sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

(Capítulo 67 – Conversa franca)

(Luan Narrando)

Senti uma mistura de sentimentos me tomar de uma maneira inexplicável, fazendo meu coração sair do meu corpo e voltar um milhão de vezes. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, era informação demais pra minha cabeça. Alice grávida? Imediatamente me lembrei de nossa conversa, ainda na praia em Alagoas, quando falamos de filhos. Era o maior sonho da minha vida, mas ao mesmo tempo em que me fazia o homem mais feliz do mundo, minha cabeça rodava em uma completa confusão. Depois de sair do condomínio de Alice, segui em direto para a minha casa, ainda tentando digerir tudo o que estava acontecendo. Eu precisava contar aos meus pais, precisava desabafar, porque eu não conseguiria raciocinar sozinho. Assim que estacionei o carro, entrei em casa sentindo algo profundamente bom, mas ao mesmo tempo era confuso, estranho. Quando cheguei já era noite, com sorte eu consegui encontrar meus pais e Bruna em casa, essa era a chance de contar a eles sobre a gravidez de Alice.

– Oi! – Entrei olhando meus pais que assistiam na sala.

– Estávamos preocupados! – Minha mãe me olhou – Como foi lá?

– Eu preciso conversar com vocês. – Falei sentando ao seu lado.

– O que aconteceu? – Meu pai perguntou preocupado.

– Cadê a piroca?

– Estou saindo, tenho um compromisso. – Desceu as escadas com pressa.

– Pois pode desmarcar seu compromisso. – Falei a olhando – Eu preciso conversar com vocês três.

– Você tá brincando?

– Estou com cara de quem tá brincando? – A olhei sério.

– O que foi que aconteceu? – Perguntou sentando.

– Eu sei que o que eu vou dizer aqui vai deixar vocês assustados, tanto quanto eu estou nesse momento. – Olhei os três que me olhavam curiosos – Mas nada foi planejado, simplesmente aconteceu.

– Ih, desembucha logo. – Bruna pediu já mostrando seu nervosismo.

– Eu conversei com Alice. – Falei respirando fundo.

– E conseguiram se acertar? – Minha mãe perguntou esperançosa.

– Não sei ao certo, mas algo ainda maior e mais importante aconteceu.

– E o que de tão importante aconteceu que você precisa conversar com a gente? – Meu pai perguntou sem entender.

– A Alice está grávida? – Fui direto, fazendo minha mãe se engasgar com a água que tomava.

– A senhora está bem? – Bruna perguntou preocupada tentando tomar o copo de sua mão.

– Grá... – Respirou ainda com dificuldade – Grávida? – Ela perguntou me olhando arregalada.

– Como você deixou isso acontecer? – Meu pai perguntou sério.

– Nós não planejamos nada disso. – O olhei – As coisas simplesmente aconteceram.

– E como a Alice está? – Bruna perguntou ainda ao lado da minha mãe.

– Ela tá enfrentando muita coisa. – Respondi a olhando.

– Luan, você deveria ter evitado que isso acontecesse. – Meu pai falou parecendo atordoado – Como você me vem com uma notícia dessas.

– Pai, nem tudo na vida a gente pensa não. – Respondi sério – Já disse que nada disso foi planejado.

– E o que você pretende fazer agora? – Perguntou quase aos gritos – Porque um filho não é um brinquedo, Luan!

– Eu sei que filho é uma grande responsabilidade. – Respondi tentando manter a calma – Eu não esperava por isso.

– E quem esperava? – Ele perguntou – Vocês foram dois irresponsáveis!

– O que adianta isso agora? – O olhei com lágrima dos olhos – Eu só quero poder criar meu filho, quero poder dar a ele a mesma educação que o senhor e minha mãe me deram.

– Não dá pra acreditar que isso tá acontecendo. – Ele voltou a sentar ao lado da minha mãe.

– Mãe? – A chamei – A senhora não tem nada pra me dizer?

