quinta-feira, 30 de novembro de 2017

(Capítulo 65 – Primeira consulta)

Era terça-feira, dois dias depois da nossa volta pra casa, hoje eu estava pronta para a minha primeira consulta com meu obstetra. Confesso que eu estava muito ansiosa, queria saber se tudo estava indo bem com o meu bebê. Ontem Luan voltou a me ligar, até aqui no meu condomínio ele apareceu, mas eu pedi que seu Pedro avisasse que estávamos viajando. As meninas me avisaram que ele também ligou na agência, mas que elas fizeram como tínhamos combinado. Eu ainda estava muito confusa com tudo, minha ficha parecia não cair nunca, tudo isso chegou como um furacão na minha vida. Trabalhei durante a manhã toda, mas a tarde Bruno me dispensou para que eu conseguisse ir ao médico. Fui direto da agência para a clinica, mandei uma mensagem para Laura, enquanto tentava controlar minha ansiedade na sala de espera.

– Alice? – A secretária me chamou – Pode me acompanhar?

– Claro! – Levantei sorrindo.

– Oi, Alice! – O doutor me cumprimentou assim que entramos em sua sala – Tudo bem?

– Tudo ótimo! – Sorri simpática.

– Alice, nós faremos um exame de sangue agora, só para saber de sua gravidez.

– Tudo bem.

Fizemos meu exame, enquanto ele me passava toda segurança do mundo, sem me deixar fraquejar ou me sentir mais nervosa do que já estava. Depois de feito, esperamos por mais alguns minutos, enquanto o resultado ficava pronto. Aproveitei para responder uma mensagem de Laura, contando a ela sobre minha consulta e meu médico. Não demorou muito para que o Doutor Cesar, estivesse com meu exame nas mãos, pronto para me mostrar.

– Aqui podemos confirmar sua gravidez. – Sorriu me entregando o exame – Com certeza está sendo uma grande benção na sua vida.

– Sim, está sendo. – Me emocionei em ter meu exame em mãos. – Não foi planejado, mas tenho certeza que foi enviado por Deus no momento certo.

– Mas me diz uma coisa, como você está se sentindo? Tem alguma queixa? – Perguntou escrevendo – Enjoos, dores de cabeça, dor nos seios, sonolência?

– Estou sentindo muito sono, na verdade, sinto um sono fora do comum. – Sorri de canto – E também ando bastante enjoada.

– Isso é comum nessa fase inicial, mas depois melhora. – Falou me olhando – Eu vou receitar pra você um remedinho para os enjoos. – Escreveu na receita – A partir de agora, você precisa cuidar ainda melhor da sua alimentação. – Concordei atenciosa – Depois te passo uma lista com a relação do que você pode comer e do que você deve evitar.

– Certo, vou me cuidar direitinho.

– É importante que você beba bastante liquido e procure dormir bem. – Escreveu novamente – Não esqueça que agora você tem que pensar por dois. – Sorriu de uma maneira engraçada.

– Não vou esquecer. – Sorri.

– Bom, vamos trocar de roupa para que eu possa te examinar? – Apenas concordei com a cabeça.

Segui para trocar de roupa, deitei em uma maca e começamos com os exames, alguns até um pouco desconfortáveis. Ele ligou o aparelho onde eu conseguiria ver o meu bebê e ouvir as batidas de seu coração. Ainda era tão pequenininho, mas seu coração batia acelerado, fazendo meu coração acelerar ainda mais ao sentir tanto amor. Doutor Cesar me contou que tudo estava bem, que o colo do útero estava normal, fechadinho e que meu bebê cresceria saudável. Eu estava vendo o meu filho, estava sentindo aquela maravilhosa sensação de tê-lo comigo, ele fazia verdadeiramente parte de mim. Depois de concluir os exames, troquei novamente de roupa, tentei me recuperar daquele momento extremamente especial e voltei a sentar.

– Alice, está tudo maravilhosamente bem com vocês! – Sorriu organizando alguns papéis – Idade gestacional de seis semanas...

– Seis semanas? – O interrompi surpresa – Seis semanas... – Lembrei que nessa época estávamos em Alagoas.

– Ainda está bastante recente, por isso precisamos ter o dobro de cuidados – Concordei ainda pensativa – Eu vou te passar mais alguns exames que você precisará fazer.

– Ok!

– Estou te passando também, algumas vitaminas para que você consiga se alimentar melhor.

– Eu agradeço, porque os enjoos me impedem de comer.

Depois de mais algumas recomendações, me despedi de Doutor Cesar, me sentindo bem mais segura e confiante. Falei rapidamente com sua secretária, ela me entregou um cartão com os contatos do Doutor e pediu que eu entrasse em contato caso algo de anormal aconteça. Recebi a mensagem de Laura pedindo que eu aguardasse, pois ela estava vindo me buscar, claro que eu não tinha como recusar uma ordem como essa.

– Como foi sua consulta? – Laura perguntou quando entrei no carro.

– Ótima, não poderia ter sido melhor! – Sorri animada – Acredita que eu ouvi o coraçãozinho do meu bebê?

– Sério? – Concordei enquanto bebia um pouco de água – E como ele está?

