sexta-feira, 31 de março de 2017

(Capítulo 02 – O recomeço)

Dois anos depois...

– Pai? O senhor pode olhar pra mim? – Pedi sentando ao seu lado – Olha pra mim.

– O que você quer Alice? – Perguntou grosseiro – Vá embora!

– Ir embora e deixar o senhor assim? Não quero que fique chateado. – Segurei sua mão.

– Chateado? Eu estou vendo minha filha ir embora, desperdiçando sua vida por uma loucura. – Olhou-me com raiva – E como você quer que eu me sinta, Alice?

– Que exagero pai. – Neguei com a cabeça – Eu não estou desperdiçando minha vida, eu estou indo atrás da minha felicidade.

– Sua felicidade? Então quer dizer que sua felicidade é ficar longe da sua família?

 – Por Deus, pai! – Benjamin intrometeu-se – Deixa Alice seguir a vida dela.

– Até você, Benjamin? Deveria está aconselhando sua irmã, e não apoiando essa loucura.

Sim, tudo isso é porque fechei um contrato, com uma das maiores e mais conhecidas agências de fotografia do país e com sede em São Paulo. Um contrato de um ano e a realização do meu sonho. Eu sempre lutei por isso, ser reconhecida e poder fechar um contrato como esse, sempre sonhei em ter minha própria agência, e agora posso dizer que as coisas estão começando a dar certo pra mim. Desde pequena eu sou apaixonada por fotografia. Eu tinha absoluta certeza de que essa era uma oportunidade única, de crescimento e ainda mais conhecimento por essa profissão tão encantadora. Eu iria trabalhar com profissionais de verdade, iria estudar mais, conhecer novas pessoas, cidades e ser reconhecida pelo meu trabalho. Durante esse “um ano” eu ficarei hospedada na casa da minha prima. Laura, além de prima, é a melhor amiga que qualquer pessoa poderia ter na vida. Sempre esteve ao meu lado, me deu todo apoio, força e ânimo para lutar todos os dias. Não poderia existir pessoa melhor para estar ao meu lado nesse momento. Eu sei que não seria fácil ficar longe da minha família, mas foi o que eu sempre sonhei, era minha felicidade me chamando, não tinha como negar e fugir dessa oportunidade. Desde então, meu pai não aceitou essa minha decisão de jogar tudo pra cima e seguir meu coração, de abandonar meu futuro como uma psicóloga de renome e insiste em dizer que me arrependerei profundamente por essa loucura. Ele sempre diz que a fotografia jamais será considerada uma profissão, que é usada apenas como hobby e nada mais que isso. Infelizmente é uma pena que ele pense dessa maneira, porque para mim, não existe profissão mais linda. Hoje finalmente é o dia de partir, minhas malas já estão prontas, assim como o meu coração ansioso. Tudo o que eu menos queria nesse momento era sair daqui brigada com meu pai, não receber sua benção ou um simples “Boa sorte” do homem mais importante da minha vida.

– O senhor sabia que seria assim. – Meu irmão rebateu – Não tem como simplesmente mudar os sonhos dela, o que resta é o senhor aceitar logo.

– Aceitar um absurdo desses? Você está louco? Ela tá jogando fora um futuro lindo.

– Um futuro lindo como pai? Sendo uma psicóloga infeliz? Porque é isso que eu vou ser, uma psicóloga infeliz atendendo seus pacientes infelizes. – Levantei com raiva – Será que o senhor não consegue entender pai? Eu quero ser feliz, quero poder fazer meu trabalho como fotografa, quero poder dar orgulho a vocês.

– Isso só pode ser piada. – Falou irônico – Você está louca.

– Mãe, faz alguma coisa? – Pedi suplicante – Eu não aguento mais.

– O que você quer que eu faça, Alice? Benjamin, leve logo sua irmã antes que ela perca esse voo. – Sentou-se tentando acalmar meu pai.

– Então é assim? Não vou receber nem a benção de vocês?

– Se depender de mim não. – Levantou-se, mas segurei seu braço antes que ele passasse por mim.

– Pai. – O olhei chorosa – Independente do que for eu te amo. – Segurei sua mão – Me perdoa? Por não fazer suas vontades e desistir dos meus sonhos, eu só quero ser feliz.

– Minha filha, você ainda vai se arrepender muito por isso. – Beijou meu rosto e subiu as escadas.

