(Capítulo 14 – Você não sai da minha cabeça)

A semana se foi deixando aquela sensação de dever cumprido, um gostinho de realização e felicidade plena. Sábado chegou com um ar de coisas boas, acordei cedo e acompanhei Laura até o shopping para que pudéssemos comprar o presente de Rafa. Pensamos em comprar um boné e um relógio, eram duas coisas que ele amava profundamente, mas nossa indecisão era maior que qualquer coisa.

– Lili, o que você acha desse? – Me mostrou um relógio lindo.

– Maravilhoso, mas eu prefiro esse aqui.

– Pelo amor de Deus, eu vou levar os dois.

– Vamos comer logo? Eu não consigo pensar quando estou com fome. – Reclamei – Eu só quero comer alguma coisa antes de decidir.

– Você só pensa em comida. – Revirou os olhos. – Vamos logo. – Bati palminhas enquanto caminhávamos até a praça de alimentação.

– Douglas vai ao aniversário do Rafa? – Perguntei enquanto comia.

– Vai sim. – Tomou um pouco do seu suco – E Luan? Será que ele vai?

– Eu não sei... – Antes de eu terminar de falar, meu celular tocou – Vou saber agora. – Sorri atendendo o celular. – Oi, bom dia! – Atendi animada.  

– Bom dia, princesa! – Sua voz era de sono.

– Acordou agora?

– Quase nesse minuto. – Respirou fundo – Acordei pensando em você e quis ligar. – Sorri com sua confissão.

– Você é um galanteador.

– E você não acredita em mim, não é mesmo?

– É melhor mudarmos de assunto. – Laura me olhava sorridente. – Queria te perguntar uma coisa.

– Pergunte. – Falou calmo.

– Você vai ao aniversário do Rafa?

– É hoje? Caramba, eu não lembrava.

– Sim, hoje mesmo.

– Eu tenho show... – Silenciou por alguns segundos – Mas farei o possível pra ir após o show.

– Você estará exausto. – Falei preocupada. – Amanhã terá show também?

– Sim, mas amanhã é aí mesmo em São Paulo.

– Entendi. – Minha vontade era de que ele estivesse aqui.

– Eu te aviso caso eu consiga ir.

– Tá bom. – Falei tomando o restante do meu suco.

– Tá com saudade?

– Estou. – Respondi rápido o surpreendendo.

– É bom saber disso. – Ouvi sua risada gostosa – Onde você está?

– No shopping com a Laura, estamos comprando o presente do Rafa.

– Meu bem, tenho que ir tomar um banho e me arrumar. – Falou rindo, parecia estar com alguém. – Tenho uma entrevista agora.

– Tudo bem. – Comi uma batatinha. 

– Te aviso caso eu consiga ir, tá? Cuida-se.

– Tá certo, beijo.

– Beijo.

(Fim da ligação)

– Tudo bem? – Laura perguntou.

– Sim.

– Ele vai?

– Ele disse que tem show hoje, mas que fará o possível para ir.

Terminamos de comer, olhamos algumas lojas e finalmente conseguimos escolher um relógio maravilhoso para dar de presente ao nosso amigo. Acabamos almoçando por ali mesmo, já que aproveitamos para ir ao cabeleireiro, fizemos nossas unhas, uma hidratação no cabelo e voltamos lindas pra casa. Já estava anoitecendo quando chegamos em casa e começamos a nos arrumar com um pouco de pressa. Depois de tomar um banho demorado, decidi usar o vestido lindo que eu tinha comprado na minha viagem para o Rio, deixei meu cabelo solto e fiz uma maquiagem marcante. 

Laura chegou apressada ao meu quarto, ajudei terminar sua maquiagem e em menos de 30 minutos estávamos prontas para nossa noite. Pegamos celulares, remédios, as chaves do apartamento e seguimos para o estacionamento, onde um táxi já nos esperava. Foram cerca de 50 minutos até chegarmos ao local do evento, fomos recepcionadas maravilhosamente bem por uma das funcionárias da casa de shows e ela nos encaminhou até o camarote que estava reservado para os amigos de Rafa. Ao chegarmos até o camarote, nos deparamos com uns amigos que não encontrávamos há muito tempo. Logo depois chegaram Marquinhos, Douglas, alguns outros famosos e umas amigas de Rafa, todos sempre muito simpáticos. Enquanto Laura se derretia com Douglas ao seu lado, aproveitei para ir ao banheiro.

– Eu não acredito. – Uma moça reclamava ao meu lado – Como é que eu fui esquecer isso?

– Oi, moça? – Ela me olhou assustada – Você tá precisando de ajuda?

– Ah, não...  – Sorriu amarelo – Obrigada!

