quarta-feira, 31 de maio de 2017

(Capítulo 35 – Decepção)

Depois de uma noite cansativa de trabalho, cheguei ao meu apartamento quase uma hora da madrugada. Não consegui esperar que Laura chegasse, então comi umas bobagens que encontrei na geladeira, tomei um banho e peguei no sono. Acordei no dia seguinte e já passavam das dez horas, ainda de pijama segui até a cozinha. Passei pelo quarto de Laura e ela ainda dormia feito um anjo, sorri ao vê-la tão tranquila e me adiantei para fazer o café. Enquanto eu preparava nosso café da manhã, coloquei umas músicas para ouvir no celular e me animar um pouco mais. O frio estava me consumindo naquela manhã, por mais que eu gostasse muito, aquilo me trazia lembranças não muito boas. Depois de preparar tudo, coloquei a mesa, os pães e sorri satisfeita com meu capricho de uma boa dona de casa.

– Bom dia, Lili! – Laura chegou com uma cara de sono – Tudo bem?

– Bom dia, Laurinha! – Beijei seu rosto – Estou bem! E você, chegou tarde ontem?

– Cheguei quase três da manhã. – Sentou ainda me olhando – Luan te ligou?

– Ainda não. – Tomei um pouco do meu café – Você saiu com Douglas ontem depois do show?

– Na verdade todos nós saímos. – Comeu um pedacinho de bolo – Fomos para uma casa de shows.

– Todos? Luan também?

– Ele também. – Engoliu o seco – Lili, eu preciso conversar com você.

– Claro, aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupada.

– Aconteceu... – E antes que ela terminasse de falar, meu celular vibrou.

– Espera um minutinho. – Imaginei que poderia ser algo com a agência, mas estavam chegando algumas mensagens no grupo que eu participava de fotógrafos de São Paulo – Eu não acredito! – Senti meu corpo paralisar ao abrir as fotos e me deparar com algo que mexeu completamente comigo – Era sobre isso que você queria falar comigo? – Mostrei as fotos para Laura.

A fotógrafa ainda soltou um “Olhem as fotos ótimas que eu fiz ontem em uma casa de shows aqui de São Paulo. Já estão em todos os sites de fofoca.” Procurei na internet e estavam lá, um site atrás do outro, com notícias quentes sobre ele.

“Morena que nada, Luan Santana foi visto aos beijos com Loira nessa noite de sábado.”

“Luan Santana está aproveitando a solteirice e anda pegando todas.”

“Cantor Luan Santana foi visto com Loira em casa de shows.”

“Será que agora vai? Luan Santana parece está apaixonado.”

Eram fotos deles abraçados, dos dois aos beijos, dele com um copo de bebida na mão, enquanto ela parecia bem intima dele. Eu não acredito que isso estava acontecendo, ele não fez isso comigo, eu fui muito idiota em me deixar levar por palavras bonitas.

– Alice, fica calma!

– Calma? Eu vou matar o Luan! – Levantei com raiva – Como ele faz isso comigo, Laura? Como?

– Vamos conversar? – Tentou me acalmar.

– Você estava lá... – Comecei a falar, mas me calei quando ela me olhou agoniada – O que aconteceu, Laura?

– Vem aqui comigo. – Sentamos no sofá – Quando nós chegamos ao local do show, ele estava sozinho no camarim. – Falou me olhando – Começamos a conversar naturalmente, mas aí logo a Bruna chegou com uma amiga.

– Que amiga?

– A mesma amiga deles que dançou com Luan naqueles vídeos.

– Eu sabia que era ela... – Senti minha raiva aumentar ainda mais – O que mais?

– Eles me apresentaram a ela, que pareceu muito simpática, mas também era muito intima dos três. – Respirou fundo – Continuamos conversando até que Luan precisou subir no palco e fazer o show. – Senti meus olhos arderem – Ele cantou pra você no show.

– Pra mim? – Perguntei confusa. – Cantou o que?

– Caso indefinido, do Cristiano Araújo.

– Com certeza ele não cantou pra mim. – Levantei do sofá – Ele é um imbecil.

– Quer que eu continue?

– Claro, continue. – Sentei novamente ao seu lado.

– Depois do show o pessoal da equipe combinou deles irem para essa casa de shows, no primeiro momento eu não queria ir, mas de tanto que Douglas insistiu. – Bufou de raiva – Acabamos indo.

– E ela acabou indo junto.

– Bruna a convidou pra ir com a gente, ela aceitou prontamente e assim seguimos. – Tentou procurar as palavras – Quando chegamos lá, Luan ficou bastante tempo com a gente.

– E ele começou a beber?

– Ele tinha dito que não queria beber, mas aí começou a se animar e acredito que ele bebeu até demais.

– E?

– Daniela também estava pra lá de embriagada, então em um momento que Luan estava conversando com a gente, ela o chamou para dançar com ela.

– E ele foi. – Senti uma lágrima escorrer sobre meu rosto.

– Ele foi e eles acabaram se beijando. – Quando Laura me confirmou aquela cena, eu coloquei as mãos no rosto e deitei com minha cabeça em seu colo. – Quando ele me viu pareceu se tocar da bobagem que tinha feito. – Falou fazendo carinho em meus cabelos – Eu só pedi que Douglas me tirasse dali.

– Ontem ele me disse coisas tão lindas no telefone, disse que conversaríamos sobre nós dois. – Me permiti chorar – Que sentia algo muito forte por mim. – A olhei – Laura, eu disse que estava completamente apaixonada por ele.

– Você só foi sincera. – Arrumou meu cabelo.

– Não, eu fui uma idiota em acreditar nele.

– Vocês vão ter chance de conversar, ele vai te explicar o que aconteceu.

– Eu não quero as explicações dele. – Sentei novamente a olhando – Eu quero que ele suma da minha vida. – Levantei seguindo para o meu quarto.

– Você sabe que ele vai te procurar, não é mesmo? – Me seguiu.

– Que venha. – Sentei na cama – Eu estarei aqui para mandar ele embora de uma vez por todas.

