quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

(Capítulo 69 – Jantar)

Chegamos à casa de Luan depois de quase quarenta minutos, seus pais nos esperavam ansiosos, não sabiam eles que a mais ansiosa da noite era eu. Luan estacionou o carro, me olhou com confiança, como se me dissesse que tudo daria certo. Descemos do carro, enquanto eu sentia um certo incômodo me invadir, com certeza era uma mistura de nervosismo e enjoo por conta dos churros.

– Chegaram! – Bruna gritou assim que abrimos a porta – Como é que você some assim, garota? – Ela perguntou me abraçando.

– Desculpa? – Pedi choramingando.

– E quando que eu não te desculpo? – Me abraçou novamente.

– Alice! – Dona Marizete me chamou – Que bom revê-la!

– Oi, Dona Marizete! – A cumprimentei com um abraço.

– Seja bem-vinda novamente, Alice! – Seu Amarildo me cumprimentou sempre muito simpático.

– Obrigada, seu Amarildo!

– Vamos sentar.

Dona Marizete sentou ao lado de Bruna, seu Amarildo nos serviu um vinho, enquanto Luan buscava um suco de laranja pra mim. Eu não poderia mais nem sentir o cheiro de bebida, meu bebê agradecia imensamente por isso. Ele pegou uma taça de vinho com o pai, sentou ao meu lado e sorriu ao olhar pra mim, com aquele mesmo olhar de cumplicidade. Começamos a conversar sobre assuntos banais, até que seu Amarildo tocou no assunto da gravidez e meu nervosismo de antes voltou com tudo.

– Vocês sabem que a partir de agora tudo muda? Que as coisas agora funcionam de outra maneira? – Seu Amarildo nos olhou sério – Porque um filho não é uma brincadeira, mas nos exige toda a responsabilidade do mundo!

– Nós temos consciência disso, Pai. – Luan falou certo de suas palavras.

– Infelizmente tudo só será mais claro para vocês, quando essa criança nascer.

– Tudo isso ainda é muito novo pra gente, pelo menos pra mim está muito difícil da ficha cair. – O respondi sincera – Eu não esperava por isso, não queria que as coisas tivessem acontecido dessa maneira. – Respirei fundo – Uma hora eu estava desmaiada, na outra eu estava deitada em uma cama de hospital, com um médico me contando sobre minha gravidez.

– Acredito que nenhum de nós esperava por essa notícia. – Ele falou – Foi um grande susto pra nossa família, mas como Marizete mesmo diz, as coisas acontecem da maneira como Deus quer.

– Vocês foram dois irresponsáveis, poderiam ter se cuidado muito mais. – Dona Mari se pronunciou.

– Já aconteceu, mãe...

– Mas poderia não ter acontecido. – Ela o interrompeu.

– Nós só temos que ser gratos a Deus por tudo que está acontecendo. – Bruna falou chamando a atenção de todos – Eles se amam, são adultos, sabem muito bem o que estão fazendo. – Luan agradeceu as palavras da irmã com apenas um olhar.

– Nós só queremos que vocês compreendam que tudo mudará daqui pra frente. – Seu Amarildo continuou – Que tudo isso possa servir de aprendizado, fazendo com que vocês amadureçam cada dia mais.

– É um crescimento diário. – Dona Mari completou.

– Acredito que estamos aprendendo a lidar com essa situação desde agora. – Luan olhou os pais – Nós temos plena certeza de que um filho é uma grande responsabilidade, que teremos que renunciar muitas coisas por ele.

– Ainda bem que você tem consciência disso. – Seu Amarildo falou.

– Mas eu não conseguiria caminhar sem o apoio e a compreensão de vocês, mesmo em meio a tanta confusão. – Confessou com os olhos cheios de lágrima – Quero ser para o meu filho, tudo o que vocês são pra mim.

– Jamais poderíamos deixar de te apoiar e estar ao seu lado. – Dona Mari sentou ao lado dele – Somos sua família, estaremos sempre aqui com você. – E então eles se abraçam com muito amor – E você também. – Me olhou carinhosa – Agora faz parte da nossa família, quero que se sinta sempre acolhida e amada por todos nós.