– Tudo bem. – Tirei meu batom da bolsa.

– Desculpa, por um acaso você teria um protetor na sua bolsa? – Perguntou um pouco agoniada.

– Tenho sim. – Abri a bolsa novamente e tirei o protetor – Aqui.

– Aí meu Deus, muito obrigada. – Agradeceu seguindo para uma das cabines do banheiro.

– Por nada. – Sorri retocando meu batom.

– Você salvou minha vida. – Falou assim que saiu da cabine – Muito obrigada.

– Imagina. – Sorri simpática – Esses acidentes sempre acontecem comigo também.

– Eu nunca fui desligada desse jeito, mas logo hoje eu fui esquecer.

– É completamente normal. – A acalmei.

– Mas deixa eu me apresentar... – Estendeu sua mão – Bruna.

– Prazer, Bruna! – Apertei sua mão – Alice.

– Muito prazer, Alice! – Sorriu lindamente – Você é convidada do Rafa?

– Sou sim, estou no camarote com uns amigos.

– Sério? Eu acabei de chegar com meu namorado. – Por um momento ela me pareceu muito familiar. – Estamos indo pra lá também. – Sorriu – Você está subindo? Eu te acompanho.

– Claro, vamos.

Quando chegamos ao camarote, Bruna me apresentou seu namorado, que fazia parte de uma dupla sertaneja com seu irmão gêmeo. Conheci também alguns outros amigos de Bruna, que automaticamente alguns deles eram amigos de Luan, o que me fez estranhar bastante. Nunca me senti tão confortável ao lado de pessoas “estranhas” como me sinto estando com eles. Douglas também apresentou Laura para todos, ela amou cada um e também se sentiu muito bem ao lado de todos. Passei um bom tempo conversando com Bruna, que se mostrou uma pessoa encantadora e o melhor de tudo é ver que temos tantas coisas em comum. Mas só foram necessários alguns minutos de conversa, para descobrir que Bruna é irmã de Luan. Fiquei sem reação ao descobrir que a irmã de quem Luan falou tanto no nosso ultimo encontro, estava bem ali, ao meu lado. Senti uma vontade enorme de contar a ela sobre meu “rolo” com seu irmão, contar sobre tudo o que ele me confidenciou sobre ela, mas preferi não fazer isso e continuar sendo apenas a sua “mais nova amiga”. Quando voltei do bar, vi que Laura estava sozinha e decidi ir até ela.

– Cadê seu amorzinho? – Perguntei colocando meu braço sobre seu ombro.

– Foi ao banheiro. – Sorriu – Onde você estava?

– Estava conversando com Bruna. – A olhei – Laura, você não vai acreditar.

– O que foi?

– Ela é irmã de Luan. – Falei como se aquilo fosse um segredo.

– O que? Como assim?

– A gente se conheceu no banheiro, aí agora ela me solta essa.

– Mas ela sabe quem você é?

– Com certeza não, porque não comentou nada.

– E você não disse nada?

– O que você queria que eu dissesse? “Eu pego o seu irmão de vez em quando.” – Fiz aspas no ar.

– É mais ou menos isso. – Gargalhou me olhando.

– Você é ridícula. 

– E cadê ele, não vem?

– Eu acredito que não. – Olhei meu celular – Ele deve estar cansado.

– Mas olha pelo lado bom.

– Que lado bom? – Perguntei sem entender.

– Pelo menos você conheceu sua cunhadinha. – Falou naturalmente e eu não me aguentei.

– Laura, pelo amor de Deus. – Começamos a rir desesperadamente.

– Do que as princesas estão rindo? – Douglas chegou com duas bebidas.

– De coisas que só a gente entende. – Deu um selinho nele.

– Aí que amorzinho esse casal. – Apertei as bochechas dos dois.

Passei um tempinho ali com eles até que Rafa chegou no camarote, todos bateram parabéns para ele, o que o fez se emocionar com tanto carinho. Ele era uma pessoa incrível, com um coração gigante e tinha o dom de conquistar as pessoas com um simples sorriso. Ele agradeceu a todos os amigos ali presentes, disse que estava muito feliz e disso não tínhamos dúvidas. Senti a falta de Luan ali comigo, de seu cheiro, da sua voz e até de suas piadas completamente sem graça. Já se passavam das 2hs da madrugada e com certeza ele não viria mais, o que me causou um grande desânimo. Afastei-me um pouco de todo mundo e fiquei na grade, enquanto uma dupla cantava para animar a galera.

– Oi, aceita uma bebida? – Virei rapidamente e dei de cara com Caio Cesar, com quem fazia uma dupla com o namorado de Bruna.