Aquilo estava magoando profundamente meu coração, não pensem que está sendo fácil pra mim. Mesmo que nada seja verdadeiramente certo entre nós dois, mas não estamos juntos? Por que então ele não pode ter um pingo de respeito com nosso relacionamento? Se é que ainda existe algum tipo de relacionamento entre nós dois. Tentei me desligar completamente das minhas redes sociais, não olhei mais nenhum site de fofoca, não atendi telefonemas e nem muito menos voltei a conversar com Laura sobre isso. Enquanto ela preparava um almoço para nós duas, aproveitei para tomar um banho e arrumar minhas coisas do trabalho. A todo o momento eu sentia um pouco de raiva por tudo isso, me sentia uma idiota, sentia que eu estava sendo fraca demais para aguentar aquilo. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele iria me procurar, sabia que as coisas não seriam fáceis, mas que eu precisava estar preparada para tudo. Enquanto almoçávamos, tentei conversar sobre tudo com Laura, menos tocar nesse assunto que estava me embrulhando o estômago. Depois do almoço, ajudei Laura a organizar a cozinha, peguei meu material e me instalei ali na sala mesmo, para que eu terminasse de editar algumas fotos que deveriam ser entregues no dia seguinte. Era quase três horas da tarde quando o interfone começou a tocar, meu coração acelerou, eu sentia que era ele. Laura que estava na cozinha, atendeu e conversou rapidamente com o porteiro, ela me olhou desconfiada e eu já entendi.

– É o Luan. – Falou apreensiva.

– Deixa subir. – Ela apenas concordou e autorizou a entrada dele.

– Eu estarei no meu quarto, tá? 

– Tá bom.

Fechei meu notebook, tentei organizar minha bagunça e esperei ansiosa que ele subisse logo. Eu tinha tantas palavras na ponta da língua, mas eu sabia que eu não conseguiria soltar nem a metade delas. Tentei me manter o mais tranquila possível, mas minhas mãos estavam geladas e eu tinha a impressão de que meu coração saltaria pela boa a qualquer momento. Enfim a campainha tocou, contei mentalmente de um até cinco e abri a porta tentando passar segurança a mim mesma. Lá estava ele, com uma roupa que encaixava perfeitamente em seu corpo, uma carinha de sono, de óculos escuros e um coração que tinha o prazer de partir o meu.

– Oi! 

– Oi! – Falei séria – Entra. – Ele respirou fundo e entrou tentando procurar maneiras de me falar tudo o que ele gostaria.

– Quer sentar? – Perguntei calma.

– Não, eu estou bem assim. – Falou nervoso passando a mão no cabelo – Com certeza você já deve está sabendo o que aconteceu ontem.

– Você acredita que nem precisou Laura me contar? Estavam em todos os sites de fofoca existentes do país. – Falei irônica – O que você tem pra me falar, Luan?

– Eu sei que eu fui um idiota, que fiz a maior burrada de toda a minha vida, que eu não deveria estar aqui. – Procurou as palavras certas – Mas eu estava bêbado.

– Ah, agora você vai colocar a culpa na bebida? – Perguntei sem acreditar – Não se preste a esse papel ridículo, Luan!

– Eu só quero que você acredite em mim, amor... – Tentou se aproximar, mas me afastei.

– Amor? – Comecei a rir de nervoso – Você só pode tá de brincadeira comigo.

– Alice, eu não sabia o que estava fazendo naquele momento. – Respirou fundo – Eu passei a noite pensando em você, eu cantei pra você no show. – Tentou se aproximar mais uma vez – Ma aí nós decidimos ir a uma casa de shows, eu acabei bebendo um pouco mais e em um momento de fraqueza, eu acabei fazendo essa besteira.

– O que mais me impressiona, é que você ficou com a mesma menina que dançou com você naqueles vídeos da Bruna. – O analisei – Aquela mesma menina que você me garantiu não ter mais absolutamente nada.

– E eu não tenho...

– Como não tem, Luan? – O interrompi – Como você não tem mais nada com ela e me aparece essas fotos? – Quase gritei e ele se assustou. – Desculpa, mas eu não quero isso pra mim. – Engoli o choro – Eu tentei muito não chegar a esse ponto, mas você não está me dando outra alternativa.

– Para com isso, Alice!

– Você realmente não deveria estar aqui, porque por mais que a gente tenha alguma coisa, você não me deve explicações de nada que faz ou deixa de fazer na sua vida. – Me aproximei dele – Você sabe o quanto eu gosto de você, mas eu não preciso passar por isso.

– Daniela não significa mais nada pra mim, o que nós tivemos ficou no passado.

– Não foi isso que eu vi naquelas fotos.

– Ela estava bêbada também, ficou me provocando, foi só um momento que eu me descuidei. – Tentou se explicar.

– Não importa mais o que aconteceu... – Segui até a porta – Vai embora, por favor!

– Não é isso que você quer. – Se aproximou.

– Eu sei bem o que eu quero. – Abri a porta – Quero que me deixe em paz.

– Alice... 

– Vai embora. – Sussurrei abaixando minha cabeça – Vai.

Ele respirou fundo, deu um beijo demorado em minha testa e saiu me deixando ali com o coração partido. Respirei fundo, tranquei a porta e voltei para o sofá, onde lá eu me permiti chorar o quanto fosse necessário. Como minha mãe disse, eu não sou essa pessoa fraca que venho mostrando para todos, mas Luan me causa essa fragilidade. Laura chegou me abraçando e assim permiti que minhas lágrimas saíssem de uma vez por todas.

– Eu não queria que as coisas fossem assim, mas eu não posso me permitir passar por isso.

– Talvez isso tenha sido bom para vocês dois. – Enxugou meu rosto – Quem sabe assim vocês não conseguem descobrir o que existe dentro de vocês.

– Por que tem que ser tão difícil?

– Quando a gente ama alguém, as coisas se tornam ou mais fáceis ou mais difíceis. – Segurou minha mão – Tudo vai se ajeitar.

– Eu quero sumir desse mundo. – A abracei com todo o meu coração.

