Dois anos
depois...
– Pai? O
senhor pode olhar pra mim? – Pedi sentando ao seu lado – Olha pra mim.
– O que você
quer Alice? – Perguntou grosseiro – Vá embora!
– Ir embora
e deixar o senhor assim? Não quero que fique chateado. – Segurei sua mão.
– Chateado?
Eu estou vendo minha filha ir embora, desperdiçando sua vida por uma loucura. –
Olhou-me com raiva – E como você quer que eu me sinta, Alice?
– Que
exagero pai. – Neguei com a cabeça – Eu não estou desperdiçando minha vida, eu estou
indo atrás da minha felicidade.
– Sua
felicidade? Então quer dizer que sua felicidade é ficar longe da sua família?
– Por Deus, pai! – Benjamin intrometeu-se –
Deixa Alice seguir a vida dela.
– Até você, Benjamin? Deveria está aconselhando sua irmã, e não apoiando essa loucura.
Sim, tudo
isso é porque fechei um contrato, com uma das maiores e mais conhecidas agências
de fotografia do país e com sede em São Paulo. Um contrato de um ano e a
realização do meu sonho. Eu sempre lutei por isso, ser reconhecida e poder
fechar um contrato como esse, sempre sonhei em ter minha própria agência, e agora
posso dizer que as coisas estão começando a dar certo pra mim. Desde pequena eu
sou apaixonada por fotografia. Eu tinha absoluta certeza de que essa era uma
oportunidade única, de crescimento e ainda mais conhecimento por essa profissão
tão encantadora. Eu iria trabalhar com profissionais de verdade, iria estudar
mais, conhecer novas pessoas, cidades e ser reconhecida pelo meu trabalho. Durante
esse “um ano” eu ficarei hospedada na casa da minha prima. Laura, além de
prima, é a melhor amiga que qualquer pessoa poderia ter na vida. Sempre esteve
ao meu lado, me deu todo apoio, força e ânimo para lutar todos os dias. Não
poderia existir pessoa melhor para estar ao meu lado nesse momento. Eu sei que
não seria fácil ficar longe da minha família, mas foi o que eu sempre sonhei,
era minha felicidade me chamando, não tinha como negar e fugir dessa
oportunidade. Desde então, meu pai não aceitou essa minha decisão de jogar tudo
pra cima e seguir meu coração, de abandonar meu futuro como uma psicóloga de
renome e insiste em dizer que me arrependerei profundamente por essa loucura. Ele
sempre diz que a fotografia jamais será considerada uma profissão, que é usada
apenas como hobby e nada mais que isso. Infelizmente é uma pena que ele pense
dessa maneira, porque para mim, não existe profissão mais linda. Hoje
finalmente é o dia de partir, minhas malas já estão prontas, assim como o meu
coração ansioso. Tudo o que eu menos queria nesse momento era sair daqui
brigada com meu pai, não receber sua benção ou um simples “Boa sorte” do homem
mais importante da minha vida.
– O senhor
sabia que seria assim. – Meu irmão rebateu – Não tem como simplesmente mudar os
sonhos dela, o que resta é o senhor aceitar logo.
– Aceitar um
absurdo desses? Você está louco? Ela tá jogando fora um futuro lindo.
– Um futuro
lindo como pai? Sendo uma psicóloga infeliz? Porque é isso que eu vou ser, uma
psicóloga infeliz atendendo seus pacientes infelizes. – Levantei com raiva –
Será que o senhor não consegue entender pai? Eu quero ser feliz, quero poder
fazer meu trabalho como fotografa, quero poder dar orgulho a vocês.
– Isso só
pode ser piada. – Falou irônico – Você está louca.
– Mãe, faz
alguma coisa? – Pedi suplicante – Eu não aguento mais.
– O que você
quer que eu faça, Alice? Benjamin, leve logo sua irmã antes que ela perca esse
voo. – Sentou-se tentando acalmar meu pai.
– Então é
assim? Não vou receber nem a benção de vocês?
– Se
depender de mim não. – Levantou-se, mas segurei seu braço antes que ele
passasse por mim.
– Pai. – O
olhei chorosa – Independente do que for eu te amo. – Segurei sua mão – Me
perdoa? Por não fazer suas vontades e desistir dos meus sonhos, eu só quero ser
feliz.
– Minha
filha, você ainda vai se arrepender muito por isso. – Beijou meu rosto e subiu
as escadas.
– Filha. –
Minha mãe levantou vindo em minha direção, enquanto uma lágrima escorria sobre
meu rosto – Vem cá. – Me abraçou forte – Você sabe como é seu pai.