– Oi, obrigada! – Sorri simpática.

– Por que está sozinha? Seu namorado não está aqui? – Falou se aproximando por conta do barulho.

– Eu não tenho namorado. – Tomei um pouco da bebida que ele me trouxe – Só estou ouvindo um pouco de música aqui.

– Então eu posso te fazer companhia? – Sorriu encostando-se na grade e por um momento reparei o quanto ele era bonito. 

– Claro. – Sorri voltando a olhar a dupla que cantava.

Caio além de lindo tinha uma conversa muito boa, em poucos minutos ele me divertiu muito, o que fazia eu me encantar de cara com a pessoa. Porém falta alguma coisa, algo que não conseguia ser preenchido nem por toda a beleza do mundo, nem muito menos por uma conversa boa. Passamos quase 40 minutos conversando, até que percebi que Caio queria muito mais que uma simples conversa. Em outros tempos eu não faria questão de ficar com alguém tão bacana como ele, mas hoje as coisas aqui dentro são diferentes, meu coração não permitiria isso. Ele começou a se aproximar demais, senti sua respiração e seu cheiro era muito bom, mas eu não poderia deixar que isso acontecesse.

– Caio. – Me afastei um pouco – Desculpa, mas eu não posso fazer isso.

– Por que não? – Perguntou sem entender.

– Não é nada pessoal, mas é que eu tenho uma pessoa muito importante pra mim.

– Ah, entendi. – Se afastou sem jeito.

– Não fica chateado comigo? Você é incrível, mas eu realmente não posso fazer isso.

– Que é isso, Alice. – Tomou o restante da sua bebida – Eu jamais poderia ficar chateado com você.

– Obrigada, mesmo. – Sorri agradecida e quando olhei para o lado, meus olhos cruzaram os de Luan que nos observava de longe.

 – Então, eu acho que vou no bar. – Caio falou tomando minha atenção – Você quer beber mais alguma coisa?

– Uma água. – Olhei Luan novamente e ele estava cumprimentando os amigos.

– Tá bom. – Apenas me deu um beijo no rosto e seguiu para o bar.

Luan cumprimentou quase todos ali presente, se aproximou de Laura e Douglas e ficou conversando um pouco com eles. Encostei-me na grade de frente para o palco, peguei meu celular na bolsa enquanto a dupla começava a cantar a música “pergunta boba” de Jorge e Mateus. Eu amava muito aquela música, amava a melodia e a letra fazia todo o sentindo para a minha vida. Eu estava presa em meus pensamentos, até que senti aquele cheiro inconfundível se aproximar de mim, com uma delicadeza que só pertencia unicamente a ele, segurou minha cintura e cantou um trecho da música no meu ouvido.

“Você com esse cabelo preto, sorriso sem jeito, foi chegando perto, chegou perto demais. Três ou quatro dias tava tudo tão perfeito e os meus problemas eu já nem me lembrava mais.”

Sorri ao ouvir sua voz tão doce cantando pra mim, ele me virou para que ficássemos frente a frente e continuou, conforme a dupla cantava. “Quem sabe ainda é tempo, pode ser a qualquer hora, me chama em pensamento, cê sabe eu vou agora.”

– Por que você demorou tanto? – Perguntei com nossos rostos colados.

– Você parecia estar se divertindo com o Caio. – Falou calmo – Não estava? – Me afastei o olhando.

– Nós só estávamos conversando.

– Não era só isso que ele queria.

– Mas e o que eu queria? Não vale de nada?

– Você não queria nada com ele? – Perguntou colocando meus cabelos atrás dos ombros.

– Não. – Fui sincera.

– E por que não?

– Porque quem eu queria mesmo não estava aqui. – Falei o olhando nos olhos. 

– Vamos sair daqui. – Segurou minha mão e me levou para um lugar mais reservado. – Eu já estava morrendo de saudade de você. – Me encostou na parede com todo cuidado – Por que você não sai da minha cabeça, Alice? 

– Eu queria te fazer a mesma pergunta. – Acariciei sua nuca.

E então nossos lábios se uniram em um beijo quente, cheio de saudade e desejo. Ele segurava minha cintura com firmeza, enquanto minhas mãos faziam um carinho bom em sua nuca e cabelo. Que a vida me perdoasse se eu estava permitindo que as coisas fossem longe demais, mas tudo aquilo era tão real pra mim, que eu não deixaria que tudo passasse despercebido. Era ele quem eu queria comigo, por um dia, uma noite ou para sempre, mas sempre seria ele. Independente dos meus pensamentos loucos de achar que eu posso estar me iludindo com algo que só minha mente construiu, mas eu queria viver o tempo que me fosse permitido ao lado dele.