Eu não sabia o que poderia acontecer a partir de agora, mas eu estava disposta a continuar lutando por tudo aquilo que eu acredito. Esse era o momento ideal para colocar minha vida em ordem, seguir meu rumo, ter mais atenção comigo mesma e ser feliz da maneira como eu sei. Eu queria continuar sentindo esse ar de paz dentro do meu coração, seja com ele, com outro alguém ou simplesmente sozinha... Mas eu não desistiria de acreditar no amor. 

terça-feira, 30 de maio de 2017

(Capítulo 34 – Daniela)

(Luan Narrando)

O sábado chegou me trazendo um dia lindo de sol, um vento bom que batia em meu rosto, mas sempre uma sensação de que algo poderia acontecer a qualquer momento. Conversei com Alice e ela me disse que não poderia ir ao show, claro que eu precisava entender o lado dela, mas fiquei um pouco decepcionado. Tivemos uma conversa bastante sincera ontem, as coisas pareciam se tornar mais claras entre nós a cada dia e isso me deixava feliz. Ela tinha um poder muito grande sobre mim, é como se eu estivesse em um processo de amadurecimento, como se esse amor estivesse me moldado e me transformando em alguém melhor. Eu não conseguia compreender tudo o que estava acontecendo, mas eu estava disposto a descobrir junto com ela. Quando acordei as horas já se passavam do meio dia, desci as escadas ainda com um pouco de sono e encontrei minha mãe colocando a mesa do almoço. Tomei meu tereré, brinquei um pouco com Puf e logo meu pai chegou, fazendo com que todos se reunissem na mesa.

– Sabe quem tá aqui em São Paulo, pi? – Bruna perguntou enquanto comia.

– Quem?

– A Daniela lá de Campo Grande.

– Sério?

– Sim, ela me ligou avisando.

– E por que não a convidou para ficar aqui?

– Porque ela está na casa de uma tia. – Me olhou desconfiada – Eu a convidei para ir ao show comigo hoje.

– Tudo bem, piroca!

– Tudo bem mesmo? Alice vai está lá?

– Não, ela vai trabalhar.

– Ah, sim!

Continuamos conversando sobre coisas normais do nosso dia, logo Rober chegou e entramos no escritório para conversar com meu pai. A tarde passou voando, logo estávamos a caminho do local do show e minha ansiedade só aumentava. Eu perdi as contas de quantos shows eu já fiz em minha vida, mas em todos eles eu sentia aquela mesma sensação boa da primeira vez no palco. Quando cheguei era quase sete horas da noite, atendi um pessoal da imprensa, que me perguntaram mais uma vez se eu estava em um relacionamento sério. Pela primeira vez eu não tive vontade de dizer um não, mas acabei desconversando até que chegássemos a outro assunto. Atendi algumas fãs no camarim, ganhei carinho, abraços aconchegantes e vários presentes lindos que me deixavam ainda mais apaixonado por elas. Depois de atender a todos, troquei algumas mensagens com Alice, que me desejou um bom show e pediu que eu ligasse quando já estivesse em casa.

– E aí boi, vai fazer o show não? – Me assustei com os gritos de Douglas no camarim – Ih, tá namorando essa hora? – Pegou meu celular – “Beijo, meu amor.” Esse é um casalzinho que eu dou valor. – Começou a rir mostrando pra Laura que chegou ao seu lado.

– E aí, Laura... Tudo bem? – A cumprimentei carinhosamente.

– Tudo ótimo, Luan! – Sorriu simpática.

– Fala aí, boi! – Tomei meu celular – Cuida da tua mulher.

– Tá sentindo a falta dela, né? – Perguntou rindo – Enquanto ela tá lá trabalho a essa hora.

– Que horas ela vai sair de lá, Laura? – Perguntei preocupado.

– Acho que quase meia noite. – Respondeu sentando no sofá.

– E ela vai pra casa sozinha?

– Não, o pessoal da agência vai deixar ela. – Sorriu me tranquilizando.

– Isso que é mulher pra casar. – Douglas bateu em meu ombro – Se liga, hem?

– Oi, oi, chegamos! – Bruna apareceu sorrindo com Dani ao seu lado – Olha quem veio te ver, pi!

– Oi, Dani! – A cumprimentei – Tudo bem?

– Tudo ótimo! – Sorriu simpática – E com você?

– Melhor agora. – Sorri.

Ela estava ainda mais linda desde a ultima vez que nos vimos, mas parecia um pouco mais tímida. Bruna apresentou Dani para Laura e elas se cumprimentaram simpáticas, enquanto Douglas já a conhecia desde a infância. Continuamos conversando animadamente, era bom tê-los ali comigo naquele dia, mesmo que eu sentisse profundamente a falta de Alice. Percebi que Laura parecia um pouco incomodada com a presença de Dani, não entendi no primeiro momento, mas depois lembrei que ela pode ter visto os vídeos que Bruna fez quando estávamos em Campo Grande. Testa chegou me avisando que estava na hora de subir, então tomei mais uma água, me despedi de todos e segui para o palco. O show mais uma vez foi incrível, nada poderia me trazer mais felicidade do que ver os olhos dos meus fãs brilharem de admiração e amor por mim. Era um amor recíproco, puro, que me faz ser quem eu verdadeiramente sou. Era ali o meu lugar, sempre seria, porque era exatamente naquele palco que eu encontrava a paz que minha alma tanto precisava. Em um momento do show onde eu cantava as músicas de alguns cantores, hoje decidi cantar uma música do meu irmão Cristiano Araújo. Sentei em um banco, peguei o violão e comecei a falar no microfone palavras que eu torcia para que chegassem ao coração da minha menina.

– Hoje eu quero cantar essa música especial, para uma pessoa especial. – Ouvi os gritos da galera – Se você está apaixonado, canta assim para aquela pessoa.

“Será que alguém explica a nossa relação
Um caso indefinido, mas rola paixão
Adoro esse perigo, mexe demais comigo
Mas não te tenho em minhas mãos
Se você quiser, podemos ser um caso indefinido
Ou nada mais
Apenas bons amigos, namorar, casar, ter filhos
Passar a vida inteira juntos

E vai saber se um dia seremos nós
Nenhum beijo pra calar nossa voz
Um minuto, uma hora, não importa o tempo
Se estamos sós

Se você quiser, a gente casa ou namora
A gente fica ou enrola
O que eu mais quero é que você me queira

Se você quiser, a gente casa ou namora
A gente fica ou enrola
O que eu mais quero é que você me queira
Por um momento ou pra vida inteira!”

Repete assim comigo se você está na mesma situação... – Fechei meus olhos – O que eu mais quero é que você me queira, por um momento ou pra vida inteira.