– Eu me sinto muito amada e grata a Deus por tudo! – A abracei sentindo uma verdade inexplicável.

Tê-los comigo naquele momento, fazia com que eu me sentisse extremamente especial, acolhida por um amor que eu conheci dia após dia. Seu Amarildo nos abraçou, assim como Bruna, que era só carinho comigo, me agradecendo o tempo inteiro por esse presente que eu estava trazendo para sua família. Por um momento pedi mentalmente a Deus para que um dia meu pai me perdoasse, me aceitasse, me apoiasse como a família de Luan está fazendo. Dona Marizete me chamou para conversa apenas nós duas, me passando algo bom em tê-la como uma mãe naquele momento.

– Como está se sentindo? – Ela perguntou quando entramos no escritório.

– Ainda me sinto assustada com tudo o que está acontecendo. – Respondi sincera – Estou me sentindo perdida, não sei explicar. 

– Luan nos contou sobre seu pai, disse que ele não aceita sua gravidez.

– Na verdade eu venho lidando com esse mal estar desde quando decidi sair de casa e lutar por meus sonhos aqui em São Paulo. – A olhei – Ele não aceita minha profissão, não aceita que eu possa ser feliz longe da minha família.

– Eu sinto tanto por você.

– Eu nunca imaginei que um dia eu teria que enfrentar uma situação como essa. – Enxuguei uma lágrima que escorreu sobre meu rosto – Porque errando ou não, ele não tinha o direito de me por pra fora de casa como fez.

– Eu sei que não está sendo fácil pra você, porque eu passei por uma situação parecida com a sua. – A escutei com atenção – Luan chegou quando eu menos esperava.

– E o que a senhora fez?

– Eu lutei até o fim por ele, por mim, por Amarildo. – Segurou minha mão – E quando ele chegou, eu me senti a pessoa mais feliz e realizada desse mundo. – Sorriu com os olhos fechados – E aí cheguei à conclusão de que eu não sabia como minha vida poderia funcionar sem ele comigo.

– Acho que só a senhora pode entender o que eu estou sentindo. – Enxuguei mais uma lágrima.

– E por isso, mesmo sabendo que vocês poderiam ter se cuidado mais, eu estendo a minha mão para vocês. – Segurou novamente minha mão – E quero que você saiba que não está sozinha.

– Eu sei disso. – A abracei com todo o meu amor.

– Eu não sei como está a sua relação com Luan, mas eu tenho certeza absoluta que você será uma mãe maravilhosa para o meu neto. – Sorriu enxugando minhas lágrimas – Eu gosto muito de você, quero que vocês sejam felizes.

E depois de um longo abraço, continuamos conversando sobre alguns assuntos que naquele momento, só nós duas poderíamos compreender. Ela era realmente uma grande mulher, guerreira, que luta todos os dias por sua família. Eu não conseguia imaginar como seriam as coisas sem tê-los ao nosso lado, Luan era um homem de sorte em ter pessoas tão iluminadas caminhando com ele. Depois de quase quarenta minutos de papo com “minha sogra”, nós voltamos para a sala e nosso jantar foi servido. Luan sentou ao meu lado, enquanto do outro lado da mesa seu Amarildo sentou com dona Marizete e Bruna.

– Você está enjoando muito? – Bruna perguntou curiosa.

– Demais, não consigo nem explicar. – Respondi a olhando – Inclusive agora estou enjoada de uns churros que comemos no caminho. – Confessei sorrindo.

– Que comemos não, que você comeu. – Luan me corrigiu.

– E você não provou? – Perguntei incrédula.

– Provei um, enquanto você devorou todos os churros.

– Onde vocês acharam churros? – Dona Mari perguntou rindo.

– Ela me fez parar na rua pra comprar. – Se fez de indignado.

– Imagina se seu filho nasce com cara de churros, Pi? – Bruna começou a rir.

– Por isso mesmo eu fiz questão que ela comprasse os churros.

– Você é um ridículo mesmo, hem? – O olhei rindo.