– Eu sinceramente não imaginei que as coisas aconteceriam dessa maneira. – Respondeu com seu jeito calmo – Mas se aconteceram foi porque Deus permitiu. – Veio em minha direção – Quero que cuide de Alice e dessa criança, você vai precisar crescer e se tornar um homem ainda mais responsável. – Acariciou meu rosto – E eu confio em você. – Foi impossível não se emocionar com suas palavras.

– E como fica agora a relação de vocês? – Bruna perguntou curiosa – E a Camila?

– Eu não sei, eu primeiro quis conversar com vocês sobre isso. – Respondi a olhando – Tenho que falar com Camila.

– Traga Alice pra jantar aqui com a gente amanhã. – Meu pai falou agora mais calmo – Precisamos conversar todos juntos. – Ele se aproximou – Tenho certeza que você será um ótimo pai. – Confessou me fazendo rir.

E então eu recebi o abraço da minha família, me passando toda a segurança, todo apoio necessário nesse momento. Contei a eles como tudo aconteceu, sobre o que Alice estava passando, principalmente por conta da rejeição de seu pai. Minha mãe acabou se emocionando, não conseguia acreditar na maneira como as coisas estavam difíceis para ela. Depois de jantar ao lado das pessoas mais importantes da minha vida, subi para o meu quarto e decidi ligar para Alice.

– Oi! – Ela atendeu com a voz sonolenta.

– Estava dormindo?

– Só descansando um pouco.

– Está se sentindo bem?

– Um pouco enjoada, mas daqui a pouco passa.

– Eu conversei com meus pais.

– E o que eles disseram?

– No primeiro momento foi um susto, mas depois aceitaram. – Respondi calmo – Eles te convidaram para um jantar aqui em casa.

– Quando?

– Amanhã!

– Amanhã? – Perguntou parecendo nervosa.

– Algum problema pra você?

– Não... – Tentou falar – Só estou nervosa.

– Não precisa ficar nervosa. – Tentei a tranquilizar – Vamos estar em família. 

– Como sua mãe reagiu quando soube?

– Ela ficou em estado de choque.

– Sério?

– Sim, mas aí pediu que eu cuidasse de vocês.

– Vai ser muito bom poder conversar com ela amanhã.

– Você não teve mais notícia dos seus pais?

– Minha mãe ligou, disse que está se organizando pra passar uns dias aqui comigo.

– Isso vai ser muito bom!

– Já caiu sua ficha? – Perguntou calma.

– Sinceramente, eu acho que só vai cair quando nosso filho nascer.

– Eu não queria que as coisas fossem assim. – Confessou – Queria que tudo estivesse bem entre nós dois.

– E não está? – Perguntei.

– Você sabe que não.

– E o que eu posso fazer para que tudo fique bem novamente?

– Luan, sinceramente eu não quero falar sobre isso agora.

– E quando vamos poder falar sobre isso?

– Talvez quando você tentar concertar a burrada que você fez. – Falou séria demais – Desculpa, mas eu preciso descansar.

– Tudo bem... – Fiquei completamente desconcertado – Amanhã eu vou aí te buscar.

E assim encerramos a ligação, mesmo ela se fazendo de durona, eu sabia que aos poucos as coisas voltariam a ser o que era antes. Desci para tomar um pouco de água, encontrei meu pai sozinho no escritório e passamos horas conversando sobre vários assuntos. Claro que o principal assunto era a gravidez de Alice, ele me perguntou como eu estava me sentindo, mas eu não sabia responder. Era uma sensação inexplicável demais, uma vontade imensa de sair gritando por aí, compartilhando da minha felicidade com todos. Ele me alertou que eu precisaria conversar com Arleyde, dependendo de como ficaria minha situação com Alice, uma hora ou outra eu precisaria contar sobre sua gravidez. Já passava das 2h00 quando decidimos nos recolher, antes de dormir acabei mandando uma mensagem para Camila, pedindo que ela viesse até minha casa no dia seguinte pela manhã. Era hora de abrir o jogo com ela, não tinha mais como esconder a realidade e simplesmente agir como se nada estivesse acontecendo. Só consegui dormir depois de horas pensando e repensando no que eu precisaria fazer a partir de agora. Um filho era sim uma grande responsabilidade, mas eu estava disposto a abrir mão de qualquer coisa para ser feliz ao lado dos dois amores da minha vida. Acordei no dia seguinte sendo chacoalhado insistentemente por Bruna, que chegou trazendo seu mal humor.