– O Doutor disse que ele é muito saudável.

– E de quantas semanas você está?

– De seis semanas. – Respondi a olhando – Fizemos nosso filho em Alagoas.

– Você tá brincando? – Perguntou rindo.

– Você acha mesmo? – Comecei a rir – Ele é um ridículo, ficou falando de filhos lá comigo.

– Vocês falaram de filhos?

– Ele disse que queria ter muitos filhos comigo, que queria criar todos eles lá, em contato direto com o mar.

– Eu estou sem reação. – Me olhou pasma – Não acredito que o destino brincou mais uma vez com vocês.

– Queria tanto que as coisas fossem diferentes.

– Só você pode mudar essa situação.

– Como? – Perguntei a olhando.

– É preciso mesmo que eu diga? – Não respondi, nem era preciso.

Laura logo entrou em outro assunto, me contou que Douglas estava atrás de um apartamento em São Paulo. Ela estava imensamente feliz, seus olhos brilhavam e a maneira como ela me contava sobre esse assunto, era linda. Não demorou muito para que chegássemos ao nosso condomínio, eu estava me sentindo um pouco cansada, então cuidei logo de colocar um pijama e me jogar na minha cama.

– Não vai comer nada? – Laura perguntou entrando em meu quarto.

– Estou enjoada, acho que nada me entra. – Respondi fazendo careta.

– E seu bebê não está com fome?

– Até então ele não me pediu nada. – Sorri – Acho que ele não está com vontade.

– Mas você precisa se alimentar.

– Pode ser depois?

– Eu vou deixar um pouquinho de sopa pra você, caso sinta fome mais tarde. – Apenas concordei olhando meu celular.

Aproveitei para entrar em minhas redes sociais, vi os comentários de alguns fãs de Luan na ultima foto que postei. Alguns perguntavam sobre nós dois, outros diziam que Luan agora estava novamente com Camila, outros apenas entravam para me elogiar ou dizer que estavam com saudades de quando eu acompanhava Luan. Senti meu coração doer com toda essa maré de sentimentos, enquanto o tempo inteiro várias coisas passavam por minha cabeça. “Será que ele está com ela?” “Será que ele ainda me ama?” “O que será que ele está sentindo?” “Será que está sofrendo?”. Será, será, será, era apenas isso que eu me perguntava. Sentia vontade de ligar pra ele, pedir pra conversar, outras vezes eu sentia uma raiva tremenda dele. Passei mais alguns minutos no celular, olhei mais algumas fotos e acabei pegando em um sono profundo.

(Luan Narrando)

Depois de voltar do meu final de semana corrido, decidi ir atrás de Alice, mesmo que isso chegasse a se tornar um desafio. Ignorei todas as ligações de Camila, eu estava mais que certo, era de Alice que eu precisava ao meu lado. Assim que cheguei quis logo conversar com Bruna, ela me contou sobre sua conversa com Alice e disse que ela estava bastante magoada. Não era pra menos, ela tinha toda razão de se sentir enganada, eu fui um grande idiota, mas estava decidido em mudar o rumo dessa história.

– Ela sumiu completamente, nem minhas ligações ela atende. – Bruna falou tristonha.

– A ultima vez que você falou com ela foi na quinta-feira?

– Sim, depois não conversamos mais. – Respondeu me olhando.

– Ela impediu minha entrada no condomínio. – Falei indignado – Seu Pedro disse que ela está viajando, mas Douglas me confirmou que elas chegaram no domingo.

– O que você vai fazer?

– Eu não sei, mas eu vou pensar em algo. – A olhei – Ela vai voltar pra mim.

– Eu tenho certeza que sim. – Tentou me tranquilizar – Vocês se amam muito.

Eu não sabia ao certo como eu faria para encontrar Alice, pensei em ir na agência, mas aí eu estaria a prejudicando em seu trabalho. Pensei em voltar ao seu condomínio e esperar lá até o momento dela aparecer, mas eu não fazia ideia de como fazer isso sem chamar atenção dos moradores. Eu sentia que algo estava acontecendo, que Alice precisava urgentemente de mim, ela não queria sair dos meus pensamentos. Acabei jantando com meus pais, mas logo voltei para o meu quarto e comecei a compor uma música. Era quase 4:00 da manhã quando consegui dormir, pensando em infinitas maneiras de chegar até Alice.

Acordei no dia seguinte por volta das 15:00, como em um estalar de dedos, lembrei que eu poderia ter feito isso bem antes. Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa qualquer, óculos escuros e um boné para que ninguém me reconhecesse. Desci as escadas correndo, encontrando apenas minha irmã e Bruna, que me olharam assustadas.

– Aonde você vai? – Minha mãe perguntou.

– Vou na loja da Laura. – Respondi sentando ao seu lado.

– Loja da Laura? – Bruna perguntou quase gritando – Você tá louco?

– Piroca, é minha ultima alternativa. – Respondi como se fosse óbvio.

– Pi, essa loja fica no meio de um shopping lotado!

– Eu vou entrar pelos fundos, ninguém vai me reconhecer.

– Não tem como levar um segurança, filho? – Minha mãe perguntou preocupada.

– Eu vou levar. – Beijei sua mão – Não se preocupem.