O clima era maravilhoso, Dona Mari nos contou sobre o quanto Luan a fez sofrer com enjoos, enquanto Bruna era mais tranquila. Claro que acabou causando uma discussão engraçada entre irmãos, Bruna dizia que sempre foi mais tranquila em todos os sentidos, enquanto Luan rebatia dizendo que isso era uma grande mentira. Falei sobre minha primeira consulta, sobre tudo o que o médico me falou sobre meu bebê e todos estavam ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino. Seu Amarildo se emocionou em falar do quanto foi maravilhoso quando descobriu sobre a chegada dos filhos, fazendo todos se emocionarem também. Eu me sentia feliz ao lado deles, me sentia protegida e amada em estar ao redor de pessoas tão especiais. Depois de o nosso delicioso jantar, Bruna me chamou até seu quarto, pois gostaria de me mostrar algo.

– O que é isso? – Perguntei quando ela me entregou a caixa.

– Dois pares de sapatinhos e duas toquinhas. – Abriu me mostrando – Um azul e um rosa.


– Ai, meu Deus! – Peguei os sapatinhos – Que coisa mais preciosa é essa?

– Você acha que o bebê vai gostar? – Ela perguntou toda boba.

– É claro que sim... – Eu estava emocionada – Principalmente porque é o primeiro presente que ele ganha. – A abracei com carinho – Não sei como agradecer tamanho amor.

– Me agradeça não sumindo mais da minha vida. – Pediu com aquele seu jeito lindo.

– Me desculpa por isso?

– Não tem que me pedir desculpa por nada, porque eu entendo o que você está passando.

– Você é a melhor titia do mundo, sabia? – A abracei novamente.

– Ainda não acredito que vou ser titia. – Falou maravilhada – É muita emoção.

– E tenho certeza que esse bebê aqui. – Olhei minha barriga – Vai te amar muito.

Depois de Bruna me presentear com essas preciosidades, descemos ainda rindo, animadas e muito felizes. Mostrei a Luan o presente que sua irmã deu para o nosso bebê e ele ficou encantado, assim como eu. Continuamos todos conversando mais um pouco, Dona Mari me mostrou alguns álbuns de família, onde mostrava Luan e Bruna pequenininhos e lindos. Quando me deparei com as horas, quase cai pra traz. Já se passava das 21h00 e eu precisaria ir pra casa, pois no dia seguinte eu ainda teria que trabalhar.

– Você precisa mesmo ir agora? – Dona Mari perguntou me olhando.

– Eu adoraria passar mais um tempo aqui com vocês, mas tenho muito trabalho amanhã.

– Volte quando quiser. – Seu Amarildo me abraçou – A casa é toda sua.

– Muito obrigada, seu Amarildo! 

– Promete não sumir? – Bruna perguntou me abraçando carinhosa.

– Prometo, mas dá uma passadinha lá por casa?

– Eu vou mesmo! – Me abraçou novamente – Vai se cuidar? – Apenas concordei com a cabeça.

– Vamos? – Luan perguntou me olhando.

– Vamos!

Depois de me despedir mais uma vez dos três, segui com Luan para o seu carro, enquanto sentia algo bom dentro de mim. Seguimos conversando sobre o jantar, enquanto eu ainda babava no presente maravilhoso que ganhei de Bruna. Tudo o que eu gostaria de saber era o sexo do meu bebê, queria comprar logo roupinhas, coisas rosa ou azul para enfeitar meu quarto.

– O que você acha que pode ser? – Luan perguntou enquanto dirigia.

– Sinceramente? Eu sinto que pode ser uma menina, eu sinto... – Sorri o olhando – Só quero que venha com muita saúde!

– Você já pensou nos nomes?

– Se for menina, eu quero que se chame Luisa.

– Luisa?

– Sim, pra combinar com seu nome. – Ele começou a rir – Luan e Luisa. – Respondi satisfeita.

– E se for menino?

– Você pode escolher se quiser.

– Posso? – Apenas concordei com a cabeça – Então pode ser Miguel. – Falou pensativo.

– Eu gosto de Miguel.