– Filha. – Minha mãe levantou vindo em minha direção, enquanto uma lágrima escorria sobre meu rosto – Vem cá. – Me abraçou forte – Você sabe como é seu pai.

– Nem sua benção ele me deu mãe. – Desfiz o abraço a olhando – Ele me odeia.

– Ele não te odeia, amor. – Enxugou meu rosto delicadamente – Ele só está com medo de que você se machuque.

– Me machucar? Eu estou seguindo meu sonho.

– Eu sei meu anjo, mas seu pai não entende. – Me abraçou novamente – Siga seu coração, seja feliz. – Fez o sinal da cruz em minha testa – Deus te abençoe!

– Amém! – A abracei ainda mais forte – Eu te amo muito mãe, amo meu pai também.

– Ele sabe disso querida. – Sorriu carinhosa – Qualquer coisa eu estou aqui, tá bem? Ligue assim que chegar, caso queira voltar antes do tempo, sua casa está de portas abertas. 

– É melhor irmos logo mana, antes que perca o voo. – Ben falou carinhoso.

Despedi-me da minha mãe, peguei minhas malas e segui com meu irmão para o aeroporto. Não estava sendo fácil ter que ir sem me despedir do meu pai, sem receber um carinho dele ou seu apoio, mas eu já deveria está acostumada com isso. Era sempre assim quando não seguíamos seus passos, quando não fazíamos suas vontades e crenças. Enquanto ele desejava que tudo desse errado, eu pedia a Deus que me abençoasse todos os dias da minha vida.

– Você está bem? – Ben perguntou ao me levar a sala de embarque.

– Bem? Você acha mesmo que eu estou bem? Eu estou péssima por deixa-lo assim. – O olhei triste – Eu não queria que tudo terminasse dessa maneira.

– Eu sei mana, mas você sabe como é papai. – Concordei com a cabeça – Ele tem medo que você se perca nesse mundo, a coisa dele é que sejamos felizes debaixo das suas asas.

– Mas não pode ser assim Ben, eu nunca me senti tão feliz e tão triste ao mesmo tempo. – Choraminguei – Eu estou realizando meu maior sonho, porém meu pai não aceita isso.

– Você sabe que eu acredito em você, não sabe? – Concordei com a cabeça – Estou feliz por te ver seguindo seu coração.

– Obrigada por tudo, tá? Principalmente por acreditar no meu sonho.

– Sempre vou acreditar. – Me acolheu em seus braços – Sempre estarei ao seu lado.

–Você e Laura são as únicas pessoas que verdadeiramente acreditam em mim.

– Não diga isso, mamãe e papai também acreditam em você e te amam muito. – Olhou-me nos olhos – Você será muito feliz nessa nova fase de sua vida, eu acredito nisso.

– Amém! – O abracei mais forte – Cuida deles por mim? – Pedi e ele concordou com a cabeça – Eu amo muito vocês.

– Eu te amo, tá? Cuida-se, por favor!

– Eu vou me cuidar. – Beijei seu rosto – Vou sentir muito sua falta.

– E eu a sua, mas prometo ir te fazer uma visita. – Sorriu tentando me animar.

– Promete? Convence a mamãe de ir com você.

– Me liga assim que chegar lá? Não esquece, vou ficar esperando.

– Eu ligo sim. – O apertei mais uma vez em meus braços – Agora preciso ir.

Despedi-me dele com o coração já apertado de saudade, entrei na sala de embarque e rezei baixinho. Era o inicio de uma nova fase na minha vida, eu só pedia a Deus que desse tudo absolutamente certo, que nada fosse capaz de destruir esse sonho em mim e que toda minha força viesse Dele que tanto me deu ânimo para continuar lutando. Ao sentar na poltrona daquele avião, respirei fundo e tive a certeza de que essa foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida. Sorri sozinha, coloquei meus fones de ouvido e fechei meus olhos. Ao sentir aquele avião tomando seu rumo, senti algo extremamente forte dentro de mim, não só aquela típica sensação que todos sentem quando o avião decola, não, muito mais que isso, senti um furacão de emoções dentro do meu peito e uma sensação de alivio. Era a minha vez de fazer valer a pena todas as minhas escolhas. Depois de dois anos sem Vicente, minha vida realmente se transformou da noite para o dia, sem nem me pedir permissão, somente as coisas foram acontecendo. Sinto constantemente a presença do meu menino, todos os dias, a todo o momento. Ele foi e continuará sendo a pessoa mais importante da minha vida, aquele quem me amou profundamente, quem me ensinou tudo aquilo que hoje eu pratico com amor. Eu o amo, sempre vou amar, até o fim da minha vida. Eu estava cumprindo minha promessa, estava indo atrás de minha felicidade, como ele sempre quis. Passaram-se poucas horas e eu estava colocando meus pés na cidade dos meus sonhos, São Paulo. Peguei minhas malas, respirei fundo mais uma vez e segui para a saída do aeroporto, sorrindo que nem uma boba. Recebi uma mensagem de Laura avisando que estava atrasada, mas que logo me pegaria. Então, minha única alternativa foi sentar, tentar controlar minha ansiedade e ligar para o meu irmão. Depois de passar alguns minutos conversando com ele e com minha mãe, comprei uma xícara de café e uma bandeja de pães de queijo, o que eu amo profundamente. Enquanto eu me deliciava com meus pães, ouvi alguém se aproximar com um sorriso gigantesco, era ela, minha melhor amiga.