Fui até a cozinha, peguei uma maça, dei um ultimo beijo em minha mãe e corri para o carro, onde um dos meus seguranças já me esperava. Tentei mais umas três vezes ligar para o celular de Alice, porém mais uma vez ela recusou todas as ligações. Respirei fundo e comecei a pedir mentalmente a Deus que Laura estivesse na loja, ela era minha única chance nesse momento. Quando chegamos ao estacionamento do shopping, coloquei meus óculos, meu boné e o capuz por cima. Carlos me acompanhou o tempo inteiro, entramos pela parte externa, para que não tivesse perigo de alguém me ver. Com certeza Deus estava ao meu favor, pois assim que eu estava saindo do elevador, acabei dando de cara com Laura.

– Laura! – Segurei seu braço, enquanto ela me analisava minuciosamente.

– Luan? – Perguntou surpresa – O que você está fazendo aqui?

– Não acredito que finalmente eu te encontrei. – Respirei fundo – Podemos conversar?

– Desculpa, mas eu estou muito ocupada! – Respondeu se soltando.

– Laura, por favor! – Impendi que ela entrasse no elevador – Eu preciso muito saber da Alice, saber o que está acontecendo!

– Agora você quer saber o que está acontecendo? Porque você mesmo não me responde essa pergunta, Luan? – Perguntou com raiva – Você tem noção de tudo o que minha prima está passando?

– Não podemos sair daqui? – Pedi suplicante – Por favor! – Ela me olhou por alguns segundos, respirou fundo e me olhou novamente.

– Vem, vamos na minha loja.

Caminhei com ela até sua loja, enquanto Carlos nos acompanhava, atento a todo e qualquer movimento suspeito. Ela pediu que ninguém a atrapalhasse, me chamou até sua sala e eu entrei, tentando encontrar maneiras de convencer Laura.

– Por que Alice não me atende?

– Você ainda pergunta? – Respondeu incrédula – Não basta o que você fez?

– Eu sei que eu errei em esconder essa história. – Respirei fundo – Mas eu tinha medo de magoá-la.

– Assim como está fazendo agora? – Ela não era fácil.

– Eu tinha medo de acontecer exatamente o que está acontecendo agora. – Ela me olhou com atenção – Eu tentei ligar pra vocês, fui na agência, no condomínio, mas vocês não me atenderam.

– Ela não quer falar com você.

– Mas eu preciso me explicar, eu preciso fazer com que ela entenda que eu a amo.

– E sua namorada?

– Camila foi alguém muito especial na minha vida, mas as coisas mudaram depois que Alice apareceu.

– O que mais a machucou, foi ela ficar sabendo de toda essa história através da sua irmã. – Me olhou – Porque você não teve coragem de conversar e ser sincero com ela.

– Eu sei...

– Você não imaginou que uma hora ou outra ela descobriria? – Me interrompeu.

– Eu sabia, mas era difícil pra mim.

– E está sendo mais fácil agora?  

– Minha vida tá de cabeça pra baixo, Laura!

– É mesmo? – Perguntou irônica – Isso porque você não sabe o que Alice está passando. – A olhei sem entender – Porque não sabe tudo o que ela está sendo obrigada a enfrentar.

– Tá acontecendo algo a mais que eu não estou sabendo? – Perguntei preocupado.

– Não está acontecendo nada. – Respondeu nervosa.

– Então me ajuda concertar toda essa confusão que eu acabei causando? – A olhei suplicante – As coisas não podem continuar assim, eu preciso muito conversar com ela! – Laura me olhou pensativa.

Ela não disse mais nada, apenas me chamou pra ir até seu apartamento e lá eu poderia conversar com Alice em paz. Era impossível não agradecer imensamente a ela, eu sabia que Laura confiava fielmente no nosso amor. Ela disse que chegaríamos antes de Alice, seria até melhor assim, pois não teria chances dela fugir mais uma vez de mim. Tudo o que eu mais quero é poder resolver toda essa situação, poder ter Alice em meus braços novamente.  

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

(Capítulo 64 – Sabedoria)

Depois que deixamos a casa dos meus pais, seguimos para um hotel conhecido que era bem próximo. Eu estava me sentindo extremamente mal, não conseguia acreditar em tudo o que aconteceu, na raiva do meu pai, na maneira fria como ele tratou minha situação. Claro que eu não esperava que ele me acolhesse novamente, me ajudasse, estivesse ao meu lado daqui pra frente. Mas eu não imaginava que ele reagiria dessa maneira, me expulsando de sua casa, me olhando como se eu fosse uma pessoa qualquer. Minha vontade era de chorar o tempo inteiro, tinha vontade de sumir, de voltar para meu apartamento e ficar lá, tentando me proteger do mundo. Eu pedia mentalmente a Deus que me ajudasse em relação a mais essa ausência de meu pai, que não me deixasse ter raiva dele, mas que me desse bastante esperança de que um dia, tudo voltaria a ser como era antes. Chegamos ao hotel depois de alguns minutos, fizemos nossa reserva até o dia seguinte, pois era o tempo que pegaríamos nosso voo de volta para nossa casa.