E assim continuamos conversando sobre o nome do bebê, como seria o quarto, enquanto eu me encantava ainda mais com o interesse de Luan sobre tudo. Eu queria muito que as coisas ficassem bem, que tudo se ajeitasse com o tempo, queria que meu filho soubesse o tanto de admiração e repeito que existe entre seus pais. Quando chegamos ao meu condomínio, Luan estacionou o carro com cuidado, desligou o som e me olhou como se quisesse dizer algo.

– O que foi? – Perguntei o olhando.

– Será que em meio a todas essas coisas boas que nos aconteceu hoje... – Tentou falar – Não poderíamos nos entender de uma vez? – Perguntou se aproximando de mim.

– Luan, você sabe que as coisas não são tão simples assim. – Respondi sentindo o seu cheiro bom.

– Poderíamos então parar de dificultar as coisas. – Falou ainda me olhando – Você não sabe o quanto está sendo difícil continuar nessa situação, longe de você, do seu amor.

– Eu só quero conseguir colocar minha vida no lugar. – Respirei fundo – Quero poder digerir o que está acontecendo, ainda é muito novo pra mim.

– E enquanto isso a gente fica distante? 

– Eu preciso que você respeite meu tempo, Luan! – Falei tentando me afastar – Está sendo difícil pra mim também...

– Se está sendo difícil pra você, adianta ficar longe de mim? – Perguntou me interrompendo.

– Uma hora ou outra, você vai perceber que foi melhor para nós dois. – Dei um beijo em seu rosto – Se cuida, eu preciso ir.

– Cuida de vocês pra mim? – Ele pediu me olhando triste.

– Cuido!

E assim eu desci do carro, entrei no elevador, peguei minha chave na bolsa e segui para o meu apartamento. Eu sabia que eu estava sofrendo com essa decisão, mas eu precisava pensar em mim nesse momento, no meu bebê. Eu precisava respirar um pouco, colocar minha cabeça pra pensar, tirar um tempo pra mim e aí sim, eu pensaria em nós dois. Eu só sabia que eu estava feliz, independente de tudo o que vem me acontecendo nesses últimos dias, meu coração estava em paz. 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

(Capítulo 68 – Churros)

Acordei no dia seguinte sentindo um forte enjoo, tentei levantar sentindo meu corpo inteiro reclamar, agradecendo mentalmente por hoje já ser quinta-feira. Senti o cheirinho bom do café de Maria, tomei um banho demorado, coloquei uma roupa confortável e segui para a cozinha.

– Bom dia! – Cheguei olhando Maria e Laura que conversavam animadas.

– Bom dia! – Laura me olhou sorrindo – Dormiu bem?

– Mais ou menos, estou bastante enjoada. – Respondi sentando ao seu lado na mesa.

– O que minha estrela mais linda tem? – Maria perguntou carinhosa.

– Ela ainda não sabe? – Perguntei a Laura que negou rindo.

– Não sabe o que? – Ela perguntou confusa.

– Eu estou esperando um bebê, Maria! – Respondi sorrindo, enquanto ela me olhava com uma cara de assustada.

– Bebê? – Perguntou incrédula – Não acredito!

– Pois pode começar a acreditar, porque você terá que me mimar muito agora. – Sorri a abraçando.

– Ai, eu posso te ajudar a cuidar dele? – Começou a rir.

– É óbvio que você vai me ajudar a cuidar dele. – A abracei novamente – Agora prepara meu café, porque ele está com muita fominha.

– Parabéns, Alice! – Me olhou emocionada – Que seu bebê venha com muita saúde!

– Amém! – Beijei seu rosto – Obrigada por tudo, viu?

– Agora vou preparar um café maravilhoso pra vocês dois.

– Você não acha que seria bom voltar ao médico? – Laura perguntou enquanto comia.

– Voltar?

– Por conta dos enjoos.

– Não, ele disse que é normal nos primeiros meses. – Respondi fazendo carinho em minha barriga – Estou tomando os remédios, aos poucos vai passando.

– E como Luan reagiu? – Maria perguntou animada.

– Foi um susto no primeiro momento, mas depois ele ficou muito feliz. – Sorri a olhando – Inclusive hoje temos um jantar na casa dele.

– Jantar? – Laura perguntou surpresa.

