um beijo que eu dei em outra na frente da prima dela?

– Você tá bêbado, Luan! – Fez careta – Me deixa dirigir, você é capaz de causar um acidente. – Sai do banco do motorista e deixei que ela dirigisse.

– Minha cabeça tá rodando. – Coloquei a cabeça pra fora da janela – Eu fiz a maior burrice de toda a minha vida agora.

– Quem mandou você beber? – E assim ela seguiu até em casa, me dando um carão atrás do outro.

Enquanto Bruna dirigia, percebi que um carro estava nos seguindo, tentei olhar para trás e Bruna disse que era Wellington. Depois de quase uma hora, chegamos ao condomínio comigo quase colocando meu rim pra fora. Entrei correndo até meu quarto, segui para o banheiro e tomei um banho demorado, era tudo o que eu precisava naquele momento. Quando voltei para o quarto, Bruna estava sentada na minha cama, com um remédio e um copo de água na mão.

– Toma, vai te fazer bem. – Me entregou o remédio.

– Obrigada, piroca! – Sentei ao seu lado.

– Pi, me responde uma coisa... – Procurou as palavras – O que você sente pela Dani?

– Sinto um carinho muito grande, mas não passa disso.

– E então por que você ficou com ela?

– Eu não sei, talvez pelo calor do momento, minha cabeça estava rodando.

– Ela ainda gosta muito de você.

– Ela é uma menina linda, foi e continua sendo uma pessoa importantíssima pra mim. – Tomei o remédio – Mas isso não significa que ainda teremos algo. – Ela me olhava compreensivoa – O que nós tivemos ficou lá atrás.

– Você está muito apaixonado por Alice, não é?

– Sim, mas acho que agora vai ser ainda mais difícil de fazer com que ela entenda isso.

– E a Camila, pi?

– Eu não quero falar sobre isso. – Levantei já sentindo minha cabeça latejar. – Assim que eu acordar, vou lá conversar com Alice.

– Tenho certeza que ela vai entender. – Beijou meu rosto – Descansa.

Bruna saiu, tomei mais uma pouco de água e deitei tentando dormir, isso se a minha consciência deixasse. Eu tinha certeza que seria difícil de Alice me perdoar depois da minha burrice, porque mesmo que não tivéssemos nada sério, mas estávamos juntos e isso bastava para ela me matar. Eu só queria tentar esquecer aquela noite, mas eu sabia que o pior ainda estava por vir. 

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