Era
terça-feira, dois dias depois da nossa volta pra casa, hoje eu estava pronta
para a minha primeira consulta com meu obstetra. Confesso que eu estava muito
ansiosa, queria saber se tudo estava indo bem com o meu bebê. Ontem Luan voltou
a me ligar, até aqui no meu condomínio ele apareceu, mas eu pedi que seu Pedro
avisasse que estávamos viajando. As meninas me avisaram que ele também ligou na
agência, mas que elas fizeram como tínhamos combinado. Eu ainda estava muito
confusa com tudo, minha ficha parecia não cair nunca, tudo isso chegou como um
furacão na minha vida. Trabalhei durante a manhã toda, mas a tarde Bruno me
dispensou para que eu conseguisse ir ao médico. Fui direto da agência para a
clinica, mandei uma mensagem para Laura, enquanto tentava controlar minha
ansiedade na sala de espera.
–
Alice? – A secretária me chamou – Pode me acompanhar?
–
Claro! – Levantei sorrindo.
–
Oi, Alice! – O doutor me cumprimentou assim que entramos em sua sala – Tudo
bem?
–
Tudo ótimo! – Sorri simpática.
–
Alice, nós faremos um exame de sangue agora, só para saber de sua gravidez.
–
Tudo bem.
Fizemos
meu exame, enquanto ele me passava toda segurança do mundo, sem me deixar
fraquejar ou me sentir mais nervosa do que já estava. Depois de feito,
esperamos por mais alguns minutos, enquanto o resultado ficava pronto.
Aproveitei para responder uma mensagem de Laura, contando a ela sobre minha
consulta e meu médico. Não demorou muito para que o Doutor Cesar, estivesse com
meu exame nas mãos, pronto para me mostrar.
–
Aqui podemos confirmar sua gravidez. – Sorriu me entregando o exame – Com
certeza está sendo uma grande benção na sua vida.
–
Sim, está sendo. – Me emocionei em ter meu exame em mãos. – Não foi planejado,
mas tenho certeza que foi enviado por Deus no momento certo.
–
Mas me diz uma coisa, como você está se sentindo? Tem alguma queixa? –
Perguntou escrevendo – Enjoos, dores de cabeça, dor nos seios, sonolência?
–
Estou sentindo muito sono, na verdade, sinto um sono fora do comum. – Sorri de
canto – E também ando bastante enjoada.
–
Isso é comum nessa fase inicial, mas depois melhora. – Falou me olhando – Eu
vou receitar pra você um remedinho para os enjoos. – Escreveu na receita – A partir
de agora, você precisa cuidar ainda melhor da sua alimentação. – Concordei
atenciosa – Depois te passo uma lista com a relação do que você pode comer e do
que você deve evitar.
–
Certo, vou me cuidar direitinho.
–
É importante que você beba bastante liquido e procure dormir bem. – Escreveu
novamente – Não esqueça que agora você tem que pensar por dois. – Sorriu de uma
maneira engraçada.
–
Não vou esquecer. – Sorri.
–
Bom, vamos trocar de roupa para que eu possa te examinar? – Apenas concordei com a
cabeça.
Segui
para trocar de roupa, deitei em uma maca e começamos com os exames, alguns até
um pouco desconfortáveis. Ele ligou o aparelho onde eu conseguiria ver o meu
bebê e ouvir as batidas de seu coração. Ainda era tão pequenininho, mas seu
coração batia acelerado, fazendo meu coração acelerar ainda mais ao sentir
tanto amor. Doutor Cesar me contou que tudo estava bem, que o colo do útero
estava normal, fechadinho e que meu bebê cresceria saudável. Eu estava vendo o
meu filho, estava sentindo aquela maravilhosa sensação de tê-lo comigo, ele
fazia verdadeiramente parte de mim. Depois de concluir os exames, troquei
novamente de roupa, tentei me recuperar daquele momento extremamente especial e
voltei a sentar.
–
Alice, está tudo maravilhosamente bem com vocês! – Sorriu organizando alguns
papéis – Idade gestacional de seis semanas...
–
Seis semanas? – O interrompi surpresa – Seis semanas... – Lembrei que nessa
época estávamos em Alagoas.
–
Ainda está bastante recente, por isso precisamos ter o dobro de cuidados –
Concordei ainda pensativa – Eu vou te passar mais alguns exames que você
precisará fazer.
–
Ok!
–
Estou te passando também, algumas vitaminas para que você consiga se alimentar
melhor.
–
Eu agradeço, porque os enjoos me impedem de comer.
Depois
de mais algumas recomendações, me despedi de Doutor Cesar, me sentindo bem mais
segura e confiante. Falei rapidamente com sua secretária, ela me entregou um
cartão com os contatos do Doutor e pediu que eu entrasse em contato caso algo
de anormal aconteça. Recebi a mensagem de Laura pedindo que eu aguardasse, pois
ela estava vindo me buscar, claro que eu não tinha como recusar uma ordem como
essa.
