Chegamos
à casa de Luan depois de quase quarenta minutos, seus pais nos esperavam
ansiosos, não sabiam eles que a mais ansiosa da noite era eu. Luan estacionou o
carro, me olhou com confiança, como se me dissesse que tudo daria certo.
Descemos do carro, enquanto eu sentia um certo incômodo me invadir, com certeza
era uma mistura de nervosismo e enjoo por conta dos churros.
–
Chegaram! – Bruna gritou assim que abrimos a porta – Como é que você some
assim, garota? – Ela perguntou me abraçando.
–
Desculpa? – Pedi choramingando.
–
E quando que eu não te desculpo? – Me abraçou novamente.
–
Alice! – Dona Marizete me chamou – Que bom revê-la!
–
Oi, Dona Marizete! – A cumprimentei com um abraço.
–
Seja bem-vinda novamente, Alice! – Seu Amarildo me cumprimentou sempre muito
simpático.
–
Obrigada, seu Amarildo!
–
Vamos sentar.
Dona
Marizete sentou ao lado de Bruna, seu Amarildo nos serviu um vinho, enquanto
Luan buscava um suco de laranja pra mim. Eu não poderia mais nem sentir o
cheiro de bebida, meu bebê agradecia imensamente por isso. Ele pegou uma taça
de vinho com o pai, sentou ao meu lado e sorriu ao olhar pra mim, com aquele
mesmo olhar de cumplicidade. Começamos a conversar sobre assuntos banais, até
que seu Amarildo tocou no assunto da gravidez e meu nervosismo de antes voltou
com tudo.
–
Vocês sabem que a partir de agora tudo muda? Que as coisas agora funcionam de
outra maneira? – Seu Amarildo nos olhou sério – Porque um filho não é uma
brincadeira, mas nos exige toda a responsabilidade do mundo!
–
Nós temos consciência disso, Pai. – Luan falou certo de suas palavras.
–
Infelizmente tudo só será mais claro para vocês, quando essa criança nascer.
–
Tudo isso ainda é muito novo pra gente, pelo menos pra mim está muito difícil
da ficha cair. – O respondi sincera – Eu não esperava por isso, não queria que
as coisas tivessem acontecido dessa maneira. – Respirei fundo – Uma hora eu
estava desmaiada, na outra eu estava deitada em uma cama de hospital, com um
médico me contando sobre minha gravidez.
–
Acredito que nenhum de nós esperava por essa notícia. – Ele falou – Foi um
grande susto pra nossa família, mas como Marizete mesmo diz, as coisas
acontecem da maneira como Deus quer.
–
Vocês foram dois irresponsáveis, poderiam ter se cuidado muito mais. – Dona
Mari se pronunciou.
–
Já aconteceu, mãe...
–
Mas poderia não ter acontecido. – Ela o interrompeu.
–
Nós só temos que ser gratos a Deus por tudo que está acontecendo. – Bruna falou
chamando a atenção de todos – Eles se amam, são adultos, sabem muito bem o que
estão fazendo. – Luan agradeceu as palavras da irmã com apenas um olhar.
–
Nós só queremos que vocês compreendam que tudo mudará daqui pra frente. – Seu
Amarildo continuou – Que tudo isso possa servir de aprendizado, fazendo com que
vocês amadureçam cada dia mais.
–
É um crescimento diário. – Dona Mari completou.
–
Acredito que estamos aprendendo a lidar com essa situação desde agora. – Luan
olhou os pais – Nós temos plena certeza de que um filho é uma grande
responsabilidade, que teremos que renunciar muitas coisas por ele.
–
Ainda bem que você tem consciência disso. – Seu Amarildo falou.
–
Mas eu não conseguiria caminhar sem o apoio e a compreensão de vocês, mesmo em
meio a tanta confusão. – Confessou com os olhos cheios de lágrima – Quero ser
para o meu filho, tudo o que vocês são pra mim.
–
Jamais poderíamos deixar de te apoiar e estar ao seu lado. – Dona Mari sentou
ao lado dele – Somos sua família, estaremos sempre aqui com você. – E então
eles se abraçam com muito amor – E você também. – Me olhou carinhosa – Agora
faz parte da nossa família, quero que se sinta sempre acolhida e amada por
todos nós.
–
Eu me sinto muito amada e grata a Deus por tudo! – A abracei sentindo uma
verdade inexplicável.
Tê-los
comigo naquele momento, fazia com que eu me sentisse extremamente especial,
acolhida por um amor que eu conheci dia após dia. Seu Amarildo nos abraçou,
assim como Bruna, que era só carinho comigo, me agradecendo o tempo inteiro por
esse presente que eu estava trazendo para sua família. Por um momento pedi
mentalmente a Deus para que um dia meu pai me perdoasse, me aceitasse, me
apoiasse como a família de Luan está fazendo. Dona Marizete me chamou para
conversa apenas nós duas, me passando algo bom em tê-la como uma mãe naquele
momento.