– Eu nunca imaginei que tio Paulo agiria daquela maneira. – Laura comentou quando entramos em nosso quarto.

– Sinceramente, eu não sei mais o que vai ser da minha vida. – Comecei a chorar, eu estava muito abalada.

– Você sempre foi muito guerreira, não é agora que vai fraquejar. – Me acolheu carinhosamente em seus braços – Eu tenho certeza que tudo ficará bem. 

– Eu não consigo parar de chorar. – Falei soluçando. 

– Então chore, vai te fazer muito bem. – Me apertou ainda mais.

E assim passamos mais de uma hora, enquanto Laura me falava palavras de consolo, acolhendo-me em seus braços, eu me permitia chorar e tentar colocar pra fora toda a dor que eu estava sentindo. Depois de derramar tantas lágrimas no ombro de Laura, acabei pegando em um sono profundo, pensando em como eu poderia resolver as coisas daqui pra frente.

(Luan Narrando)

Aqui estava eu, travando uma luta contra minha vontade de ir atrás de Alice, tentar explicar a ela que o nosso amor me fez fazer essa loucura. Na sexta-feira eu recebi a ligação de Bruna, ela estava agoniada, queria muito conversar comigo, enquanto eu estava na estrada.

“– O que aconteceu, Piroca? – Perguntei preocupado.

– Você precisa me ouvir. – Ela falou um pouco alto.

– Por que você tá gritando? 

– É melhor a gente conversar quando você chegar aqui.

– Fala logo, aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu... – Calou-se, me deixando ainda mais preocupado.

– Fala logo.

– A Alice já sabe de tudo.

– Tudo? Tudo o que, Piroca? – Eu não queria acreditar.

– Tudo sobre você e Camila.

– O que? – Paralisei – Você não fez isso, Bruna!

– Desculpa, mas uma hora ou outra ela iria descobrir. – Tentou se desculpar – E com certeza não seria por você.”

Acabei encerrando a ligação naquele momento, eu não conseguia acreditar que minha relação com Alice estava por um fio. Mais uma vez aquele medo de perdê-la me consumiu, eu sabia que isso poderia acontecer a qualquer momento, mas eu não esperava. Imediatamente disquei o número de seu celular, tocou uma, duas, três vezes e ela não me atendeu. Então me lembrei de ligar na agência onde ela trabalha, consegui conversar com Marina, sua assistente, mas ela me surpreendeu.

– Marina? – A chamei assim que ela atendeu ao telefone.

– Sim, quem é?

– É o Luan! – Tentei manter a calma – Tudo bem?

– Oi, tudo ótimo!

– É... Eu poderia falar com a Alice?

– Infelizmente a Alice não se encontra. – Ela respondeu naturalmente.

– E que horas eu posso falar com ela? – Insisti – É que ela não atende no celular.

– A Alice está de recesso, por tempo indeterminado.

– Recesso? – Perguntei surpreso.

– Isso mesmo. 

– Tudo bem... – Falei confuso – Obrigada, Marina!

– Por nada, até mais!”

E assim encerramos a ligação, eu nem sequer conseguia acreditar que ela estava de recesso da agência. Isso me preocupou, mas ao mesmo tempo eu estava confuso com tudo, tanto porque a agência era sua vida. Tentei mais uma vez ligar para o seu celular, inúmeras vezes, tentando, mas nada dela atender. Com certeza ela estava com muita raiva de mim, enquanto eu aqui, não fui homem o suficiente de enfrentar logo essa situação e contar a ela sobre tudo. Não culpo minha irmã por nada, ela tinha razão em defender Alice, ela descobriria de um jeito ou de outro, Bruna só a poupou de saber por outra pessoa. Passei o dia inteiro tentando falar com ela, com Laura, liguei para sua casa, mas nenhuma quis atender minhas ligações. Eu tinha que trabalhar, precisava fazer meu dever e ir levar alegria para os meus fãs, mas em momento algum eu conseguia tirar Alice da cabeça.

O sábado chegou me trazendo uma sensação ruim, queria ter Alice ao meu lado de qualquer maneira, queria protegê-la de todo mal. Acordei um pouco depois da hora do almoço, tomei um banho demorado, pedi meu almoço e tentei mais algumas vezes ligar para ela. Dessa vez só caia na caixa postal, tentei no celular de Laura duas vezes, mas nada, na terceira vez ela finalmente me atendeu.

– Laura? – A chamei.

– Oi! – Respondeu naturalmente.

– Laura, eu preciso falar com a Alice!

– Não basta o que ela já soube? – Perguntou calma – Só quero te pedir que deixe minha prima em paz!

– Eu preciso muito explicar a ela tudo o que aconteceu, as coisas não podem acabar assim. – Tentei falar o mais rápido que eu conseguia.

– Ela não está em condições de falar com você. – Respirou fundo.

– Laura, me ajuda... 

– Por favor, para de ligar! – Me interrompeu, desligando logo em seguida. 

As coisas não se resolveriam com tanta facilidade assim, ela estava magoada, com toda a razão. Senti como se tudo estivesse desmoronando, todas as minhas lutas para ter Alice comigo, para conquistá-la todos os dias. Independente do que poderia acontecer daqui pra frente, eu só tinha certeza de que eu não poderia continuar sem Alice ao meu lado. Eu continuarei tentando, eu estava disposto a fazer tudo para provar a ela o meu amor, porque sem ela eu não conseguiria.