–
Como foi sua consulta? – Laura perguntou quando entrei no carro.
–
Ótima, não poderia ter sido melhor! – Sorri animada – Acredita que eu ouvi o
coraçãozinho do meu bebê?
–
Sério? – Concordei enquanto bebia um pouco de água – E como ele está?
–
O Doutor disse que ele é muito saudável.
–
E de quantas semanas você está?
–
De seis semanas. – Respondi a olhando – Fizemos nosso filho em Alagoas.
–
Você tá brincando? – Perguntou rindo.
–
Você acha mesmo? – Comecei a rir – Ele é um ridículo, ficou falando de filhos
lá comigo.
–
Vocês falaram de filhos?
–
Ele disse que queria ter muitos filhos comigo, que queria criar todos eles lá,
em contato direto com o mar.
–
Eu estou sem reação. – Me olhou pasma – Não acredito que o destino brincou mais
uma vez com vocês.
–
Queria tanto que as coisas fossem diferentes.
–
Só você pode mudar essa situação.
–
Como? – Perguntei a olhando.
–
É preciso mesmo que eu diga? – Não respondi, nem era preciso.
Laura
logo entrou em outro assunto, me contou que Douglas estava atrás de um
apartamento em São Paulo. Ela estava imensamente feliz, seus olhos brilhavam e
a maneira como ela me contava sobre esse assunto, era linda. Não demorou muito
para que chegássemos ao nosso condomínio, eu estava me sentindo um pouco
cansada, então cuidei logo de colocar um pijama e me jogar na minha cama.
–
Não vai comer nada? – Laura perguntou entrando em meu quarto.
–
Estou enjoada, acho que nada me entra. – Respondi fazendo careta.
–
E seu bebê não está com fome?
–
Até então ele não me pediu nada. – Sorri – Acho que ele não está com vontade.
–
Mas você precisa se alimentar.
–
Pode ser depois?
–
Eu vou deixar um pouquinho de sopa pra você, caso sinta fome mais tarde. –
Apenas concordei olhando meu celular.
Aproveitei
para entrar em minhas redes sociais, vi os comentários de alguns fãs de Luan na
ultima foto que postei. Alguns perguntavam sobre nós dois, outros diziam que
Luan agora estava novamente com Camila, outros apenas entravam para me elogiar
ou dizer que estavam com saudades de quando eu acompanhava Luan. Senti meu
coração doer com toda essa maré de sentimentos, enquanto o tempo inteiro várias
coisas passavam por minha cabeça. “Será que ele está com ela?” “Será que ele
ainda me ama?” “O que será que ele está sentindo?” “Será que está sofrendo?”. Será,
será, será, era apenas isso que eu me perguntava. Sentia vontade de ligar pra
ele, pedir pra conversar, outras vezes eu sentia uma raiva tremenda dele. Passei
mais alguns minutos no celular, olhei mais algumas fotos e acabei pegando em um
sono profundo.
(Luan
Narrando)
Depois
de voltar do meu final de semana corrido, decidi ir atrás de Alice, mesmo que
isso chegasse a se tornar um desafio. Ignorei todas as ligações de Camila, eu
estava mais que certo, era de Alice que eu precisava ao meu lado. Assim que
cheguei quis logo conversar com Bruna, ela me contou sobre sua conversa com
Alice e disse que ela estava bastante magoada. Não era pra menos, ela tinha
toda razão de se sentir enganada, eu fui um grande idiota, mas estava decidido
em mudar o rumo dessa história.
–
Ela sumiu completamente, nem minhas ligações ela atende. – Bruna falou
tristonha.
–
A ultima vez que você falou com ela foi na quinta-feira?
–
Sim, depois não conversamos mais. – Respondeu me olhando.
–
Ela impediu minha entrada no condomínio. – Falei indignado – Seu Pedro disse
que ela está viajando, mas Douglas me confirmou que elas chegaram no domingo.
–
O que você vai fazer?
–
Eu não sei, mas eu vou pensar em algo. – A olhei – Ela vai voltar pra mim.
–
Eu tenho certeza que sim. – Tentou me tranquilizar – Vocês se amam muito.
Eu
não sabia ao certo como eu faria para encontrar Alice, pensei em ir na agência,
mas aí eu estaria a prejudicando em seu trabalho. Pensei em voltar ao seu
condomínio e esperar lá até o momento dela aparecer, mas eu não fazia ideia de
como fazer isso sem chamar atenção dos moradores. Eu sentia que algo estava
acontecendo, que Alice precisava urgentemente de mim, ela não queria sair dos
meus pensamentos. Acabei jantando com meus pais, mas logo voltei para o meu
quarto e comecei a compor uma música. Era quase 4:00 da manhã quando consegui dormir,
pensando em infinitas maneiras de chegar até Alice.