E todos bateram palmas, gritaram, me emocionaram e encerrei aquela noite da maneira mais linda que eu encontrei. Sai daquele palco realizado, feliz, grato por tudo e por todos ali presente. Voltei para o camarim, atendi mais alguns contratantes, amigos e o Testa me avisou que o pessoal estava organizando da gente ir para uma casa de shows ali próximo e aproveitar a noite. Por um lado eu queria dizer não e ir pra casa, mas por outro eu queria aproveitar com meus amigos. Convidei Douglas e Laura para irem com a gente, no começo ela não queria ir, mas ele a convenceu e fomos todos. Bruna convidou Dani para ir com a gente e prontamente ela aceitou, deixando Laura ainda mais desconfortável. Depois de alguns minutos tentando sair do local do show, enfim conseguimos seguir para a casa de shows onde uma dupla se apresentaria para os convidados. Ao chegarmos lá, percebi que tinha um pessoal da imprensa, mas não poderiam entrar, apenas tentamos desviar deles na entrada e estaríamos em paz, pelo menos era isso que eu achava. Todos nos instalamos em um camarote próximo ao palco, pedi uma água pra mim, pois minha intenção não era beber muito naquela noite. Cumprimentei mais alguns amigos, tirei foto com três ou quatro pessoa e comecei a aproveitar com Douglas e Laura que estavam ao meu lado. Depois de alguns minutos ali conversando com eles, fui ao bar buscar uma bebida, reencontrei mais alguns amigos e me animei mais um pouco. As horas estavam passando, quando voltei para o camarote, vi que Bruna e Dani estavam bem alegres. Bebi mais algumas batidas, até que experimentei a bebida que elas tinham nas mãos e que porra forte era aquela.

– Bruna, você tá bebendo isso? – Perguntei a olhando.

– O que é que tem?

– Você sabe que isso é forte... – Tentei falar, mas ela se virou tomando o copo da minha mão e saindo.

Depois de alguns minutos eu já estava pra lá do céu, minha tentativa de não beber naquela noite, falhou bonito. Eu já estava vendo tudo meio embaraçado, tomei mais alguns copos da mesma bebida forte que para a minha sorte, Bruna bebeu apenas um copo. Eu estava lúcido, minha cabeça rodava, mas pelo menos eu aguentava ficar de pé caso fosse preciso. Voltei para perto de Douglas e Laura, eles pareciam se divertir bastante, mas ao mesmo tempo Laura tinha uma semblante preocupado.

– Não acha que tá na hora de parar não, boi? – Douglas tentou tirar o copo da minha mão.

– Mas eu acabei de começar. – Comecei a rir – Vamos relaxar, que eu ainda estou lúcido. – Falei sentindo a presença de alguém ao meu lado.

 – Dança essa comigo? – Dani pediu em meu ouvido – Por favorzinho!

– Claro, quero ver você aguentar. – Brinquei fazendo Laura nos olhar desconfiada.

Dani colou completamente nossos corpos, fazendo com que ficássemos bem próximos. Começamos a dançar uma música do Henrique e Juliano, que eu conhecia bem por já ter cantado ela em meus shows. Ela bebeu mais um pouco da sua bebida e me abraçou com seus braços ao redor do meu pescoço.

– Sabia que eu estava com muita saudade de você. – Falou carinhosa – Saudade da época em que estávamos juntos.

– Você sabe que a gente não pode fazer isso. – Tentei permanecer forte.

– Tem certeza que não? – Se afastou me olhando – Tem certeza que você não quer voltar aos velhos tempos? – Acariciou seu rosto no meu – Hem, Luan? – Mordeu meu lábio inferior – Eu sei bem o que você quer. – E sem esperar mais ela me beijou, um beijo extremamente quente, que me deixou sem reação naquele momento.

Eu não conseguia nem sequer raciocinar, quem dirá impedir que aquilo acontecesse daquela maneira. Depois que estávamos já sem fôlego, encerramos o beijo com alguns selinhos, mas aí aos poucos eu fui percebendo a besteira que eu tinha acabado de fazer. Olhei para o lado e Laura me olhava decepcionada, Douglas pegou sua mão e os dois saíram dali no mesmo momento.

– Como eu sou burro, idiota, mil vezes burro! – Olhei Dani que parecia assustada – Desculpa, Dani! – Sai dali sem nem esperar sua resposta.

Tentei encontrar Wellington no meio do pessoal, quando encontrei, apenas pedi a chave do carro a ele e avisei que eu estava indo pra casa. Passei por Bruna e ela percebeu que eu não estava bem, então correu atrás de mim e quando eu estava no estacionamento, ela apareceu entrando no carro.

– O que aconteceu, pi?

– Eu sou um idiota, Bruna!

– Por quê? – E antes que eu pensasse em falar, ela mesma percebeu a burrice que eu tinha feito – Você ficou com a Dani, não foi?

– E todo mundo viu... – Encostei minha cabeça no volante – Principalmente a Laura.

– A culpa é toda minha, eu não deveria ter chamado ela. – Tentou me acalmar – E agora?

– Agora a Alice vai saber de tudo. – A olhei apreensivo – O que eu planejava para dar tudo certo, agora vai dar tudo errado.

– Amanhã você vai lá conversar com ela, tenho certeza que ela vai entender.

– Entender? Como que ela vai entender um beijo que eu dei em outra na frente da prima dela?

– Você tá bêbado, Luan! – Fez careta – Me deixa dirigir, você é capaz de causar um acidente. – Sai do banco do motorista e deixei que ela dirigisse.

– Minha cabeça tá rodando. – Coloquei a cabeça pra fora da janela – Eu fiz a maior burrice de toda a minha vida agora.

– Quem mandou você beber? – E assim ela seguiu até em casa, me dando um carão atrás do outro.

Enquanto Bruna dirigia, percebi que um carro estava nos seguindo, tentei olhar para trás e Bruna disse que era Wellington. Depois de quase uma hora, chegamos ao condomínio comigo quase colocando meu rim pra fora. Entrei correndo até meu quarto, segui para o banheiro e tomei um banho demorado, era tudo o que eu precisava naquele momento. Quando voltei para o quarto, Bruna estava sentada na minha cama, com um remédio e um copo de água na mão.

– Toma, vai te fazer bem. – Me entregou o remédio.

– Obrigada, piroca! – Sentei ao seu lado.

– Pi, me responde uma coisa... – Procurou as palavras – O que você sente pela Dani?

– Sinto um carinho muito grande, mas não passa disso.

– E então por que você ficou com ela?

– Eu não sei, talvez pelo calor do momento, minha cabeça estava rodando.

– Ela ainda gosta muito de você.