– Nem sua
benção ele me deu mãe. – Desfiz o abraço a olhando – Ele me odeia.
– Ele não te
odeia, amor. – Enxugou meu rosto delicadamente – Ele só está com medo de que
você se machuque.
– Me
machucar? Eu estou seguindo meu sonho.
– Eu sei meu
anjo, mas seu pai não entende. – Me abraçou novamente – Siga seu coração, seja
feliz. – Fez o sinal da cruz em minha testa – Deus te abençoe!
– Amém! – A
abracei ainda mais forte – Eu te amo muito mãe, amo meu pai também.
– Ele sabe
disso querida. – Sorriu carinhosa – Qualquer coisa eu estou aqui, tá bem? Ligue
assim que chegar, caso queira voltar antes do tempo, sua casa está de portas
abertas.
Despedi-me
da minha mãe, peguei minhas malas e segui com meu irmão para o aeroporto. Não
estava sendo fácil ter que ir sem me despedir do meu pai, sem receber um
carinho dele ou seu apoio, mas eu já deveria está acostumada com isso. Era
sempre assim quando não seguíamos seus passos, quando não fazíamos suas
vontades e crenças. Enquanto ele desejava que tudo desse errado, eu pedia a
Deus que me abençoasse todos os dias da minha vida.
– Você está
bem? – Ben perguntou ao me levar a sala de embarque.
– Bem? Você
acha mesmo que eu estou bem? Eu estou péssima por deixa-lo assim. – O olhei
triste – Eu não queria que tudo terminasse dessa maneira.
– Eu sei
mana, mas você sabe como é papai. – Concordei com a cabeça – Ele tem medo que
você se perca nesse mundo, a coisa dele é que sejamos felizes debaixo das suas
asas.
– Mas não
pode ser assim Ben, eu nunca me senti tão feliz e tão triste ao mesmo tempo. –
Choraminguei – Eu estou realizando meu maior sonho, porém meu pai não aceita
isso.
– Você sabe
que eu acredito em você, não sabe? – Concordei com a cabeça – Estou feliz por
te ver seguindo seu coração.
– Obrigada
por tudo, tá? Principalmente por acreditar no meu sonho.
– Sempre vou
acreditar. – Me acolheu em seus braços – Sempre estarei ao seu lado.
–Você e
Laura são as únicas pessoas que verdadeiramente acreditam em mim.
– Não diga
isso, mamãe e papai também acreditam em você e te amam muito. – Olhou-me nos
olhos – Você será muito feliz nessa nova fase de sua vida, eu acredito nisso.
– Amém! – O
abracei mais forte – Cuida deles por mim? – Pedi e ele concordou com a cabeça –
Eu amo muito vocês.
– Eu te amo,
tá? Cuida-se, por favor!
– Eu vou me
cuidar. – Beijei seu rosto – Vou sentir muito sua falta.
– E eu a
sua, mas prometo ir te fazer uma visita. – Sorriu tentando me animar.
– Promete?
Convence a mamãe de ir com você.
– Me liga assim
que chegar lá? Não esquece, vou ficar esperando.
– Eu ligo sim.
– O apertei mais uma vez em meus braços – Agora preciso ir.
Despedi-me
dele com o coração já apertado de saudade, entrei na sala de embarque e rezei
baixinho. Era o inicio de uma nova fase na minha vida, eu só pedia a Deus que
desse tudo absolutamente certo, que nada fosse capaz de destruir esse sonho em
mim e que toda minha força viesse Dele que tanto me deu ânimo para continuar
lutando. Ao sentar na poltrona daquele avião, respirei fundo e tive a certeza
de que essa foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida. Sorri sozinha,
coloquei meus fones de ouvido e fechei meus olhos. Ao sentir aquele avião
tomando seu rumo, senti algo extremamente forte dentro de mim, não só aquela
típica sensação que todos sentem quando o avião decola, não, muito mais que
isso, senti um furacão de emoções dentro do meu peito e uma sensação de alivio.
Era a minha vez de fazer valer a pena todas as minhas escolhas. Depois de dois
anos sem Vicente, minha vida realmente se transformou da noite para o dia, sem
nem me pedir permissão, somente as coisas foram acontecendo. Sinto
constantemente a presença do meu menino, todos os dias, a todo o momento. Ele
foi e continuará sendo a pessoa mais importante da minha vida, aquele quem me
amou profundamente, quem me ensinou tudo aquilo que hoje eu pratico com amor.