– Os pais dele querem muito.

– Isso é ótimo! – Sorriu.

Depois do nosso maravilhoso café da manhã, organizei minhas coisas, me despedi das meninas e segui para a agência. Durante o percurso, recebi uma mensagem de Luan me lembrando do nosso jantar, apenas respondi com um “ok” e desliguei o celular. Tentei adiantar alguns trabalhos com as meninas, avisei que eu teria um compromisso esta noite e elas prontamente me ajudaram com tudo. Almoçamos juntas na sala, recebendo ligações, fechando contratos e rindo das bobagens que Marina nos contava.

– Ai! – Reclamei de um enjoo fortíssimo que senti depois de almoçar.

– Você tá bem? – Sthé perguntou preocupada.

– Sim... – Tentei falar – Foi só um enjoo.

– Enjoo? – Marina perguntou – Alice, você anda se alimentando bem?

– Mari, pega um remédio dentro da minha bolsa? – Pedi ignorando sua pergunta.

– Qual remédio? – Ela perguntou pegando minha bolsa. 

– Um da caixinha vermelha. – Respirei fundo.

– É pra enjoo esse remédio? – Ela perguntou olhando a caixa – Você tá grávida? – Me olhou assustada.

– O que?

– Minha tia tomava esse remédio quando estava grávida.

– Você acabou com a surpresa que eu estava preparando para as titias. – A olhei segurando o riso.

– VOCÊ TÁ BRINCANDO? – Sthé gritou me fazendo rir – Ai, eu não acredito! – Correu para me abraçar.

– É sério isso? – Concordei sorrindo – Que coisa linda! – Elas me abraçaram com todo amor.

Contei a elas sobre como eu descobri, como eu estava me sentindo, como estava sendo mágico gerar um filho. Elas entendiam o quanto eu estava assustada, o quanto tudo isso era novo, sabiam que tudo estava sendo muito complicado pra mim. Passamos a tarde inteira conversando, elas me mimaram o tempo inteiro, enquanto conversavam com o meu bebê. Era quase 17h00 quando terminei meu serviço, Laura passou para me buscar, eu ainda teria que me arrumar.

– Está ansiosa? – Ela perguntou me olhando.

– Acho que mais nervosa. – Respondi olhando meu celular.

– Normal, não vai ser um jantar como qualquer outro.

– Você não quer ir comigo?

– O que?

– Ir comigo.

– Não, você precisa ir sozinha.

– É sério que você vai me deixar sozinha nesse momento?

– Luan estará com você o tempo inteiro.

– Não é a mesma coisa.

– Existe pessoa melhor que o pai do seu filho?

– Existe a tia dele. – Ela começou a rir.

– Como as coisas estão entre vocês?

– Continua a mesma coisa.

– Sério?

– Ele precisa resolver antes essa situação com a ex-namorada.

– Eles não terminaram? – Perguntou confusa.

– Eles conversaram, ele disse que pediu um tempo para organizar a vida dele.

– Complicado.

– Por ser tão complicado, que eu prefiro deixar as coisas como estão. – Respirei fundo. 

– E o seu sentimento por ele?

– Nada mudou. – A olhei – Eu continuo amando aquele cretino.

– Não fala isso na frente do seu filho. – Falou indignada.

– Desculpa, mas seu pai é sim um cretino. – Falei olhando minha barriga.

Fomos o restante do caminho rindo, ouvindo algumas músicas, conversando sobre vários assuntos banais. Quando chegamos ao nosso condomínio, encontramos seu Pedro que nos cumprimentou todo simpático. Depois de entrar em nosso apartamento, Laura começou a fazer algo para comer, enquanto eu corri para o banheiro e tomei um banho demorado. Era quase 19h00 quando eu estava pronta, pedi pra Laura tirar uma foto minha e postei em minhas redes sociais.

“Um novo tempo para (re)começar.”

Enquanto eu esperava Luan, sentei um pouco, aproveitando para dar uma olhada nos comentários. Alguns eram de amigos, outros de alguns fãs de Luan, que se dividiam em me elogiar e falar absurdos sobre mim. Vi também um comentário de Benjamim, um de Felipe e outro de Bruna, fazendo as fãs enlouquecerem.