(Alice Narrando)

Passei aquele dia de sábado quase inteiro sentindo muitos enjoos e um mal estar fora do comum. Laura mais uma vez recebeu a ligação de Luan, ele não sossegaria assim com tanta facilidade, eu teria que me preparar para suas insistências. Sem muita paciência, Laura atendeu tentando passar calma, eles conversaram rapidamente e ela pediu que ele não ligasse mais. Era óbvio que aquilo estava me maltratando muito, tudo o que eu mais queria agora era ter Luan ao meu lado, me ajudando a enfrentar todas essas dificuldades. Eu sabia que ele tinha uma boa explicação, mas eu me conhecia bem, com muita facilidade ele me faria acreditar em todas as suas malditas desculpas. Recebi a visita da minha mãe antes do dia acabar, ela parecia extremamente preocupada comigo, como sempre se preocupou tanto.

– Por que tudo isso está acontecendo comigo, mãe? – Perguntei enxugando minhas lágrimas.

– Porque nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos. – Segurou minha mão – Eu sei que você está assustada, sei o que está passando, mas você sempre foi muito corajosa.

– Eu não sou mais corajosa. – A olhei – Eu estou morrendo de medo.

– Esse medo de enfrentar as surpresas que a vida nos prepara. – Segurou mais forte minha mão – Mas você é e continuará sendo a mulher mais corajosa que eu conheço.

– Será que eu vou saber lidar com toda essa situação, mãe?

– Vai sim, você é mais forte do que pode imaginar.

– E meu pai? – Perguntei chorando – Como vai ser daqui pra frente?

– Uma hora ou outra seu pai vai reconhecer a burrada que ele fez. – Arrumou meus cabelos – Enquanto isso, eu continuarei bem aqui quando você precisar.

– Agora mais do que nunca eu vou precisar da senhora. – A abracei forte – Eu não sei nada sobre esse novo desafio de ser mãe.

– E como está se sentindo em relação ao seu bebê? – Perguntou desfazendo o abraço – Ele está bem?

– Eu já o amo tanto, parece que ele sempre fez parte de mim. – Respondi pensativa – Isso é normal, mãe?

– Completamente normal. – Começou a rir – Já nos tornamos mãe desde o momento em que descobrimos que existe um bebê dentro da gente.

– Isso é muito louco, mas muito mágico.

– E como você acha que Luan vai reagir quando souber? – Perguntou me olhando.

– Eu não sei... – Procurei as palavras – Bom, eu acredito que ele vá amar. – Fiz carinho em minha barriga – Sempre foi um sonho pra ele.

– E como está a relação de você? – Perguntou procurando o meu olhar – Está tudo bem? – Ela me conhecia muito, sabia que algo estava acontecendo.

– Por conta da agenda dele, acabamos nos distanciando um pouco. – Falei triste – Eu não sei bem o que está acontecendo.

– Eu percebi que as coisas não estavam bem. – Respirou fundo – Mas vocês precisam conversar bastante daqui pra frente. – Falou agora mais séria – A prioridade agora é essa criança.

– O que vai mudar agora? – Perguntei calma.

– Vai mudar absolutamente tudo! – Respondeu com convicção. 

– Eu preciso aprender a lidar com isso, porque ainda está tudo bastante confuso pra mim.

– Amor, aos poucos tudo vai se resolvendo. – Acariciou meu rosto – Tudo vai se colocando em seus devidos lugares.

– Você acredita que algum dia as coisas possam voltar a ser o que era antes? – Perguntei ansiosa.

– Sim, eu acredito fielmente nisso!

– Eu quero muito poder um dia recuperar a confiança e o amor de meu pai, eu quero poder ser uma grande profissional na área que eu escolhi pra vida, criar e educar meu filho como você e meu pai me educaram.

– E o que mais? – Perguntou sorrindo.

– Quero ser feliz com o homem que eu amo. – Confessei sincera.

– E você será muito feliz. – Falou carinhosa – Assim como irá conquistar todos os seus sonhos.

– Será?

– Eu não tenho dúvidas disso, porque você continua com o mesmo olhar de antes. – Sorriu – Esse olhar de coragem e vontade de lutar por tudo o que você acredita ser bom.

– Eu não sei o que seria de mim sem a senhora, sem o seu amor.

– Eu sei que tudo está meio bagunçado na sua vida, mas lembre-se do que eu te falei alguns meses atrás. – Sentou-se mais confortável – Tudo isso serve para o seu amadurecimento.

– É tudo tão confuso.

– Ás vezes nós precisamos de um tempo para compreender o sentido das coisas, para que possamos ter a certeza de que tudo aconteceu para o bem.

– Eu acho que tudo aconteceu no tempo errado.

– Sim, talvez errado no seu tempo. – Me olhou – Mas não no tempo daquele que está à frente de tudo.