Eu o amo, sempre vou amar, até o fim da minha vida. Eu estava cumprindo minha
promessa, estava indo atrás de minha felicidade, como ele sempre quis.
Passaram-se poucas horas e eu estava colocando meus pés na cidade dos meus
sonhos, São Paulo. Peguei minhas malas, respirei fundo mais uma vez e segui
para a saída do aeroporto, sorrindo que nem uma boba. Recebi uma mensagem de
Laura avisando que estava atrasada, mas que logo me pegaria. Então, minha única
alternativa foi sentar, tentar controlar minha ansiedade e ligar para o meu
irmão. Depois de passar alguns minutos conversando com ele e com minha mãe,
comprei uma xícara de café e uma bandeja de pães de queijo, o que eu amo
profundamente. Enquanto eu me deliciava com meus pães, ouvi alguém se aproximar
com um sorriso gigantesco, era ela, minha melhor amiga.
– Não
acredito! Lili! – Sorriu me abraçando – Não acredito que você finalmente
chegou.
– Ai Lau,
assim você vai me esmagar. – Ri animada.
– Você está
tão linda. – Olhou-me dos pés a cabeça – Parece que tem anos que não te vejo.
– Você que está
maravilhosa. – Sorri a olhando. – Que saudade que eu senti de você, Laura.
– Eu também
senti muito a sua falta. – Me abraçou novamente – Mas agora você não sai mais
do meu lado.
– É tudo o
que eu mais quero.
Falei e ela
me olhou com aquele ar de cumplicidade, eu amava esse jeito dela. Terminei de
comer, guardei minhas malas no carro e logo estávamos a caminho do “nosso”
apartamento. Fomos o percurso inteiro conversando, fofocas, risadas e muito
amor entre nós duas era o que não faltava. Laura era apenas dois anos mais
velha que eu, fomos criadas juntas, estudamos sempre no mesmo colégio, era minha
confidente e a irmã que eu nunca tive. Assim que ela terminou os estudos, seu
pai recebeu uma proposta de emprego irrecusável, fazendo com que eles mudassem
de vez para São Paulo. Aos 17 anos, tiraram de mim uma das pessoas mais
importantes da minha vida, mas nossa amizade só se fortaleceu com o passar dos
anos e novamente estamos aqui, juntas. Hoje Laura mora sozinha, é uma mulher
independente, bem sucedida, dona de uma das maiores e mais maravilhosas lojas
de grife de São Paulo, mas continua aquela mesma menina humilde, carinhosa,
cheia de cuidados com todos e com um coração gigantesco. Depois de enfrentar
alguns minutos de trânsito, chegamos bem ao condomínio, onde Laura me
apresentava a cada ser humano que surgia em nosso caminho. Quando entramos no
apartamento, meu destino foi deixar minhas malas no meu quarto, esse eu
conhecia bem.
– Lauraaaaa!
– Chamei-a admirada – Que coisa linda, meu Deus!
– Gostou? –
Ela tinha arrumado meu quarto com tanta delicadeza – Ficou sua cara, não foi?
– Sim...
Ficou maravilhoso!
– Que bom
que gostou. – Me abraçou de lado – Aqui é sua casa agora, quero que sinta
confortável.
– Como eu
poderia não me sentir? – Perguntei sentando em minha cama – Você me conhece
bem, incrível.
– Você vai
arrumar suas coisas agora? Eu posso te ajudar.
– Ah, não! Tudo
o que eu mais preciso nesse momento é de um banho, estou me sentindo exausta. –
Joguei-me na cama.
– Então vá
tomar seu banho. – Levantou-se – Vou preparar alguma coisa pra gente jantar.
Após Laura sair
do quarto, escolhi uma roupa fresca e segui para o banheiro. Foi inevitável não
pensar em tudo o que estava acontecendo, na grandiosidade desse passo que eu
venho dando. Lembrei-me novamente de meu pai e uma tristeza se instalou em meu
coração, tudo poderia ser diferente se ele aceitasse minha felicidade.
Sinceramente, eu não sabia o que me esperava daqui pra frente, mas eu queria
mesmo me arriscar. É doloroso não ter o apoio dele, mas seria ainda mais
doloroso se eu simplesmente largasse mão do meu sonho e escolhesse viver uma
vida infeliz. Terminei meu banho perdida em pensamentos, escovei meu cabelo e
segui pra sala onde Laura me esperava assistindo TV. Começamos uma conversa boa
e entramos em vários assuntos, inclusive aquele que mais mexia comigo, o amor.
– E tio
Paulo? Não aceita mesmo, não é? – Perguntou enquanto fazia uma trança no meu
cabelo.