–
Como está se sentindo? – Ela perguntou quando entramos no escritório.
–
Ainda me sinto assustada com tudo o que está acontecendo. – Respondi sincera –
Estou me sentindo perdida, não sei explicar.
–
Luan nos contou sobre seu pai, disse que ele não aceita sua gravidez.
–
Na verdade eu venho lidando com esse mal estar desde quando decidi sair de casa
e lutar por meus sonhos aqui em São Paulo. – A olhei – Ele não aceita minha
profissão, não aceita que eu possa ser feliz longe da minha família.
–
Eu sinto tanto por você.
–
Eu nunca imaginei que um dia eu teria que enfrentar uma situação como essa. –
Enxuguei uma lágrima que escorreu sobre meu rosto – Porque errando ou não, ele
não tinha o direito de me por pra fora de casa como fez.
–
Eu sei que não está sendo fácil pra você, porque eu passei por uma situação
parecida com a sua. – A escutei com atenção – Luan chegou quando eu menos
esperava.
–
E o que a senhora fez?
–
Eu lutei até o fim por ele, por mim, por Amarildo. – Segurou minha mão – E
quando ele chegou, eu me senti a pessoa mais feliz e realizada desse mundo. –
Sorriu com os olhos fechados – E aí cheguei à conclusão de que eu não sabia
como minha vida poderia funcionar sem ele comigo.
–
Acho que só a senhora pode entender o que eu estou sentindo. – Enxuguei mais
uma lágrima.
–
E por isso, mesmo sabendo que vocês poderiam ter se cuidado mais, eu estendo a
minha mão para vocês. – Segurou novamente minha mão – E quero que você saiba
que não está sozinha.
–
Eu sei disso. – A abracei com todo o meu amor.
–
Eu não sei como está a sua relação com Luan, mas eu tenho certeza absoluta que
você será uma mãe maravilhosa para o meu neto. – Sorriu enxugando minhas
lágrimas – Eu gosto muito de você, quero que vocês sejam felizes.
E
depois de um longo abraço, continuamos conversando sobre alguns assuntos que
naquele momento, só nós duas poderíamos compreender. Ela era realmente uma
grande mulher, guerreira, que luta todos os dias por sua família. Eu não
conseguia imaginar como seriam as coisas sem tê-los ao nosso lado, Luan era um
homem de sorte em ter pessoas tão iluminadas caminhando com ele. Depois de
quase quarenta minutos de papo com “minha sogra”, nós voltamos para a sala e
nosso jantar foi servido. Luan sentou ao meu lado, enquanto do outro lado da
mesa seu Amarildo sentou com dona Marizete e Bruna.
–
Você está enjoando muito? – Bruna perguntou curiosa.
–
Demais, não consigo nem explicar. – Respondi a olhando – Inclusive agora estou
enjoada de uns churros que comemos no caminho. – Confessei sorrindo.
–
Que comemos não, que você comeu. – Luan me corrigiu.
–
E você não provou? – Perguntei incrédula.
–
Provei um, enquanto você devorou todos os churros.
–
Onde vocês acharam churros? – Dona Mari perguntou rindo.
–
Ela me fez parar na rua pra comprar. – Se fez de indignado.
–
Imagina se seu filho nasce com cara de churros, Pi? – Bruna começou a rir.
–
Por isso mesmo eu fiz questão que ela comprasse os churros.
–
Você é um ridículo mesmo, hem? – O olhei rindo.
O
clima era maravilhoso, Dona Mari nos contou sobre o quanto Luan a fez sofrer
com enjoos, enquanto Bruna era mais tranquila. Claro que acabou causando uma
discussão engraçada entre irmãos, Bruna dizia que sempre foi mais tranquila em
todos os sentidos, enquanto Luan rebatia dizendo que isso era uma grande
mentira. Falei sobre minha primeira consulta, sobre tudo o que o médico me
falou sobre meu bebê e todos estavam ansiosos para saber se seria uma menina ou
um menino. Seu Amarildo se emocionou em falar do quanto foi maravilhoso quando
descobriu sobre a chegada dos filhos, fazendo todos se emocionarem também. Eu
me sentia feliz ao lado deles, me sentia protegida e amada em estar ao redor de
pessoas tão especiais. Depois de o nosso delicioso jantar, Bruna me chamou até
seu quarto, pois gostaria de me mostrar algo.
–
O que é isso? – Perguntei quando ela me entregou a caixa.
–
Dois pares de sapatinhos e duas toquinhas. – Abriu me mostrando – Um azul e um
rosa.
–
Ai, meu Deus! – Peguei os sapatinhos – Que coisa mais preciosa é essa?
–
Você acha que o bebê vai gostar? – Ela perguntou toda boba.
–
É claro que sim... – Eu estava emocionada – Principalmente porque é o primeiro
presente que ele ganha. – A abracei com carinho – Não sei como agradecer
tamanho amor.
–
Me agradeça não sumindo mais da minha vida. – Pediu com aquele seu jeito lindo.