Acordei
no dia seguinte por volta das 15:00, como em um estalar de dedos, lembrei que
eu poderia ter feito isso bem antes. Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa
qualquer, óculos escuros e um boné para que ninguém me reconhecesse. Desci as
escadas correndo, encontrando apenas minha irmã e Bruna, que me olharam
assustadas.
–
Aonde você vai? – Minha mãe perguntou.
–
Vou na loja da Laura. – Respondi sentando ao seu lado.
–
Loja da Laura? – Bruna perguntou quase gritando – Você tá louco?
–
Piroca, é minha ultima alternativa. – Respondi como se fosse óbvio.
–
Pi, essa loja fica no meio de um shopping lotado!
–
Eu vou entrar pelos fundos, ninguém vai me reconhecer.
–
Não tem como levar um segurança, filho? – Minha mãe perguntou preocupada.
–
Eu vou levar. – Beijei sua mão – Não se preocupem.
Fui
até a cozinha, peguei uma maça, dei um ultimo beijo em minha mãe e corri para o
carro, onde um dos meus seguranças já me esperava. Tentei mais umas três vezes
ligar para o celular de Alice, porém mais uma vez ela recusou todas as
ligações. Respirei fundo e comecei a pedir mentalmente a Deus que Laura
estivesse na loja, ela era minha única chance nesse momento. Quando chegamos ao
estacionamento do shopping, coloquei meus óculos, meu boné e o capuz por cima.
Carlos me acompanhou o tempo inteiro, entramos pela parte externa, para que não
tivesse perigo de alguém me ver. Com certeza Deus estava ao meu favor, pois
assim que eu estava saindo do elevador, acabei dando de cara com Laura.
–
Laura! – Segurei seu braço, enquanto ela me analisava minuciosamente.
–
Luan? – Perguntou surpresa – O que você está fazendo aqui?
–
Não acredito que finalmente eu te encontrei. – Respirei fundo – Podemos conversar?
–
Desculpa, mas eu estou muito ocupada! – Respondeu se soltando.
–
Laura, por favor! – Impendi que ela entrasse no elevador – Eu preciso muito
saber da Alice, saber o que está acontecendo!
–
Agora você quer saber o que está acontecendo? Porque você mesmo não me responde
essa pergunta, Luan? – Perguntou com raiva – Você tem noção de tudo o que minha
prima está passando?
–
Não podemos sair daqui? – Pedi suplicante – Por favor! – Ela me olhou por
alguns segundos, respirou fundo e me olhou novamente.
–
Vem, vamos na minha loja.
Caminhei
com ela até sua loja, enquanto Carlos nos acompanhava, atento a todo e qualquer
movimento suspeito. Ela pediu que ninguém a atrapalhasse, me chamou até sua
sala e eu entrei, tentando encontrar maneiras de convencer Laura.
–
Por que Alice não me atende?
–
Você ainda pergunta? – Respondeu incrédula – Não basta o que você fez?
–
Eu sei que eu errei em esconder essa história. – Respirei fundo – Mas eu tinha
medo de magoá-la.
–
Assim como está fazendo agora? – Ela não era fácil.
–
Eu tinha medo de acontecer exatamente o que está acontecendo agora. – Ela me
olhou com atenção – Eu tentei ligar pra vocês, fui na agência, no condomínio,
mas vocês não me atenderam.
–
Ela não quer falar com você.
–
Mas eu preciso me explicar, eu preciso fazer com que ela entenda que eu a amo.
–
E sua namorada?
–
Camila foi alguém muito especial na minha vida, mas as coisas mudaram depois
que Alice apareceu.
–
O que mais a machucou, foi ela ficar sabendo de toda essa história através da
sua irmã. – Me olhou – Porque você não teve coragem de conversar e ser sincero
com ela.
–
Eu sei...
–
Você não imaginou que uma hora ou outra ela descobriria? – Me interrompeu.
–
Eu sabia, mas era difícil pra mim.
–
E está sendo mais fácil agora?
–
Minha vida tá de cabeça pra baixo, Laura!
–
É mesmo? – Perguntou irônica – Isso porque você não sabe o que Alice está
passando. – A olhei sem entender – Porque não sabe tudo o que ela está sendo
obrigada a enfrentar.
–
Tá acontecendo algo a mais que eu não estou sabendo? – Perguntei preocupado.
–
Não está acontecendo nada. – Respondeu nervosa.
–
Então me ajuda concertar toda essa confusão que eu acabei causando? – A olhei
suplicante – As coisas não podem continuar assim, eu preciso muito conversar
com ela! – Laura me olhou pensativa.
Ela
não disse mais nada, apenas me chamou pra ir até seu apartamento e lá eu
poderia conversar com Alice em paz. Era impossível não agradecer imensamente a
ela, eu sabia que Laura confiava fielmente no nosso amor. Ela disse que
chegaríamos antes de Alice, seria até melhor assim, pois não teria chances dela
fugir mais uma vez de mim. Tudo o que eu mais quero é poder resolver toda essa
situação, poder ter Alice em meus braços novamente.