@benjamimalcantara estou que não me aguento de saudade 😢

@felipeferreira cada dia mais linda, princesa!

@brusantanareal hoje a gente mata essa saudade

será que Luan voltou com ela?”

“como assim mata a saudade @brusantanareal?”

“ela está linda”

“o que a Bruna quis dizer?”

“ai não acredito que meu casal está vivíssimo”

“ridícula como sempre”

“brilha lulice”

“ih, começou de novo”

Acabei me assustado com o meu celular tocando, era ele.

– Oi!

– Cheguei! Você quer que eu suba? – Ele perguntou calmo.

– Já estou descendo.

E assim guardei meu celular, me despedi de Laura, peguei minha bolsa e segui para o estacionamento. Vi o carro de Luan de longe, aquele mesmo que me trazia lembranças lindas de momentos que marcaram profundamente a minha vida. Ele destravou o carro com certa pressa, entrei fechando logo a porta para que não tivesse o perigo de alguém vê-lo e ele me olhava com um meio sorriso no rosto.

– Oi!

– Você está linda! – Falou ainda me olhando.

– Obrigada! – Agradeci tímida.

E sem dizer mais nada, ele seguiu para a sua casa, mas minha vontade era poder conversar com ele como antes. Vez ou outra ele parecia querer falar algo, mas não sabia como, então ligou o som do carro e foi cantando o tempo todo. Passamos por uma avenida grande, paramos o carro quando o sinal estava fechado, avistei uma farmácia e uma loja de roupas, com uma barraquinha de churros bem na frente. Eu poderia até dizer que a loja me encantou, mas aqueles churros me chamaram atenção. Comecei a salivar, de tanta vontade que eu estava daquelas gostosuras. Eu estava literalmente namorando aquela barraquinha, cada churros que o senhor de barba branquinha entregava para um novo cliente, me fazia ter mais vontade de comer todos eles. Quando o sinal abriu, entrei em desespero, eles me chamavam e eu não poderia ir embora sem comê-los.

– Para o carro, Luan! – Pedi o assustando.

– O que foi? – Perguntou sem entender.

– Estaciona ali na frente?

– Aonde você vai?

– Eu preciso comprar um churros daquele pra mim. – Choraminguei.

– Você tá brincando? – Perguntou incrédulo.

– Luan, seu filho quer comer churros.

– Você vai mesmo lá?

– Eu não vou aguentar ficar sem aqueles churros. – O olhei suplicante.

– Eu tenho uns trocados aqui.

– Eu tenho aqui... – Abri minha bolsa.

– Alice, toma! – Ele me interrompeu pegando minha bolsa e destravando o carro.

Desci do carro sentindo meu coração explodir de felicidade, eu poderia comprar aquela barraquinha de churros pra mim. Quase corri sorridente em direção a ela, mas tentei me controlar, pegando a fila pequena que se formou para comprarem os churros. Finalmente chegou a minha vez, comprei um pacotinho com 10 churros recheados com doce de leite e brigadeiro, me fazendo a pessoa mais feliz do mundo. Voltei para o carro comendo meus churros, quando entrei, dei de cara com Luan rindo do meu exagero.

– Satisfeita? – Perguntou me olhando.

– Uhum... – Respondi de boca cheia.

– Isso foi um desejo?

– Não, meu médico disse que existem desejos e vontades. – O olhei comendo mais um churros – Essa foi só uma vontade que me veio do nada.

– Imagina quando for desejo? – Me olhou desesperado.

– Quer um? – Ofereci.

– É bom? – Concordei comendo mais um.

Luan comeu os churros comigo, mas claro que eu devorei a maioria logo, realmente gravidez é um negócio que mexe mesmo com a gente. Seguimos nosso percurso conversando normalmente, até que os churros ajudaram a fazer o clima melhorar entre nós dois. Agora era a hora de ficar frente a frente com os pais de Luan, mas com certeza tudo seria mais fácil com eles. Eu estava nervosa como nunca antes, queria chegar logo, eu só queria poder enfrentar logo mais esse momento da minha vida.