– Não acredito! Lili! – Sorriu me abraçando – Não acredito que você finalmente chegou.

– Ai Lau, assim você vai me esmagar. – Ri animada.

– Você está tão linda. – Olhou-me dos pés a cabeça – Parece que tem anos que não te vejo.

– Você que está maravilhosa. – Sorri a olhando. – Que saudade que eu senti de você, Laura.

– Eu também senti muito a sua falta. – Me abraçou novamente – Mas agora você não sai mais do meu lado.

– É tudo o que eu mais quero.  

Falei e ela me olhou com aquele ar de cumplicidade, eu amava esse jeito dela. Terminei de comer, guardei minhas malas no carro e logo estávamos a caminho do “nosso” apartamento. Fomos o percurso inteiro conversando, fofocas, risadas e muito amor entre nós duas era o que não faltava. Laura era apenas dois anos mais velha que eu, fomos criadas juntas, estudamos sempre no mesmo colégio, era minha confidente e a irmã que eu nunca tive. Assim que ela terminou os estudos, seu pai recebeu uma proposta de emprego irrecusável, fazendo com que eles mudassem de vez para São Paulo. Aos 17 anos, tiraram de mim uma das pessoas mais importantes da minha vida, mas nossa amizade só se fortaleceu com o passar dos anos e novamente estamos aqui, juntas. Hoje Laura mora sozinha, é uma mulher independente, bem sucedida, dona de uma das maiores e mais maravilhosas lojas de grife de São Paulo, mas continua aquela mesma menina humilde, carinhosa, cheia de cuidados com todos e com um coração gigantesco. Depois de enfrentar alguns minutos de trânsito, chegamos bem ao condomínio, onde Laura me apresentava a cada ser humano que surgia em nosso caminho. Quando entramos no apartamento, meu destino foi deixar minhas malas no meu quarto, esse eu conhecia bem.

– Lauraaaaa! – Chamei-a admirada – Que coisa linda, meu Deus!

– Gostou? – Ela tinha arrumado meu quarto com tanta delicadeza – Ficou sua cara, não foi?

– Sim... Ficou maravilhoso!

– Que bom que gostou. – Me abraçou de lado – Aqui é sua casa agora, quero que sinta confortável.

– Como eu poderia não me sentir? – Perguntei sentando em minha cama – Você me conhece bem, incrível.

– Você vai arrumar suas coisas agora? Eu posso te ajudar.

– Ah, não! Tudo o que eu mais preciso nesse momento é de um banho, estou me sentindo exausta. – Joguei-me na cama.

– Então vá tomar seu banho. – Levantou-se – Vou preparar alguma coisa pra gente jantar.

Após Laura sair do quarto, escolhi uma roupa fresca e segui para o banheiro. Foi inevitável não pensar em tudo o que estava acontecendo, na grandiosidade desse passo que eu venho dando. Lembrei-me novamente de meu pai e uma tristeza se instalou em meu coração, tudo poderia ser diferente se ele aceitasse minha felicidade. Sinceramente, eu não sabia o que me esperava daqui pra frente, mas eu queria mesmo me arriscar. É doloroso não ter o apoio dele, mas seria ainda mais doloroso se eu simplesmente largasse mão do meu sonho e escolhesse viver uma vida infeliz. Terminei meu banho perdida em pensamentos, escovei meu cabelo e segui pra sala onde Laura me esperava assistindo TV. Começamos uma conversa boa e entramos em vários assuntos, inclusive aquele que mais mexia comigo, o amor.