– O que você quer? – Perguntei me virando na cama.

– A Camila está lá na sala te esperando. – Respondeu sentando – Disse que você chamou.

– Chamei? – Perguntei tentando abrir meus olhos – Ah, eu chamei mesmo!

– Eu espero que seja para despachar logo, porque eu não aguento mais nem olhar pra cara dela.

– Pede pra ela me esperar? – Sentei na cama.

Ela não disse nada, apenas saiu me fazendo apressadamente tomar um banho e colocar uma roupa confortável para aquele dia quente. Com certeza Camila soltaria muitos absurdos depois de saber o motivo da nossa conversa, eu teria que me preparar. Eu só não queria mais ter que adiar essa conversa, queria poder ser sincero com ela e acabar logo com toda essa situação complicada. Assim que eu estava pronto, apenas mandei uma mensagem para Bruna e ela entendeu que Camila poderia subir. Respirei fundo, coloquei meu celular para carregar e esperei que ela entrasse no meu quarto, com aquele seu jeito exagerado de demonstrar as coisas.

– Posso entrar? – Ela perguntou batendo na porta.

– Claro, entra! – A olhei sorrindo – Como você está? – Perguntei a cumprimentando com um abraço.

– Morrendo de saudade de você. – Tentou me beijar.

– Camila, precisamos conversar sério. – Fugi de seu beijo.

– O que foi dessa vez? – Perguntou sentando na cama.

– Você sabe o quanto eu gosto de ti, sabe que nossa história foi muito boa...

– Foi? – Perguntou me interrompendo – Você tá terminando comigo pra ficar com ela?

– Camila, eu só quero que você me escute.

– Escutar o que? – Perguntou com raiva – Escutar que você quer abrir mão do nosso namoro por conta de uma pessoa que você conheceu praticamente ontem?

– Não é bem assim...

– E como é? – Me interrompeu novamente – Como que as coisas funcionam pra você?

– O nosso namoro acabou desde o momento em que você saiu daqui pra estudar do outro lado do mundo.

– Então a culpa é minha? – Seus olhos encheram de lágrimas – A culpa do fim do nosso namoro é minha, Luan?

– Camila, você não percebe que as coisas mudaram?

– VOCÊ MUDOU! – Gritou se levantando – FOI VOCÊ QUE MUDOU DESDE QUE ESSA VAGABUNDA APARECEU NA SUA VIDA!

– CALA SUA BOCA, CAMILA! – Gritei na mesma altura – Você não sabe o que tá falando, não sabe o que tá acontecendo!

– Você não pode terminar nosso namoro por conta de uma aventura. – Falou mais calma – Não pode acabar com nossa história assim.

– Eu não posso mais continuar com isso. – A olhei – Tudo é diferente agora.

– E o que é diferente? – Voltou a me olhar – O que diabos aconteceu pra você decidir terminar comigo assim? – Perguntou com raiva – FALA LUAN!

– A Alice está grávida! – Respondi com pressa.

– O que? – Começou a rir nervosa – Você tá brincando?

– Você acha que eu brincaria com isso?

– Não estou acreditando nisso! – Falou agora mais séria – Você enlouqueceu? – Perguntou se aproximando – Não tá vendo que isso é um golpe?

– Golpe? – Perguntei incrédulo – Você tem noção do que está falando?