– Ela é uma menina linda, foi e continua sendo uma pessoa importantíssima pra mim. – Tomei o remédio – Mas isso não significa que ainda teremos algo. – Ela me olhava compreensivoa – O que nós tivemos ficou lá atrás.

– Você está muito apaixonado por Alice, não é?

– Sim, mas acho que agora vai ser ainda mais difícil de fazer com que ela entenda isso.

– E a Camila, pi?

– Eu não quero falar sobre isso. – Levantei já sentindo minha cabeça latejar. – Assim que eu acordar, vou lá conversar com Alice.

– Tenho certeza que ela vai entender. – Beijou meu rosto – Descansa.

Bruna saiu, tomei mais uma pouco de água e deitei tentando dormir, isso se a minha consciência deixasse. Eu tinha certeza que seria difícil de Alice me perdoar depois da minha burrice, porque mesmo que não tivéssemos nada sério, mas estávamos juntos e isso bastava para ela me matar. Eu só queria tentar esquecer aquela noite, mas eu sabia que o pior ainda estava por vir. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

(Capítulo 33 – Completamente apaixonada)

Uma semana depois...

A semana passou rápido, mesmo com a correria do trabalho, tentei aproveitar o máximo de tempo com minha mãe e Benjamim. No final de semana eu e Laura levamos os dois para conhecer São Paulo, jantamos em um maravilhoso restaurante italiano e nos divertimos como nunca. Durante a semana eu tentei chegar um pouco mais cedo em casa, deixei alguns trabalhos pendentes para a próxima semana e Laura nem sequer colocou os pés na loja. Durante toda essa semana eu só consegui falar duas vezes com Luan, foram conversas rápidas, sem muita necessidade de palavras. Tínhamos combinado de que eu iria para seu show no sábado, mas Bruno me convocou para fazer um trabalho importante no mesmo dia. Depois que conversei com minha mãe, tudo se tornou um pouco mais claro dentro de mim, no dia seguinte pensei bastante em tudo o que estava acontecendo e me senti bem. Hoje era sexta-feira e depois de um dia corrido de trabalho, eu estava indo deixar mamãe e Ben no aeroporto, pois meu pai voltou antes pra casa e minha mãe decidiu voltar logo para não deixá-lo sozinho.

– Você vai se cuidar, amor? – Mamãe perguntou me abraçando.

– Vou sim, mãe. – A abracei mais forte – Não precisa se preocupar.

– Pense em tudo o que eu disse.

– Já está tudo aqui na minha cabecinha. – Sorri – Eu te amo, hem?

– Eu te amo ainda mais. – Me abraçou novamente.

– Volte quando quiser. – Abracei meu irmão – Eu vou tá sempre te esperando.

– Já estou com saudade de você.

– Volta no final do ano? Ou antes, se puder?

– Claro que eu volto. – Beijou meu rosto – Se cuida, tá?

– Você também.

Deixei os dois na sala de embarque, me despedi mais uma vez com um abraço apertado e voltei para o carro, tentando conter minhas lágrimas. Cheguei ao meu condomínio quase uma hora depois, subi sentindo meu corpo reclamar de cansaço e quando abri a porta, Laura estava deitada com Douglas no sofá.

– Boa noite, casal! – Entrei batendo a porta com cuidado – Tudo bem com vocês?

– Oi, prim! – Laura levantou a cabeça – Chorou muito?

– Um pouquinho. – Sentei no chão – Despedidas são sempre muito dolorosas.

– Isso é verdade. – Douglas completou me olhando.

– Por isso que eu não quis ir. – Se encolheu – Sempre odiei despedidas.

– Vocês já jantaram? – Perguntei seguindo até a cozinha.

– Estávamos esperando por você.

– Comida japonesa? – Olhei sem acreditar na fartura que tinha em cima da mesa.

– Gostou? Compramos pensando em você, cunhadinha! – Douglas sorriu animado.

– Por que vocês estão querendo me agradar desse jeito?

– Porque nós te amamos. – Laura beijou meu rosto – Vamos comer?

– Muito obrigada, gente!

Eu amava profundamente aquele casal, Laura por ser minha prima, Douglas por ser um amigo tão incrível. Eu não poderia imaginar pessoa melhor para essa irmã que Deus me presenteou desde que nasci. Começamos a jantar os três, rimos, conversamos e a todo o momento eles tentavam me distrair. Douglas era extremamente carinhoso com Laura, tinha um lado brincalhão que pouco eu conhecia, mas já amava muito.

– Você vai ao show do Luan amanhã, Alice?

– Infelizmente, não. – O olhei triste – Tenho que trabalhar.

– Sério? A gente vai, amor?

– Claro, vamos sim. – Concordou comendo – Tem certeza que não tem como você ir, Lili?

– Absoluta, amanhã não terei tempo nem pra respirar. – Choraminguei – Mas vocês se divirtam lá por mim, porque eu mesma vou me divertir trabalhando.

Tentei mudar completamente o rumo da conversa, pois eu nem sequer tinha conversado com Luan sobre eu ir trabalhar no sábado, mas também parecia não ter muita necessidade disso. Tentei esquecer um pouco aquele assunto e entramos em uma conversa boa sobre estrelas, séries e casamento. Depois de terminar nosso jantar, eles continuaram assistindo na sala e eu acabei indo me recolher, eu precisava estar disposta para o dia seguinte. Tomei um banho quente, vesti um pijama de ursinho e quando estava colocando meus fones de ouvido, senti meu celular vibrar, era ele mais uma vez.

– Alô! – Atendi calma.

– Já estava dormindo?

– Não, só estou deitada.

– Está com uma voz de cansaço. – Parecia preocupado. – Tá tudo bem?

– Hoje o dia foi corrido, depois do trabalho tive que ir deixar minha mãe no aeroporto. – Respirei fundo – Mas estou bem! E você?

– Com saudade. – Respondeu carinhoso – Vamos nos ver amanhã?

– Amanhã não vai dar. – Tentei relaxar na cama – Bruno me presenteou com um trabalho em pleno sábado.

– Sério? – Perguntou decepcionado – Então nada de encontro?

– Infelizmente não.

– Então a saudade vai ter que esperar?

– Sim, mas não por muito tempo. – Tentei tranquilizá-lo – Poderíamos nos ver próxima semana.

– Claro, eu darei um jeito nisso. – Respondeu agora mais animado.

– Minha mãe te deixou um beijo.