Continuamos conversando por horas, ter minha mãe ali era a melhor coisa que poderia me acontecer. Sua sabedoria me impressionava a cada dia mais, era minha grande força e refúgio naquele momento tão confuso. Confesso que me senti bem melhor depois de nossa longa conversa, desabafei como nunca antes, me senti aliviada em relação a tudo. Depois de receber mais algumas broncas e carinho da minha mãe, ela se foi, me deixando uma saudade absurda.

Acordei no dia seguinte bem mais disposta, aproveitei para arrumar minhas coisas, quando me deparei com inúmeras ligações e mensagens de Luan ao ligar meu celular. “Ele não vai me deixar em paz”, pensei. Pensei em retornar as ligações, responder as mensagens, mas eu não tinha coragem nem forças para fazer isso. Eu não conseguia lembrar o que Bruna me contou e não sentir raiva dele, raiva da mentira, do quanto ele me fez de idiota esse tempo todo. Como todas as outras vezes, eu apenas ignorei tudo e desliguei meu celular novamente, era a melhor decisão a ser tomada.

Estava na hora de voltar pra casa, hora de colocar tudo em ordem e voltar a ser a Alice que eu não perdi, corajosa e decidida. Depois de tudo pronto, seguimos para o aeroporto, enquanto eu mandava uma mensagem para minha mãe. Entrei naquele avião de volta para São Paulo, com a certeza de que tão cedo eu voltaria a colocar meus pés naquela cidade. Respirei fundo, sentindo algo bom dentro de mim, mesmo em meio a toda essa loucura que minha vida se encontrava. Independente do que aconteceria daqui pra frente, eu estava disposta a seguir minha vida como sempre desejei, sendo feliz.  

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

(Capítulo 63 – Desgosto)

Durante toda a noite de sexta-feira para sábado, Luan não parou de me ligar, me fazendo sentir uma raiva tremenda por tudo o que eu estava passando. Eu não o atendi, queria distância de Luan, porque ele tinha uma grande parcela de culpa em tudo isso. Eu só precisaria de um tempo para digerir toda essa situação, tentar organizar minha vida, porque tudo estava sendo muito difícil. Acordei no dia seguinte sentindo um forte enjoo, demorei um pouco para levantar, mas assim que consegui, cuidei logo de tomar um banho e arrumar minha pequena mala. Eu queria passar apenas esse final de semana com minha família, na segunda-feira eu pretendia voltar para a agência e tentar seguir minha vida normalmente. Depois de tudo organizado, segui para a cozinha, onde encontrei Laura preparando nosso café e falando ao telefone.

– Bom dia! – Sorri quando ela encerrou a ligação.

– Bom dia, prima! – Me abraçou carinhosa – Pronta para nossa viagem?

– Um pouco nervosa. – A olhei – Não vai ser fácil olhar para os meus pais e dizer que estou grávida. – Ela começou a rir.

– Já avisei ao Douglas que vou viajar com você.

– Você falou pra onde nós vamos? – Perguntei preocupada.

– Para a casa da nossa tia Beth, lá de Recife.

– Quem é tia Beth? – Perguntei confusa.

– Não sei, vamos conhecê-la agora nessa viagem. – Falou naturalmente.

– Você é louca, Laura? – Comecei a rir descontroladamente – Como é que você inventa uma tia que não existe?

– E você queria que eu entregasse nosso real destino?

– Não, mas mentir que vamos pra casa de uma tia que nem existe. – Continuei rindo.

– Fica tranquila, ele caiu direitinho. – Sorriu satisfeita.

Laura me falou que Luan chegou a ligar pra ela, mas não atendeu, assim como desconversou quando Douglas perguntou por mim. Após nosso café da manhã, começamos a nos arrumar, enquanto eu tentava fazer meu nervosismo sumir um pouco.

– Imagina se for uma menina? – Laura perguntou me surpreendendo.

– O que?

– Se esse bebezinho for uma menina. – Sorriu – Ela será muito linda.

– Assim como se for um menininho. – Sorri me olhando no espelho – E amor é o que não vai faltar.

– Você é uma mamãe linda de morrer. – Confessou colocando uma tiara de florzinhas na minha cabeça.

– Você acha que eu estou diferente? – Perguntei curiosa.

– Você está mais iluminada, assim como suas estrelas. – Sorri a abraçando.

– Então estou bonita.

– Anda, me deixa tirar uma foto sua. – Ela tirou uma foto linda, me fazendo postar logo em seguida.

“E agora ser feliz é nossa obrigação, seu nome já faz parte da minha oração. Eu só quero mais, tempo pro nosso infinito durar.”

Coloquei na legenda uma música de Breno e Caio Cesar, de composição do Luan, fazendo com que ele sempre estivesse presente. Depois de pronta, pegamos nossas coisas, fechamos nosso apartamento e seguimos para o aeroporto. Eu estava nervosa, com medo de como poderia ser a reação deles, das pessoas mais importantes da minha vida. Entrei naquele avião sentindo algo profundamente ruim me consumindo pouco a pouco, tive vontade de voltar pra minha casa, mas eu precisava ser forte. Depois de alguns minutos, eu estava colocando meus pés novamente na cidade onde enfrentei os melhores e piores momentos da minha vida. Acabei não ligando para minha mãe, queria fazer uma surpresa, mesmo rezando para que meu pai não estivesse em casa. Eu queria conversar primeiro com ela, queria poder receber seu apoio, mesmo sabendo que antes ela me daria uma bronca.