– É VOCÊ QUE TÁ CEGO E NÃO PERCEBE QUE ELA TÁ TE ENGANANDO! – Gritou desesperada.

– Para com isso, Camila!

– Como é que ela vai engravidar logo agora que eu voltei? – Perguntou nervosa – ELA TÁ FAZENDO ISSO PRA VOCÊ ME DEIXAR!

– CHEGA! – Gritei a olhando.

– E o que vai acontecer agora? – Começou a rir novamente – Você vai casar com ela? Vai criar esse bebezinho QUE VOCÊ NEM SEQUER SABE SE É SEU? – Perguntou descontrolada – Sim, porque ela pode ter dormido com vários!

– Você não tem limites, Camila! – A olhei sem acreditar.

– E o que sua mãe achou disso? – Perguntou seguindo para a sala, enquanto eu seguia atrás dela.

– Que gritaria é essa? – Minha mãe perguntou assustada.

– A senhora sabia que seu filho vai ser pai? – Perguntou enfurecida – A SENHORA SABIA QUE ELE DORMIU COM UMA VAGABUNDA QUALQUER E A ENGRAVIDOU?

– Para de gritar! – Minha mãe pediu a repreendendo.

– Como a senhora pode apoiar essa loucura? – Perguntou incrédula – Vocês estão todos cegos!

– Será que você não percebeu que tá sobrando nessa história toda, Camila? – Bruna perguntou a surpreendendo, mas ela apenas a olhou com raiva.

– VOCÊ É UM IDIOTA! – Jogou as palavras na minha cara – E VAI SE ARREPENDER MUITO DAS SUAS ESCOLHAS!

E assim ela saiu, extremamente magoada, enquanto eu me sentia bem em poder tirar esse peso das minhas costas. Claro que não era uma sensação boa ter que fazer Camila sair daqui dessa maneira, mas eu não tinha outra escolha. Agora eu só queria poder caminhar pra frente, tentar reconquistar Alice e ser feliz com ela, com nosso filho. Eu sabia que não seria fácil, que eu só estava no inicio de uma grande batalha, mas eu tinha certeza absoluta de que iria valer a pena. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

(Capítulo 66 – Eu vou ser pai)

Estava quase na hora do meu expediente acabar, ainda precisei conversar com uma cliente muito especial, mas logo arrumei minhas coisas e segui para a minha casa. Lembrei que Laura voltaria mais cedo, então acabei pegando carona com uma colega da agência. Enquanto ela dirigia, acabou ligando o som do carro para descontrair um pouco e uma música bastante conhecida começou a tocar. Era “tinta de amor”, a mesma música que Luan pediu que cantassem pra mim na festa do Rafa, quando ainda estávamos separados. No mesmo instante um sorriso brotou em meu rosto, foi impossível não lembrar aquele dia, tudo o que Luan aprontou para me reconquistar. Apesar de tudo o que estava acontecendo, eu estava sentindo muito a falta dele, de tudo o que conquistamos durante esses seis meses juntos. Enquanto eu continuei perdida em meus pensamentos, logo chegamos ao meu condomínio, me despedi de minha colega e subi ainda sorrindo. Enquanto eu procurava minha chave na bolsa, senti uma sensação boa, sorri olhando minha barriga e constatei que meu filho estava feliz. Comecei a rir sozinha, abri a porta do meu apartamento e tive uma grande surpresa ao olhar Luan e Laura sentados no sofá da sala.

– Luan? – O olhei incrédula – O que você tá fazendo aqui?

– Alice, nós precisamos conversar! – Ele falou se levantando.

– Conversar? – Olhei Laura que levantou junto – Laura, eu não acredito!

– Me desculpa? – Pediu suplicante – Vocês precisam realmente conversar! – Tentou se desculpar. 

– Não culpe sua prima, eu insisti muito para que ela me ajudasse. – Ele tentou se aproximar.