– Ah, ela é maravilhosa!

– Ela gostou muito de você. – Sorri – Parecia que ela já te conhecia.

– Poderíamos um dia marcar um jantar com nossos pais. – Mais uma vez ele me surpreendeu – Tenho certeza que eles se dariam muito bem.

– Claro, vamos nos lembrar disso mais para frente.

– A propósito, minha mãe perguntou por você.

– Sério? – Perguntei surpresa – Mande um beijo pra ela.

– Perguntou quando iria te ver novamente.

– Eu quero muito vê-la novamente.

– Podemos ver isso para logo. – Falou calmo – Mas não vai fazer muita diferença.

– Como assim? – Perguntei confusa.

– Não quero que você saia da minha vida. – Respondeu – Então, ainda teremos bastante tempo para promover outros infinitos encontros entre vocês.

– Por que você diz isso? Você não imagina que eu posso ser só um momento?

– Desde o primeiro momento em que eu te vi, eu sabia que você não seria só um momento.

– Você me surpreende a cada dia, sabia?

– Talvez seja porque você não acredita em mim quando eu digo que você é importante.
 
– Claro que eu acredito!

– Mas sempre com um pé atrás, não é mesmo? – Perguntou sério.

– Desculpa se eu te passo isso, mas eu acredito muito no que está acontecendo entre nós dois. – Respondi calma – Mesmo que tudo seja incerto, mas eu confio em você.

– É algo incerto para nós dois?

– Você acha que não?

– Eu acho que pode ser para as pessoas que estão fora. – Ouvi sua respiração tranquila – Mas eu não acredito que seja para nós dois.

– Se você está falando isso, eu acredito.

– Sabe o que eu acho?

– Não, o que?

– Acho que está na hora da gente sentar pra conversar. – Senti meu corpo arrepiar inteiro – Está na hora de sermos sinceros um com o outro.

– O que você quer dizer com isso?

– Quero dizer que durante esses três meses as coisas mudaram dentro de mim, que você bagunçou minha vida completamente. – Fechei meus olhos – Que nada pode ser como era antes.

– As coisas mudaram para melhor? – Perguntei sentindo meu corpo arrepiar ainda mais.

– Sim, elas mudaram para melhor desde que você chegou.

– Eu sou completamente apaixonada por você, Luan! – Falei sem nem ao menos sentir – Você está me ouvindo? – Perguntei quando ele silenciou.

– Era tudo o que eu queria ouvir nesse momento. – Respondeu – Você sabe que o que eu sinto por você é muito forte.

– Sim, eu sei.

– Eu não consigo parar de pensar em você, nem um minuto sequer. – Sorri ouvindo sua voz doce – Eu queria que tudo fosse mais fácil pra gente, mas a minha vida é essa loucura que você está vendo.

– Eu entendo o que você enfrenta durante seus dias corridos.

– Meu amor, eu não quero que você enfrente tudo isso.

– Eu já enfrento desde o dia em que te conheci. – Respondi sincera – Não é fácil ficar longe de você.

– Nós daremos um jeito nisso, tá?

– Tá bom.

– Essa semana eu vou te ver.

– Eu vou te esperar.

– Agora você precisa descansar, porque sua voz claramente tá me falando isso. – Sorri com sua preocupação – Cuida de você pra mim?

– Cuido, pode deixar. – Respondi sentindo meu corpo reclamar novamente – Cuide-se você também.

– Amanhã te ligo antes do show.

– Tá, beijos!

– Beijos, meu bem!

E assim nós encerramos a ligação mais apaixonante de toda a minha vida, aquela que me deixou um gostinho de saudade e profundo amor. Eu estava me sentindo tão mais aliviada, meu coração parecia mais tranquilo e compreensivo com tudo o que estava acontecendo. As coisas pareciam melhor entre nós dois, fazendo minha alma estar em paz, assim como meu sorriso mais iluminado. Eu não sabia o que Luan pretendia com aquela conversa, mas se fosse bom pra gente, eu aceitaria sem pensar duas vezes.

“Uma vez me falaram que amar é se jogar de um precipício sem saber se lá embaixo vai ter alguém para segurar a gente. Foi a melhor definição de amor que já ouvi. Eu, que escrevo tanto e leio tanta gente que fala dessas coisas que damos o nome de sentimento, nunca tinha escutado nada tão verdadeiro. Amar é isso mesmo. É se jogar e não saber. É se entregar sem ter certeza. Aos poucos, buscamos a certeza do amor. Porque o amor para ser amor precisa de certezas. A certeza do encontro, a certeza da continuidade, a certeza da presença, a certeza da verdade.” 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

(Capítulo 32 – Confusão interior)

Depois de umas das noites mais inesquecíveis da minha vida, tomei um banho demorado ao lado de Luan e logo estávamos deitados novamente. Eu não queria que aquela noite sumisse da minha memória, mas eu queria que ela se eternizasse também em meu coração. Luan é extremamente carinhoso, respeitador, faz com que eu me sinta segura estando ao seu lado. Ele afasta de mim todos os medos, as dúvidas, os pensamentos de tristeza e angustia que de vez em quando insistem em fazer morada dentro de mim. Luan me causava algo bom, uma sensação de paz, uma vontade de continuar lutando por minha felicidade. Enquanto ele fazia carinho em meus cabelos, me aconcheguei ainda mais em seus braços e procurei meu celular.

– O que tá fazendo? – Perguntou calmo.

– Colocando meu celular para despertar.

– Você tem mesmo que ir trabalhar amanhã?

– Claro que sim. – Beijei seu rosto – Vou tentar descansar um pouco.

– Já são mais de 3h. – Me abraçou ainda mais forte – Não vai conseguir descansar quase nada.

– E a culpa é toda sua. – Choraminguei – Eu não queria ter que ir, mas vai ser o jeito.

– Então dorme. – Coloquei meu braço sobre seu pescoço – Eu estou aqui.

E assim eu consegui dormir, sentindo aquele maravilhoso perfume, além de seus carinhos que me faziam flutuar. Eu estava longe, parecia que algo divino me cercasse de uma maneira que fazia tudo se tornar mais lindo e iluminado. Eu queria continuar ali, porque encontrava uma paz que eu sabia que nada poderá um dia me proporcionar. Acordei com meu celular tocando desesperadamente, era a minha realidade me chamando. Luan se mexeu meio que incomodado, tirei do despertador e levantei com calma para não acordar o meu menino. Enquanto eu tomava um banho demorado, imagens da nossa noite passeavam por minha mente. Um sorriso lindo brotava em meu rosto e de imediato comecei a sentir aquela sensação boa de proteção e carinho. Após o banho, peguei minha bolsa ao lado da cama e comecei a me arrumar, tentando não fazer muito barulho. Quando eu já estava pronta, fui obrigada a acordar Luan para que ele pudesse ir me deixar na agência.