–
Me desculpa por isso?
–
Não tem que me pedir desculpa por nada, porque eu entendo o que você está
passando.
–
Você é a melhor titia do mundo, sabia? – A abracei novamente.
–
Ainda não acredito que vou ser titia. – Falou maravilhada – É muita emoção.
–
E tenho certeza que esse bebê aqui. – Olhei minha barriga – Vai te amar muito.
Depois
de Bruna me presentear com essas preciosidades, descemos ainda rindo, animadas
e muito felizes. Mostrei a Luan o presente que sua irmã deu para o nosso bebê e
ele ficou encantado, assim como eu. Continuamos todos conversando mais um pouco,
Dona Mari me mostrou alguns álbuns de família, onde mostrava Luan e Bruna
pequenininhos e lindos. Quando me deparei com as horas, quase cai pra traz. Já
se passava das 21h00 e eu precisaria ir pra casa, pois no dia seguinte eu ainda
teria que trabalhar.
–
Você precisa mesmo ir agora? – Dona Mari perguntou me olhando.
–
Eu adoraria passar mais um tempo aqui com vocês, mas tenho muito trabalho
amanhã.
–
Volte quando quiser. – Seu Amarildo me abraçou – A casa é toda sua.
–
Muito obrigada, seu Amarildo!
– Promete não sumir? – Bruna perguntou me
abraçando carinhosa.
–
Prometo, mas dá uma passadinha lá por casa?
–
Eu vou mesmo! – Me abraçou novamente – Vai se cuidar? – Apenas concordei com a
cabeça.
–
Vamos? – Luan perguntou me olhando.
–
Vamos!
Depois
de me despedir mais uma vez dos três, segui com Luan para o seu carro, enquanto
sentia algo bom dentro de mim. Seguimos conversando sobre o jantar, enquanto eu
ainda babava no presente maravilhoso que ganhei de Bruna. Tudo o que eu
gostaria de saber era o sexo do meu bebê, queria comprar logo roupinhas, coisas
rosa ou azul para enfeitar meu quarto.
–
O que você acha que pode ser? – Luan perguntou enquanto dirigia.
–
Sinceramente? Eu sinto que pode ser uma menina, eu sinto... – Sorri o olhando –
Só quero que venha com muita saúde!
–
Você já pensou nos nomes?
–
Se for menina, eu quero que se chame Luisa.
–
Luisa?
–
Sim, pra combinar com seu nome. – Ele começou a rir – Luan e Luisa. – Respondi
satisfeita.
–
E se for menino?
–
Você pode escolher se quiser.
–
Posso? – Apenas concordei com a cabeça – Então pode ser Miguel. – Falou pensativo.
–
Eu gosto de Miguel.
E
assim continuamos conversando sobre o nome do bebê, como seria o quarto,
enquanto eu me encantava ainda mais com o interesse de Luan sobre tudo. Eu
queria muito que as coisas ficassem bem, que tudo se ajeitasse com o tempo,
queria que meu filho soubesse o tanto de admiração e repeito que existe entre
seus pais. Quando chegamos ao meu condomínio, Luan estacionou o carro com
cuidado, desligou o som e me olhou como se quisesse dizer algo.
–
O que foi? – Perguntei o olhando.
–
Será que em meio a todas essas coisas boas que nos aconteceu hoje... – Tentou falar
– Não poderíamos nos entender de uma vez? – Perguntou se aproximando de mim.
–
Luan, você sabe que as coisas não são tão simples assim. – Respondi sentindo o
seu cheiro bom.
–
Poderíamos então parar de dificultar as coisas. – Falou ainda me olhando – Você
não sabe o quanto está sendo difícil continuar nessa situação, longe de você,
do seu amor.
–
Eu só quero conseguir colocar minha vida no lugar. – Respirei fundo – Quero
poder digerir o que está acontecendo, ainda é muito novo pra mim.
–
E enquanto isso a gente fica distante?
– Eu preciso que você respeite meu
tempo, Luan! – Falei tentando me afastar – Está sendo difícil pra mim também...
–
Se está sendo difícil pra você, adianta ficar longe de mim? – Perguntou me
interrompendo.
–
Uma hora ou outra, você vai perceber que foi melhor para nós dois. – Dei um
beijo em seu rosto – Se cuida, eu preciso ir.
–
Cuida de vocês pra mim? – Ele pediu me olhando triste.
–
Cuido!
E
assim eu desci do carro, entrei no elevador, peguei minha chave na bolsa e
segui para o meu apartamento. Eu sabia que eu estava sofrendo com essa decisão,
mas eu precisava pensar em mim nesse momento, no meu bebê. Eu precisava
respirar um pouco, colocar minha cabeça pra pensar, tirar um tempo pra mim e aí
sim, eu pensaria em nós dois. Eu só sabia que eu estava feliz, independente de
tudo o que vem me acontecendo nesses últimos dias, meu coração estava em paz.