– Pode continuar onde você está. – Me afastei – E eu não tenho absolutamente nada pra conversar com você.

– Como não, Alice? – Me olhou nervoso – Eu preciso explicar tudo o que aconteceu, porque as coisas não podem continuar assim.

– Eu estarei no meu quarto. – Laura falou saindo de mansinho.

– E o que você quer me falar, Luan? – Perguntei cruzando os braços.

– Quero te pedir desculpas...

– É sempre a mesma coisa. – O interrompi rindo – Você faz suas besteiras e depois me pede desculpas.

– Eu sei que eu errei.

– Até quando? – Perguntei o olhando – Até quando você vai me fazer de idiota?

– Você não sabe o quanto está sendo difícil pra mim. – Me olhou triste.

– É mesmo? – Perguntei – E você acha que pra mim está sendo fácil?

– Eu sei que não.

– Você sabe? – O olhei – Então você poderia ter evitado tudo isso, não é mesmo?

– Eu poderia sim, mas eu falhei mais uma vez.

– Se é só isso que você tem pra me falar, pode ir embora. – Falei abrindo a porta.

– Eu tive medo de falar sobre Camila, porque eu sabia que isso poderia acontecer. – Fechou a porta me olhando – Quando eu te conheci naquela noite, eu não imaginei que as coisas chegariam até aqui. – Respirou fundo – Quando você sumiu, eu sinceramente imaginei que não nos encontraríamos novamente. – Continuou me olhando intensamente – Mas aí o destino nos surpreendeu mais uma vez, te colocando em meu caminho novamente, me fazendo sentir ainda mais algo por você.

– Não precisa disso. – Enxuguei uma lágrima que escorreu sobre meu rosto.

– Alice, as coisas foram acontecendo de uma maneira inacreditavelmente rápida, nos tomando todo o fôlego. – Segurou meu rosto – A cada dia eu estava mais envolvido, me fazendo ter medo de te perder ao contar de uma história que pra mim não tinha mais volta.

– Você nunca imaginou que um dia ela voltaria e aí você teria que falar a verdade?

– Eu queria adiar esse momento, só pra não correr o risco de te perder. – Respondeu sincero.

– Quantas vezes você perdeu a chance de me contar sobre isso, de ser sincero comigo, de me falar a verdade de uma vez por todas. – O olhei sentindo uma vontade tremenda de chorar – Já enfrentamos tantas coisas, isso seria apenas mais uma.

– Eu nunca fui tão idiota em toda a minha vida, eu agi sem pensar. – Sentou colocando as mãos na cabeça – Eu só queria poder voltar atrás e fazer tudo diferente.

– Mas não pode. – Ele me olhou – Você tem que aguentar as consequências dos seus atos.

– Eu não quero continuar sem você.

– E ela? – Perguntei o olhando.

– Eu passei quase três anos com Camila, tudo seguia de maneira agradável entre nós dois. – Sentei ao seu lado – Até que ela um dia decidiu ir estudar fora, disse que era seu sonho e eu só conseguia pensar em como tudo seria bom pra ela. – Respirou fundo – E então ela se foi... – Me olhou procurando as palavras – E eu sabia que a cada dia as coisas não funcionariam mais como antes.

– Mas vocês não terminaram o relacionamento, não é?

– Não, nós não terminamos. – Concordou se mostrando arrependido – E hoje é o que mais me atormenta. – Silenciou por alguns segundos – Mas aí você apareceu, bagunçou a minha vida. – Me olhou intensamente – Me fez uma pessoa melhor, fazendo com que Camila se tornasse de fato, apenas uma lembrança para a minha vida.

– E o aconteceu quando ela voltou?

– Nós conversamos. – Me olhou de uma maneira linda – Eu falei de você, do nosso relacionamento, disse que eu precisava colocar minha vida em ordem.

– E agora?  