– Luan? – Chamei baixinho – Benzinho? – Realmente não seria fácil – Você pode acordar, por favor? – Ele se mexeu tentando abrir os olhos – Acordou?

– Tem certeza que precisa ir? – Perguntou com dificuldade.

– Sim, eu preciso. – Beijei seu rosto – Você pode me ajudar? – Ele sentou na cama meio atordoado, parecia lutar contra o sono – Desculpa eu ter que te acorda a essa hora.

– Não tem problema. – Respirou fundo – Eu vou ao banheiro. – Levantou com um mau humor terrível me fazendo rir.

Esperei que Luan terminasse de tomar seu banho, enquanto isso eu aproveitei para apanhar nossas roupas que estavam todas no chão. Também arrumei a cama que estava extremamente bagunçada, me fazendo rir e lembrar a noite passada.

– Amorrrrrr. – Gritou do banheiro com aquele sotaque que eu tanto amo. – Pega uma camisa pra mim aí no closet?

– Qualquer uma? – Perguntei seguindo até o closet.

– Sim, qualquer uma. – Peguei uma vermelha que eu amava.

– Aqui, meu bem! – O entreguei – Não demora, hem?

– Estou saindo.

Não demorou muito e Luan já estava pronto, pegamos minhas coisas, ele buscou seu celular e descemos juntos. Não queria ter que me despedir daquela casa linda, mas era preciso naquele momento e seguimos para o nosso destino. Luan dirigia concentrado, enquanto meu sono já me consumia de uma maneira inexplicável. Encostei minha cabeça no banco e fechei meus olhos, tentando descansar o máximo que eu conseguia.

– Está com muito sono? – Ele perguntou. 

– Um pouquinho. – O olhei – Mas daqui a pouco passa. – Fiz carinho em seu cabelo – Quando vamos nos ver novamente?

– De amanhã até terça-feira eu tenho shows no Nordeste. – Respondeu calmo – E na próxima semana tenho gravação de alguns programas no Rio.

– Entendi.

– Sábado tem show aqui. – Me olhou – Você poderia ir.

– Vou ver o que eu posso fazer. – Ele não disse mais nada, apenas continuou dirigindo.

Durante todo o trajeto, Luan continuou calado, sem nem ao menos dizer uma palavra sobre absolutamente nada. Senti meu coração doer, como se algo estivesse acontecendo entre nós dois e eu não ter capacidade de compreender. Queria acabar com aquele clima, queria poder colocar uma música ou simplesmente começar uma conversa, mas não me senti confortável. Várias coisas começaram a passar por minha cabeça, mas logo tentei afastar aqueles pensamentos e fechei meus olhos tentando controlar meu coração. Logo Luan estacionou o carro na frente da agência, me olhou com uma carinha de sono e eu peguei minhas coisas no banco de trás. O olhei, mas ele continuou calado, então quando eu estava abrindo a porta, ele me impediu e me abraçou logo em seguida.

– Eu vou sentir sua falta. – Sussurrou em meu ouvido.

– Eu também vou sentir sua falta.

– Eu vou te ligar. – Acariciou meu rosto – Cuida de você pra mim?

– Cuido. – O abracei com todas as minhas forças.

E então com um beijo ele se despediu de mim, deixando comigo toda a saudade que sua ausência me causava. Aquele dia passou se arrastando, os minutos pareciam horas e eu não aguentava mais ficar ali. A todo o momento eu pensava em Luan, em tudo o que estava acontecendo entre nós e me preocupava bastante com aquela situação. Eu estava com muito sono, meu corpo estava doendo e meu coração parecia cada vez mais apertado. Eu estava sufocada, precisava de um tempo pra mim ou caso contrário, eu iria enlouquecer. Quando meu experiente acabou, me despedi de todos, peguei um táxi e segui para a minha casa. Minha cabeça estava rodando, eu estava sentindo um mal estar insuportável e uma vontade enorme de dormir até que tudo passe. Depois de alguns minutos de trânsito, cheguei ao meu condomínio e cumprimentei seu Pedro que estava sorridente. Subi rapidamente, peguei minha chave na bolsa e abri a porta, dando de cara com Laura e mamãe sentadas na sala.

– Oi, boa noite! – Falei com um meio sorriso.

– Oi, filha! – Fui até ela – Tá tudo bem?

– Está sim. – Beijei seu rosto – Só estou exausta. – Dei um beijo em Laura. – Cadê o Ben?

– Está no quarto falando com um amigo no telefone.

– Eu vou tomar um banho, com licença. – Segui em direção ao meu quarto.

Quando entrei no meu quarto a primeira coisa que fiz foi tirar minhas sandálias, guardei minhas coisas e segui para o banheiro, tudo o que eu mais precisava nesse momento era de um banho bem demorado. Assim que sai do banheiro, vesti um pijama confortável e sentei na cama com a toalha na mão.

– Posso entrar? – Mamãe perguntou batendo na porta.

– Claro que pode. – Sorri a olhando – Seca meu cabelo? – Pedi e ela sorriu pegando a toalha de minha mão.

– Quer conversar? – Ela perguntou carinhosa. – Silenciei por alguns segundos e compreendi que nada eu poderia esconder dela.

– Quero. – Falei com a voz embargada pelo choro.

– Então vamos conversar. – Sentei de frente para ela e tentei falar.

– Sabe quando você sente que tudo não passa de uma ilusão? Quando nada é certo e aquilo se torna algo extremamente confuso dentro de você. – Respirei fundo – Quando naquele momento parece te pertencer, mas minutos depois já não pertence mais e o medo de perder acaba se tornando mais forte que qualquer outra coisa.

– Você está falando de Luan, não é mesmo? – Perguntou calma.

– Sim... – Senti uma lágrima escorrer sobre meu rosto – Eu não sei o que fazer. 

– O que aconteceu? 