– Chegamos! – Laura me olhou – Está pronta?

– Eu acho que sim... – Respirei fundo.

– Vamos, então.

Descemos do carro sem saber o que nos esperava lá dentro, mas era preciso prosseguir. Eu pedia mentalmente que Deus me ajudasse em todos os momentos, que ele não me deixasse fraquejar, mas que eu continuasse firme. Caminhei com Laura ao meu lado até a entrada da casa dos meus pais, meu nervosismo aumentava a cada segundo, eu estava prestes a chorar. Toquei a campainha me tremendo toda, que momento louco, muito difícil lidar com esse tipo de situação.

– Alice? – Minha mãe atendeu surpresa.

– Oi, mãe! – Sorri nervosa – Tudo bem?

– Filha, por que não avisou que estava aqui? – Sorriu ainda surpresa – Aconteceu alguma coisa? – Nos cumprimentou com um abraço apertado.

– Eu quis fazer uma surpresa. – A abracei com todo meu coração.

– Surpresa? – Me olhou confusa.

– Tia, parece que não gostou da nossa visita. – Começou a rir pra tentar descontrair.

– Eu amei, mas vocês sabem que não gosto de surpresas. – Falou natural.

– Cadê todo mundo? – Perguntei sentando no sofá. 

– Seu pai e Benjamim foram na casa de sua avó.

– E Dora? – Laura perguntou.

– Tirou o dia para visitar uns parentes. – Sentou ao meu lado – Vocês querem comer alguma coisa?

– Tem algo doce aí? – Perguntei sentindo uma vontade absurda de comer doce.

– Venham comigo. – Seguiu rindo para a cozinha.

Mamãe nos serviu um bolo maravilhoso de chocolate, aquelas sobremesas deliciosas que só a Dora sabia fazer. Eu comi três pedaços, fazendo minha mãe me olhar assustada e ao mesmo tempo surpresa com meu apetite. Passamos quase quarenta minutos comendo, coversando e matando um pouco da saudade, coisa que sempre estava presente em mim.

– O que foi? – Mamãe perguntou quando eu a olhei, procurando a maneira certa de lhe contar sobre minha gravidez.

– Eu preciso conversar com a senhora. – Falei receosa.

– O que aconteceu, Alice? – Perguntou já preocupada.

– Eu sei que vai ser complicado de entender, mas eu não quero que a senhora me julgue.

– Você não vai me dizer...

– Estou grávida! – Falei mais rápido possível.

– O que? – Quase gritou – Você tá grávida?

– Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo, estou muito assustada.  

– Vocês foram extremamente irresponsáveis, Alice!

– Eu sei, agora estou pagando por isso. – Comecei a chorar.

– Eu não estou acreditando nisso. – Tentou se acalmar – Seu pai vai te matar.

– Eu não sei como vou contar pra ele. – Confessei enxugando minhas lágrimas, enquanto Laura buscava uma água pra gente.

– E Luan? – Perguntou me pegando de surpresa – Como ele reagiu?

– Ele ainda não sabe. – Não quis contar a ela sobre o que aconteceu – Estou esperando ele voltar de viagem pra gente conversar.

– Como você deixou isso acontecer, filha? – Parecia mais calma – Como você está se sentindo?

– Eu estou com muito medo, me sinto a pessoa mais frágil do mundo. – Confessei com lágrimas nos olhos.

– Venha aqui. – Abriu os braços para que eu me acolhesse dentro deles – Um filho é uma grande responsabilidade, mas eu tenho certeza que Deus não te daria um presente como esse sem um bom motivo.

– E meu pai? – Perguntei ainda encolhida em seus braços.

– Nós vamos conversar com ele.

Enquanto eu tentava me acalmar, minha mãe parecia perdida, pensativa com essa grande novidade. Conversamos sobre como eu descobri sobre minha gravidez, sobre a conversa com meu médico, contei que tinha a primeira consulta na terça-feira. Ela parecia assustada, mas ao mesmo tempo estava feliz, porque ela sabia o quanto a família era importante na vida de um ser humano. Enquanto conversávamos, Luan me ligou mais três vezes, mas apenas recusei como todas as outras vezes. Fui buscar mais um pouco de água, quando gelei ao ouvi a voz de meu pai e Benjamim entrando, eu não tinha mais como fugir dos dois.

– Ô mãe? – Benjamim gritou – Cadê a senhora?

– Estou aqui, filho! – Ela respondeu da cozinha.  

– Alice? – Ele parou na porta surpreso.  

– Oi, Ben! – Sorri correndo para seus braços.

– Está fazendo surpresa? – Perguntou me apertando.

– Uhum, estava morrendo de saudade. – O olhei carinhosa.

– Olha quem está aqui, Pai. – Ele apareceu na cozinha.

– Oi, Pai! – O olhei apreensiva – Tudo bem?

– O que está fazendo aqui? – Perguntou frio.

– Que pergunta é essa, Paulo? – Minha mãe perguntou assustada – Você esqueceu que essa casa ainda é dela?