– Eu não tenho dúvidas de que é com você que eu quero ficar. – Segurou minha mão – Camila não significa mais nada pra mim.

– Como é que você pode ter tanta certeza disso, Luan?

– E como eu posso não ter certeza? – Perguntou sentando um pouco mais próximo de mim – Tudo o que vivemos não é suficiente para que eu acredite no nosso amor? – Acariciou meu rosto, mas levantei antes que ele se aproximasse mais.

– Eu não consigo entender tudo isso. – Andei até a varanda – Eu só queria que as coisas fossem mais fáceis, mas nunca foram. – Senti a presença de Luan atrás de mim – Eu só queria nunca ter te conhecido.

– Era isso mesmo que você queria? – Me virou para que ficássemos frente a frente.

– Eu queria que você não me magoasse com suas mentiras. – Respondi sincera.

– Eu nunca quis te magoar. – Se sentou novamente no sofá – Eu só queria acabar com isso e fazer com que tudo volte a ser o que era antes.

– Nada será como antes. – Tentei segurar minhas lágrimas, mas era quase impossível no meu estado emocional.

– Não?

– A minha vida tá de cabeça pra baixo, desde aquela viagem.

– Do que você tá falando? – Ele perguntou confuso – Ei, olha pra mim! – Levantou minha cabeça, tentando enxugar minhas lágrimas.

Todos os nossos momentos passaram como um filme por minha cabeça, me deixando ainda mais emotiva. Nosso primeiro beijo, nossas noites de amor, nossa entrega de alma, nossa ligação, todo o bem que um fazia ao outro. Era tudo tão maravilhoso, nada chegaria aos pés do que nós dois nos tornamos, no amor em que construímos e que hoje nos deu frutos. Eu não tinha o direito de tirar essa felicidade dele, de esconder nosso filho, mesmo que isso chegasse a se tornar um problema. Por mais que eu não quisesse, ele tinha todo direito de saber sobre minha gravidez e sobre tudo o que está acontecendo. Com todo cuidado do mundo, levantei ainda o olhando e segui para o meu quarto, fazendo Luan me olhar confuso.

– Aonde você vai?

– Já volto! – Respondi caminhando.

Assim que entrei em meu quarto, me encostei sobre a porta e comecei a chorar, um choro que estava dentro de mim fazia dias. Fui até o meu guarda-roupa, peguei meu exame de sangue que fiz para comprovar minha gravidez e respirei fundo antes de voltar pra sala. Eu sabia que as coisas seriam diferentes daqui pra frente, mas com ele ao meu lado, talvez se tornassem mais fáceis. Quando voltei, ele estava sentado no mesmo lugar, olhando pro nada, com certeza tentando encontrar respostas.

– O que foi? – Perguntou quando me viu.

– Toma, abre! – O entreguei o exame.

– O que é isso? – Perguntou abrindo o envelope.

– Tá entendendo? – Perguntei enquanto ele continuava lendo, confuso, mas parou seu olhar no exame quando leu o “positivo”.

– O que? – Me olhou – Positivo? – Voltou a olhar o exame ainda sem entender.

– Eu estou grávida! – Me olhou levantando lindamente as sobrancelhas.

– Grávida? – Perguntou levantando – Você... – Olhou o exame novamente – Você tá grávida? – Apenas concordei chorando.

Luan leu e releu o exame umas 10 vezes, me olhava assustado, mas ao mesmo tempo seu semblante tinha um ar de felicidade. Claro que aquilo estava sendo um baque pra ele, mesmo que com toda a felicidade que eu tinha certeza que invadia seu coração naquele momento, eu também sabia que uma confusão se formava em sua cabeça.

– Eu sei que tá sendo confuso, mas aconteceu na nossa viagem. – Falei chorando.

– Eu vou ser... – Tentou falar – Eu vou ser pai? – Perguntou me olhando – Alice, você tá falando sério?

– Tá aí na sua mão. – Respondi apontando para o exame.