– Tem quase três meses que nos conhecemos, mas parece que passou um ano desde que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. – Senti meu coração apertado – É tudo tão intenso, sabe? Desde o primeiro momento, nada pareceu completamente normal.

– Você me falou da impressão de que já se conheciam. – Ela me olhou compreensiva. 

– Eu tenho sempre essa mesma sensação, eu não consigo entender o porquê de tudo isso está acontecendo comigo.

– E o que te deixa tão agoniada dessa maneira, filha?

– A certeza que me consome de que ele nunca será meu. – Mais uma lágrima caiu – Eu sabia que seria assim, eu tinha certeza, mas mesmo assim eu me atropelei e segui em frente. – Enxuguei meu rosto – Mesmo sabendo que nada seria de fato concreto, mas mesmo assim eu quis me iludir.

– E você tem medo?

– Sim, eu tenho medo dele cansar de tudo isso e sumir da minha vida. – Falei com toda a sinceridade do meu coração – Tenho medo desse incerto que nos rodeia, sabe? Medo dele encontrar alguém melhor e simplesmente partir. – Senti um arrepio – Assim como Vicente. – Me permiti chorar – Eu não quero que isso aconteça. – E então mamãe me abraçou fazendo carinho em meu cabelo. – Por que ele tinha que aparecer na minha vida?  Logo quando eu estava tentando organizar, ele vem e muda completamente tudo.

– A gente não pode mudar as coisas de Deus, Alice!

– Ele tem algo que me prende. – Quanto mais eu tentava compreender as coisas, mas confusas elas ficavam – Porque não é possível, existe algo nele que já me pertencia antes de nos conhecermos.

– Por isso toda essa ligação?

– Sim, por isso eu me sinto tão dependente disso. – A olhei – A senhora acha que eu estou ficando louca?

– Você quer saber o que eu acho? – Apenas concordei com a cabeça – Eu acho que você amou tanto Vicente, que imaginou que isso jamais poderia acontecer novamente. – Falou natural – Mas acontece que agora você está amando profundamente outra pessoa e simplesmente não quer aceitar isso.

– Mas, mãe. – Ela me interrompeu.  

– É por isso que você se sente tão confusa. – Segurou minha mão – Você se sente insegura, não consegue focar naquilo que você quer.

– Verdade... – Tentei falar.

– Qualquer pessoa consegue ver a importância que você tem para Luan. – Enxugou minhas lágrimas – Se permita ir além, minha filha.

– Como, mãe?

– Sossegue o seu coração, seja sincera com Luan. – Ela beijou meu rosto – E outra coisa eu preciso te falar. 

– O que? 

– Para de ficar achando que Luan e Vicente são a mesma pessoa. – Falou séria – Eles são completamente diferentes, pode existir algumas comparações, mas não são iguais. 

– Por que está falando isso, mãe? 

– Porque você precisa esquecer Vicente, precisa sair desse buraco emocional onde você se encontra. – Me olhou ainda séria – Vicente estará em paz quando você colocar uma pedra nisso tudo e se permitir viver sua vida com outra pessoa. 

– Tenho medo de todo esse sentimento que sinto por Luan. – O meu coração parecia esmagado – Tenho medo de me magoar. 

– Não fique pensando nisso, meu amor. – Segurou novamente minha mão – Onde você colocou toda a sua coragem? Você não era essa menina medrosa e fraca que está aqui na minha frente. 

– Acho que ela ainda continua aqui. 

– Então a coloque pra fora e enfrente seus medos. 

– Eu vou fazer isso.

– Você está se sentindo melhor?

– Como nunca me senti antes. – A abracei – Obrigada, tá?

– Agora vá descansar, porque você está muito cansada. – Apenas concordei com a cabeça – Quer jantar alguma coisa?

– Quero um copo de chocolate quente.

– Eu vou fazer.

E assim ela saiu do quarto, mas me deixando uma coragem que eu até desconhecia existir dentro de mim. Respirei fundo e por um momento senti como se um peso tivesse sido retirado das minhas costas. Peguei meu celular e fiz exatamente o que meu coração suplicava, disquei o número de Luan e esperei que ele me atendesse.

– Alô! – Atendeu animado.

– Tudo bem?

– Tudo, meu amor. – Ouvi barulho de música alta.

– Tá em casa?

– Sim, estamos fazendo um churrasco aqui.

– Então eu vou deixar você aproveitar o seu churrasco.

– Espera. – Pareceu se afastar do barulho – Você tá bem? – Senti meus olhos se encherem de lágrimas nesse momento – Hem, Alice?

– Estou... – Tentei falar – Só te liguei pra desejar uma boa noite.

– Você não quer vir pra cá? Eu vou te buscar.

– Não, eu estou muito cansada.

– Tudo bem. – Respirou fundo – Cuide-se, hem?

– Luan. – O chamei.

– O que foi?

– Você sabe o quanto é importante pra mim, não sabe?

– Importante quanto?

– Muito.

– Você é bem mais pra mim. – Falou carinhoso. – Tem certeza que não quer que eu vá te buscar?

– Tenho, eu só preciso descasar agora. – Respirei fundo – Eu só queria que soubesse disso.

– Eu jamais vou esquecer.

– Se cuida, meu bem!

– Você também. – Quase sussurrou – Beijo.

– Beijo, boa noite!

Senti um alivio se instalar em meu coração, consegui sorrir e me sentir completa e bem dessa vez. Coloquei meu celular na cama, segui até a cozinha e tomei o chocolate quente que minha mãe tinha preparado. Depois fui até o quarto de Benjamim, onde ele assistia concentrado a um filme de ação que passava na TV.

– Posso entrar?

– Claro, entra aí. – Deitei ao seu lado na cama.

– Filme de ação? – Ele apenas me olhou e concordou com a cabeça.

Eu me sentia bem em estar ao lado de Benjamim, nós tínhamos uma diferença pouca de idade e sempre fizemos tudo juntos. Ele sempre foi esse irmão protetor, ciumento, mas que me ama profundamente ao ponto de enfrentar qualquer coisa por mim. Eu o amava como amava a minha própria vida e jamais me imaginei distante do ser humano incrível que ele sempre foi desde que eu nasci. Eu me sentia desprotegida sem os cuidados de Ben, mesmo que por várias vezes eles fossem sufocantes, mas era algo que vinha unicamente dele. Acabei pegando no sono ali mesmo, ao lado do meu herói, de um dos homens mais importantes da minha vida.