– Você sabe
como ele é cabeça dura, não tá sendo fácil pra mim Lau, o apoio da minha
família seria importantíssimo nesse momento. – Respirei fundo – Mas acho que ele
nunca vai aceitar.
– Tudo tem
seu tempo, um dia ele vai ver que você fez a escolha certa.
– Deus te
ouça. – Sorri tristonha – Você não imagina o quanto foi difícil sair daquela
casa, deixando ele daquela maneira.
– Eu imagino
sim, mas pense que você tem sua mãe, tem o Ben e a mim, que torcem e acreditam
em você.
– Sim,
graças a Deus eu tenho vocês. – Dei um beijo carinhoso em seu rosto.
– E você vai
quando na agência?
–Amanhã. –
Falei e ouvimos a campainha tocar – Quem será?
– Pedi uma
pizza pra gente. – Levantou-se animada – Pega aí o dinheiro na minha carteira?
– Pediu ao abrir a porta – Oi Rodrigo, tudo bem? – Cumprimentou o entregador.
– Tudo ótimo
Laurinha. – Sorriu simpático.
– O
cheirinho tá ótimo. – Entreguei o dinheiro a Laura – Oi. – Sorri para ele que
me olhava tímido.
– Ah, deixa
eu te apresentar. – Riu divertida – Rodrigo, essa é minha prima Alice. – Ele me
olhou novamente – Lili, esse é o Rodrigo.
– Prazer, Rodrigo! – O cumprimentei com dois beijos no rosto.
– O prazer é
todo meu. – Sorriu ainda tímido – Bom, aqui o refrigerante.
– E aqui o
dinheiro. – Laura sorriu – Obrigadinha, pode ficar com o troco.
– Obrigado,
boa noite!
– Que
lindinho. – Coloquei a pizza na mesa.
– Não é
lindo? Porém tímido demais. – Fez careta – Gosto de homens com atitude.
– Então quer
dizer que você estava de olho? – Joguei o pano de prato nela.
– E tem como
não ficar de olho? Ele é lindo demais, pelo amor de Deus. – Riu nos servindo –
Mas ele é sempre assim, tímido ao extremo.
– Mas homens
tímidos são fofos. – A olhei rindo – Eu gosto.
– Falando
nisso. – Olhou-me carinhosa – Como anda os amores?
– Não andam.
– Comi um pedaço da minha pizza – Estou de boa sozinha.
– Serio? Não
apareceu mais ninguém depois do Vicente?
– Não. – Dei
de ombros – E nem quero, agora eu tenho que focar no meu trabalho.
– Tá apoiado.
– Falou de boca cheia – Foca no trabalho.
A presença
de Vicente ainda era muito viva dentro de mim, mesmo prometendo a ele que seria
feliz e que encontraria alguém para amar, eu tinha certeza que ninguém jamais
me faria feliz como Vicente fez. Jamais alguém me amaria como ele amou, com
toda aquela intensidade e doação, ele era único. Tornei-me alguém fria com meus
sentimentos, não queria sofrer novamente, não queria me apegar e simplesmente enfrentar
tudo aquilo que estava disposta a enfrentar com o meu menino. O meu amor por
Vicente vem de outras vidas, algo profundo demais para ser substituído por
outro alguém.
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OOOOOOOOOOOOOOI, MEU AMORES!!!
Esse é um capítulo extra dedicado inteiramente a leitora Maryana Brunikoski, que está completando mais um aninho hoje. Parabéns Mary, toda felicidade do mundo pra você! O que estão achando, meus amores? Gostaram do primeiro e segundo capítulo? Como eu deixei bem claro nos "Avisos", só teremos capítulos de segunda a sexta-feira, certo? Quero desde já agradecer aos comentários, aos recadinhos, ao carinho das minhas leitoras lindaaaaas! Sintam-se todas abraçadas!!!!
Até o próximo capítulo, estrelas! <3
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OOOOOOOOOOOOOOI, MEU AMORES!!!
Esse é um capítulo extra dedicado inteiramente a leitora Maryana Brunikoski, que está completando mais um aninho hoje. Parabéns Mary, toda felicidade do mundo pra você! O que estão achando, meus amores? Gostaram do primeiro e segundo capítulo? Como eu deixei bem claro nos "Avisos", só teremos capítulos de segunda a sexta-feira, certo? Quero desde já agradecer aos comentários, aos recadinhos, ao carinho das minhas leitoras lindaaaaas! Sintam-se todas abraçadas!!!!
Até o próximo capítulo, estrelas! <3