– Meu Deus! – Mexeu no cabelo, mexeu no exame, se aproximou de mim e olhou minha barriga.

Ele me olhou como se pedisse permissão para algo, voltou a olhar minha barriga e eu o incentivei a fazer o que ele tanto queria. Segurei sua mão, enquanto ele parecia digerir toda aquela notícia e delicadamente ela pousou em minha barriga. Em momento algum eu imaginei ver Luan no estado em que ele se encontrava, completamente entregue a um sentimento único. Ele chorava, tentando controlar uma emoção que fazia parte dele, uma emoção que era compartilhada entre nós dois. 

– Você tá feliz? – Perguntei tentando conter minhas lágrimas.

– Eu vou ser pai! – Começou a rir – Eu vou ser pai! – Repetiu várias vezes, me abraçando tão forte que eu poderia sentir o calor de sua alma.

– Luan, eu preciso falar com você! – Falei desfazendo o abraço.

– O que foi? – Perguntou preocupado.

– Eu não quero que nada disso atrapalhe a sua vida. – Sentei enquanto ele me olhava. – Já basta tudo o que aconteceu comigo, eu não quero que te atrapalhe.

– Atrapalhar minha vida? – Sentou ao meu lado – Você tá ficando louca?

– Não vai ser fácil daqui pra frente...

– Não vai ser fácil, mas nós estamos juntos pra enfrentar tudo. – Voltei a chorar incontrolavelmente – O que aconteceu?

– Aconteceu que minha vida não é a mesma. – O olhei enxugando minhas lágrimas – Aconteceu que eu perdi a maior oportunidade da minha vida na agência. – Levantei tentando me controlar – Aconteceu que eu fui expulsa da casa dos meus pais.

– O que? – Perguntou incrédulo.

– Eu estou com muito medo do que pode vir pela frente, tenho medo do que as pessoas vão falar, do que sua família vai achar. – Falei desabando em um choro fora do normal, enquanto Luan me passava toda segurança através de seu abraço.

– Olha aqui pra mim. – Segurou meu rosto para que eu o olhasse. – Não importa o que as pessoas vão achar com tudo isso – Enxugou minhas lágrimas – Importa é o que nós dois sabemos, o que sentimos. – Beijou minha testa – Eu estou aqui com você, não quero que se sinta sozinha.

– Até quando? – Perguntei completamente fraca.

– Até sempre! – Respondeu me abraçando novamente.

Passamos um bom tempo ali, abraçados, sentindo um a presença do outro, enquanto nosso bebê sentia nosso amor. Ele às vezes parava pensativo, mas em momento algum soltou minha mão, nem muito menos me permitia sair de seus braços. Eu estava muito fraca, não tinha forças nem pra respirar direito depois de tudo o que aconteceu. Eu queria que Luan continuasse ali comigo, mas minha consciência gritou comigo, me fazendo tomar a decisão mais sensata.

– Eu acho que você precisa ir. – Falei saindo de seus braços.

– Ir? – Perguntou confuso – Eu quero ficar aqui com você!

– Você precisa ir resolver sua vida. – Falei o olhando – As coisas continuam pendentes entre nós dois.

– E você vai ficar bem? – Perguntou preocupado.

– Vou sim. – Respondi sem olhar em seus olhos.

– Alice, olha pra mim? – Segurou meu rosto – Eu quero que você saiba que eu vou fazer tudo por nós três, tudo por nosso amor! – Falou convicto de suas palavras.

Luan deixou um beijo em minha testa, se despediu do filho com um carinho em minha barriga e saiu me deixando sem saber o que fazer. Eu não sabia se me sentia segura em tê-lo ao meu lado, ou se me sentia apreensiva com o mundo que estava prestes a cair sobre minha cabeça. Eu não tinha certeza se eu e Luan poderíamos dar certo novamente, mas eu tinha certeza que meu filho teria um maravilhoso pai.