– A partir do momento em que ela decidiu faze essa loucura de morar em São Paulo, ela perdeu todo o direito dessa casa. – Me surpreendi com suas palavras.

– Desculpa por ter vindo para a sua casa sem avisá-lo. – Enxuguei uma lágrima – Não se preocupa, eu vou embora.

– Pai, não é possível que o senhor esteja falando um absurdo desse com sua própria filha! – Benjamim me impediu de sair – Você vai pra onde?

– Eu vou embora, ele não quer que eu vá embora?

– Essa menina perdeu todo o respeito com seus pais, com seu irmão.

– Respeito? – O olhei rindo – O senhor quer falar de respeito comigo? Logo o senhor que não respeita minha decisão de ser feliz vivendo uma vida longe daqui? – Quase gritei.

– FALA DIREITO COMIGO! – Ele gritou mais alto.

– Alice, você não pode ficar nervosa. – Laura me segurou pela cintura – Senta aqui, vai?

– O senhor nunca vai me perdoar? – O olhei – Nunca vai aceitar minha felicidade?

– Sua felicidade está aqui com sua família.

– O senhor é um egoísta! – Deixei minhas lágrimas caírem.

– CALA SUA BOCA, ALICE!

– O senhor quer tudo do jeito que o senhor acha melhor, isso é coisa de egoísta!

– Você merece uma surra! – Falou vindo em minha direção, mas benjamim se colocou em minha frente.

– PAULO, ELA ESTÁ GRÁVIDA! – Minha mãe gritou aos prantos.

– Ai... – Senti uma dor fortíssima, enquanto meu pai e Benjamim estavam paralisados.

– Vem, senta aqui. – Laura me chamou.

– Grávida? – Benjamim me olhou surpreso.

– Quero que você saia da minha casa, Alice! – Meu pai falou depois de alguns segundos – AGORA!

– O que? – Minha mãe perguntou desesperada – Você está louco, Paulo?

– O que, Pai? – Comecei a chorar.

– Você é o meu maior desgosto! – Confessou me fazendo sentir ainda mais essa dor insuportável.

– Ai, minha filha! – Minha mãe começou a chorar junto comigo.

– Não faz isso, Pai! – Benjamim tentou convencê-lo – O senhor está fazendo uma besteira!

– Se é isso que o senhor quer, eu vou embora. – Levantei com a ajuda de Laura.

– NÃO! – Minha mãe tentou me impedir – PAULO, VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COM SUA FILHA!

– Ela não é mais minha filha! – Falou saindo da cozinha.

– Meu Deus! – Minha mãe caiu sobre a cadeira – Ele está louco, Benjamim! – Olhou suplicante para meu irmão.

– Mãe, me perdoa por causar tudo isso? – Me ajoelhei ficando frente a frente com ela.

– Você não tem que me pedir perdão por nada. – Acariciou meu rosto – A culpa não é sua de querer ser feliz.

– Não culpe meu pai, ele tem todo o direito de pensar e agir como quiser. 

– Mas ele não pode te abandonar, você continua sendo nossa filha. – Enxuguei suas lágrimas.

– Uma hora ou outra ele vai perceber que não está agindo de maneira correta. – Ben falou ainda assustado com toda aquela situação.

– Vocês vão pra onde? – Minha mãe perguntou preocupada.

– Vamos ficar em um hotel, amanhã mesmo já voltamos pra casa. – Levantei respirando fundo.

– Promete que vai se cuidar? – Ela segurou forte minha mão – Cuidar do seu bebê?

– Não se preocupe, nós vamos ficar bem! – A abracei com todas as minhas forças.

– Amanhã nós estaremos lá no hotel, antes de voltarem para São Paulo. – Benjamim falou. – Vou lá ver como ele está. – Saiu da cozinha sem nem sequer se despedir.

– Ele está assustado. – Mamãe falou ao ver minha decepção.

– Todos nós estamos. – Sorri de canto.

– Vamos? – Laura perguntou me olhando.

– Sim... – Olhei minha mãe – Espero vocês amanhã.

Enquanto me despedia de minha mãe, suas lágrimas banhavam seu rosto, me fazendo sentir novamente aquela dor tremenda. Eu não esperava essa reação de meu pai, mesmo conhecendo seu gênio forte e sua mania horrível de querer que tudo funcione sempre da maneira dele. Ser expulsa da minha própria casa, ser renegada por meu pai, ser julgada por aquele que eu sempre imaginei ter o maior apoio, confesso que me deixou emocionalmente abalada. Eu estava me sentindo cada dia pior, com pouquíssimas pessoas ao meu lado, venho me sentindo a cada dia mais perdida. Coloquei meus pés para fora daquela casa sentindo meu coração se despedaçar pouco a pouco, com uma sensação horrível de perder as pessoas mais importantes da minha vida. Por um momento eu imaginei que as coisas poderiam ser diferentes caso Vicente ainda estivesse aqui, se estivéssemos comemorando minha gravidez, depois de nossos primeiros anos de casados. Hoje eu estava passando por um dos momentos mais difíceis de toda a minha vida, enfrentando inúmeras dificuldades, aprendendo que na vida, nós que escolhemos nosso destino.