– E tio Paulo? Não aceita mesmo, não é? – Perguntou enquanto fazia uma trança no meu cabelo.

– Você sabe como ele é cabeça dura, não tá sendo fácil pra mim Lau, o apoio da minha família seria importantíssimo nesse momento. – Respirei fundo – Mas acho que ele nunca vai aceitar.

– Tudo tem seu tempo, um dia ele vai ver que você fez a escolha certa.

– Deus te ouça. – Sorri tristonha – Você não imagina o quanto foi difícil sair daquela casa, deixando ele daquela maneira.

– Eu imagino sim, mas pense que você tem sua mãe, tem o Ben e a mim, que torcem e acreditam em você.

– Sim, graças a Deus eu tenho vocês. – Dei um beijo carinhoso em seu rosto.

– E você vai quando na agência?  

–Amanhã. – Falei e ouvimos a campainha tocar – Quem será?

– Pedi uma pizza pra gente. – Levantou-se animada – Pega aí o dinheiro na minha carteira? – Pediu ao abrir a porta – Oi Rodrigo, tudo bem? – Cumprimentou o entregador.

– Tudo ótimo Laurinha. – Sorriu simpático.

– O cheirinho tá ótimo. – Entreguei o dinheiro a Laura – Oi. – Sorri para ele que me olhava tímido.

– Ah, deixa eu te apresentar. – Riu divertida – Rodrigo, essa é minha prima Alice. – Ele me olhou novamente – Lili, esse é o Rodrigo.

– Prazer, Rodrigo! – O cumprimentei com dois beijos no rosto.

– O prazer é todo meu. – Sorriu ainda tímido – Bom, aqui o refrigerante.

– E aqui o dinheiro. – Laura sorriu – Obrigadinha, pode ficar com o troco.

– Obrigado, boa noite!

– Que lindinho. – Coloquei a pizza na mesa.

– Não é lindo? Porém tímido demais. – Fez careta – Gosto de homens com atitude.

– Então quer dizer que você estava de olho? – Joguei o pano de prato nela.

– E tem como não ficar de olho? Ele é lindo demais, pelo amor de Deus. – Riu nos servindo – Mas ele é sempre assim, tímido ao extremo.

– Mas homens tímidos são fofos. – A olhei rindo – Eu gosto.

– Falando nisso. – Olhou-me carinhosa – Como anda os amores?

– Não andam. – Comi um pedaço da minha pizza – Estou de boa sozinha.

– Serio? Não apareceu mais ninguém depois do Vicente?

– Não. – Dei de ombros – E nem quero, agora eu tenho que focar no meu trabalho.

– Tá apoiado. – Falou de boca cheia – Foca no trabalho.

A presença de Vicente ainda era muito viva dentro de mim, mesmo prometendo a ele que seria feliz e que encontraria alguém para amar, eu tinha certeza que ninguém jamais me faria feliz como Vicente fez. Jamais alguém me amaria como ele amou, com toda aquela intensidade e doação, ele era único. Tornei-me alguém fria com meus sentimentos, não queria sofrer novamente, não queria me apegar e simplesmente enfrentar tudo aquilo que estava disposta a enfrentar com o meu menino. O meu amor por Vicente vem de outras vidas, algo profundo demais para ser substituído por outro alguém. 

-----------------------------------------------------------------------------------------------------
OOOOOOOOOOOOOOI, MEU AMORES!!! 
Esse é um capítulo extra dedicado inteiramente a leitora Maryana Brunikoski, que está completando mais um aninho hoje. Parabéns Mary, toda felicidade do mundo pra você! O que estão achando, meus amores? Gostaram do primeiro e segundo capítulo? Como eu deixei bem claro nos "Avisos", só teremos capítulos de segunda a sexta-feira, certo? Quero desde já agradecer aos comentários, aos recadinhos, ao carinho das minhas leitoras lindaaaaas! Sintam-se todas abraçadas!!!!
Até o próximo capítulo, estrelas! <3

3 comentários:

  1. To amando simplesmente apaixonada 😍😍

    ResponderExcluir
  2. Patricia eu não pago internet pra vc fazer isso com os meus sentimentos..eu to apaixonadaaaa !!!!
    ~marina

    ResponderExcluir
  3. Ahhhhhhh mds to apaixonada ja desde o inicio��continua logo*Gabi*

    ResponderExcluir